domingo, setembro 30, 2012

"Existe mais de uma maneira de queimar um livro"

A tentativa de proibir livros de Monteiro Lobato nas bibliotecas brasileiras é apenas a ponta de lança de um movimento muito maior. Podem anotar: logo vão começar a proibir outros autores em bibliotecas.

“Existe mais de uma maneira de queimar um livro. E o mundo está cheio de pessoas carregando fósforos acesos. Cada minoria, seja ela batista, unitarista, irlandesa, italiana, octogenária, zen-budista, sionista, adventista-do-sétimo-dia, feminista, republicana, homossexual, do evangelho quadrangular, acha que tem a vontade, o direito e o dever de esparramar o querosene e acender o pavio (...)  Beatty, o capitão dos bombeiros em meu romance Farenheit 451, explicou como os livros foram queimados primeiro pelas minorias, cada uma rasgando uma página ou um parágrafo desse livro e depois daquele, até que chegou o dia em que os livros estava vazios e as mentes caladas e as bibliotecas sempre fechadas.” (Ray Bradbury)

sexta-feira, setembro 28, 2012

Lobato na era do politicamente correto


Um erro de pronome


Muitos alunos dão pouca importância ao estudo da Língua Portuguesa. De certa forma, é até compreensível. As atenções estão voltadas para as disciplinas específicas do curso. Entretanto, ignorar o estudo da língua portuguesa pode acabar se tornando um erro fatal.
    Muitos especialistas consideram a nossa época a era da comunicação. Assim, quem não sabe se comunicar corretamente, fica de fora  de sintonia com o mundo e tem menos chances de conseguir um bom emprego. Uma ficha preenchida com erros de português certamente  não ajuda a conseguir um bom emprego.
    E, vejam bem, expressar-se bem não significa apenas escrever corretamente, de acordo com a gramática. Significa também dar fluência ao texto, torná-lo agradável e objetivo. Um relatório claro, sem erros ortográficos ou de pontuação, com frases curtas, tem mais chances de ser lido.
    Entretanto, um bom conhecimento de nossa língua pode acabar influenciado até em nossa vida amorosa. É o que mostra o escritor Monteiro Lobato no conto “O Colocador de Pronomes” do livro Negrinha.
    A história se passa em uma cidadezinha do interior. Havia ali um pobre moço que definhava de tédio no fundo do cartório. Era escrevente, mas gostava de ler e, pior, de escrever versos lacrimogêneos.
    Tudo ia na santa paz até que o moço se apaixonou pela filha mais moça do Coronel da cidade, a Laurinda, linda flor de 17 anos.  A filha mais velha, Do Carmo, era o encalhe da família. Já velha para casar, não conseguia bom ou mau partido. Também, pudera: era vesga, histérica, manca de uma perna e meio aluada. Se a mais nova era o ideal de beleza, a outra era feia até não poder mais.
    Pois se apaixonou o pobre rapaz e, para extrema infelicidade, escreveu um bilhetinho à amada: “Anjo adorado. Amo-lhe”.
    O Coronel, entretanto, interceptou o bilhetinho e chamou o seu autor:
-    É seu? – disse, estendendo o papel para o rapaz.
-   É... – gaguejou o rapaz.
-    Pois agora... – ameaçou o vingativo pai... é casar!
O moço, que já se imaginava morto, ressuscitou. Casar com a filha do Coronel! A moça mais bonita de Itaoca!
O Coronel gritou lá para dentro:
- Do Carmo! Vem abraçar o seu noivo!
O escrevente piscou seis vezes e, enchendo-se de coragem, corrigiu o erro. O bilhete fora escrito para Laurinda...
- Sei onde trago o nariz, moço. – esbravejou o Coronel. Você mandou o bilhete à Laurinda dizendo que ama-lhe. Se amasse a ela, teria dito “amo-te”. Dizendo “amo-lhe”, declara que ama uma terceira pessoa, no caso a Do Carmo.
E, pacientemente, o velho explicou que os pronomes se dividem em três: de primeira pessoa, quem fala; de segunda pessoa, a quem se fala, e de terceira pessoa, de quem se fala. E o lhe é pronome de terceira pessoa.
Portanto, nada de dizer “amo-lhe” ou “convido-lhe”. Expressões com essas demonstram que se ama ou se está convidado uma terceira pessoa.
Quanto ao moço? Casou-se mesmo com a megera. Tudo por causa de um pronome...

quinta-feira, setembro 27, 2012

Livro sobre a Grafipar

Já estamos na fase final, de fechamento do meu livro sobre a Grafipar, que será lançado na Gibicon Curitiba, evento do qual sou um dos convidados. Acima uma propaganda da editora e abaixo o resumo (logo que a capa estiver fechada, eu posto aqui).

GRAFIPAR, A EDITORA QUE SAIU DO EIXO, de Gian Danton
Editora Kalaco
A Grafipar foi uma das maiores editoras brasileiras de quadrinhos da história. Notabilizou-se por sua extensa série de publicações com realização totalmente nacional. E, principalmente, local. Este livro conta toda a saga do surgimento do movimento de quadrinhos da editora curitibana. Com destaque para seu líder, o conceiturado quadrinhista Cláudio Seto. Descendente de japoneses e introdutor da linguagem do mangá no Brasil, através de suas próprias obras. Este livro também analisa as revistas da editora e investiga os bastidores da "vila de quadrinistas", que existiu em Curitiba, no início dos anos 1980.

quarta-feira, setembro 26, 2012

Propaganda política é isso aí









Óvnis - Matrix - Deus - Reencarnação e os limites do método científico

A maioria dos cientistas não acredita em nenhuma dessas coisas. Mas então por que a ciência tem tanta dificuldade em provar que elas não existem 

Todo ano, na Inglaterra, é realizado um "acampamento para ateus" - onde crianças e jovens participam de palestras e debates sobre ciência. A principal gincana desse evento, que até já foi tema de uma reportagem da SUPER, gira em torno de dois unicórnios invisíveis - que vivem no acampamento e não podem ser vistos, ouvidos, tocados ou cheirados. Ganha quem conseguir provar que eles não existem. Fácil, você dirá. É claro que unicórnios não existem, muito menos os invisíveis. Mas, ano após ano, ninguém do acampamento consegue provar esse óbvio ululante. Substitua os tais unicórnios por outras ideias que costumam ser rechaçadas por muitos cientistas, como a existência de Deus, Matrix e visitas de aliens à Terra, e você chegará ao mesmo impasse: se os cientistas têm tanta certeza de que essas coisas não existem, por que então não conseguem provar que estão corretos?

O problema está no chamado "método científico" - que é adotado por todos os pesquisadores... Leia mais

Querem proibir Negrinha nas escolas

Foi protocolado na Controladoria Geral da União um recurso contra distribuição do livro Negrinha, de Monteiro Lobato, nas escolas.
Negrinha foi escrito por Lobato para mostrar que, apesar da abolição das escravatura, os negros continuam vendo tratados de forma desumana. A negrinha do título é uma filha de escravos adotada por uma senhora sádica, que a tortura até matá-la, sob a anuência da sociedade, até do padre, que fecha os olhos para as maldades da senhora.
O problema é que Lobato, para salientar a hipocrisia da sociedade da época, usou da ironia: "Gorda, rica, dona do mundo, animada dos padres, com lugar certo na igreja e camarote de luxo reservado no céu. [...] Uma virtuosa senhora, em suma – ‘dama de grandes virtudes apostólicas, esteio da religião e da moral’, dizia o reverendo".
Os autores da ação (que pode ser lida aqui) argumentam que Lobato usa adjetivos  favoráveis à Dona Inácia (embora eu tenha minhas dúvidas se gorda possa hoje ser considerado um adjetivo favorável) e negativos com relação à menina: "Negrinha era uma pobre órfã de 7 anos. Preta? Não, fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. O corpo de Negrinha era tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele os da casa todos os dias, houvesse ou não motivo".
A frase acima seria prova de que Lobato era racista e sexista e usou o conto para diminuir a imagem da mulher negra. Sinceramente, até uma criança recém-alfabetizada consegue entender que Lobato está apenas descrevendo os maus-tratos sofridos pela pobre negrinha. E o livro foi escrito por adultos e foi comprado pelo MEC para ser alunos do ensino médio, alunos, que, teoricamente, conseguem entender uma ironia.
Mas o requerimento vai além, pede a punição dos pareceristas do MEC que liberaram a obra para distribuição nas escolas: "sujeitando-se seus autores a responsabilidade em face da contratação
acertada ou equivocada".
Para os autores da representação, a compra do livro Negrinha deveria ser suspensa e os exemplares já comprados só poderiam ser lidos sob a ótica do racismo e do sexismo. Ou seja: os alunos só poderiam ler o livro por ordem do professor e para provar que o livro é racista e sexista.
Ou seja: os autores da representação se acham donos do sentido da obra, qualquer um que tenha qualquer leitura diferente da deles deve ser punidos e deve ser garantido que alunos que tenham contato com a obra tenha apenas uma possibilidade de interpretação do livro.
Em que mundo estamos vivendo?

terça-feira, setembro 25, 2012

Prêmio PADA

Acabou de chegar o meu troféu PADA na categoria melhor roteirista. O prêmio é dado pelo coletivo de quadrinhos pernambucanos aos artistas que mais se destacam no ano. 

Pálido ponto azul


Vale a pena assistir a esse vídeo com texto de Carl Sagan.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Roteirista de "John Constantine: Hellblazer" vem ao Brasil para evento de quadrinhos

O inglês Jamie Delano virá ao 19º FestComix a convite da
Comix Book Shop e da Gal Editora para o lançamento de seu novo álbum


Conhecido e admirado pelos leitores da linha Vertigo, da DC Comics, o inglês Jamie Delano marcou época como o primeiro roteirista da revista Hellblazer, que trazia as aventuras macabras do bruxo e investigador sobrenatural John Constantine, um dos personagens favoritos dos leitores de quadrinhos adultos e de terror. Agora, os fãs brasileiros do roteirista terão a chance de conhecê-lo pessoalmente.

Delano vem ao Brasil a convite da Comix Book Shop e da Gal Editora para o lançamento de seu álbum em quadrinhos Nação Fora da Lei: Sangue entre Irmãos, que ocorrerá durante o evento FestComix, em 19, 20 e 21 de outubro em São Paulo. Mistura de faroeste moderno, suspense sobrenatatural e sátira social, o álbum conta a história de Story Johnson, um escritor de livros de aventura que volta aos Estados Unidos no início do século vinte e um, décadas após ter sido dado como morto nas selvas do Vietnã. Enquanto cruza o país para encontrar sua família, formada por foras da lei imortais que lutam contra o governo, Story descobre que os Estados Unidos tornaram-se um império decadente, dominado pelas grande empresas, pela televisão e por valores morais equivocados e corrompidos. Lançada originalmente pelo selo Vertigo, da DC Comics, e trazendo desenhos dos croatas Goran Sudzuka e Goran Parlov, a série Nação Fora da Lei é considerada por muitos como a obra-prima de Jamie Delano.

Nascido em Northampton, no leste da Inglaterra, em 1954, Jamie Delano lançou-se no mercado de quadrinhos britânico escrevendo títulos como Night Raven, Doctor Who e Capitão Bretanha. Mas logo se tornou um dos nomes mais importantes da chamada "Invasão Inglesa" ao mercado de quadrinhos norte-americano na década de 1980, ao lado de Alan Moore, Neil Gaiman, Grant Morrison e Peter Milligan. Para as editoras americanas, Delano escreveu histórias de personagens consagrados como John Constantine (foi roteirista regular da revista Hellblazer durante suas primeiras quarenta edições); Batman e Homem-Animal. Mas também criou séries próprias de grande sucesso entre público e crítica, como Visões de 2020, Mundo sem Fim, Hell Eternal: Inferno em Vida e Cruel and Unusual. Um de seus últimos trabalhos para o mercado de quadrinhos, a série sobre piratas, Rawbone, teve capas pintadas pelo brasileiro Felipe Massafera.

Durante os três dias do FestComix, Jamie Delano participará de conversas com a imprensa, de um bate-papo com os leitores e de sessões de autógrafos. Em conversa por e-mail com o editor da Gal, Maurício Muniz, o autor sobre sua vinda ao Brasil:

- Fico agradecido pela simpática recepção ao meu trabalho no Brasil e estou ansioso por visitar São Paulo e conhecer os leitores no FestComix. E os interessados são bem-vindos a me seguir pelo twitter @jamiedelano.

Organizado por Jorge Rodrigues, da Comix Book Shop, o Fest Comix é o maior evento de quadrinhos do Brasil, com venda de milhares de revistas e álbuns a preços promocionais, exposições, convidados nacionais e internacionais, cosplayers, palestras e debates que atraem um grande público anualmente, vindo de todas as partes do Brasil.

Com cinco anos de existência, a Gal Editora tem trazido ao Brasil alguns dos mais importantes títulos de quadrinhos independentes e adultos, como Fracasso de Público, Mundo Fantasma, Lôcas (Love and Rockets) e Três Dedos: Um Escândalo Animado.


Serviço:
Lançamento do álbum Nação Fora da Lei: Sangue entre Irmãos (Gal Editora), com presença do autor, Jamie Delano
Evento: 19º Fest Comix
Data: 19, 20 e 21 de outubro de 2012
Horário: das 10h às 21h (dias 19 e 20) e das 10h às 18h (dia 21)
Local: Centro de Eventos São Luis (Rua Luis Coelho, 323 - Próximo ao Metrô Consolação)
Mais informações: www.festcomix.com.br e www.galeditora.com.br

sábado, setembro 22, 2012

Mônica e Cebolinha vão se casar


Sim, depois de se beijarem no número 4 da Turma da Mônica Jovem, Mônica e Cebolinha irão se casar na edição deste mês. Como se diz, tanta briga só podia ser amor. Leia a notícia completa aqui.

30 fatos e fotos de BLADE RUNNER - O CAÇADOR DE ANDROIDES


por Larissa Padron 
Há exatos 30 anos era lançado nos cinemas americanos Blade Runner – O Caçador de Androides, terceiro longa do diretor Ridley Scott que trazia Harrison Ford no papel de Deckard, um caçador de andróides aposentado que precisava retornar ao trabalho para “aposentar” quatro replicantes. Dono de um visual impressionante e da marcante trilha sonora do Vangelis, o filme é considerado até hoje como uma das melhores ficções científicas do cinema, sendo um dos marcos dos estilos cyberpunk e neo-noir.
Em seu aniversário, o Cinema em Cena homenageia esse clássico com 30 fatos e fotos de Blade Runner – O Caçador de Androides. Leia mais

sexta-feira, setembro 21, 2012

A tormenta de espadas

Acabei de ler A tormenta de espadas, terceiro livro das Crônicas de  Gelo e Fogo, que deram origem ao seriado Guerra dos Tronos. É o maior livro que já li. São 840 páginas, mas praticamente não existem capítulos ruins. Existem, claros, capítulos de preparação, que apenas criam condições para fatos que irão acontecer lá na frente, mas até esses são interessantes. Não se deixe enganar pelo tamanho: não existem gorduras nos livros de George Martin: tudo é importante, até mesmo os melhores detalhes. Uma mulher que ajeita a rede de cabelos de uma moça pode ter importância fundamental na trama. Aliás, impressionante como o autor consegue ter domínio de uma trama tão complexa, com tantos personagens. Também é espantoso como ele consegue criar bons personagens, fazer o leitor simpatizar com eles e depois matá-los. Os livros contam a história de uma guerra, e nas guerras pessoas morrem. Pessoas importantes, e não só vilões e personagens secundários. É o que vemos mais do que nunca em Tormenta de espadas: todo mundo é mortal e por melhor que seja o personagem ele pode ser descartado a qualquer momento, quando menos se espera.
O único problema da série é que ela vicia e, como os livros são grandes, é bom ter tempo para ler. 

Superdeuses terá nova capa

A assessoria de imprensa do grupo editorial Pensamento me informou que a capa do livro Superdeuses, de Grant Morrison, terá uma nova capa para a segunda edição. São duas boas notícias: a primeira a mudança de capa, a segunda a certeza de uma nova edição. Os fãs de quadrinhos têm elogiado muito o livro (eu cheguei a escrever uma resenha que pode ser lida aqui), mas todos são unânimes em dizer que a capa não ficou boa, especialmente se compararmos com a capa original.

Livro - o mercador de livros malditos

Sinopse: No ano de 1205, um monge foge de um esquadrão de cavaleiros com algo muito precioso, que não está disposto a entregar a seus perseguidores. Treze anos mais tarde, Ignazio de Toledo, um mercador de relíquias, recebe de um nobre veneziano o encargo de procurar um livro raríssimo, que supostamente contém antigos preceitos da cultura talismânica oriental com os quais é possível evocar os anjos e sua divina sabedoria. Assim começa a arriscada viagem de Ignazio, à procura de um manuscrito que alguém desmembrou em quatro partes e escondeu cuidadosamente, protegendo-o com intricados enigmas. Mas o mercador não é o único a querê-lo. Quem descobrirá primeiro onde ele se encontra? E até que ponto aqueles que o buscam estarão dispostos a se arriscar para desvendar seus mistérios?

SERVIÇO
Título: Mercador de Livros Malditos, O
Autor: Marcello Simoni
Tradução: Gilson César Cardoso de Sousa
Editora: Jangada
Páginas: 368
Preço: R$39,90


quinta-feira, setembro 20, 2012

A face do Leviatã


“Ali passam navios; e o leviatã que formaste para nele folgar”
Salmos, 104, 26



Durante longo tempo nossa vila foi assolada por uma criatura desconhecida, mas hedionda e maligna. Pessoas de bem eram encontradas à beira da praia, seus corpos estraçalhados e maculados. Não havia dúvida: o mal os tocara, deixando neles sua inevitável nódoa.
    Com o tempo o medo tomou conta do povoado. Era mister destruir a fera antes que o terror nos destruísse a todos. Tratava-se, evidentemente, de um monstro do mar. Assim, decidiu-se pela organização de uma equipe que daria caça ao bicho. De todos, Afonso era o mais entusiasmado. Não admira, portanto que coubesse a ele a chefia da embarcação.
    Sim, havia um velho navio que serviria para o combate. Estranho. Lembro-me que, quando entrei nele pela primeira vez, tive a impressão de que penetrava no próprio covil do demônio. Talvez, pensei, essa impressão fosse causada pelo aspecto da embarcação. E, de fato, a madeira estava velha e rangia como um gigante resmunguento. O convés estava repleto de limo e as velas pareciam ter a intenção de se esfarraparem ao primeiro vento. Uma assustadora carranca adornava a proa.
    Embarcamos. Fomos nos afastando da costa na direção do mar, esperando encontrar a fera. Vigiávamos em turnos e aqueles que eram dispensados podiam se recolher aos rudes quartos improvisados sob o convés. Fiquei de sentinela um longo tempo e fui substituído por Afonso, que colocou a mão sobre meu ombro e disse:
    - Vá descansar. Deixe que cuidamos da fera.
    Desci e deitei, mas não conseguia dormir. Em certo instante em que fechei os olhos, parecia ouvir arrastar de correntes e gemidos, misturados ao sussurro do mar. Dei-me conta de que já começava a dormir. Estava naquele estado em que nem dormimos, nem estamos acordados... e uma estranha premonição tomou conta de mim... Como se algo estivesse errado.
    Então houve como que um estrondo. O navio balançou, rangendo sua estrutura. Subi ao convés, temendo que o costado não resistisse. Uma tempestade tremenda se formava. Ondas de seis metros lambiam o convés. Um vento forte fazia com que o navio balançasse como um velho bêbado.
    - Onde está? Onde está o monstro? – perguntei.
    - Não adivinha? – respondeu Afonso, levantando o rosto para mim.
    Só então pude  ver seus olhos que brilhavam como chamas, em assombroso contraste com o resto da face, dominada por trevas.
    Procurei os outros, em socorro, mas estavam todos no convés, olhando-me do mesmo jeito. Embora o navio balançasse muito, permaneciam simplesmente em pé, os braços ao longo do corpo, os olhos fixos em mim.
    - Não adivinha onde está o mal? – trovejou Afonso.
    - Não advinha onde está o mal? – repetiram os outros.
    Corri deles, descendo as escadas, atrapalhado pela fúria dos elementos, que sacudia implacavelmente o navio. Percorri todos os lugares, procurando um lugar onde me esconder. Assustadora compreensão me dominava. Eram eles o monstro. Eles, o leviatã.
    O mal, encarnado neles, dera cabo de todos os homens bons da vila. Só restara eu. Eles me trouxeram, então, para o navio, a fim de me fazer sucumbir depois de prolongadas torturas.
    Estou aqui, agora, trancado nesse cubículo apertado. Ratos e baratas passeiam pelo meu corpo, esperando pelo momento em que estarei fraco demais para resistir ao seu apetite devorador. Lá de cima me vem o som de correntes e o sussurro dos mortos. Penso em Afonso, em esgar de ódio, ansiando pela morte de seu melhor amigo.
    Passos. Estão se aproximando. Logo vão me encontrar. Se não o fizerem, morrerei de sede, de fome, ou devorado pelos ratos.
    Dentro em breve... eu verei a face do Leviatã...

quarta-feira, setembro 19, 2012

O curioso mundo das seções de cartas dos gibis

Por Marcus Ramone      | 19-09-2012

É fato: por mais que uma edição de um gibi de super-herói esteja sendo ansiosamente aguardada, graças ao desfecho de uma saga de grandes proporções, é a seção de cartas que diversos leitores vão ler primeiro, assim que puserem as mãos na revista. E se, excepcionalmente, essa página não tiver sido publicada naquele mês, não há dúvidas de que muitos vão se decepcionar.

Afinal, é ali que o leitor vai encontrar seus pares, dirimir aquela dúvida que nem sabia ter, colher informações, corroborar ou refutar uma opinião e, claro, orgulhar-se ao ver seu nome eternizado na página de seu gibi favorito.

A interação entre leitores e editores, por meio das seções de cartas de jornais e revistas informativas, é uma cultura secular já enraizada. Por um lado, quem compra essas publicações quer opinar, reclamar, sugerir, desabafar ou elogiar. E os que as produzem também precisam conhecer seu público para mudar, continuar ou melhorar o caminho que estão construindo para o seu produto.

Nas revistas em quadrinhos, porém, isso extrapolou a relação entre fornecedor e cliente e virou pura diversão para os fãs de HQs, numa proporção tamanha que - pasme! - há casos de leitores que sugeriram a publicação de edições especiais somente com cartas. Leia mais

terça-feira, setembro 18, 2012

Lançamento da coletânea Poesia na Boca da Noite

O rio Amazonas já mandou avisar que a brisa estará à disposição dos poetas e amantes da poesia na próxima sexta-feira, 21, quando será lançada em Macapá a coletânea “Poesia na Boca da Noite”, às 18h no entorno da Fortaleza de São José de Macapá (defronte do Banco do Brasil).
A coletânea, de 144 páginas, reúne poemas de 23 poetas amapaenses com idade entre 7 anos e 72 anos e traz textos contando a história do Movimento que começou em janeiro do ano passado com apenas quatro poetas (Rostan Martins, Alcinéa Cavalcante, Osvaldo Simões e Glória Araújo) na calçada da casa de Alcinéa Cavalcante e tomou as ruas, escolas, hospitais, praças e tantos logradouros públicos, chegando a reunir em várias ocasiões até mais de uma centena de poetas e amantes da poesia, como nas escolas Azevedo Costa e Santina Rioli.

Em agosto a coletânea foi lançada na Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, e chamou atenção de professores, escritores, poetas e amantes da poesia de diversos estados do país elevando o nome do Amapá no cenário cultural brasileiro.

Movimento Poesia na Boca da Noite

Contadores de histórias


No livro O Macaco Nu, o biólogo e antropólogo Desmond Morris apresenta uma teoria no mínimo inquietante. Para ele, em certo momento da evolução, tornou-se mais importante usar o cérebro que os músculos na guerra pela sobrevivência. A criação de novas tecnologias e o aprendizado das mesmas tornou-se essencial (Quando falo em tecnologia, uso o sentido amplo da palavra, como qualquer processo que facilite ao ser humano o seu trabalho, obtendo melhores resultados com menor esforço. A roda ou a alavanca são exemplos de tecnologias utilizadas pelos nossos antepassados mais remotos).
Essa nova conjuntura criou um problema: como repassar essa nova tecnologia para as novas gerações, e, ao mesmo tempo, incentivá-las a aperfeiçoar essas mesmas tecnologias? Morris lembra que os macacos e chimpanzés novos são curiosos e criativos, mas essa fase passa rápido, estendendo-se apenas por uma breve infância. A solução encontrada foi prolongar a infância. Essa é a razão pela qual nós, ao contrário da maioria dos animais, levamos um longo tempo para obter autonomia. Um cavalo recém-nascido já consegue andar, um bebê humano recém-nascido é uma bolinha frágil, dependente de seus pais para tudo. O nosso cérebro continua a crescer até nove ou dez anos depois de adquirirmos nossa maturidade sexual. No chimpanzé esse processo de crescimento do cérebro se completa seis ou sete anos antes da maturidade sexual.
O que ganhamos com esse longo processo de evolução cerebral que compensasse a necessidade de dependermos de nossos progenitores até idade avançada? Simples, tivemos mais tempo para aprender. E não só isso. Tivemos mais tempo também para experimentar, criar, imaginar, sonhar. Dificilmente alguém consideraria descabida a afirmação de que as grandes inovações da humanidade vieram sempre da parte de jovens. A curiosidade e criatividade infantil têm sido o motor de nossa espécie.
As inovações trazidas pelas novas gerações em termos de comportamento e tecnologias foram de tal forma bruscas que acabaram gerando um fenômeno interessante, que não existe em nenhuma outra espécie: o conflito de gerações. Há um cartum curioso sobre o assunto. Nele vemos dois trogloditas idosos sentados em cadeiras de balanço na varanda de suas cavernas. Eles observam dois jovens trogloditas passarem com seus arco e flechas e comentam, com um não disfarçado desdém: “Olhe só para isso! Bons tempos aqueles em que os homens carregavam um tacape e tinham o cérebro do tamanho de uma castanha”. O cartum sugere que o conflito entre as gerações é tão velho quanto a tecnologia, o que provavelmente é um palpite certo.
Algo, no entanto, que me chama atenção nessa perspectiva é como os jovens e crianças teriam sido estimulados para usar sua imaginação e criatividade. Claro, é praticamente impossível verificar como se desenrolou esse processo, mas penso que os contadores de histórias tiveram grande importância nele. Nas noites frias, reunidos ao redor da fogueira, os jovens e crianças deveriam deixar a imaginação voar escutando as histórias contadas por um dos sábios da aldeia.
Contar ou ouvir histórias é um exercício inestimável de criatividade. As histórias não são limitadas pela lógica cartesiana, ou pela realidade que nos cerca. Nas histórias um lobo pode se disfarçar de vovó, os bichos podem falar, bonecos de madeira tomam vida... As histórias têm sua própria lógica, sua própria sintaxe. Elas exercitam em nós aquele tipo de pensamento divergente que não se encaixa nos quadradinhos das provas de vestibular, no qual apenas uma resposta é a certa. Hoje se sabe que as grandes soluções vêm de uma lógica que parece absurda. Na história da ciência são incontáveis os casos de grandes descobertas que eram grandes descobertas justamente porque contradiziam toda a lógica de sua época. E no caso das artes isso é ainda mais verdadeiro, assim como no caso da tecnologia.
Assim, as histórias exercitam em nós a criatividade, abrindo caminho para que encontremos soluções em nossa vida prática. Vou citar um único exemplo, o escritor francês Júlio Verne. São incontáveis os cientistas, técnicos ou inventores que passaram a infância e a adolescência devorando livros de Verne. O nosso Santos Dumond tinha os livros dele entre os seus prediletos.
E quando falo de histórias, não me refiro apenas à literatura. Falo das histórias contadas de avô para neto, das histórias em quadrinhos, dos filmes, dos seriados de TV, de todos os meios que as narrativas encontram para se difundir. Assim, todos esses contadores ganham uma importância insuspeita. Foi graças a eles, às suas fantasias, que o ser humano evoluiu para o que é hoje. E se evoluirmos mais, ao invés de nos afundarmos em nossa própria ganância, isso também se deverá, em grande parte,  às histórias. E aos seus contadores, evidentemente.

Veja as primeiras fotos do novo Robocop

Por Samir Naliato      | 17-09-2012

Conforme informado na semana passada, as filmagens de novo filme do Robocop começaram no último sábado, dia 15 de setembro, com direção do brasileiro José Padilha. E não demorou para as primeiras fotos circularem pela internet. Leia mais

domingo, setembro 16, 2012

Gabriela

A novela Gabriela está valendo o registro.
Baseada no livro de Jorge Amado, essa nova versão tem conseguido bons níveis de audiência para o horário. O roteirista Walcyr Carrasco conseguiu dosar muito bem o humor e o suspense.
A produção conta com um grande elenco, entre os quais se destaca José Wilker, como Coronel Jesuíno e seu já famoso bordão “hoje eu vou lhe usar”, que virou meme na internet.
Uma curiosidade é que algumas das melhores tramas não se encontram no livro, como a da garota desonrada pelo noivo que vai parar no Bataclã.
Como nas outras novelas do autor, há várias situações de travestismos, especialmente de homens que precisam sair da casa de suas amantes ou do Bataclã. Pelo Jeito, Walcyr Carrasco é fã de Quanto mais quente melhor...
A direção de Mauro Mendonça filho, com super-closes e efeitos de iluminação, valoriza o trabalho dos atores.
A maioria das novelas de Carrasco vinha sendo dirigida pelo fraco Jorge Fernando, que mal e mal sabia dirigir humor - uma direção bem básica, no estilo plano-contraplano, sem qualquer trabalhoo mais elaborado de fotografia. Embora já fosse possível perceber o ótimo texto, nitidamente influenciado por Marcos Rey, dava a impressão de que o autor só sabia traballhar com humor.
Gabriela provou que se trata de um roteirista completo.  

Pelo jeito, o que faltava para Walcyr Carrasco era um bom diretor.

sábado, setembro 15, 2012

O grande besouro



Eu ligo a TV. A moça no telejornal nos diz para ficarmos calmos e exibe seu sorriso cativante. É um sorriso tão verdadeiro quanto uma nota de três reais, mas ainda assim as pessoas acreditam. Ou fingem acreditar.
Eu olho à minha volta: o retrato na parede. Amigos de infância. A água escorrendo de nossos cabelos, o sol forte banhando a praia. Os livros na estante, um deles um presente de uma antiga namorada, a dedicatória desaparecendo na página amarelada. Uma antiga fotografia de minha mãe, a cor de seu vestido se esvanecendo. Um brinquedo antigo guardado há muitos anos, seu plástico quebradiço.
Olho para fora, pela janela: não há bicicletas nas ciclovias, não há pedestres nas calçadas. Os ônibus circulam vazios por ruas desertas. O frio de Curitiba talvez seja o motivo, mas acho que não. No fundo, as pessoas sabem.
Embora a moça da TV e seu sorriso de três reais nos digam para ficarmos calmos, todos sabem. 
Tudo isso deixará de existir em breve. Em breve sobrará apenas a memória deste mundo, nada mais. Talvez nem mesmo a memória. Talvez a história nos varra da face da terra a ponto de jamais desconfiarem que aqui estivemos.
E, no entanto, eu fui avisado, embora tenha me recusado a dar ouvidos.
Isso foi há quantos meses? Dois? Três? 
Na época eu precisava viajar toda semana para São Paulo e passava muito tempo na rodoviária. Gostava de chegar adiantado, comprar a passagem e sentar em uma das cadeiras para ler um livro. Era uma espécie de ritual ao qual eu me apegava semanalmente.
Gostava de locais isolados e costumava me levantar quando outras pessoas sentavam por perto. Assim, quase o fiz quando percebi que alguém ocupava o banco ao meu lado. Era um mendigo e o mau-cheiro exalava dele forte e insistentemente. Usava um amontoado de roupas, algumas de verão, outras de inverno, de forma totalmente caótica: camiseta sobre jaqueta, blusa de lã sobre camiseta. Ao redor do pescoço, um cachecol colorido quase tornado preto pela sujeira. Ele abriu a boca, sorrindo, e de seus dentes podres escapou um bafo pestilento, que me fez virar a cabeça.
Tentei levantar, mas ele me segurou pelo braço:
- Você precisa ouvir! Por que ninguém me ouve?
Ele me olhou nos olhos e percebi que não me largaria. Eu teria que me sentar e ouvi-lo. Quando fiz isso, ele largou o meu braço e tossiu:
- Ninguém me ouve. Eu sei porque ninguém me ouve. Eles manipulam as pessoas. Todos estão sendo manipulados. Eu sou o único a perceber isso. É por isso que estou assim. Foi por isso que eles me fizeram perder o emprego, a esposa...
Ele tossiu e sorriu dentes estragados e carne podre.
- Nem sempre eu fui assim, moço. Nem sempre eu fui um mendigo fedido. Eu era uma pessoa normal... até descobrir a verdade... Ouça, estamos sendo invadidos. Eles estão nos preparando para a vinda do grande besouro.  O grande besouro, ouviu? Estão usando aquilo ali.
O mendigo apontou um dedo sujo para a televisão na lanchonete da rodoviária. Lá dentro, a imagem de uma mulher tremia em tubos catódicos.
- Eles estão nos preparando, nos transformando em carneirinhos que seguem para o abate sem perguntar para onde estão indo. Eles fazem isso em todos os planetas-alvo. Depois invadem e retiram tudo que há de valioso no planeta. Os habitantes locais são transformados em escravos e colocados para trabalhar até a morte. São como gafanhotos. Por onde passam, destroem tudo. Depois deles, o caos. Não me pergunte como eu sei isso. Eu simplesmente sei. Um dia acordei e descobri o plano deles... e começou a minha ruína. Agora vivo assim. Eles enviam raios para me provocar dor de cabeça, fazem com que minha pele coce... querem me torturar, mas logo irão me matar. Escreva o que estou falando, eles vão me matar. De um jeito ou de outro, vão me matar. E ninguém vai saber o que está acontecendo. Oh, meu Deus, que coceira...
Ele colocou a mão sob a roupa e começou a se coçar. Fez isso e levantou, para meu alívio. Parecia ter esquecido de mim. Eu o acompanhei com o olhar, temendo que ele voltasse, mas não fez isso. Continuou caminhando na direção da saída, preocupado apenas em coçar-se.
Mal colocou os pés na rua, foi atropelado por um carro. Com o impacto, seu corpo pulou para cima do capô. O motorista parou e saiu do carro, preocupado, mas já não havia muito o que fazer. O pobre coitado estava caído no chão, morto, as mãos sobre o corpo como se quisessem ainda se coçar até o último suspiro.
Na época considerei que o mendigo um louco, mas não demorou muito para que suas palavras fizessem sentido. Eles estão entre nós e a moça da televisão nos olha com seu olhar tranquilizador.
Eu vou até a janela e olho para cima. A nave é imensa a ponto de colocar a maior parte de Curitiba sob a sombra. Dizem que há uma dessas sobre cada uma das grandes cidades do país.
Eu a observo e um calafrio percorre a minha espinha: ela tem o formato de um besouro!

Esse conto foi originalmente publicado na antologia Invasão Alienígena, organizada por Ademir Pascale. Para baixar o e-book, clique aqui.

sexta-feira, setembro 14, 2012

A volta de Miracleman

Miracleman é um personagem criado na Inglaterra para substituir o Capitão Marvel quando este deixou de ser publicado na década de 1950. Era uma cópia, mas virou o herói mais revolucionário de todos os tempos quando Alan Moore comandou a volta do personagem na década de 1980. Moore abandonou a narrativa infantil e criou uma história hiper-realista e adulta. Nela, vilões eram vilões, destruindo cidades inteiras e matando de forma cruel. Miracleman direcionou toda a narrativa super-heróiesca dali em diante, para o bem e para o mal. Mas essa série hoje clássica não é republicada há décadas por conta de uma pendenga judicial. Agora o site Melhores do Mundo anunciou que essa situação parece ter sido finalmente resolvida. Para saber mais, clique aqui.

quinta-feira, setembro 13, 2012

Programação - cine Imperator


RESIDENT EVIL 5 3D dub: 15:30 17:30 19:30 leg: 21:30
OS MERCENÁRIOS 2 16 19 21:20 dublado

Programação de cinema Macapá e Santana

CINE MACAPÁ

SALA I

ABRAHAM LINCOLN-CAÇADOR DE VAMPIROS - SESSÕES: 16:40-19:00-21:20

SALA II

O DITADOR - SESSÕES: 17:00-19:00-21:00

CINE SANTANA

SALA I

BATMAN CAVALEIRO DAS TREVAS-RESSURGE - SESSÕES: 15:00-18:10-21:20

SALA II

VALENTE - 17:00

OQUE ESPERAR QUANDO ESTÁ ESPERANDO - SESSÕES: 19:00-21:20

Gibicon - participação confirmada

Minha participação no Gibicon de Curitiba já está confirmada. Já me mandaram até a passagem. Este ano o evento homenageará a editora Grafipar e estarei lançando um livro sobre o assunto. Também estarei autografando meu livro sobre roteiro, ministrando oficina de roteiro e participando de mesas-redondas. O Gibicon terá várias atrações nacionais e internacionais, entre elas Tanino Liberatore, desenhista do Ranxerox. Para saber mais, conheça a página do Facebook do evento.

HQ nacional de luto: morreram Naumim Aizen e Edmundo Rodrigues

Por Toni Rodrigues e Sidney Gusman     
2012 não tem sido um bom ano para os quadrinhos. Depois das mortes de Jean "Moebius" Giraud, Joe Kubert, Sergio Toppi, Josep María Berenguer, Mauro Martinez dos Prazeres, Sheldon Moldoff, John Severin, Tony de Zuñiga, Al Rio e Ernie Chan, mais duas importantes figuras, desta vez do cenário nacional, faleceram: o escritor e editor Naumim Aizen e o desenhista e editor Edmundo Rodrigues.

Naumim Aizen morreu no dia 20 de julho, aos 72 anos (completaria 73 em 16 de outubro), e só recentemente a notícia foi divulgada. Ele estava numa situação econômica muito difícil, que o fez viver seus últimos dias num asilo mantido pela comunidade judaica carioca. Um final de vida que, definitivamente, não merecia. Leia mais

quarta-feira, setembro 12, 2012

Imaginários quadrinhos - selecionados

A editora Draco anunciou início deste ano que iria investir em antologias de HQs, a série Imaginários Quadrinhos. Pelos outros trabalhos publicados pela Draco, esse álbum tem sido esperado ansiosamente pelos fãs.
Pois a editora anunciou os escolhidos para o primeiro número. São:

1- “Valquíria em O Homem que Veio do Céu”

Arte: Alex Genaro / Roteiro: Alex Mix

2- “ÔCH”

Arte e roteiro: Raphael Salimena

3- “Apagão”

Arte: Camaleão / Roteiro: Raphael Fernandes

4- “Gélidas Memórias”

Arte: MJ Macedo e Geannes Holland / Roteiro: MJ Macedo

5- “O Caso do Monstro do Ártico”

Arte: Marcus Rosado / Roteiro: Zé Wellington

6- “A Revolução Não Será Compartilhada”

Arte: Dalton Dalts / Roteiro: Raphael Fernandes

Mais informações no blog da editora.

Para tudo se acabar na quarta-feira

Intempol é um universo temático surgido em 2000 com o livro Itempol, uma antologia de contos sobre viagens no tempo (ed. Ano Luz). Esse universo se expandiu para várias outras iniciativas. Uma delas é o álbum Para tudo se acabar na quarta-feira, com roteiro de Octavio Aragão e desenhos de Manoel Ricardo, lançado em 2011 pela editora Draco.
A história tem duas narrativas paralelas. Uma delas parece mais um comentário sobre o universo Intempol e suas possibilidades. Nela, um desenhista é morto por revelar em seus quadrinhos os segredos da organização secreta, mas depois se transforma no seu próprio personagem, mostrando que os personagens podem viajar não só no tempo, mas também entre universos, inclusive os ficcionais.
A segunda narrativa, e a mais importante, conta a história de um traficante em guerra para conseguir dominar todos os pontos de drogas do Rio de Janeiro. Em meio a essa guerra, ele vê a namorada sendo assassinada enquanto desfilava no carnaval. Ele precisa descobrir quem a matou e "quem dá a corda no relógio de suas vidas e tentar virar a ampulheta a seu favor, antes de se afogarem em samba, suor e sangue", como diz o texto da contracapa.
Quem já assistiu Os 12 macacos certamente irá se lembrar ao ler Para tudo... As possibilidades da viagem no tempo são muito bem exploradas, com, por exemplo, ações que acontecem no futuro tendo influência no passado. Aragão maneja bem a trama e os diálogos. Manoel Ricardo, embora esteja em seu primeiro trabalho profissional, dá conta do recado com maestria.
De negativo, apenas a capa. A roupa do personagem é da mesma cor do fundo, criado uma confusão visual e tirando o destaque do protagonista (especialmente porque a gráfica parece ter mudado a cor da capa). 

Anuário no Fantasticon 2012

Silvio Alexandre, curador da Fantasticon, acaba de confirmar: Cesar Silva e Marcello Simão Branco, autores do Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica, estarão presentes ao evento nos dias 15 de setembro, sábado, às 18h30, e no dia 22, também um sábado, às 17h.
O Anuário comparece à Fantasticon desde a sua primeira edição. Trata-se uma publicação de discussão, registro e memória da literatura fantástica brasileira, que acompanha atentamente a evolução do gênero no Brasil desde o ano de 2004 (publicado em 2005), sendo esta é a sua oitava edição, a terceira sob o selo da Devir Livraria.
A Fantasticon acontece nos dias 15, 16, 22 e 23 de setembro, no auditório da Biblioteca Viriato Correa (Rua Sena Madureira, 298, São Paulo).
Aproveito para reproduzir, a seguir, o relise de divulgação preparado pela editora:

Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2011
Autores: Marcelo Simão Branco e Cesar Silva
Capa: Rogério Vilela
Selo Enciclopédia Galáctica, setembro 2012.
194 páginas PB em papel off-set 75 g/m²
Formato: 14,0 cm × 21,0 cm

Saiba mais no blog Mensagens do Hiperespaço

Revista Mundo dos Super-Heróis mostra o lado obscuro de vários personagens


Por Marcelo Naranjo    

A edição # 36 da revista Mundo dos Super-Heróis (formato 20,5 x 27,5 cm, 96 páginas, R$ 14,90) traz 51 fatos que mostram o lado obscuro e pouco conhecido dos super-heróis.

Nas 23 páginas desse dossiê destacam-se pérolas que saíram nos gibis, como Batman e Robin na cama, Capitão América travesti, Mulher-Maravilha sadomasoquista, Superman assaltante, Homem-Aranha bêbado e Batman King Kong. Há também o encontro da Liga da Justiça com a turma do Pernalonga, o confronto entre Juiz Dredd e Ronald McDonald, além de heróis ridículos e tramas bizarras. Leia mais

terça-feira, setembro 11, 2012

A destruição do Twitter

Eu fui um dos primeiros amapaenses a entrar no Twitter e um dos maiores entusiastas. Sempre achei que era uma rede social inteligente, onde se podia ter acesso a notícias, links e debates interessantes. O nível intelectual de quem frequentava o Twitter era muito melhor do que o Orkut, a outra rede social de sucesso da época.
Entretanto, em especial no estado do Amapá, o Twitter tem sido dominado pela política e a política está estragando o Twitter.
Qualquer coisa que você diz é levada para o lado político. Um simples comentário sobre buracos no asfalto, por exemplo, pode tornar você alvo deste ou daquele grupo político. A politicalha defense seus padrinhos e atira antes e pergunta depois.
Essa mesma politicalha tem entulhado o Twitter de mensagens repetidas na tentativa de emplacar uma tag. Para quem não sabe, tags são os termos mais discutidos nessa rede social. Elas são usadas para facilitar achar mensagens sobre determinados assunto. Quem quer, por exemplo, acompanhar um debate sobre a crise européia pode fazê-lo clicando na tag. Mas no Amapá, quem clica na tag encontra apenas mensagens vazias e repetidas.
A rede social deixou de ser um espaço de discussão, de troca de ideias, para se tornar um palanque político tacanho, tomado por palavras de ordem.
Será que a sociedade ganha alguma coisa com isso?

Filme de Y - O Último Homem volta a ganhar prioridade na New Line

Por Samir Naliato

No começo do ano, reportamos que o estúdio New Line estava negociando com os escritores Matthew Federman e Stephen Scaia para trabalharem em um novo roteiro da adaptação cinematográfica de Y - O Último Homem, série em quadrinhos da linha Vertigo criada por Brian K. Vaughan e Pia Guerra.

Seis meses depois, surge a notícia de que o roteiro foi entregue e agradou muito ao estúdio. Tanto que voltou a ganhar prioridade pelos executivos, que já planejam encontros com diretores para apresentar o projeto e tentar, finalmente, levar a história aos cinemas. Leia mais

PS: Y daria um ótimo seriado. A estrutura é toda de seriado, inclusive com ganchos no final de cada capítulo. Mas talvez desse um bom filme se for, no mínimo, uma trilogia.

segunda-feira, setembro 10, 2012

Antologia Eu, monstro - selecionados


Acabo de ser informado de que fui um dos selecionados para a antologia Eu, Monstro, da editora Oráculo.
A relação completa de autores é:
- "Medo", de Amanda Löwenhaupt
- "De Olhos Vendados", de Bruno Eleres
- "O Deus Imortal", de Alastair Dias
- "O Elixir da Vida", de Davi M Gonzales
- "Eu Sou o Monstro", de Gian Danton
- "Memórias de um Louco", de Ana Paola Giometti Lombardi
- "Nada Nesta Mão...", de Rafael Simon Bonaldi
- "O Monstro da Vila Tomksei", de A.Z. Cordenonsi

Lembrando que os autores convidados são:
- Valentina Ferreira, com o conto "Mena, ou Tantos Outros"
- Rochett Tavares, com o conto "Garotas Boas Vão Para..."

Espetáculo musical marca a programação do Equinócio da Primavera

Como parte da programação do Equinócio da Primavera – Astronomia no Meio do Mundo, Cia Viva de Teatro apresenta o Músical Infanto Juvenil “A Linha Imaginária e os Mistérios do Meio do Mundo”. O espetáculo conta a história de uma estrela cadente que cai no monumento Marco Zero do Equador em Macapá sendo encontrada por um Astrônomo que a ensina tudo sobre o Equinócio.
       A peça faz parte do projeto “A Escola Vai ao Meio do Mundo”, que aproxima as instituições de educação ao Monumento do Marco Zero do Equador, oferecendo aos alunos de 1º a 5º da rede estadual de ensino a oportunidade de conhecer de perto um dos principais atrativos turísticos do estado, além de participarem várias atividades científicas e culturais.
A montagem do musical, premiado pelo Ministério da Cultura com o Prêmio Pró-Cultura, une teatro e o circo trazendo para cena o real, a simbologia da cultura local e o imaginário que está contido na cabeça de cada pessoa.
Segundo a produtora executiva, Paiodhy Rodrigues, através da produção teatral “A Linha Imaginária e os Mistérios do Meio do mundo”, a Cia. Viva de Teatro, aproxima arte e ciência na busca pela valorização da educação e das riquezas patrimoniais e culturais do Amapá.

 Programação:
19/09 – 09h e às 16h
20/09 – 09h e às 16h
21/09 – 16h
Local: Sala de Eventos do Monumento do Marco Zero do Equador.

domingo, setembro 09, 2012

Superdeuses, de Grant Morrison

Grant Morrison é um dos mais importantes roteiristas de quadrinhos da atualidade. Foi um dos primeiros a experimentar a metalinguagem nos super-heróis, com o Homem-animal. Sua passagem por séries como Liga da Justiça e X-men são tanto memoráveis quanto polêmicas. Polêmicas, aliás, são também algumas de suas atitudes e declarações. Em outras palavras: é uma figura tão interessante quanto os personagens que escreve. Daí que o lançamento do livro Superdeuses (Seoman, 496 páginas) tem chamado tanta atenção.
O volume inicialmente era para ser uma antologia de entrevistas dadas pelo roteirista, mas Peter McGuigan, agente do escritor, sugeriu que o livro ficaria bem mais interessante com textos inéditos e Morrison se viu escrevendo centenas páginas numa mistura de análise do mito dos super-heróis com biografia e críticas lisérgicas sobre filmes, quadrinhos e seriados. Um dos pontos interessantes do livro é a abordagem sobre a criação do mito dos super-heróis. Para ele, esses personagens "falam mais alto e com mais força frente aos nossos grandes medos, nossos desejos mais profundos e nossas maiores aspirações".

Sua análise do surgimento mito, a partir do Super-homem, é um dos momentos mais inspirados do livro. Segundo ele, "O Superman original era uma reação humanista e audaciosa aos temores do período da Grande Depressão, do avanço científico desregrado e da industrialização sem alma (...) Se as perspectivas distópicas da época previam um mundo desumanizado, mecanizado, Superman sugeria outra possibilidade: a imagem de um amanhã decididamente humano, que entregava o espetáculo do individualismo triunfante exercendo sua soberania sobre as forças implacáveis da opressão industrial".

Essa visão é corroborada pelo fato do personagem estar sempre destruindo máquinas, como na primeira aparição do personagem, em que ele aparece na capa de Action Comics segurando um carro sobre a cabeça, pronto a jogá-lo contra uma pedra.

Se Superman merece uma apaixonada análise de sua primeira história, a outra estrela da DC, o soturno Batman, ganha de Morrison uma retrospectiva hilária dos desastres cinematográficos. Não é difícil imaginar o roteirista chapado com algum tipo de droga da moda assistindo a seriados, como os da década de 1940 e se divertindo a valer com seu humor ácido: "O Batmóvel era um conversível brega no qual Batman trocava de roupa no banco de trás enquanto o teto fechava e presto! O roadster facilmente identificável no qual Bruce e Dick tinham acabado de chegar, num piscar de olhos, virava o magnífico Batmóvel! Enquanto Batman se debatia para tirar as roupas e botar a fantasia de morcego, o dito Menino Prodígio assumia o volante ilegalmente e, quando era a vez do devasso Robin revirar-se para entrar nos trajes, Batman fazia as honras na frente. Era uma parceria lendária, afinal de contas".

Um ponto que não poderia ficar de fora de um livro de Morrison é sua antológica briga com Alan Moore, autor de Watchmen, V de Vingança e outras séries de renome. O escocês Morrison é nitidamente fã do trabalho de Alan Moore e tem que fazer um verdadeiro contorcionismo verbal ao elogiá-lo ao mesmo tempo em que o critica: "Alan Moore era autodidata, ambicioso, de uma inteligência feroz e extravagante, e o maior truque no seu arsenal de grandes truques era parecer totalmente inovador, como se não houvesse história dos quadrinhos anterior ao seu surgimento".

A eterna inimizade entre os dois rende alguns dos melhores momentos do livro, como quando Alan Moore diz que a graphic novel Asilo Arkhan, de Morrison, é "cocô embrulhado em ouro" e Morrison afirma que Watchmen é "um poema colegial de 300 páginas". Também vale destacar os trechos com as esquisitices de Morrison, como a fase em que ele praticava magia do caos vestido de travesti. Ou a vez em que ele mascou haxixe e se sentiu abduzido por extraterrestres que lhe revelaram o segredo do universo — segredo que ele, gentilmente, compartilha com os leitores do livro.

Não se espere isenção de Morrison. Ele alfineta desafetos (como Moore), antigos amigos (como Mark Millar) e simplesmente ignora quem é da turma de Alan Moore, como Neil Gaiman, que merece apenas uma pequena menção na obra. Além disso, embora a Marvel rivalize com a DC na criação de mitos, ele se concentra muito mais nos heróis da DC, provavelmente reflexo de sua traumática passagem pelo título X-men.

Um ponto positivo da edição brasileira é que ela é traduzida por Érico Assis, jornalista especializado em quadrinhos, que sabe do que Morrison está falando. Isso evitou, por exemplo, que nomes de personagens fossem traduzidos de maneira diferente da usual no Brasil.



Um ponto negativo é a capa nacional, um assunto que não poderia ser ignorado em qualquer resenha mais séria. A capa original emula uma sequência de quadrinhos, com um planeta sendo destruído, um foguete sendo enviado ao espaço e o pequeno Karl-El sendo achado pelos Kents. O título e o crédito são distribuídos de maneira elegante entre os quadros. A edição nacional deixou a elegância de fora. Ela é dominada por um título que surge de um rasgão, em letras garrafais, lembrando o cartaz do Superman da década de 1970, com um fundo de estrelas. A capa original é lembrada apenas pela parte de baixo, em que aparecem um homem e uma mulher. Sem a sequência é muito difícil deduzir que são Martha e Jonathan Kent e que eles estão achando o superbebê. Espera-se que a capa seja repensada para a próxima edição. Afinal, Superdeuses é leitura obrigatória para fãs de quadrinhos e pessoas que desejam entender o fenômeno de super-heróis.

Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural.

sábado, setembro 08, 2012

Programação de cinema em Macapá

Cine Macapá

Abrahan Linconl, caçador de vampiros – 16:40, 19, 21 horas.
O DITADOR  17, 19, 21 horas

Cine Imperator
Os mercenários 2 – 16, 19, 21 horas.
Parto of me – 16, 18 horas.

sexta-feira, setembro 07, 2012

Google comemora o 46o aniversário de Jornada nas Estrelas

Amanhã, dia 8 de setembro, a série Jornada nas Estrelas comemora 46 anos (ela estreou na TV no dia 8 de setembro de 1966). Para comemorar, o Google colocou em sua página inicial um Doodle interativo que usa a trilha sonora da série e situações do seriado. Para ver, clique aqui.

Caligari: a história de uma adaptação


    O sucesso do filme Caligari fez com que ele fosse adaptado mais de uma vez para outras mídias. A obra já foi citada diversas vezes em gibis e ganhou uma adaptação em quadrinhos em 1992, pela editora Monster Comics, numa minissérie em três partes assinada por Ian Carney e Michael Hoffman. Em 1999, os roteiristas Randy e Jean-Marc Lofficer e o ilustrador Ted Mckeever juntaram elementos de Batman, Super-homem, Metrópolis e Caligari no especial Nosferatu. Quando Tim Burton lançou o segundo filme do Batman, em 1992, o visual do Pinguim era inspirado em Caligari, visual que depois foi aproveitado no desenhado animado dirigido por Bruce Tim.
    Curiosamente, embora os quadrinhos de terror sempre tenham feito muito sucesso no Brasil, em nosso país nunca o filme de Wiene havia sido adaptado para a nona arte.
    A idéia para isso surgiu em 1998. Nessa época estava sendo lançada a graphic novel Manticore, em duas partes, com roteiro meu, pela editora Monalisa. O sucesso de crítica (a revista ganhou o HQ Mix, o Angelo Agostini de melhor roteirista e o prêmio da Associação Brasileira de Arte Fantástica) fez crer que a revista teria uma continuidade. A idéia, então, era transformar a Manticore numa revista mix de terror e ficção-científica nos moldes da extinta Kripta. Uma das ideias era fazer histórias sobre mitos urbanos, como O bebê diabo e sobre clássicos de terror, como Caligari.
Uma série de decisões editoriais equivocadas fez com que a revista, apesar do sucesso, não tivesse continuidade, mas algumas dessas histórias seriam de fato produzidas. As duas citadas acima foram lançadas em 2008 pela editora HQM no especial Quadrinhofilia, que reúne trabalhos de José Aguiar.
O processo de adaptação começou com uma análise do filme. Eu e o desenhista assistimos ao Gabinete do Dr. Caligari juntos, fazendo anotações. A ideia era captar as principais características da história, afinal, o segredo de uma adaptação não é ser totalmente fiel à trama, mas ser fiel ao espírito da ideia original. Assim, a deformação dos cenários e a maquiagem exagerada foram os elementos mais facilmente percebidos. Como havia uma limitação de seis páginas, a história precisava ser condensada, mas ainda assim fazer sentido e ser fiel.
Uma das questões discutidas foi com relação ao uso de diálogos e legendas. Como o filme é mudo, o caminho mais fácil seria fazer uma HQ muda. Mas cinema e quadrinhos são mídias completamente diferentes e fazer isso seria um erro. Mesmo em seus primórdios, as HQs não eram mudas, pois não havia limitação técnica ao uso da linguagem falada. Assim, decidiu-se que se teria diálogos e legendas (representando a fala de Alan, em off).
    O passo seguinte, após a estruturação de um argumento-sinopse, foi a elaboração de um roteiro.  O roteiro das duas primeiras páginas é apresentado abaixo, para dar uma ideia dessa fase da adaptação:

Página 1
Q1 – Plano detalhe de folhas secas caídas no chão.
Velho (off): Os espíritos... eles estão em todos os lugares...
Q2 – Plano médio. Francis e o velho estão sentados, lado a lado, conversando.
Velho: Nos amedrontam... eles me afastaram de minha mulher e meus filhos.
Q3 – Os dois estão conversando, mas agora Francis olha para o lado, para Jane, que aparece vestida de branca, quase como um espírito.
Velho: Foi assim que aconteceu, meu rapaz...
Q4 – Jane passa pelos dois, sem notá-los. Quadro mudo. 
Q5 – Quadro horizontal. Créditos. Francis e o velho em primeiro plano, vistos de costas, enquanto Jane afasta-se, em último plano.
Velho: Conhece a jovem?
Francis: Aquela é minha noiva, Jane.
Q6 – Alan e o velho conversando, em plano médio.
Francis: A pobre jamais se recuperou do que nos aconteceu...
Q7 – Agora um plano fechado dos dois, conversando. Francis, agora em segundo plano, sendo observado, com olhar perdido, pelo velho.
Francis: Também tenho uma história...
Q8 – plano fechado de Francis, em gesto amplo, expressionista.
Francis: ... ainda mais extraordinária do que a sua...
Q9 – Close de Francis. Destaque para seu olhar melancólico, ampliado pela “maquiagem pesada”.
Francis: Tudo começou com a chegada da feira de variedades à nossa cidade.

Página 2 Nesta página teremos um quadro grande, o 4, ocupando boa parte da página, num tom expressionista.
Q1 – Quadro geral da feira, com Caligari aproximando-se do leitor.
Texto: E com a feira
Q2 – A continuação da mesma cena, mas agora Caligari já está mais próximo de nós.
Texto: veio
Q3 – Agora o quadro é tomado por Caligari.
Texto: O doutor Caligari.
Q4 – Chegamos ao quadro de impacto da página. Caligari espera o escrivão. Como combinamos, a mesa do escrivão é extraordinariamente alta e distorcida, simbolizando, como no filme, o monstro da burocracia. Caligari é visto como pequenino diante desse monstro.
Texto: Antes de instalar sua feira, o doutor foi pedir permissão ao escrivão. Ele foi duramente humilhado. Teve que esperar por horas para ser atendido.

O exemplo serve para demonstrar como foi o processo de adaptação nessa fase de estruturação do roteiro. Bom lembrar que tal roteiro foi construído a partir das conversas entre desenhista e escritor, e reflete essa conversa. Posto isso, passemos a analisar o texto. 
A fala de Francis, quebrada, nos três primeiros quadros da página 2, revela influência do quadrinho britânico do final dos anos 1980, em especial de autores como Neil Gaiman (Orquídea Negra) e Alan Moore (Monstro do Pântano).
A narrativa, em off, é intencionalmente coerente e racional, como forma de evitar que o leitor perceba que se trata de um conto de um louco, o que já é evidenciado pelo desenho, sendo uma pista de como a trama irá terminar. Assim, o roteiro procurou preservar o final surpresa.
Se o texto parece uma narrativa fantástica contada por um homem racional, o desenho distorce essa narrativa, demonstrando o real estado das coisas.
A segunda página, já descrita no roteiro acima, apresenta o quadro de impacto de Caligari pequeno, numa perspectiva distorcida, diante da enormidade da burocracia.
A página 3 é dominada pela figura esguia de Cesare. A magreza e altura atípica do personagem orientam a leitura, que ganha foco no rosto fantasmagórico do sonâmbulo. Os personagens normais são eclipsados por essa figura distorcida.
A página 4 é centralizada pela figura de Jane, como se os fatos refletissem dela. Ao fitar a página, o leitor tem seu olhar magnetizado pelo olhar assustado de Jane e sua figura, em sépia azul. A tendência do olhar é correr na direção do último quadro, em que Cesare agarra Jane, sequestrando-a.
Esse caos da diagramação reflete o caos interno dos personagens, suas angústias e inquietações, no que poderia ser considerado um equivalente quadrinístico da técnica expressionista.
Avançando, na página 6 temos a prisão de Caligari. Ele se contorce e grita, lutando com os médicos. Vista em oposição à página seguinte, vemos que ela se reflete no quadro 4 da página 7. Ali é o narrador que é preso e repete a mesma posição de Caligari, como se fossem duas faces da mesma moeda: num lado a racionalidade, no outro a loucura. Como o lado racional é na verdade uma narrativa distorcida, uma falsa racionalidade, esse contraste cria uma inquietação no leitor que nos lembra o conceito de obra aberta, de Umberto Eco, que pretende renovar nossa percepção e nosso modo de compreender as coisas.
    Na página 7 há um diálogo, não existente no filme, que pretende destacar exatamente a crítica ideológica do filme, pensada originalmente pelos roteiristas (Janowitz e Carl Mayer). Alan pula sobre Caligari e grita: “Tolos! Não percebem? Ele planeja nosso destino!”.
A fala é uma referência direta à interpretação de Kracauer, segundo o qual Caligari antecipa Hitler e o nazismo. Assim, se por um lado respeitamos a moldura introduzida por Fritz Lang, por outro destacamos a crítica social e política imaginada pelos roteiristas.

Propaganda é isso aí: sandalha

Não basta ser Havana, tem que ser sandaLHA.

quinta-feira, setembro 06, 2012

Artes originais de Mike Deodato Jr, desaparecidas há anos, surgem na internet

Por Samir Naliato      | 06-09-2012

Uma das mais longevas revistas em quadrinhos publicadas pela Editora Abril foi A Espada Selvagem de Conan, que trazia as aventuras do bárbaro criado por Robert E. Howard quando ele era licenciado pela Marvel Comics.

O título apresentou capas exclusivas em vários números, ilustradas por desenhistas brasileiros como Mozart Couto, Ivan Reis, Marcelo Campos, Rogério Vilela, Hermes Tadeu, Octavio Cariello, Alexandre Jubran e Roger Cruz, dentre outros.

Foi o Caso de Mike Deodato Jr, que, entre 1998 e 1999, fez diversas ilustrações para a Abril usar nas capas de A Espada Selvagem de Conan.

Esses trabalhos de Deodato voltaram a virar assunto agora, quando uma arte original produzida por ele foi postada no Facebook, para ser comercializada. Isso rapidamente chamou a atenção do desenhista por um motivo bastante desagradável: esses desenhos são obras originais feitas para a Editora Abril e nunca foram devolvidas depois de publicadas. Leia mais

quarta-feira, setembro 05, 2012

Fim da greve na Unifap

Em assembléia hoje, os professores da Unifap decidiram pela volta às aulas no dia 17 de setembro (junto com outras universidades). É bom deixar claro que, embora estejam voltando às aulas, os professores não aceitaram a proposta indecente da presidenta Dilma de criar uma única categoria de professores com super-salários enquanto todos os outros amargariam perdas. Para maiores informações, clique aqui.

Dynamite lança crossover com heróis pulps e arte de Alex Ross

Por Samir Naliato     

A editora Dynamite Entertainment lançará, em novembro, uma minissérie em oito edições chamada Masks. Trata-se de um crossover reunindo diversos personagens dos pulps norte-americanos, criados nas décadas de 1920 e 1930.

Dentre eles estão o Besouro Verde, Kato, O Sombra, Miss Fury, Zorro, Morcego Negro, The Spider e outros.

Nos últimos tempos, a editora vem apostando nesses personagens em séries individuais, e agora decidiu reunir todos em uma mesma história, que terá roteiros de Chris Roberson e arte de Alex Ross. Este será, aliás, o primeiro trabalho de Ross fazendo a arte interna de um projeto desde que produziu Justiça, para a DC Comics, em 2005. Leia mais

Livro do Medo: Os mais consagrados e promissores autores do Terror\Horror

A editora Orago revelou o time que irá compor a antologia Livro do Medo: Os mais consagrados e promissores autores do Terror\Horror. Lá estou eu, no meio de um time de feras da literatura de fantasia.
Confira abaixo os autores convidados:

Marcelo Del Debbio - Especialista em teoria da conspiração e escritor de diversos RPGs de terror (Arkanum e Trevas Por exe.) autor de 43 livros entre RPGs, uma enciclopédia e um Romance.


Julio Emilio Brás - Escritor de diversos livros (169), roteiristas de quadrinhos , vencedor dos prêmios internacionais Austrian Children Book's Awards e o Blue Cobra Award do Swiss Institute for Children's Book e do brasileiro Prêmio Jabuti.


R. F. Lucchetti - Escreveu e publicou ao todo 1.573 livros, 300 histórias em quadrinhos, 25 roteiros de filme e centenas de programas de rádio e televisão. Roteiristas os filmes do Zé do Caixão e filmes do Ivan Cardoso, ganhador de um festival de gramado como melhor roteirista. Completa 70 anos de carreira esse ano.

Georgette Silen - Autora de contos de diversas antologias, e dos livros Lazarus da Novo Século, apenas uma taça e Fábulas ao anoitecer.

Gian Danton - Autor de contos em antologias e escritor de roteiros em quadrinhos com os quais já ganhou os dois principais prêmios do quadrinho brasileiro (HQMIX, apadrinhado por Serginho Groisman, e Angelo Agostini)

Vanessa Bosso – Possuí 7 livros publicados entre eles “2012” e “Possuída”.

Fernando de Abreu – Autor do ainda inédito Paranóide (lançamento esse ano). Possui textos policiais na internet (o procurador) é dono do Blog Crimineliber.

Ricardo Labuto Gondim - Autor do incrível DEUS NO LABIRINTO.

Abu Fobiya (Fabio Yabu) – Escritor de livros e quadrinhos infanto-juvenis como os famosos Combro Rangers e Princesas do Mar. No terror onde assumi sua segunda personalidade o Abu Fobiya lançou “Branca dos Mortos e os sete zumbis” e pela NerdBooks

Dynio Golau - Autor de Sob o Signo de Cancer,, Ensaios sobre as Sextas-Feiras e Kaluanã.

Antonio Augusto Shaftiel – Escritor de livros de RPGs e Romances fantásticos em especial pela DAEMON. Participou de 11 publicações (Entre Anjos e Demônios, Assassino de Almas, etc)

Fabiano Vianna – Escritor contista e dono da Revista pulp “LAMA” , Diretor de videos stopmotion e pixilation de Trailers de livros, video clipes e vinhetas.

Regina Drummond – Escritora de diversos livros em especial infanto-juvenis, ganhadora de um Jabuti como editora, e como autora ganhadora de 3 selos acervo básico da fundação nacional do livro infanto-juvenil.

J. Modesto – Autor de Trevas e Anhangá, participou de antologias entre elas “Amor Vampiro”.