segunda-feira, setembro 30, 2013

Lições literárias

Quando conheci Afonso, aos 14 anos, eu só tinha lido um livro,Aventuras de Xisto, de Lúcia Machado de Almeida. Afonso já tinha lido todo Lobato, infantil e adulto, alguns livros de Freud e estava começando a ler Jung em edições bonitas, encadernadas, que ornavam a sala de sua casa. 

Essas três coleções tinham história. Haviam pertencido ao seu padrinho, sargento do exército. Em plena ditadura, era um militar de esquerda. Um dia bateu na porta da família do afilhado com caixas repletas dessas coleções: 

- Me descobriram. Eu vou sumir. Esses livros ficam de presente para o Afonso. 

Nunca mais ouviram falar dele. Não se sabe se foi pego pelos órgãos de repressão, ou se fugiu para outro país. 

Afonso tinha um ciúme atroz desses volumes encadernados. Coisa de colecionador. Mostrava o que estava lendo, comentava, lia um trecho, mas não me deixava nem tocar no exemplar
.  Leia mais

Livro reúne histórias do mestre do terror

O pai dos pulps está de volta!! Já está a venda o novo livro de R. F. Lucchetti.
R. F. Lucchetti que foi o ganhador do prêmio HQMIX como grande mestre esse ano. Ele escreveu mais de 1000 livros, 200 roteiros de HQs desenhados por nomes como Nico Rosso, Eugênio Colonnese, Julio Shimamoto, Rofolfo Zalla, Jayme Cortez e etc. Alem de ser o roteirista de cinema de filmes do Ivan Cardoso e José Mojica, o Zé do caixão.

“Fantasmagorias de R. F. Lucchetti” é uma antologia de contos fantásticos do escritor Rubens Francisco Luccchetti, considerado o pai dos pups e mestre do horror n Brasil. O livro é organizado pelo seu filho, o especialista em Quadrinhos, Marco Aurélio Lucchetti. É um livro diferenciado, pois trata-se de um livro super ilustrado, todas as cenas estão retratadas em imagens que envolvem os textos.

O ilustrador é simplesmente Emir Ribeiro, criador de uma das principais personagens dos quadrinhos brasileiros, a Velta.


Ja esta à venda no site da editora 

10 anos do blog

A partir de amanhã este blog completa 10 anos. Explico. Inaugurei o blog, ainda no weblogger, em outubro de 2003, mas não guardei o dia. Assim, passei a considerar o mês de outubro como aniversário. Que eu saiba, é o mais antigo blog amapaense ainda em funcionamento. Lembro que na época em que surgiu era tão novidade que um dos jornalistas para os quais mandei o release me respondeu perguntando o que era um blog.
De lá para cá, o Ideias passou por várias modificações. Passamos para o Blogspot, depois de vários bugs no Weblogger, fizemos várias mudanças no lay-out, começamos a usar mais imagens  e até vídeos(o weblogger não permitia vídeos e limitava o número de ilustrações) e abordamos os mais diversos assuntos, de literatura a psicopatas, passando por quadrinhos.
Vale lembrar que o título do blog, Ideias de Jeca-tatu, é uma homenagem a um dos principais livros de Monteiro Lobato.
A todos os que têm nos acompanhado nesses 10 anos, meu muito obrigado.

sábado, setembro 28, 2013

Anuário brasileiro de literatura fantástica

Já está disponível para a venda o “Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica 2012”, publicado pela Devir Livraria.
 
Numa iniciativa dos jornalistas e pesquisadores de ficção científica e fantasia Marcello Simão Branco e Cesar Silva, o Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica foi publicado pela primeira vez em 2005. Apresenta um amplo e profundo panorama do cenário fantástico nacional, em suas três manifestações principais, a ficção científica, a fantasia e o horror, além de contemplar também as criações híbridas entre estes gêneros e os chamados trabalhos de “fronteira”, isto é, o fantástico abordado a partir da perspectiva do mainstream literário.

Contém notícias sobre prêmios e personalidades, artigos sobre o mercado editorial, listas dos livros recomendados lançados durante o ano e uma seção histórica com datas e resenhas de livros importantes. A edição apresenta o escritor Álvaro Domingues como resenhador convidado, que vem somar com as resenhas dos autores do Anuário aos vários dos principais livros de autores brasileiros e estrangeiros publicados em 2012. Apresenta também um ensaio exclusivo do escritor e acadêmico Ivan Carlo Andrade de Oliveira, sobre a ficção científica nas histórias em quadrinhos brasileiros. Finalmente, destaca, como Personalidade do Ano, a escritora Simone Saueressig, fantasista gaúcha autora do romance Aurum Domini: O Ouro das Missões(Editora Artes e Ofícios), Livro do Ano em 2011 pela Associação Gaúcha de Escritores. Simone desenvolve um sólido e criativo trabalho na literatura fantástica desde os anos 1980 e é contemplada com uma extensa entrevista sobre a sua obra.

O Anuário tem por meta realizar um registro do estado desses gêneros no país, além de auxiliar tanto os leitores em busca do que há de novo, como os escritores que desejam destrinchar as tendências do mercado. E também a editores e pesquisadores que estão a procura de um conhecimento mais sistematizado e amplo do que está surgindo e das perspectivas para o fantástico no Brasil.

O Anuário Brasileiro de Literatura Fantástica recebeu em 2010 o Prêmio “Melhores do Ano”, na categoria “Melhor Não-Ficção”, concedido pelo site Ficção Científica e Afins, da escritora Ana Cristina Rodrigues.


Um relato do lançamento do “Anuário 2012”, que ocorreu em São Paulo, no dia 13 de setembro: http://mensagensdohiperespaco.blogspot.com.br/2013/09/como-foi-o-lancamento-do-anuario-2012.html

ANUÁRIO BRASILEIRO DE LITERATURA FANTÁSTICA 2012
Marcello Simão Branco e Cesar Silva.
Coleção Enciclopédia Galáctica, Devir Livraria, 2013.
Capa de Silvio Ribeiro.
194 páginas.

O “Anuário 2012” pode ser comprado a partir destes endereços:



O enígma de Kaspar Hauser

Kaspar Hauser foi uma criança achada em uma praça de uma cidade da Alemanha cuja história mudou a maneira como os estudiosos viam o ser humano e a educação.
Aparentemente de origem nobre, ele teria sido abandonado por sua mãe nas mãos de um homem que não sabia como criá-lo e o prendeu em uma cela, dando-lhe apenas água e pão todos. Como o alimento e a bebida eram colocados lá enquanto ele estava dormindo, Kaspar passou anos sem nenhum tipo de contato humano. Aos 15 anos, o homem que o adotou resolveu dispensá-lo e deixou-o no centro de Nuremberg com uma carta e um livro de orações.
Para os moradores tratava-se de um enigma: ninguém sabia de onde ele viera ou como chegara ali. O rapaz não sabia andar, praticamente não falava, não se sentava, não sentia medo, não sabia rir ou chorar e só comia pão e bebia água, recusando qualquer outro tipo de alimento. Kaspar não sabia nem mesmo distinguir sonho de realidade.
Houve quem acreditasse que se tratava de alguém com problemas mentais, mas Kaspar Hauser aprendia facilmente quando era ensinado. Aprendeu a tocar piano e até escreveu sua auto-biografia.
Seu caso demonstrou que muitos de nossos comportamentos que parecem inatos, como o medo, o choro ou o riso, são na verdade aprendidos e abriu caminho para boa parte da antropologia moderna. Também influenciou a pedagogia ao mostrar que o ser humano aprende a todo instante, em contato com os outros.
O caso deu origem ao filme O enígma de Kaspar Hauser, de Werner Herzog, de 1975.
Herzog faz mais do que contar a história do garoto abandonado. Seu filme é uma metófora do processo de aprendizado humano. A cena em que Kaspar é abandonado na praça, por exemplo, é emblemática: ele fica lá, parado, incapaz de agir, de sair do estado em que o deixaram. Por outro lado, um boi, amarrado a uma árvore, tenta se libertar. Sem contato humano e sem aprendizado, Kaspar é menos que o boi. Ou seja: sem educação não somos nada.
Em outra cena, já na cidade, a imagem de Kaspar em suas dificuldades ganha contraponto com o bebê da família, que já sabe chorar para pedir alimento à mãe.
Por outro lado, Herzog utliza o caso para criticar a sociedade e as cegueiras dos paradigmas, como quando um professor propõe para Kaspar um enigma lógico e este o soluciona de maneira criativa, mas não convencional, de modo que o professor "não pode aceitar aquela resposta".
O enígma de Kaspar Hauser é um filme lento, em certo sentido até difícil, mas essencial para todos aqueles que queiram entender a natureza humana. Filme obrigatório para estudantes de licenciaturas e professores.

sexta-feira, setembro 27, 2013

Palestra sobre a produção da Turma da Tribo

Na última terça-feira, dia 24, estive na escola Alexandre Vaz Tavares numa programa da pré-FLAP (Feira do Livro do Amapá) falando sobre a produção do gibi Turma da Tribo, projeto selecionado no edital de literatura Simãozinho Sonhador. Na plateia acabei descobrindo um fã da MAD que depois veio conversar comigo sobre minha colaboração com essa revista. Uma aluna veio me perguntar como um roteirista se prepara para escrever os roteiros. A resposta, claro, foi: lendo muito.
Abaixo algumas fotos.


Aproveitando, coloco abaixo algumas prévias das páginas a lápis da Turma da Tribo (desenhos de Ricardo Manhães).









Engenheiro ganha 1,25 milhão de milhas aéreas comprando pudim

Foto: Reprodução/Australian Times
David Philips, engenheiro civil e professor da Universidade da Califórnia descobriu um jeito de nunca mais pagar passagens de avião. Comprando pudins. Ele conseguiu trocar 12500 potes de pudim de chocolate por 1,25 milhão de milhas aéreas. Leia mais

quarta-feira, setembro 25, 2013

Depoimento de ex-governadores do Amapá em audiência é adiado

O juiz Pedro Madeira, da 6ª Vara Cível de Fazenda Pública do Fórum de Macapá, adiou para o dia 18 de novembro, os depoimentos dos ex-governadores do Amapá, WaldezGóes e Pedro Paulo Dias, acerca do processo que investiga a falta de repasse de valores do governo do estado a instituições financeiras, provenientes de empréstimo consignado feito por servidores públicos estaduais. Principais indiciados em ação do Ministério Público Estadual, os ex-gestores participariam nesta segunda-feira (23), da audiência de instrução referente ao processo. Leia mais

Ps: Vale lembrar que, além do empréstimo consignado, também era desviado o dinheiro do plano de saúde, que era descontado no contracheque dos servidores, mas não era repassado ao Sul-América. 

segunda-feira, setembro 23, 2013

Cientistas afirmam: golfinhos são pessoas

Cientistas sugerem que estes seres são tão brilhantes que devem ser tratados como “pessoas não humanas“. Estudos sobre o comportamente dos golfinhos relevaram a similitude de suas comunicações à dos seres humanos, ultrapassando à dos chimpanzés.

Isto foi respaldado por pesquisas anatômicas que mostram que os cérebros dos golfinhos têm muitas características chaves associadas com uma alta inteligência.

Os pesquisadores sustentam que seus estudos demonstram que é moralmente inaceitável manter estes animais inteligentes em parques de atrações, matá-los para comer, ou que estes tenham que morrer por acidentes de pesca. Cerca de 300 mil baleias, golfinhos e botos morrem desta maneira a cada ano. Leia mais

sexta-feira, setembro 20, 2013

Conservadores e progressistas

Na época em que vivemos os conceitos de esquerda e direita se esvaziam. Tanto que já colocam o nazismo como esquerda e o anarquismo como extrema-direita. Assim, prefiro falar em conservadores e progressistas. Os progressistas acreditam na mudança, na evolução social e tecnológica e nas liberdades individuais. Os conservadores são amantes de ditaduras (tanto que idolatram George Bush, um dos presidentes norte-americanos que mais atentaram contra as liberdades individuais) e têm alergia à palavra evolução. E, claro, há os malucos dos dois lados.

quinta-feira, setembro 19, 2013

10 casos de histeria coletiva


Você já deve ter ouvido falar sobre a histeria coletiva, mas caso não saiba nada sobre isso, prepare-se para conhecer uma das mais intrigantes situações psicológicas que podem se desenvolver na mente humana.
Os surtos de histeria coletiva (também conhecidos como a doença psicogênica de massa) acontecem quando um grupo de pessoas passa a ter sintomas, perturbações ou reações semelhantes, de forma solidária a qualquer fato, imaginário ou exagerado.
Nessa lista, reunimos os mais impressionantes surtos coletivos na história, desde situações de pânico, até reações desproporcionais a qualquer ocorrido do cotidiano. Confira abaixo tudo o que a mente humana é capaz de criar com um pouco de influência externa.

A dança da morte

Em 1518, um caso de histeria de dança incontrolável surgiu em Estrasburgo, na França. Fao Troffea, uma moradora da região, começou a dançar na rua, aparentemente sem motivo e sem qualquer música tocando.
Fonte da imagem: Reprodução/ClipTank
Relatos dão conta de que seus passos fervorosos duraram entre quatro a seis dias, sem interrupção. Em uma semana, 34 pessoas já haviam se juntado à dançarina e em menos de um mês havia mais de 400 pessoas dançando frenéticamente nas ruas. A maioria dessas pessoas acabaram morrendo de exaustão ou por causas como ataques cardíacos e derrames.
Leia mais no site Mega Curioso

segunda-feira, setembro 16, 2013

Um elogio merecido

Quando um agente público faz um bom trabalho, merece ser elogiado. É o caso do delegado Sávio Pinto, que, depois de moralizar o DETRAN, está revolucionando a Delegacia do Meio Ambiente. Sávio criou a DEMA móvel e está rodando a cidade notificando e até prendendo pessoas que abusam do som alto. A poluição sonora é um problema de toda a cidade de Macapá e tem só se agravado, principalmente porque havia pouca repressão - a PM ambiental normalmente só pede para baixarem o som. O delegado Sávio está mostrando que a lei existe para ser cumprida. Parabéns!
Esperamos que agora também a PM Ambiental e a Prefeitura entrem nessa cruzada. A prefeitura pode ajudar - e muito - com multas, em especial no caso de bares.

sexta-feira, setembro 13, 2013

Álbum Clássicos revisitados


Clássicos revisitados é um álbum de quadrinhos organizado por Antonio Eder e Leonardo Melo. A edição tem como proposta recontar histórias clássicas misturando-as com a máfia. Eu contriubuí com uma história dos três porquinhos desenhada pelo Antonio Eder. Quem gosta de cinema vai sacar a referência a um filme de Quentin Tarantino...
Ah, o álbum será lançado no Festival Internacional de Quadrinhos de Belo Horizonte, o FIQ.

E Benício criou a mulher...

De 1968 a 1985, um artista reinou absoluto nos cartazes de filmes nacionais. Suas mulheres elegantes e extremamente sensuais povoaram a imaginação de milhões de brasileiros. Eram tão bons que muitos se sentiam logrados por não encontrarem nas películas mulheres tão lindas quanto as dos cartazes. Ao mesmo tempo, nas bancas de revistas, centenas de livrinhos de bolso traziam sua marca. É a história desse artista que Gonçalo Júnior conta em E Benício criou a mulher... (Opera Graphica, 2012, 416 páginas), obra ganhadora do prêmio HQ Mix na categoria melhor livro sobre quadrinhos. 


Gonçalo Júnior é um dos mais importantes biógrafos brasileiros e tem se especializado na história editorial brasileira. Seu livro A guerra dos gibis é um clássico ao mostrar como impérios de comunicação, como as organizações Globo, surgiram a partir do lucro gerado pela venda de gibis. Outras obras que seguem essa linha são Maria Erótica e o clamor do sexo e Alceu Pena e as garotas do Brasil. 

Benício começou sua carreira como ilustrador publicitário na década de 1950, em Porto Alegre. Em 1953 foi para o Rio de Janeiro tentar realizar o sonho de se tornar pianista. Ele iniciou na editora RGE, de Roberto Marinho, como aprendiz de desenhista. Sua função era adequar as histórias em quadrinhos estrangeiras (a maioria tiras) ao formato gibi da editora. Durante três anos cuidou da adaptação de diversos personagens, entre eles o mais difícil de todos (segundo o próprio Benício): Príncipe Valente, de Hall Foster. 


Mas o sonho do artista não era os quadrinhos (ele desenhou uma única história em toda sua vida, Foi o destino, escrita por Edmundo Rodrigues e publicada na revista Cinderla), e sim as ilustrações. Seu alvo eram as revistas femininas, como Cinderela e Querida. Assim, ele passou a produzir desenhos com cenas de amor e espalhar por sua prancheta. As mulheres eram sempre lindas, com olhos grandes, vivos e lábios generosos. Logo ele estava produzindo capas e ilustrações internas para as revistas femininas da RGE. 

Em 1965 ele voltou para capital gaúcha, mas continuou aparecendo mensalmente nas bancas de revistas graças às capas feitas para os livros de bolso da editora Monterrey. Suas capas eram tão espetaculares que há quem colecione os pockets apenas por causa das ilustrações. 

Entre os trabalhos para a Monterrey, o que mais se destacou foi a espiã Brigitte. 


Brigitte era filha de Giselle, a espiã nua que abalou Paris, folhetim do jornalista David Nasser que havia salvado o jornal Diário da Noite, elevando suas vendas na década de 1940 e foi republicada pela Monterrey na forma de livros de bolso. O sucesso foi tanto que, quando a série terminou de ser publicada, o dono da editora teve a ideia de continuá-la através de uma outra personagem: a filha de Giselle. 

Brigitte era uma estonteante morena de cabelos negros levemente cacheados, olhos azuis, pele dourada como pêssego e corpo escultural. Seu codinome era "Baby" e era a agente secreta mais perigosa do mundo. Sabia usar todos os tipos de armamentos e nunca se afastava de uma pequena pistola com cabo de madrepérola, que prendia com uma liga na coxa esquerda. Sempre que ia usá-la, fazia surgir as roliças coxas por entre o vestido, o que a fez ser conhecida também como "a espiã de pernas provocantes". Benício já era famoso pelas capas de Brigitte quando começou a produzir cartazes para cinema. A primeira encomenda veio do ator, diretor e produtor Adolfo Chadler, que em 1968 lhe pediu uma ilustração para o filme Os carrascos estão entre nós sobre a caça de nazistas que haviam se refugiado na América Latina após a II Guerra. O filme não fez grande sucesso e é mais lembrado exatamente por ter sido o primeiro a contar com a capa de Benício. 

No cartaz o personagem principal apontava uma arma e agarrava uma loira linda, com olhos assustados. A imagem tinha tudo que faria de Benício o mais bem pago ilustrador brasileiro: o erotismo, a sofisticação, a composição muito primorosa e o hiper-realismo. O trabalho chamou a atenção de Osvaldo Massaini, um dos maiores produtores cinematográficos brasileiros, que o contratou para realizar a capa de diversos outros filmes, entre eles Independência ou morte e A madona de Cedro. 

Nesse ponto, o livro chega a um dos seus assuntos mais interessantes: o trabalho de Benício para a Boca do Lixo, reduto de produção cinematográfica localizado no centro de São Paulo. Nesse local circulavam diretores, atores, atrizes, cafetões , prostitutas e aspirantes a atrizes buscando uma chance. O termo criado para batizar a produção dessa época, pornochanchada, talvez dê uma imagem irreal do que era produzido. Na maioria os filmes insinuavam muito e mostravam pouco, puxando muito mais para o humor do que para o erótico. Nesse sentido, os cartazes e os títulos com grande apelo sexual ajudavam a aumentar a bilheteria. Entre os títulos: A Virgem, Cada um dá o que tem, O grande gozador, Deixa amorzinho... deixa, A noite das imorais.

A obra de Gonçalo ajuda a preencher a lacuna bibliográfica sobre a Boca do Lixo, mas esse importante momento do cinema popular brasileiro por si só dava um livro com foco nos bastidores das produções. Como o foco é a obra de Benício, Gonçalo se atém mais ao trabalho com os cartazes. 

O livro é repleto de ilustrações de Benício. Só por isso já valia a compra, em especial pelas coloridas. A capa, por exemplo, abre em uma orelha dupla com três imagens femininas belíssimas. De negativo apenas a falta de uma melhor revisão (há trechos praticamente repetidos dentro de um mesmo capítulo). Mas, de resto, é uma obra obrigatória para colecionadores. 

Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural.

Lançamento do anuário brasileiro de literatura fantástica

Tem um artigo meu no anuário sobre quadrinhos de ficção científica nos quadrinhos brasileiros.

sábado, setembro 07, 2013

Lançamento do livro Grafipar em Natal

Foi um sucesso o lançamento do livro Grafipar - a editora que saiu do eixo em Natal. Organizado pela quadrinista e jornalista Milena Azevedo, o evento chegou a ser destaque na mídia local. Confira abaixo algumas fotos.








Os 100 melhores roteiros de cinema

O blog Cinema é tudo publicou a lista do sindicato de roteiristas dos EUA com os 100 melhores roteiros de todos os tempos. Claro que a maioria é de filmes americanos, mas mesmo assim vale conhecer, até porque na postagem existem links para os roteiros na íntegra. Uma curiosidade: vários roteiros de Billy Wilder constam na lista, em especial dos filmes Crepúsculo dos Deuses e Quanto mais quente, melhor. Para ler, clique aqui.

terça-feira, setembro 03, 2013

Paradigmas


Uma das expressões mais recorrentes no vocabulário de quem tenta falar difícil é paradigma. No entanto, são poucas as pessoas que conhecem o real significado dessa palavra.
O termo paradigma, no sentido definido pelo filósofo T.S. Kuhn, está intimamente relacionado à ciência e às revoluções científicas. Ele representa um guia, para análise e interpretação da natureza. Ou, como
costumo dizer, o paradigma é um óculo que ajuda o cientista a ver e compreender a natureza.
Vamos a um exemplo. Durante uma aula de ciências, o professor solta uma pedra e ela cai ao chão. O mestre, em seguida, explica aos alunos que a pedra despencou em decorrência da força da gravidade, que a puxou para baixo.
A explicação á baseada no paradigma newtoniano, segundo o qual matéria atrai matéria. Quanto maior o objeto, mais atração ele exerce. Como nosso planeta é muito maior que a pedra, ele a atrai, e não o
contrário.
Assim, o paradigma estabelecido por Newton nos ajuda a observar e entender o fenômeno da pedra caindo.
A explicação pode parecer óbvia, mas não é. O paradigma aristotélico, anterior ao de Newton, tinha uma maneira diferente de compreender o fenômeno. Para Aristóteles, a tendência das coisas é voltar ao seu
estado natural. O estado natural das coisas pesadas são os locais baixos, assim como o estado natural das coisas leves são os locais altos. Assim, uma pedra cai pelo mesmo motivo pelo qual um balão
sobe: ela está voltando ao seu estado natural.
Digamos, no entanto, que, ao invés de cair, a pedra fique flutuando no ar. Professores e alunos certamente ficariam estarrecidos. Por quê? Porque a natureza estaria contrariando o paradigma. A pedra voadora
seria uma anomalia, um fenômeno que não se encaixa na expectativa que temos com relação à natureza.
(Detalhe: uma criança de dois anos não acharia nada de anormal no episódio, pois ela ainda não aprendeu o paradigma segundo o qual as coisas caem quando soltas)
A maioria dos cientistas tende a ignorar as anomalias. “Ei, crianças! Isso é apenas uma alucinação. Essa pedra não está flutuando”, diria o professor.
Mas alguns pesquisadores, jovens e aventureiros, decidem pesquisar a anomalia e descobrem que, para explicá-la, é necessário mudar maneira como vemos o mundo. São as chamadas revoluções científicas.
A história é repleta de revoluções científicas: o heliocentrismo de Galileu; a teoria da evolução, de Darwin; a teoria da relatividade, de Einstein e, mas recentemente, a teoria do caos.
Ao contrário do que se poderia pensar, ou do que nos fazem crer os livros de história, os cientistas revolucionários dificilmente são aclamados pela sociedade de seu tempo. Galileu quase morreu na fogueira.
Darwin sofreu todo tipo de crítica. A teoria do caos chegou a ser acusada de charlatanismo.
A principal contribuição da noção das revoluções científicas parece ter sido acabar com o mito da ciência acumulativa, vista como um muro no qual cada cientistas ia acrescentando seu tijolinho. Durante as revoluções científicas, gerações de novos pesquisadores entram em conflito com os cientistas normais. E o que definirá se um paradigma irá sobreviver não é a sua cientificidade, e sim sua capacidade de explicar o mundo. E, bem, há uma outra razão: a comunicação. Triufam aqueles paradigmas cujos adeptos divulgam seu ponto de vista.