quarta-feira, abril 30, 2014

Turma da Tribo à venda na Gibistore

Muita gente tem me perguntando onde comprar o gibi da Turma da Tribo. Para quem mora em Macapá (Livraria Didática) ou Goiânia (Hocus Pocus) é fácil. Mas para quem mora em outros estados, já existe uma opção, a loja Gibistore. A revista é vendida por 5 reais incluindo o frete. Para acessar, clique aqui

Gian Danton comenta A Insólita Família Titã, álbum da Opera Graphica

Por Marcelo Naranjo
Data: 30 abril, 2014
No inicio da década de 1990, o desenhista Joe Bennett ainda não tinha iniciado sua vasta produção para o mercado norte-americano de super-heróis, no qual atuaria com personagens como Batman, Homem-Aranha, Thor e tantos outros. Ele ainda assinava seus trabalhos como Bené Nascimento.
Na época, um segmento que andava em alta era o de quadrinhos eróticos, e Bené tinha total liberdade de criação para realizar seus trabalhos para a Editora Sampa. Foi nessa fase que ele, em parceria com o escritor Gian Danton, produziu diversas HQs focadas no horror e na fantasia.
A Insólita Família Titã (128 páginas, preço não divulgado) foi publicada nessa época, e ganhou muitos fãs, além de ter conquistado novos adeptos a partir do ano 2000, quando foi difundida na Internet.
A primeira aparição desses personagens foi na revista Quadrinhos Adultos # 1, em tramas que misturavam ação, super-heróis e erotismo. Agora, o título é republicado pela editora Opera Graphica e será lançado durante a 20ª Fest Comix.
A edição conta com diversos estudos e ilustrações de Joe Bennett e com a republicação de uma HQ de sua criação, Power.
O Universo HQ conversou com Gian Danton – pseudônimo do professor Ivan Carlo Andrade de Oliveira, roteirista de quadrinhos que escreveu títulos como Manticore, Exploradores do Desconhecido e muitos outros. Confira.

Os estóicos






Um dos principais representantes da corrente filosófica estoicismo, na Grécia antiga, foi o escravo Epíteto.
Como escravo, Epíteto deparava-se com um problema que dizia respeito diretamente à sua felicidade. Ao pensarmos na relação senhor-escravo, todos imaginam imediatamente que o senhor será feliz e o escravo infeliz. Afinal, o senhor tem tudo o necessário à felicidade: as melhores comidas, as melhores roupas, os mais variados divertimentos... e não precisa trabalhar. Já o escravo não tem nada, nem mesmo o seu próprio corpo, que pertence ao senhor.
Como o escravo poderia ser mais feliz que o seu dono? Isso seria possível?
O filósofo resolveu a questão através de uma inversão de valores. Para ele, o que nos deixa felizes não são as coisas que temos, mas o significado que damos a elas. Por exemplo, se um belíssimo carro nos lembra uma pessoa querida, que morreu, esse carro será fonte não de alegrias, mas de tristezas.
Para Epíteto, o que nos torna felizes é a forma como encaramos aquilo que nos ocorre. Assim, devemos distinguir entre as coisas que podemos mudar e aquelas que não podemos mudar. Entristecer-se ou preocupar-se com algo que não podemos mudar, é tolice.
Esse ponto de vista foi expresso na frase: “Deus me dê paciência para agüentar aquilo que não pode ser mudado, coragem para mudar aquilo que pode ser mudado e principalmente sabedoria para distinguir um do outro”.
Mas os estóicos não só propunham paciência para aquilo que não pode ser mudado. Na verdade, os infortúnios podem ser fonte de felicidade, dependendo do sentido que se dá a isso. Se tudo que tenho é minha roupa do corpo, mas amo essa roupa, ela é fonte de felicidade. Essencialmente, o que importa é a atitude mental. “Se sou forçado a morrer, porém não entre gemidos, a ir para a prisão, mas não em meio a lamentações, a sofrer o exílio, mas o que impede que seja alegremente e de bom humor?”, dizia Epíteto.
Para ele, o que nós realmente possuímos não são os bens, os amigos, a saúde, nem o nosso próprio corpo, mas apenas o uso de nossas representações, o significado que damos às coisas que nos ocorrem, pois ninguém pode nos forçar a um uso que não desejamos.
Assim, para estóicos, devemos passar pelos momentos tristes da mesma forma que passaríamos pelos alegres.
É tolo aquele que no dia de sol, reclama de calor e num dia de inverno, reclama do frio. Sábio é aquele que sabe usufruir o melhor tanto do inverno quanto da doença.
Curiosamente, o estoicismo, uma filosofia que tinha como um dos principais representantes um escravo, foi adotado por pessoas ricas e poderosas. O imperador Marco Aurélio (que aparece no filme Gladiador) foi um dos mais importantes adeptos do estoicismo.

Marvel vai aumentar ainda mais o seu universo fora dos quadrinhos

Uma das coisas mais legais da Marvel ter começado a produzir seus próprios filmes foi o fato de que todos os personagens começaram a habitar um mesmo universo nos cinemas, assim como acontece nos quadrinhos. Com o lançamento da série Agents of S.H.I.E.L.D., esse universo se expandiu para a TV e agora está prestes a aumentar ainda mais.
De acordo com Joe Quesada, diretor de criação da Marvel, as quatro séries que serão produzidas para a Netflix também farão parte desse universo compartilhado. Em entrevista para o podcast do diretor e roteirista Kevin Smith, Joe Quesada afirmou que "haverá alguma interconectividade, assim como acontece nos filmes, e essas séries vão existir dentro do universo cinematográfico".
A parceria entre Marvel e Netflix foi anunciada em novembro de 2013 e prevê a produção de quatro seriados, com 13 episódios cada um, baseados em heróis mais urbanos da Marvel: Demolidor, Luke Cage, Jessica Jones e Punho de Ferro. As quatro séries vão então dar origem à minissérie Os Defensores, que trará os heróis agindo juntos como uma equipe de combate ao crime.

terça-feira, abril 15, 2014

Família Titã vai ganhar álbum de luxo

A Insólita Família Titã, história com roteiro meu e desenhos de Joe Bennett vai finalmente ganhar álbum. Ela foi publicada e republicada em diversas revisas eróticas no início da década de 1990, tornando-se uma HQ cult. É provavelmente a nossa história mais conhecida, mas nunca tinha ganhado um tratamento de luxo. Eu constantemente encontrava em eventos fãs que haviam encadernado a história e pediam uma edição especial. Agora a Opera Graphica irá lançar um álbum de luxo com extras, uma conversa minha com o Joe sobre o processo de criação da HQ, esboços e muito mais. Verdadeiro item de colecionador. O lançamento será na Fest Comix, em São Paulo, no início de maio.

quinta-feira, abril 10, 2014

Os bastidores de Psicose

Alfred Hitchcock já era um diretor consagrado quando dirigiu Psicose, em 1960. Seu nome num cartaz era quase certeza de sucesso de crítica e de público. Mas com essa obra, um filme barato e despretensioso, transformou-se num deus do cinema, ficou milionário e provocou verdadeira histeria coletiva. É a história dos bastidores desse sucesso inesperado que Stephen Rebello conta no livro Alfred Hitchock e os bastidores de psicose (Iluminuras).

A obra é um relato amplo de todas as circunstâncias relacionadas ao filme, a começar pela história do serial killer Ed Gein, que, no final dos anos 1950 assassinou várias mulheres na região rural de Wisconsin. Gein era um solteirão de 51 anos que vivia de pequenos biscates (entre eles tomar conta dos filhos dos casais da região), excêntrico, mas aparentemente inofensivo. Um dia o assistente do xerife foi visitar a sua mãe e encontrou a loja da qual ela era proprietária fechada. Ao lembrar que Gein mencionara que iria na loja naquele dia, resolveu visitar a fazenda do cinquentão. O que ele e os demais policias encontraram era um verdadeiro filme de horror: entre produtos para embalsamento e embalagens para comida, havia dois pares de lábios humanos pendurados num cordão, alguns narizes em cima da mesa da cozinha, um bolsa e braceletes feitos de pele humana, quatro cadeiras estofadas de carne, um tambor feito com pele humana, uma vasilha de sopa feita com um crânio, as peles descarnadas de quatro rostos de mulheres, com ruge e maquiagem presos à parede. Na estufa, o assistente do xerife encontrou sua mãe: estava nua, pendurada pelos calcanhares como um porco, e estripada. 

O fato chocou a pequena localidade, principalmente depois que o assassino declarou à imprensa que nunca havia atirado em um cervo (e muitos se lembraram da deliciosa carne de veado que haviam ganhado dele). 

Os jornais trataram Gein como o "açougueiro louco" e noticiaram seus assassinatos e suposto canibalismo, mas, com pudor, esconderam o travestismo, o roubo de cadáveres e a possível relação incestuosa com a mãe.

A 63 quilômetros dali, um escritor de 41 anos, discípulo e apadrinhado de H. P. Lovecraft, chamado Robert Bloch, procurava um tema para seu novo livro quando se deparou com uma pequena nota sobre um homem que fora preso após assassinar a dona de um armazém e pendurá-la, estripando-a como um cervo. Ele ficou intrigado com o fato de que um homem que nunca fora suspeito de nada e vivia numa pequena cidade do interior (em que, se alguém espirrasse no lado norte, alguém no lado sul diria saúde) acabara se revelando um assassino em série. Incrivelmente, as informações que conseguia sobre o fato eram mínimas, o que o fez usar mais a imaginação do que os fatos. 

Na época, Freud estava em alta e Bloch decidiu dar ao seu personagem uma motivação psicológica bem ao gosto do criador da psicanálise: "Pensei: e se ele cometesse esses crimes num surto amnésico, sob controle de outra personalidade?". Essa outra personalidade, seria, claro, a mãe, fechando a relação edipiana. Para funcionar, a mãe deveria estar morta, mas "não seria legal se ela estivesse realmente presente de alguma forma? Foi quando me veio a ideia de que ele mantinha o corpo dela preservado". Segundo Rebello, ao usar a taxidermia como elemento principal da trama, Bloch cruzou a linha divisória entre o refinado mistério de salão do tipo "quem matou" e o puro terror. O livro seria revolucionário em mais um sentido: o escritor criou uma heroína simpática, deu a ela um problema, fez com que o leitor gostasse dela e a matou no primeiro terço da história, rompendo totalmente com o paradigma das histórias convencionais, em que os protagonistas sempre conseguem se safar das maiores dificuldades.

Bloch teria mais uma inspiração que seria fundamental para o filme: matar a heroína no chuveiro: "Eu tinha a opinião de que uma pessoa nunca está tão indefesa quanto no chuveiro".

Quando o livro já tinha sido publicado e era um sucesso, Bloch soube de todos os detalhes do caso e percebeu o quanto seu romance era semelhante com a história real: "Ao inventar meu personagem, cheguei muito perto da personalidade real de Ed Gein. Fiquei horrorizado em pensar como eu podia imaginar tais coisas". 

Se de um lado Bloch estava assustado, do outro, Hitchcock se sentia obsoleto com o sucesso comercial e de crítica do thriller francês As diabólicas, de Henri-Georges Clouzot. Ele queria uma história diferente, para um filme tipicamente "não-hitchcockiano". Foi um assistente de produção que descobriu o livro, graças a uma resenha, e o apresentou ao diretor. Hitchcock ficou fascinado especialmente com a cena do assassinato no chuveiro. Além disso havia o acréscimo da heroína que morria no primeiro terço da história. Sem falar na esperteza do recurso do travestismo. O diretor viu ali uma ótima oportunidade para um filme de suspense que superasse a película francesa. Tanto que, quando os executivos da Paramount se negaram a financiar o projeto ele bateu o pé. "Você não vai conseguir o orçamento a que está habituado para fazer uma coisa assim. Nada de technicolor, nada de grandes atores. "Tudo bem eu dou um jeito", retrucou ele. 



Uma das soluções foi utilizar a barata equipe de seu programa de TV, que já estava habituada a filmar diversas cenas por dia. Para escrever o roteiro, contratou o iniciante James Cavanagh e, quando este não conseguiu desenvolver a trama (na primeira versão havia até mesmo uma história romântica para desviar a atenção do assassinato da mocinha), contratou outro ainda mais novato: Joseph Stefano, um ex-ator que antes de começar a escrever episódios para TV nunca tinha nem mesmo lido um roteiro. Para interpretar o vilão contratou o astro em ascensão Antony Perkins, por apenas 40 mil dólares. Era o salário mais alto de todo elenco, ironicamente a exata quantia que a heroína Mary Crane surrupia de seu patrão no filme. 

Os custos de produção eram tão baixos que durante muito tempo acreditou-se que ele estivesse produzindo um episódio para televisão.

Contrariando as expectativas dos produtores, o filme foi um sucesso absoluto, faturando quinze milhões de dólares apenas no mercado americano no seu primeiro ano de exibição e transformando seu diretor em um milionário.

Psicose foi mais do que um sucesso. Foi uma febre. Por causa dele a venda de cortinas de opacas de banheiro caiu nos EUA, assim como o número de hospedes de motéis de beira de estrada. 
É essa história que o escritor e roteirista Stephen Rebello destrincha em uma prosa agradável. Um livro de mais de 200 páginas, mas que se devora em um tapa, em especial se o leitor for fã de cinema.

Texto originalmente publicado no Digestivo Cultural