quinta-feira, setembro 18, 2014

Família Titã - o processo de criação


Família Titã foi uma história em quadrinhos escrita por mim e desenhada pelo Joe Bennett e publicada em diversas revistas da editora Nova Sampa na década de 1990. Eu contei 5 edições diferentes. Com o tempo, virou cult e finalmente foi relançada, no formato de álbum, pela editora Opera Graphica, em maio deste ano. O texto abaixo, um diálogo entre eu e o Joe, deveria constar no álbum, mas acabou não entrando. Nele, nós discutimos como foi o processo criativo e a repercussão da história. Eu tenho exemplares para venda, ao preço de 35 reais já com frete. Quem estiver interessado, basta mandar um e-mail para: profivancarlo@gmail.com. 



Gian Danton: Você lembra como tudo começou? Você recebeu um telefonema do Franco de Rosa pedindo uma história de 30 páginas, não?

Joe Bennet: Sim, ele me pediu uma HQ de 30 páginas para fechar uma edição e queria em no máximo 15 dias.

Gian Danton: Isso. O tempo era muito corrido. Tínhamos que criar algo rápido

Joe Bennett: Sim. Eu na época estava trabalhando somente para o Franco... a Val era um bebê de meses de idade, precisava fazer grana rápido. Eu não tinha nada em mente. No caminho pra tua casa eu fui pensando na família Marvel.

Gian Danton: Você lia muito Família Marvel quando criança?

Joe Bennett: Eu adorava a Família Marvel!

Gian Danton: O irônico é que a Família Marvel é a mais infantil dos super-heróis...

Joe Bennett: Sim..mas estávamos encharcados do Miracleman e fizemos algo muito adulto... Quando eu fui pra tua casa discutir a empreitada eu só estava com a Família Marvel na cabeça. Começamos a falar sobre isso, mas com o Miracleman como guia, como sempre fazíamos. Primeiro nos avacalhávamos, pois sempre fazíamos piadas com nossas ideias.. Éramos muito críticos de nos mesmos. Aí então, após algumas horas, parávamos e víamos que a coisa tava séria...rsrsrs

Gian Danton: A gente sempre se divertia muito, especialmnete nas histórias de terror.

Joe Bennett: Haha! Verdade!

Gian Danton: Você vivia me colocando nas histórias, em piadas internas...

Joe Bennett: HAHHAHA! A melhor de todas ainda é a do cara com agorafobia na PHOBOS (publicada na revista Graphic Sampa) acabou ficando duca aquilo.

Gian Danton: Nessa mesma história aparece um hospício com o meu nome verdadeiro, Ivan Carlo. Mas voltando para a Família Titã, você lembra se a gente teve a ideia de transformar a coisa em uma tragédia grega, ou foi sem querer?

Joe Bennett: Olha cara..na verdade foi por uma consequência de ideias...a gente foi fazendo... criando, e quando vimos aquilo estava denso pacas...a solução era somente uma...TRAGÉDIA. Na verdade..a cena do menage a trois que levou ao final da trama...

Gian Danton: É, naquela cena fica claro que o Tribuno era um pária no grupo. Aliás, só colocamos aquela cena porque precisava ter sexo, mas acabou sendo fundamental.

Joe Bennett: Sim...na verdade ela é fundamental... mas so foi explícita por questões editoriais... Hoje ela aconteceria, mas de forma velada.

Gian Danton: Engraçado que, apesar da influência de Miracleman, o caminho que seguimos foi outro...

Joe Bennett: Sim..o nosso caminho foi até mais realista em nível humano do que o Miracleman. Fomos ao cerne do ser humano ali.

Gian Danton: Nós abordamos mais a interação entre eles. Os personagens que eram realistas, tinham motivação...

Joe Bennett: Sim e eu acho aquela solução do roteiro realista perturbadora...


Gian Danton: Sim, um herói em busca de vingança.


Joe Bennett: Esse nosso tom realista-humanista foi nos levando ate chegar na Refrão de Bolero, concordas?

Gian Danton: Sim, sem dúvida. Refrão foi uma consequência da Família Titã.

Joe Bennett: Sim,  Exato. Ela foi logo em sequencia à FT.

Gian Danton: Mas voltando à família, Tribuno é o personagem mais interessante. Ele é heroi e vilão.

Joe Bennett: Sim. Ele é o canal pra toda a tragédia..pois já tem um espírito trágico.

Gian Danton: Engraçado que isso aconteceu por causa da correria. Não tivemos tempo de conversar sobre isso. Lembro que você fez o rafe rapidinho. Eu escrevi o texto todo em menos de uma hora.

Joe Bennett: Foi. Eu fiz o rafe numa tarde e te mostrei na manhã seguinte.

Gian Danton: Tudo foi muito rápido. No mesmo dia você já estava fazendo a primeira página.

Joe Bennett:  Não pensamos em nada além de FAZER... o original era pequeno 25 x 28 mais ou menos, para economizar tempo.

Gian Danton: E no final eu achava que o Tribuno era o herói e você achava que ele era o vilão.  Acredito que o diferencial do Tribuno é que ele tinha motivação. Algo que falta em muitas histórias atuais. Os personagens parecem bonecos sem vida...

Joe Bennett: Sim..eu tinha esta ideia dele..tanto que sempre o fazia soturno e nos cantos dos quadros.

Gian Danton: Então ele tá lá, matando um monte de gente, botando o terror, mas o leitor entende ele, e até simpatiza com ele.

Joe Bennett: Sim..pois no texto tu compravas o leitor.. e isso foi ótimo. Eu era o promotor e tu eras o advogado.

Gian Danton:  E no desenho você caprichava nos detalhes mórbidos...

Joe Bennett:  É. A cena do Paulo preso nos destroços e bebendo gasolina para não morrer deixou até tu perturbado. Rs RS RS RS RS.

Gian Danton: Aquela cena da Vésper agarrada com a filha, o olhar de pavor dela é perturbador...

Joe Bennett:  Sim..e complementou com tua descrição da morte da criança..algo que não foi mostrado..mas ali estava tua descrição digna de um agente da gestapo... rs rs
 
Gian Danton: Lembrei de uma coisa agora. Essa sequência era a primeira da história, depois vinha o resto em flash- back. Quando foi publicado pela primeira vez, inverteram isso e colocaram no final.  Essas narrativas não lineares eram típicas da nossa parceria.

Joe Bennett:  Sim..a trama é contada em flashback...isso é, claro, uma influencia do Moore...

Gian Danton Outra inovação foi colocar eles morando num lixão.

Joe Bennett:  Sim... hoje é cool mostrar isso, tem até novela no lixão, mas na época, não. Se fossemos bobinhos naquela época faríamos eles garotos normais, digo, morando em casas normais. Mas não, fomos pelo caminho da crueza mesmo...

Gian Danton: Falando sobre os personagens, Centurião e Vésper ainda continuam crianças, mesmo depois dos poderes...

Joe Bennett:  Sim, pois eram infantis mentalmente. Aliás..eram crianças de 12 a 14 anos na verdade. O Tribuno que por ser letrado, era bem mais maduro, mas não tanto ao ponto de aceitar que Melissa não o amava... se bem que pra isso não precisa idade ou intelectualidade... rsrsrs

Gian Danton: Sim, o Tribuno era um velho em corpo de criança.

Joe Bennett: Sim e literalmente... já que seu corpo estava morrendo

Gian Danton: Centurião e vésper são como crianças que ganharam um brinquedo caro e querem curtir esse brinquedo.

Joe Bennett: Isso

Gian Danton: Tem esse aspecto também. O Tribuno acha que eles devem usar os poderes para melhorar o mundo.

Joe Bennett: Sim, e na minha opinião o César queria ou teria usado este poderes de forma mais correta com o que lhe propuseram... na verdade o poder era DELE e ele o distribuiu e por isso a coisa desandou. Ele fez tudo por amor à Melissa.. quando deveria fazer por amor a humanidade

Gian Danton: O tribuno é tridimensional.

Joe Bennett: Sim. Bastante.

Gian Danton: É um personagem complexo: humanista, mas egoísta. Interessante também que o amor dele acaba se transformando em ódio.

Joe Bennett: Na verdade... o altruísmo dele em distribuir poder foi somente um fisiologismo para receber o amor da Melissa depois.

Gian Danton: Embora ele esperasse que ela usasse bem esse poder...

Joe Bennett: O odio anda em compasso com o amor..tanto que ao final de tudo ele chora por tudo que fez. Ali ele se redime.

Gian Danton: Só um deus pode matar um deus.

Joe Bennett: Na minha opinião ele nao morre no sol.. nada pode matar o que ele possui...

Gian Danton: Deixamos o final em aberto.

Joe Bennett: Cada um tem a sua ideia de como termina. Sempre fazíamos isso em nossas HQs.  Dávamos margem para discussões depois. Nunca fechávamos tudo e
isso era algo bom.

Gian Danton: Aliás, muitos leitores achavam que o Tribuno era herói, outros que ele era vilão. Não tinha uma interpretação só.

Gian Danton Estava olhando a história. Acho que é a HQ em que fica mais clara sua influência do Garcia Lopez.
Joe Bennett: Sim..Garcia López. Ali eu me soltei neste sentido. Era uma HQ de super-herói. Portanto, nada mais adequado que emular meu mestre, tanto que esta HQ me levou a trabalhar nos EUA... mas isso é outra historia...

Gian Danton: Fala um pouco sobre essa influência.

Joe Bennett:  Eu conheci o o mestre Garcia aos meus 8 anos numa história do Batman. Foi amor à primeira vista. O cara é um mestre! Nunca havia visto herois sendo desenhados daquele jeito. Durante minha pré-adolescência eu treinei muito o estilo dele.

Gian Danton:  Engraçado que eu sempre fui fã do traço do Garcia lopez e você sempre foi fã do Alan Moore.... A Família Titã juntou um roteirista influenciado pelo Alan Moore com um desenhista influenciado pelo Garcia-Lopez...

Joe Bennett:  Pois é, ali juntamos as duas coisas.

Gian Danton: Você lembra como foram as reações dos leitores?

Joe Bennett: olha.. a melhor delas foi do Jadson, que na época era leitor e aspirante a quadrinhista. O Jadson comprou para descascar uma... aí começou a ler e não teve coragem de proseguir com seu intuito primário... rs rs rsrs... Virou fã da HQ... Aliás, muita gente comprava para descascar e depois virava fã da dupla.

Gian Danton: Eu sempre viajo em congressos e eventos e sempre vinha alguém com a Família Titã encadernada para autografar... O engraçado é que isso foi lançado em revista lacrada, de fundo de banca, papel jornal...

Joe Bennett: Pois é. Tinha gente que recortava só a família titã e mandava encadernar.

Gian Danton: Mesmo sendo erótico, a gente caprichava, não era o sexo pelo sexo...

Joe Bennett: Não acho que alguém tenha sentido tesão pela INCUBO... rs rs rs rs...

Gian Danton: Lembro de uma carta do Franco de Rosa nos pedindo para não matar os protagonistas.

Joe Bennett:  Há Há Há! Pois é, os leitores compravam por causa do erotismo e a gente matava os protagonistas. Era quase uma necrofilia da parte dos leitores... Muitos se sentiam mal...

Gian Danton Se sentiam mal, mas continuavam comprando.

Joe Bennett: É igual a um acidente com massa encefálica espalhada no asfalto... todo mundo acha horrível mas passa devagarzinho ao lado para ver...

Gian Danton: Aí iam na banca e procuravam as revistas que tivessem a margem negra... Lembro que vc já usava antes mesmo da nossa parceria. Você já tinha ideia que isso era uma sacada de marketing?

Joe Bennett: Sim, eu tinha sim, fazia de proposito, era marca Bene Nascimento na revista.

Gian Danton: E todo mundo sabia...

Joe Bennett sim. E compravam por isso também... eu só queria saber quantas vezes a FT foi republicada...

Gian Danton Eu contei quatro publicações. Quem curtia comprava a revista mesmo lacrada por causa da margem negra.

Gian Danton: Sobre continuações: Eu acho que poderia funcionar como prequel, tem muita brecha ali, muita coisa que contamos só por alto...

Joe Bennett:  Sim, não cabem continuações, mas prequels e enxertos sim... eles tiveram 10 anos de atividade... ou 15, não me lembro agora... portanto muita coisa aconteceu. Sem contar os 10 anos de exílo do César, poderoso e solitário e cada vez mais amargurado com o mundo.

Gian Danton: sim, há brechas aí para muitas histórias. Só isso já dava uma série.

Joe Bennett: Na época talvez não tivéssemos vivencia para fazer essas historias... mas hoje a coisa seria diferente. Fica aqui uma ideia...

Gian Danton: Não tínhamos vivencia nem mercado.

Joe Bennett: Hoje continuamos em mercado... rs rs rsrs

Gian Danton: Mas hoje existem os álbuns para venda em livrarias. O mercado da época era fazer histórias eróticas para serem publicadas em revistinhas de fundo de banca... Eu sempre lamentei a família titã nunca ter sido publicada em um formato melhor, com papel de qualidade...

Joe Bennett: Sim... finalmente, após quase 25 anos, isso vai acontecer.

Gian Danton: Na verdade, este álbum da FT é um antigo sonhos dos fãs.

Joe Bennett:  E nosso também...

Gian Danton: Muita gente me cobrava isso.

Joe Bennett: Sim..a mim também. Eu também me cobrava e hoje me cobro mais historias deles.

Gian Danton: Na época a chamada de capa era "a insólita família titã".

Joe Bennett: sim

Gian Danton: Não tinha nome dos autores na capa, ou maior destaque. Era o mesmo destaque das outras histórias.

Joe Bennett: Na verdade..nem nós nem o Franco sabíamos o que estava em nossas mãos. Poderíamos ter criado um universo inteiro com herois brasileiros e criveis a partir dali..

Gian Danton: o sucesso foi aos poucos. O pessoal foi descobrindo a história. Outra coisa que ajudou foi a internet. Um amigo americano me disse que alguém traduziu para o inglês e colocou na rede o scans. Infelizmente esse site deve ter sido derrubado antes de eu achar esse scan.

Joe Bennett: Poxa..que pena... eu queria ter visto isso.

Gian Danton: Eu também. Mas isso mostra que até nos EUA tivemos fãs da Família Titã...

Joe Bennett: Pois é. Aliás, foi graças à Família Titã que consegui trabalhar para os EUA. O Hélcio de Carvalho leu essa HQ e me convidou para fazer testes paras as editoras americanas. O resto é história...

quarta-feira, setembro 03, 2014

Programação comigo na Curitiba Gibicon

 

Dia 06 - Sábado

Casa da Leitura Wilson Bueno


12h - Palestra GIAN DANTON - ROTEIRO DE QUADRINHOS - O roteirista Gian Danton (Manticore, Família TitãGrafipar a Editora que saiu do Eixo) fala sobre como ser um roteirista de quadrinhos.

 

14 h - Lançamentos 

14h

Clássicos Revisitados, com Leonardo Melo

Segundo volume da coleção Clássicos Revisitados, desta vez com o tema Monstros Noir, ou seja, histórias de detetive com monstros da literatura. As HQs do álbum são: Drácula (Leonardo Melo e Walkir Fernandes), O Médico e o Monstro (Abs Moraes e Ivan Sória), Capelobo (Alex Mir e Rafael Oliveira), O Ethon Maltês (Leonardo Melo e Will), O Chamado de Cthulhu (Jozz), King Kong (Matheus Moura e Antonio Eder), O Homem Invisível (Laudo), Frankesntein (Gian Danton e JJ Marreiro), A Bela e a Fera (Ana Recalde e Erick Carjes) e A Lenda de Bewolf (Carlos Machado e Paulo Kielwagen)

 


Turma da Tribo, de Gian Danton e Ricardo Manhães

Turma da Tribo é uma HQ infantil com temas amazônicos. Nela a realidade local, como um jantar à base de açaí e camarão, se mistura ao traço europeu de Manhães. Repleta de trocadilhos e palavras regionais (o vilão chama-se Doutor Malino), a série também se destaca pelo humor. Na história, os índios Poti, Apoema e Toró encontram uma área de floresta devastada, com árvores caídas para todos os lados. Logo descobrem que se trata do plano de um vilão e seus desastrados ajudantes, que pretendem se apoderar de toda a madeira de lei da reserva. Para impedi-los, o trio conta com a ajuda de Baquara, o inventor da tribo. Mas a grande ajuda mesmo acaba vindo de um ser da floresta, o Caipora.


 Dia 07 – Domingo

 10 Horas - Sessão de autógrafos (livros Watchmen e a teoria do caos, o roteiro nas histórias em quadrinhos e Grafipar, a editora que saiu do eixo)

 

Mesas redondas: 

12h - EDITORES - Editores comentam sobre o desafiador trabalho de planejar, desenvolver e viabilizar quadrinhos no Brasil. Com Claudio Martini, Guilherme Kroll, Sidney Gusman, Douglas Quintas Reis, Faruk El-Khatib e Franco de Rosa.

Mediação de Gian Danton

           


16h - QUADRINHOS CURITIBANOS - Autores de diversas obras recentes discutem sobre o presente e o futuro das produções locais.Com Yoshi Tice, Antonio Eder, André Caliman, José Aguiar, Liber Paz, Leonardo Melo, Bianca Pinheiro, Andre Ducci.

Mediação de Gian Danton

 

18h - O GRALHA - Os criadores do personagem curitibano falam sobre a origem e curiosidades do vigilante das araucárias. Com Antonio Eder, Tako X, José Aguiar, Edson Kohatsu, Nilson Müller e Gian Danton.

Mediação de Claudio Yuge