Na década de 1930 dois jovens judeus, Jerry Siegel e
Joe Shuster andaram por quase todas as editoras e sindicates da época tentando
vender um personagem que haviam criado. Todo mundo achava que o personagem era
irreal demais e dificilmente venderia bem. O nome desse personagem era
Super-homem, um dos maiores sucessos dos quadrinhos de todos os tempos.
O personagem havia surgido em um fanzine de
ficção-científica editado por Siegel, o Science Fiction. Era um homem pobre,
escolhido na fila para sopa e submetido a uma experiência científica que lhe
dava poderes de ouvir o pensamento das pessoas e comandar seu comportamento. Graças
a esses poderes, ele se transforma no governante despótico do mundo. Ou seja,
inicialmente, o Super-homem era um vilão.
Com o surgimento das revistas em quadrinhos baratas
(que no Brasil foram chamadas de gibis), Siegel percebeu ali um mercado e
decidiu transformar seu personagem em um herói, aos moldes de Doc Savage, herói
da literatura pulp.
O super-homem unia todos os elementos da cultura pop
norte-americana: o valentão bonzinho batendo nos malfeitores (como nos pulp
fiction), a malha colante dos fisiculturistas da época e a dupla identidade.
Conta a lenda que numa noite abafada de verão, Siegel
não conseguia dormir e passou insone, pensando em seu personagem. De quando em
quando ele se levantava, tomava água e fazia anotações. Quando amanheceu, ele
já tinha o personagem estruturado, com sete semanas de história.
A história não é bem assim. Na verdade, o Super-homem
foi sendo estruturado com o tempo, de acordo com as diversas recusas dos
editores. Os dois quadrinistas chegaram até a fazer uma versão mais hard, para
uma revista masculina.
Os sindicatos de distribuição, editoras e até estúdios
(como o de Will Eisner, que posteriormente iria criar o ótimo Spirit) recusavam
a tira com observações do tipo “Trabalho imaturo” ou “Prestem mais atenção ao
desenho”.
Quando a National precisou de uma história pronta para
colocar em uma nova revista que estavam lançando e que precisava estar nas
bancas o quanto antes, Sheldon Mayer se lembrou do Super-homem que estava na
pilha de materiais rejeitados. Não se sabe se foi uma antecipação do sucesso ou
se era simplesmente a coisa que estava mais à mão, mas o fato é que a editora
mandou uma carta com os originais para os dois rapazes dizendo que se eles
conseguissem transformar aquelas tiras em uma história de 13 páginas o quanto
antes, eles a comprariam.
Assim, Action Comics estreou no dia 1 de junho de 1938,
tendo o Super-homem na capa, na sua pose clássica, segurando um carro acima dos
ombros, para espanto de bandidos que fogem desesperados. Era um trabalho
grosseiro, como se diversas histórias estivessem coladas sem muito nexo, mas
mesmo assim provocou uma revolução no mercado. Não era só o heroísmo, mas
também o humor. Em uma seqüência, o Super-homem corre por fio de alta tensão,
levando um bandido consigo. “Não se preocupe. Os passarinhos ficam nos cabos
telefônicos e não são eletrocutados – desde que não toquem num poste telefônico! Opa! Quase bati naquele
ali!”. Era algo novo: um herói fazendo piada. Isso conquistou os garotos.
A revista começou a vender horrores. Os donos da
editora National mandaram algumas pessoas perguntarem nas bancas o que estava
provocando o sucesso do gibi e o que ouviram foi: “As crianças querem mais
desse herói”.
Conforme aumentava a popularidade do herói, aumentavam
também seus poderes. No começo, ele apenas dava saltos enormes, mas logo estava
voando. No começo ele era imune a balas (famosa a cena em que bandido atiram e
as balas ricocheteiam em seu peito), mas logo ele já era capaz de agüentar até
uma bala de canhão. Em uma história o herói foi obrigado a entrar telhado a
dentro porque suspeitava que numa casa se escondia um bandido. Para evitar que
novos telhados fossem danificados, foi inventada a visão de raio x.
Se por um lado ele era o herói mais poderoso da Terra,
por outro lado, em sua identidade secreta, ele era Clark Kent, um repórter bobalhão
que era sempre passado para trás pela colega Lois Lane. A diferença entre eles
era de apenas um óculos, mas mesmo assim Kent conseguia enganar a todos. Alguns
roteiristas acreditaram que o alter-ego de Super-homem fosse mesmo um bobalhão,
mas trabalhos mais recentes, como de Grant Morrison em All Star Superman
mostram que na verdade, ele apenas se faz passar por bobalhão.
Essa falsa dualidade Super-homem x Clark Kent permite
um processo de identificação e projeção. O leitor se identifica com Clark Kent,
mas se projeta no super-herói e suas realizações.
Com o tempo foram adicionados novos elementos à
mitologia do personagem. Surgiu a kriptonita para contrabalancear os poderes
cada vez maiores do personagem. A kriptonita verde pode até matar o herói. Já a
vermelha tem efeitos imprevisíveis, podendo transformar o herói até mesmo em um
monstro. Foi criada uma fortaleza da solidão, no pólo Ártico, um local em que o
personagem guarda recordações de seu mundo e de suas aventuras.
Com o tempo, ficou claro também que um personagem tão
poderoso não poderia combater reles marginais e surgiram os super-vilões, como
Lex Luthor, Bizarro e Brainiac.
Sem comentários:
Enviar um comentário