quinta-feira, junho 30, 2022

Flash Gordon

 

Buck Rogers, Dick Tracy e Tarzan causaram uma verdadeira revolução nas histórias em quadrinhos. O clima de aventura, o desenho realista e os cenários gran­diosos conquistaram os leitores.
Já não havia mais lugar para as tiras cômicas e um dos maiores syndicates da época, o King Features Syndicate entrou em desespero: Fazia-se urgente encontrar alguém que trabalhasse tão bem com a aventura quanto a con­corrência.
Para isso foi instituído um concurso interno. Quem acabou ganhando foi um ex-oficce-boy da empre­sa. Seu nome era Alex Raymond e seu personagem era Flash Gordon, um dos maiores sucessos da época.
          A história estreou num domingo, 7 de janeiro de 1934. Os leitores americanos abriram seus jornais e tive­ram um grande impacto. Lá es­tava um herói novo, diferente de todos os outros que o haviam an­tecedido. Era a primeira história de Flash Gordon, de Alex Ray­mond. De lambuja, vinha como complemento o personagem Jim das Selvas - também com dese­nhos de Raymond.
Flash Gordon veio para re­volucionar o conceito de aventu­ra. Nela predominava a imaginação: moças bonitas, homens-leão, povos submarinos, princesas estelares, vilões insa­nos e um herói ariano (exemplo perfeito de conduta e boas inten­ções) conviviam numa mesma pagina.
Flash Gordon não para­va. Mal conseguia se livrar de monstros pré-históricos e caia nas mãos de um imperador tirâ­nico. Era como se estivesse pas­sando por um eterno teste de provas.
A historieta - que tinha ro­teiros anônimos de Don Moore - tornou-se um sucesso absoluto de vendas. O traço forte e elegante de Raymond conquistou os leitores e conseguiu dar ao personagem uma imponência que ninguém nunca mais conseguiu.
Flash Gordon surgiu para concorrer com o grande campeão de vendas da época, Buck Ro­gers, mas com o tempo, Flash ultra­passou de longe o seu concorrente do século XXV. Praticamente junto com Flash Gordon, Raymond desenhou dois outros persona­gens nos moldes dos que já faziam sucesso na época: Jim das Selvas (baseado em Tarzan) e Agente Se­creto X-9 (para concorrer com Dick Tracy).
“Agente Secreto X-9” era de autoria do famoso escritor policial Dashiel Hammet e transmitia o clima de tensão que os gángsters impri­miam aos anos 30. Detalhe: esse trabalho de Hammet geralmente não aparece nas biografias do es­critor.
Já Jim das Selvas era, a principio, uma espécie de aventureiro, um caçador intrépido enfrentan­do todos os perigos da selva. Com o tempo, Jim começou a se envol­ver em tramas internacionais, mas nem por isso perdeu sua força.
Alex Raymond foi um dos maiores desenhistas dos quadri­nhos. O seu traço elegante in­fluenciou toda uma geração. Os seus persona­gens, entretanto, não tiveram muita sorte.
Depois da morte de Raymond, no final dos anos 40, Flash Gordon ainda passou por um bom momento no início da década seguinte nas mãos de Dan Barry (desenhos) e Harvey Kurtzman (roteiro). Mas, assim que Kurtzman saiu do roteiro a história perdeu muito do caráter onírico que tinha no início.
O grande seguidor au­têntico de Raymond a ilustrar seus personagens  foi All Williamson, que desenhou três números da revista do Flash Gordon e a tira do Agente Secre­to X-9 durante 13 anos.
Além do ótimo desenho e das tramas de matinê, terminando sempre em suspense, Flash Gordon é lembrado também pelas antecipações. Foi nessa história em quadrinhos que apareceu pela primeira vez a mini-saia, o raio laser e o forno microondas. Em um de seus boletins oficiais, a NASA admitiu que os quadrinhos do personagem foram usados para solucionar problemas de aerodinâmica dos primeiros foguetes espaciais norte-americanos.
Flash Gordon também foi a grande fonte de inspiração para outra grande saga moderna: os filmes da série Star Wars. Como não conseguiu autorização para filmar o personagem, George Lucas criou a série Guerra nas Estrelas baseada em Flash Gordon.

Megalópoles de informação

 

Em plena década de 60, o filósofo Marshall McLuhan fez uma previsão curiosa: “ A cidade do futuro, de circuitos elétricos, não será esse fenomenal aglomerado de propriedade imobiliária concentrada ao redor da ferrovia. Ela adquirirá um significado inteiramente novo sob condições de movimentação extremamente rápida. Será uma megalópoles de informação. O que resta da configuração das cidades “anteriores” se parecerá muito com as feiras mundiais – lugares onde se exibem novas tecnologias, não lugares de trabalho ou moradia”. Na época a maioria das pessoas não deu muita bola. Entretanto, a tendência está mostrando que o autor do conceito de Aldeia Global acertou mais uma vez. As cidades do futuro serão megalópoles de informação.
                Para entender o que isso quer dizer, é necessário voltar no tempo e entender porque as cidades se formaram.
Os povoados surgiam para suprir algumas necessidades. A primeira delas, a de contato humano. Aristóteles já dizia que o homem é um ser social. Não conseguimos viver sozinhos e a cidade nos permite conseguir facilmente relacionamentos com outras pessoas.
Além disso, as vilas eram os locais onde você poderia encontrar tudo que necessitava. Não é por acaso que muitas surgiram ao redor de feiras, como é o caso de Feira de Santana, na Bahia. Morar próximo ao local em que as pessoas comercializam é a certeza do acesso aos produtos essenciais sem grande gasto de energia.
Muitas cidades surgiam ao redor de ferrovias e portos justamente pela facilidade de acesso ao transporte e aos produtos transportados.
É interessante notar que tudo que os agrupamentos humanos ofereciam (produtos, relacionamento humano, transporte) pode ser considerado informação. Informação é tudo que é novidade, que foge do comum e a cidade era o local onde a informação estava.
                Pois bem. Hoje não há mais necessidade de proximidade física para o acesso à informação.  Através da internet eu consigo me comunicar com amigos que moram em outros estados com mais facilidade que com pessoas que moram no mesmo bairro. Através das lojas virtuais, é possível comprar qualquer produto e recebê-lo em casa sem precisar se deslocar um único quilômetro.
Até mesmo os produtos estão se tornando virtuais. Os livros, por exemplo. Antes era necessário se deslocar até a livraria. Se a pessoa não morasse em um local que tivesse livraria, precisaria viajar, gastar com a ida e a volta. Hoje basta “entrar” em uma livraria virtual, dar o número do cartão de crédito, receber uma senha e fazer o download.. O processo, da compra ao produto, passando pela transferência de propriedade, é completamente virtual.
                Além disso, o próprio ambiente de trabalho está se tornando virtual. Muitas pessoas fazem seu trabalho em casa, enviam pelo computador e recebem pelo banco virtual. Um amigo meu mora no subúrbio de Belém e trabalha para os EUA. E eu mesmo colaboro com publicações nas quais nunca coloquei o pé.
                Se não é mais necessário morar na cidade grande para trabalhar, comprar produtos ou ter contato com as pessoas, para que as pessoas enfrentariam engarrafamentos, poluição, violência e todas as coisas negativas das metrópoles?
                A tendência, portanto, é que as pessoas comecem a se afastar dos grandes centros, procurando locais que não tenham os problemas das grandes cidades. A cidade irá se dispersar, e cada um que tiver acesso aos meios de comunicação será seu cidadão. As megalópoles serão definidas não mais por suas extensões físicas, mas por sua capacidade de transmissão de informações.

Entenda por que os comentários estão sendo moderados

 




 - Gian, entrei no seu blog e tentei comentar numa matéria, mas não ele não foi publicado imediatamente 

- Infelizmente eu tive que acionar a moderação de comentários. 

- Mas por quê? 
- Olha o tipo de comentário que os bolsominions estavam postando. 



- Caramba, são dezenas de comentários iguais o cara já começa te chamando de stalinista! 

- Pois é, virei um "extremista de esquerda stalinista"! 
- Caramba! 
- É o culto à personalidade. Como eles consideram o Bolsonaro um semi-deus, qualquer um que não o idolatre é imediatamente chamado de comunsita, petista, stalinista, dentista, skatista, surfista, remista. E pode colocar na conta vários outros "comunistas": Jim Starlin vira marxismo cultural, Raul Seixas vira marxismo cultural, Alan Moore vira marxismo cultural. E, para eles, comunista precisa ser preso. Para eles a Globo é comunista, a Folha de São Paulo é comunista, o Estadão é comunista. Esse tipo de gente só se informa pelo zap zap e por canais bolsonaristas como o Terça-livre. Qualquer coisa fora disso é comunismo. 
- O cara está te chamando de lulo-petralha?!!!



- Pois é, eu que nunca votei no PT, que sempre critiquei o PT, que na época da faculdade vivia em pé de guerra com os petistas da turma, de repente virei petralha só porque me recuso a idolatrar o mito. 
- E você praticamente nem fala de política no seu blog. 
- Pois é. Mas a estratégia deles é Dart Vader: ou você idolatra o Capitão ou é comunista, stalinista, petista, skatista, surfista, dentista, remista. Teve um "amigo" bolsominions que ameaçou me dar um soco só porque eu disse que político é para ser cobrado não para ser idolatrado. Outro disse que o pior tipo de "comunistas" são os "isentões": isentão aí significa alguém que se recusa a idolatrar o mito deles, mas ao mesmo tempo não idolatra o Lula, que se recusa a tecer elogios à ditadura militar, mas também não elogia a Coréia do norte. Antigamente para ser comunista precisava ser fã do Karl Marx, precisava ler o Manifesto Comunista, precisava acreditar em ditadura do proletariado. Hoje em dia, para ser comunista, basta não idolatrar o mito.
- Ele te acusa de cometer um gesto lulo-petista. Que gesto lulo-petista é esse?
- Me recusar a idolatrar o mito. Para quem escreveu esse comentário, qualquer um que não idolatre o mito está cometendo um gesto lulo-petista. Ou seja, na cabeça dele, está cometendo um crime. São pessoas que só se informam pelo zap zap e por vídeos de teoria da conspiração.
- Caramba, estou lendo aqui. O cara está ameaçando te denuncia... Te denunciar para quem? 
- Para os militres, provavelmente. 




- Estou vendo aqui. Ele te acusa de doutrinar os alunos. Fui seu aluno e você nunca falou de política em sala de aula. 
- Deve ser porque uso camisas da Marvel em sala de aula. Dizem que estou doutrinando os alunos a gostarem da Marvel. Nisso, confesso, sou culpado. Mas em minha defesa posso dizer que gosto da DC quando ela é desenhada pelo Garcia-Lopez.... rsrs... 
- Nossa, o cara diz que vai fazer você perder o emprego! Chega até a te chamar de estelionatário! 
- Só faltou dizer que vai me prender e  torturar pessoalmente para que eu confesse todos os meues crimes...kkkk Tudo isso porque eu me recuso a idolatrar o Capitão. E é esse pessoal que diz que é a favor da liberdade. A liberdade que eles querem é a liberdade de poder denunciar e prender quem pensa diferente deles. E como você pode ver, postaram essas ameaças dezenas de vezes no blog antes que eu bloqueasse os comentários. É por isso que não é mais possível comentar no meu blog. Infelizmente, tive que bloquear essa possibilidade de contato com meus leitores por causa desse tipo de comentário ameaçador.   
- Assustador, melhor manter os comentários do blog moderados mesmo.  
- Pois é. Melhor do que dar voz a gente desse naipe, que só se informa pelo zap zap e acredita em todas as teorias da conspiração possíveis. 

Surge o Quarteto Fantástico!

 


O lançamento do primeiro número do Quarteto Fanstástico, em novembro de 1961, mudou para sempre o mercado de quadrinhos norte-americanos. De uma editora decadente, que se resumia a Stan Lee e uma secretária, a Marvel (que na época não se chamava Marvel), começou uma caminhada que a transformaria na grande estrela do mercado, superando a gigante DC ainda na década de 60.

A leitura desse primeiro gibi (disponível no número dois da Coleção Clássicos Marvel), permite observar alguns segredos desse sucesso, a começar pela impressionante capa de Jack Kirby com o quarteto envolvido numa luta contra um monstro que surge das profundezas. A capa inteira é um exemplo perfeito de composição em que tudo funciona harmonicamente, com os elementos muito bem distribuídos, incluindo os balões de diálogos. “Eu não consigo ficar invisível rápido o bastante! Como vamos deter essa criatura, Tocha?”, pergunta Sue, enquanto seu irmão responde: “Espere e verá, irmã! O Quarteto Fantástico só começou a lutar!”.

Aqui temos várias inovações. Entre elas, o sentido de família, que iria ser a principal característica do título em todo esse tempo. Ao contrários de outros grupos de heróis, que se encontram aleatoriamente, os quatro vivem juntos, são uma família e enfrentam todos os problemas relacionados a isso, o que era uma tremenda novidade na época. Dá para imaginar a sensação que essa capa causou entre os garotos do início da década de 60.

Os autores criam mistério para instigar a curiosidade do leitor. 


O miolo também não deixa por menos. Os personagens são apresentados de forma a instigar a curiosidade do leitor. Reed atira um sinalizador, chamando o restante da família para o edifício Baxter, mas não vemos seu rosto. Então acompanhamos cada membro do quarteto vendo o sinal e respondendo ao chamado. Eles são apresentados de forma a instigar ainda mais o leitor, muitas vezes com toque de humor. Sue, por exemplo, fica invisível para pegar um taxi invisível, deixando o taxista aturdido.

Só quando atendem o chamado é que a narrativa paralisa e nos é contada a origem do grupo. E aqui mais uma inovação: a história é dividida em capítulos, sempre iniciados com uma imagem de impacto (posteriormente Jack Kirby usaria splash pages).

A demonstração dos poderes dos personagens é bem-humorada. 


A razão pela qual foram chamados: monstros estão surgindo das profundezas e destruindo usinas nucleares, um enredo que remetia diretamente aos gibis de monstros da Atlas na década de 50, versões suaves dos quadrinhos de terror.

Então, o Quarteto não só era uma família, era também um título que unia super-heróis, terror e ficção científica!

O vilão, o Toupeira, é apresentado como alguém rejeitado pela sociedade em razão de sua feiúra, que indo para o centro da terra se torna cego. Já ali observamos algo que caracterizaria os vilões da Marvel: nenhum deles era mal por ser. Todos eles tinham uma motivação, uma razão para suas ações.

Tirando um outro deslize (à certa altura o Sr. Fantástico tira de ação, jogado no mar, um monstro que tem asas!), é uma edição deliciosa de ler e totalmente inovadora.

Invencível

 


Parece que a Amazon Prime resolveu investir pesado em super-heróis. Depois da série de sucesso The Boys, baseada nos quadrinhos de Garth Ennis, a plataforma traz Invencível, uma animação baseada nos quadrinhos de Robert Kirkman, criador de Walking Dead.

O fato de se tratar de uma animação pode dar a entender que Invencível seja uma série menor em termos de ousadia, afinal, existe o preconceito de que animações são para crianças.

Não é o caso.

Invencível é uma animação para adultos. É violento, complexo e principalmente desruptivo. Logo no primeiro episódio fica claro que por trás dos uniformes coloridos se escondem segredos obscuros, traições e até indivíduos mau-caráter.

A história é focada em Mark Grayson, um adolescente norte-americano aparentemente comum. Mas ele é filho do Omini-man, um poderoso super-herói alienígena. Quando Grayson sai da adolescência, seus poderes aparecem e ele precisa lidar com super-vilões e, ao mesmo tempo, com os problemas da adolescência, como o namoro.

Mas há algo mais: os principais heróis do planeta, os Guardiões Globais, foram mortos e tudo leva a crer que o responsável é Omini-man.

Em pelo menos um sentido, Invencível é melhor que The Boys: como a animação não exige recursos adicionais, o roteiro pode viajar mais, a ponto do personagem ir, por exemplo, para Marte. E isso é muito bem aproveitado para criar diversos ganchos.

Enfim, Invencível é uma dica para quem gosta de super-heróis, mas está cansado do lugar-comum.

O uivo da górgona mistura zumbis e crítica social

 


Um som se espalha pela cidade (ou pelo estado, ou pelo país, ou pelo mundo?). Um som que ouvido transforma as pessoas em seres irracionais cujo único o objetivo são os instintos básicos de violência e fome. É o uivo da Górgona.
Acompanhe a história dos sobreviventes neste livro de terror, uma história de zumbis diferente, em que qualquer um pode se transformar, bastando para isso ouvir o terrível uivo da górgona.
Escrito em capítulos curtos, o livro transforma o suspense em elemento de fantasia, prendendo o leitor da primeira à última página. 
Pedidos: profivancarlo@gmail.com. 

Sonja – O demônio no labirinto


Embora sejam contemporâneos e tenham vivido aventuras juntos, Conan e Sonja são muito diferentes, inclusive em termos de estrutura das histórias. Embora seja um personagem de espada e magia, as histórias do cimérios são mais cruas e mais realistas. Sonja, ao contrário, vive histórias mais fantasiosas e algumas vezes chega até mesmo a usar a magia a seu favor.

Exemplo disso é a história O demônio do labirinto, publicada em Red Sonja 2. A história, escrita por Roy Thomas e desenhada pelo sempre fantástico Frank Thorne, começa com a guerreira andando pelo porto e vendo duas caravelas se chocando misteriosamente, o que faz com que toda a tripulação dos dois barcos morra. “Pelos olhos negros de Eruk! Nenhum navio se choca contra outro como dois animais cegos!”, exclama a donzela. “Será que estou sonhando?”.

A história inicia com um fato aleatório: dois navios se chocando. 


Esse início inusitado e aparentemente aleatório, é o começo de uma trama que vai se desenrolar num labirinto no qual a guerreira ruiva vai parar após ser sequestrada por um gigante mesmerizado.

Além da própria dificuldade do labirinto, o local é mágico, e provoca alucinações na guerreira. Mesmo assim, ela consegue sair, apenas para e deparar com um mago caído, que lhe diz que ela é a primeira mulher a conseguir a façanha de sair do local e, como tal, ela poderá libertar um demônio de sua maldição, tornando-se sua noiva. “Eu não tenho a menor intenção de ser mulher de ninguém!”, responde a ruiva.  

Frank Thorne retratava Sonja com cabelos selvagens, olhar felino e lábios decididos. 


O mago a avisa para pegar os ossos dos guerreiros mortos que encontra no caminho e usá-los no momento certo. Quando Sonja encontra um feiticeiro maligno que a ataca com uma horda de demônios, parece o momento certo e os ossos se transformam numa legião de guerreiros esqueléticos. Conseguem imaginar Conan usando um recurso semelhante?

E os barcos que se chocam no início? Lá pelo final da história, aquele fato aleatório acaba tendo uma importância fundamental na trama.

Sonja usa magia para combater o adversário. 


Em tempo: embora o roteiro seja bem elaborado e explore bem as características da personagem, é o desenho de Thorne que chama atenção. Essa era sua segunda colaboração com a personagem e ele já mostrava todas as características que o fariam célebre: o cabelo ruivo em ondas selvagens, o olhar felino, os lábios grossos e decididos...

Pouco tempo depois, Roy Thomas entregaria o roteiro para Bruce Jones, que teria uma parceria ainda mais afinada com Frank Thorne.

quarta-feira, junho 29, 2022

A primeira revista Marvel que li

 


Superaventuras Marvel número 4 foi a primeira revista de heróis que eu li, provavelmente no ano de 1982. Eu estava em uma fila de banco do tipo que durava a manhã inteira e parte da tarde (sim, havia uma época em que a única forma de pagar contas era enfrentando a fila do banco). Alguém tinha levado essa revista e, quando terminou de ler, alguém pediu emprestado, mas acabou emprestando para outra pessoa. Assim, a revista foi passando de mãos em mãos até chegar ao local em que eu estava. Ali ela parou. Devorei a revista da primeira à última página. Lembro que gostei do Demolidor do Frank Miller. Mas que o que realmente me chamou atenção foi a história do Doutor Estranho, que tinha um forte toque de horror, e a história de Conan. Em certo ponto o dono pediu a revista de volta e tive que devolver. Nunca mais achei essa edição, nem mesmo em sebo, mas ela foi essencial para que eu me tornasse leitor de quadrinhos.

Lobato contra modernistas na revista Discutindo Literatura

 

 Discutindo Literatura era uma revista da editora Escala volta para professores de Português. Eu colaborei com o número 20 com um artigo sobre um assunto polêmico: a relação entre Monteiro Lobato e os modernistas. A maioria das pessoas acredita que Lobato foi contra o modernismo (há quem acredite até que ele chegou a vaiar e jogar ovos contra os modernista). Mas na verdade, a relação entre ambos era mais que amigável: afinal, Lobato era o editor de alguns dos principais escritores modernistas. 

Um estranho em uma terra estranha

 


A primeira coisa a se dizer sobre Um estranho numa terra estranha é que é impossível fazer uma resenha do mesmo sem contar boa parte da história (a não ser que seja um texto apenas com frases genéricas). Portanto, se você não gosta de spoiller, pare aqui mesmo.
Dito isso, vamos aos fatos. Heinlein era um escritor de livros juvenis de FC e pretendia escrever um livro adulto. A sugestão de tema veio de sua esposa Virginía: que tal uma versão ficção científica de Mogli, tendo, no lugar de um menino criado por lobos, um humano criado por seres extraterrestres? Heinlein percebeu que esse mote lhe permitiria avançar muito além de questões juvenis. Alguém criado em outro planeta teria uma visão de mundo completamente diferente dos terráqueos, o que lhe permitiria discutir muitos temas: filosofia, sexo, religião, tabus, comportamentos.
A história ganhou corpo quando o autor soube dos manuscritos coptas do século 2, com evangelhos da heresia gnóstica. Um dos principais autores da gnose era Valentino de Alexandria. Assim, o protagonista ganhou nome: Valentine Michael Smith (ele será normalmente chamado de Mike na maioria das vezes). O título, até então era o Herético.
Henlein levou mais de 10 anos para escrever sua obra e só resolveu lançá-la quando percebeu que a censura aos livros nos EUA havia afrouxado.
Quando publicado, o livro fez sucesso mediano, mas se tornou um best-seller quando foi redescoberto pelos hippies no final da década de 1960, tornando-se um dos principais livros do movimento.
O início do livro é tão divertido quanto uma dor de dente. A narrativa se concentra na fuga do hospital onde o garoto de marte estava incomunicável e nas tratativas com o governo no sentido e garantir sua segurança e liberdade. Em meio a essa trama de pseudo-espionagem e negociações, só o que salva é a figura de Jubal, um advogado-médico-escritor que adota o garoto de marte e negocia por ele. Jubal é uma das figuras mais carismáticas da literatura de ficção científica. Velho, ranzina, irônico, cínico, vive em uma casa cercado por lindas secretárias. Ele é o ponto filosófico da trama. Muito antes que o Homem de marte comece a colocar em dúvidas a filosofia, religião e tabus humanos, Jubal já o faz com sua lógica certeira e desconcertante.
Uma vez livre, Mike e a enfermeira que o salvou, Jill irão percorrer os EUA em um verdadeiro road movie. Mike, por exemplo, usa seus poderes de telecinésia para trabalhar em um circo como mágico, mas o número não faz sucesso porque, embora os truques sejam bons demais, ele não entende da psicologia humana. Isso o leva a devorar livros e se interessar por religiões.
Quando finalmente consegue grokar em plenitude, Mike monta sua própria igreja.
Abre parêteses
O livro introduziu diversas palavras “marcianas”, a mais famosa delas foi grokar, tão popular que chegou a ser dicionarizada.
Fecha parêteses
Um estranho em uma terra estranha é, portanto, a trajetória do personagem, tentando entender a humanidade, a si mesmo.
É uma obra mais focada em discutir questões filosóficas do que realmente contar uma trama (embora ela exista), com longas discussões entre os personagens sobre os mais variados aspectos da existência, em especial as religiões. Como o foco é este, há poucas descrições, ou mesmo trechos narrativos.
Vendo o que ocorreu na década de 1970, com o movimento hippie e seus gurus, é impressionante como o livro de Heinlein antecipou tudo – ou talvez tenha influenciado os acontecimentos. O livro ficou tão famoso entre os hippies, que era muito comum pessoas invadirem a casa de Heinlein querendo compartilhar água (para desgosto do autor, que nunca quis ser um guru).
Aqui vale mais uma discussão, sobre se a arte antecipa o futuro ou cria o futuro, que bem poderia estar presente no livro.
Em suma, não leia Um estranho em uma terra estranha esperando encontrar uma narrativa convencional, uma trama, ou mesmo uma mensagem. Este é, acima de tudo, um livro que sucita perguntas e questionamentos – e que nos deixa olhando para o nada após lê-lo.

A arte Steve Ditko, o gênio dos quadrinhos

 

Ditko foi um dos gênios que transformaram a Marvel na maior editora de quadrinhos dos Estados Unidos. Ele começou a fazer quadrinhos no final da era de ouro e fez uma infinidade de histórias de terror para a Atlas (nome da Marvel na época).
Quando criou o Homem-aranha, Stan Lee chamou o desenhista para o título. Originalmente o personagem seria desenhado por Jack Kirby, mas a troca foi mais que acertada: o Peter Parker franzino e inseguro de Ditko foi um das razões pelas quais o título se tornou um campeão de vendas.
Ditko também criou o Dr. Estranho, maravilhando os leitores com as cenas psicodélicas de realidades paralelas. A marca de Ditko no personagem foi tão grande que ele só voltaria a ter uma fase equivalente na década de 1970, mas mãos de Steve Eglehart e Frank Brunner. Para a Charlton Ditko criou uma galeria de personagens que depois dariam origem aos "heróis" de Watchmen. Aliás, não só o Rorschach é baseado no personagem Questão, criado por Ditko como visualmente lembra muito o Mestre do Crime, um vilão criado por Ditko para o Homem-aranha.
Nada melhor para homenagear esse gênio do que apreciarmos sua arte.

















Escrevendo quadrinhos: Não mostre tudo

  Eu costumo dizer que quadrinho é a arte da elipse. Elipse é uma figura de linguagem em que pulamos parte da frase, deixando restante subentendido. Por exemplo: Maria gosta de mação, João, de morango. O verbo gostar foi pulado, mas o sentido se manteve – é uma elipse.

O que na literatura é um recurso ocasional, nos quadrinhos ocorre o tempo todo. Há sempre um pulo entre um quadro e outro, que deve ser preenchido pelo leitor (aqueles que criticavam os quadrinhos por não estimularem a imaginação do leitor, dando tudo pronto, certamente nunca leram quadrinhos).
Observe o exemplo abaixo, de Will Eisner.

Entre o momento em que o malandro está falando e o momento em que ele está caído no chão, alvejado, houve uma série de ações. O gangster tirou o revólver do bolso (ou de uma gaveta na mesa) apontou, atirou, a bala fez o trajeto da arma até o corpo do rapaz, ele foi atingido e, finalmente caiu. Tudo isso ocorre dentro da cabeça do leitor.
Os melhores quadrinistas são aqueles que conseguem lidar com a elipse, mostrando apenas os necessário, deixando o leitor participar da história.
Observe, por exemplo, a tira abaixo, do Pelezinho. 

O humor está todo na elipse, a graça está em imaginar o que aconteceu entre o momento em que o Pelezinho faz o gol, pula para comemorar e o constrangedor momento em que ele está no chão, com um pássaro nas mãos.
 As elipses pode, inclusive, dar o ritmo da história. Elipses mais curtas, que mostram muito, podem demonstrar lentidão. Na história clássica do Demolidor A queda de Matt Murdock, há um ponto em que Murdock está acabado, derrotado, em um hotel barato, com poucos dólares no bolso. Deitado na cama, ele reflete sobre o que lhe aconteceu e concluí que tudo faz parte de um plano do Rei do Crime e decide se levantar para se vingar. A sequência parece uma câmera lenta: ele começa a se levantar da cama, ele se levanta, ele anda, ele pega na maçaneta da porta.... e no quadro seguinte ele está de volta à cama. A impressão que se tem é de que o levantar para sair foi feito com grande esforço, lentamente, enquanto que a volta para a cama foi rápida, o que mostra o quanto a personalidade do herói foi quebrada.

Na história Pig Ficiton, com desenhos de Antonio Eder, eu usei a elipse para demonstrar rapidez dos acontecimentos. O pulo entre uma ação e outra é tão grande que parece que tudo aconteceu muito rápido, surpreendendo o porquinho que imaginava que iria escapar.
Ou seja: na hora de escrever seu roteiro, tenha em mente que nem tudo precisa ser mostrado. Às vezes o que não mostramos é mais importante do que é visto pelo leitor.