Existem volumes de Perry Rhodan que funcionam quase como se
fossem contos isolados. Outros nitidamente fazem parte de uma história maior,
mas podem ser lidos isolamente. E outros são tão conectados a outros livros que
parecem não funcionar sozinhos. Exemplo desse último caso é o volume 46,
Projeto aço arcônida, escrito por Kurt Brand.
No volume anterior, Rhodan fizera um ataque inédito aos aras,
os médicos estelares que vivem de criar epidemias e vender remédios para elas.
Como vingança, os aras decidem destruir a Terra. Mas como não
têm armas, precisam dos saltadores e dos superpesados e para isso marcam uma
reunião na lua de um planeta. Rhodan resolve aproveitar a reunião para introduzir
seus mutantes na nave de Topthor, a única pessoa que tem a informação sobre a localização
da Terra. A ideia é invadir seu computador de bordo e introduzir uma outra
localização. Para isso, Rhodan conta com a ajuda de Talamon, um superpesado que
se tornara seu amigo.
A trama é interessante. O problema é a grande quantidade de
pontas soltas, ganchos não resolvidos. O próprio título é um exemplo, já que,
embora a questão do aço arcônida seja mencionada em vários momentos, não há, de
fato, uma operação para resgatar esse aço. Além disso, temos várias outras
situações: à certa altura o hipercomunicador da nave de Talamon é ligado quando
ele está conversando com Reginald Bell, o que indica que a nave tem um traidor.
Além disso, uma força invisível e misteriosa parece ser mais poderosa do que os
próprios mutantes; há um gancho sobre um mundo chamado Exsar, onde os aras
haviam instalado uma epidemia extremamente mortal, mas que não parece ter muito
impacto sobre os acontecimentos. Simplesmente nada é resolvido, explicado ou
solucionado nesse volume. Algumas dessas
questões serão resolvidas em livros posteriores. Outras ficariam como pontas
soltas.
Eu, assim como muitas pessoas, lia os volumes conforme ia
conseguindo os mesmos nos sebos. E esse é um que certamente passaria totalmente
batido se tivesse lido antes, quando não tinha todos os números do primeiro
ciclo.
Uma curiosidade desse volume é a informação sobre o cérebro
regente de Árcon. À certa altura, Kurt Brand informa que o computador ocupa uma
área de dez mil quilômetros quadrados. Incrível como o futuro nesse ponto é tão
diferente do imaginado pelos autores, que não conseguiram imaginar o processo
de miniaturização pelo qual passariam os computadores. Hoje em dia cabe na
palma da mão um aparelho com capacidade de computar muito mais informações do
que um aparelho que ocupava um prédio inteiro na década de 1950.
Sempre leio as matérias, embora nunca comente.
ResponderEliminarMas como fã antigo da série, sempre gosto de pensar dentro do universo.
Sobre o fato de um computador gigante ocupar quilômetros e quilômetros de extensão, podemos ver como uma falha dos autores ao imaginarem que a tendência era computadores cada vez maiores para computarem mais dados.
Por outro lado, talvez possamos "dar um desconto" neste ponto e pensar que o computador-regente talvez controlasse tantas coisas, mas tantas coisas, mas uma infinidade tal de informações, que mesmo com a miniaturização, ele precisasse de tal tamanho.
Lembrando que a série tem muitas inconsistências aqui e ali, mas aparentemente o computador controlava todas as dezenas de milhares de naves de guerra do império. Nisto, deveria controlar ainda mais milhares de naves de comércio, transporte e exploração, além dos meandros de toda a máquina burocrática de um império com centenas de milhares de planetas.
Pensando desta forma, 10.000 quilômetros quadrados podem ser adequados, mesmo pensando em termos atuais.
Afinal, nunca se tem a exata proporção de quanto o império é controlado diretamente pelo regente, quanto é por robôs e computadores individuais e por cidadãos mesmo.
Claro, exagerado, mas possível.