Kardec foi o codificador da doutrina espírita, o homem que tornou
o espiritismo famoso mundialmente. Mas sua vida em si não teve grandes
atrativos, sendo sua jornada muito mais espiritual e intelectual. Transformar
essa jornada em algo interessante era o objetivo de Wagner Assis. O diretor já
tem uma relação com o tema: foi o responsável por transpor para as telas o
livro Nosso Lar, de Chico Xavier.
Hypolite Leon Denizard Rivail era um revolucionário professor
francês. Influenciado por Pestalozzi, propunha uma relação de afeto entre
alunos e professores e uma educação que despertasse a curiosidade científica
nos estudantes. Quando, por ordem de Napoleão III, as escolas foram obrigadas a
ter aulas de religião começou seu primeiro grande combate. Seu método de ensino
ia na contramão da catequese em que se transformaram as escolas. A solução foi
se aposentar.
O filme inicia exatamente nesse momento, em que, desempregado, o
célebre professor, autor de vários livros sobre educação, se vê numa situação
de crise. Entremeada a essa crise, uma moda, inicialmente rechaçada por ele: a
das mesas girantes. Pessoas lotavam teatros onde faziam perguntas a mesas que
flutuavam no ar.
Como bom cientista, Hypolite rechaçou o fenômeno, imaginando que
se tratava apenas de truques de ilusão.
De fato eram, como ele logo descobriu – mas havia também fenômenos
autênticos, em grupos que envolviam até mesmo cientistas renomados. Aos poucos
ele foi se deixando convencer pelos fatos, como mensagens para ele com
informações que só ele ou sua esposa conheciam, ou um conto escrito por um
autor falecido, mas cuja letra era absolutamente idêntica à letra do autor
original.
O filme explora bem essa trajetória – do rejeição inicial ao
momento em que o professor elabora um método para evitar fraudes: fazer a mesma
pergunta a vários médiuns e comparar as respostas. Até que ele as codifica em
uma obra – o Livro dos Espíritos.
Como foi dito, é uma jornada espiritual e intelectual – portanto
há quase nenhuma ação ou conflito.
O momento de maior conflito ocorre quando a igreja católica bane o
livro (Houve inclusive uma queima pública da obra, em Barcelona) e consegue a
proibição das reuniões espíritas.
Entretanto, o filme consegue se sustentar bem com esse material,
mantendo o interesse do expectador.
Como o orçamento é nitidamente baixo, os cenários de Paris do
século XIX são recriados digitalmente e o filme todo tem um tom excessivamente
teatral, o que barateia bastante os custos, mas torna um pouco forçada algumas
cenas.
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