terça-feira, novembro 12, 2019

The boys



The Boys, HQ criada pelo roteirista Garth Ennis e ilustrada por Darick Robertson é uma daquelas séries tão estranhas, tão fora da caixinha que você jamais imaginaria que se tornaria uma série. Pois não só se tornou, como é uma das melhores séries de super-heróis da atualidade.
Na história, os heróis são celebridades que se preocupam muito mais com a fama e o marketing do que em realmente salvar vidas.
Ennis, conhecido por seu humor ácido e roteiros radicais, leva ao extremo a ideia de que o poder corrompe – e o poder absoluto corrompe absolutamente.
É também um exercício sobre o que poderia acontecer de fato se existissem super-heróis. Há, por exemplo, um grupo de apoio a pessoas que tiveram suas vidas afetadas negativamente pelos heróis. Um dos rapazes, por exemplo, era namorado de uma heroína que se transformava em gelo... e ela congela durante o orgasmo. Consegue imaginar o que acontece com o que estiver dentro dela?
É esse tipo de situação que a série explora, a começar pelo primeiro capítulo, que vemos o personagem Hughie em um momento idílico com sua namorada. Esse momento é interrompido pela aparição do herói Trem-bala: ele passa tão rápido que a moça simplesmente é estraçalhada, restando apenas suas mãos. A cena mostra o rapaz perplexo, segurando a única coisa que restou de sua namorada – uma cena, aliás, muito parecida com a dos quadrinhos.
Vale destacar a caracterização dos heróis, do Capitão Pátria, um personagem super-poderoso que despreza os humanos e parece uma bomba atômica prestes a explodir, ao Black Noir (sim, o nome do personagem é Black Noir!), um vigilante sombrio e violento que nunca diz uma palavra, mas em alguns momentos se mostra sensível a ponto de tocar piano em uma festa.
Nesse mundo em que heróis são celebridades pervertidas envolvidas em estratégias de marketing e conspirações, surge um grupo, The boys, cujo objetivo é enfrentá-los e desmascarar a trama por trás dos heróis, que envolve, por exemplo, drogar bebês.
Aliás, apesar do objetivo correto, os rapazes também não são modelos de virtude e parecem um grupo tão desasjustado com o dos heróis. Nesse sentido, Hughie e Luz-estrela, heroína estreante do grupo de heróis, são o contraponto – duas pessoas bem-intencionadas em um mundo bizarro.
A série aproveita toda a subversão da obra original e, ao mesmo adapta questões que deveriam ser realmente adaptadas e, surpreendentemente, tornou-se um sucesso, um dos carros-chefe do Amazon vídeo.
Uma curiosidade é que o grupo de heróis da série, Os Sete, é nitidamente uma sátira da Liga da Justiça. Há contrapartes do Superman, Mulher Maravilha, Aquaman, Flash e Batman, o que nos leva a uma reflexão: enquanto a sátira da Liga é uma das séries de maior sucesso tanto de público quanto de crítica da atualidade, a DC-Warner, que detém os personagens originais, não consegue fazer um filme decente com eles.

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