O espiritismo surge
em meados do século 19, quando começam a se tornar famosos médiuns capazes de
se comunicarem com os espíritos, mas só se estruturou de fato a partir da obra
de Alan Kardec, pseudônimo de Hippolite Léon Denizard Rivail.
Rivail era um famoso
professor francês, discípulo de Pestalozzi.
Aos 18 anos, ele já era professor de uma escola secundária e traduzia livros do
inglês e do alemão para o francês. Escrevia livros no sentido de facilitar o
entendimento de disciplinas como aritmética e sobre pedagogia.
Era também um
espírito racional e interessado pelas descobertas científicas de sua época,
inclusive do ponto de vista da metodologia científica. Assim, ele não acreditou
quando lhe falaram do fenômeno das mesas girantes, que, teoricamente, falava
através de um código de batidas no solo. Na época, esse fenômeno era a diversão
elegante das elites dos grandes centros urbanos europeus. Homens e mulheres
davam-se as mãos em círculo ao redor de mesas redondas, que se erguiam sem
serem tocadas. As perguntas, respondidas pelas mesas através de batidas no
chão, geralmente se concentravam em futilidades.
Rivail soube do fato
e concluiu que se tratava de algum fenômeno magnético, mas, ao ser
informado que as mesas respondiam
perguntas com inteligência e até compunham textos literários, ele achou se
tratava de um conto de carochinha: “Só acreditarei quando o vir e quando me
provarem que uma mesa tem cérebro para pensar, nervos para sentir e que possa
tornar-se sonâmbula”.
Ao participar das
reuniões, na casa da senhora Planemaison, ele se espantou ao perceber que o
fenômeno era autêntico. Nesse período,
já havia uma transição do uso das mesas para o uso de cestas com lápis, que eram
seguradas por dois médiuns e escreviam diretamente sobre o papel.
Rivail usou sua
sólida formação filosófica e científica para estudar o fenômeno e começou a
modificar o caráter das reuniões. Ele levava para as sessões uma série de
perguntas metodicamente preparadas, que eram respondidas com precisão pelos
espíritos. Chegou a um ponto em que, se ele faltava, os outros não sabiam o que
perguntar.
Usando um elemento
importante da metodologia científica da época, a indução,
ele evitava hipóteses, estudando caso a caso, comparando respostas e
selecionando-as. “Cada espírito, em virtude de sua posição pessoal e seus
conhecimentos me desvendava uma face daquele mundo”, escreveu ele, em O Livros
dos Médiuns.
Alan Kardec
Nessa época surgiu a
ideia de reunir os resultados desses estudos na forma de um livro. Rivail foi
incentivado por um grupo de estudiosos que incluía membros da Academia
Francesa, livreiros e editores, muitos dos quais lhe entregavam material
recolhido em reuniões mediúnicas. O codificador seguia o princípio “Observar,
comparar e julgar” na seleção e organização do material. Ele contou também com
uma revisão feita pelos espíritos através da médium Japhet em sessões na sua
casa, com dia e horas marcadas.
Na hora de publicar,
Rivail resolveu não usar seu nome verdadeiro, já muito associado a livros
didáticos. Ele acabaria assinando O Livro dos Espíritos como Alan Kardec. O
nome surgira de uma comunicação de seu espírito protetor Z, que lhe revelara
que ele fora um sacerdote druida em
outra encarnação, nos tempos de Júlio César.
Alan Kardec, seu nome druida, foi o nome como Rivail passou a ser
conhecido a partir dali.
O Livro dos
Espíritos, lançado em 18 de abril de 1857, em Paris, foi um sucesso estrondoso.
Logo a publicação se espalharia por todos os países da Europa e da América.
Kardec recebeu inúmeros elogios e cartas pessoas famosas e anônimas.
A publicação era
dividida em 501 perguntas e respostas, que depois seriam ampliadas para 1019 e
trazia os princípios básicos da filosofia espírita, incluindo a crença na
reencarnação e na comunicação com os espíritos.
Apesar do sucesso, O
Livro dos espíritos despertou reações contrárias. Um padre de Lyon chegou a
acusar Kardec de estar ficando rico com o espiritismo. Na Espanha, o bispo de
Barcelona mandou queimar 300 exemplares da obra em praça pública no episódio
que ficou conhecido como auto-de-fé de Barcelona. O resultado foi o oposto do
esperado: os populares disputavam os poucos livros não queimados e a cidade
viveu um grande interesse pelo espiritismo. “Podem queimar livros, mas não se
queimam ideias”, escreveu Kardec.
Doutrina
A doutrina espírita
parte de alguns princípios: a existência
de Deus, a imortalidade da alma, a reencarnação, o esquecimento do passado, a
comunicação com os espíritos, a existência de vida em outros mundo, a lei da
ação e reação, a fé raciocinada, a lei da evolução e a lei moral.
O espiritismo
kardecista acredita que Deus existe e é a causa primeira de todas as coisas,
mas é impossível ao ser humano conhecê-lo totalmente, pois somos imperfeitos.
O homem é criado
simples e ignorante e evolui através das diversas encarnações. Assim, embora o
corpo seja mortal, a alma é imortal. Quando está no corpo, diz-se que o
espírito está encarnado. Quando morre, desencarna e volta para o plano
espiritual, mas continuam com muitas das características que tinham durante a
vida: preguiçosos ou trabalhadores, cultos ou medíocres, verdadeiros ou
mentirosos.
Segundo o
espiritismo, os espíritos estão em toda parte, inclusive entre nós. Os menos
evoluídos são os que mais se agarram ao plano material, ficando junto das
pessoas. Outros vão para o umbral. Os
menos apegados às paixões e ao mundo espiritual seguem para colônias
espirituais. O espiritismo não acredita no inferno.
Os espíritos
evoluídos voltam à terra em missões espirituais de consolo e ajuda a pessoas
necessitadas. Tanto esses quanto os menos evoluídos influenciam em nosso
pensamento, mas não podem agir sobre a matéria. Para fazer isso, eles
necessitam de médiuns.
Sãos os médiuns que
permitem uma comunicação mais efetiva entre os espíritos desencarnados conosco.
Segundo o kardecismo, nem todo espírito que se comunica conosco é digno de
crédito, já que há muitos enganadores.
A função das
reencarnações é a evolução espiritual. O
ser-humano, segundo a doutrina espírita, tem o livre-arbítrio e pode escolher
entre o bem e o mal. Quando escolhe o bem evolui de encarnação em encarnação,
como um aluno na escola, passando de uma série a outra. Normalmente, um
espírito precisa reencarnar várias vezes antes de conseguir passar para um
estado mais evoluído, adquirindo conhecimento intelectual e principalmente
espiritual através das várias vivências.
Muitas das
reencarnações ocorrem para resolver problemas do passado. Assim, é possível que
inimigos reencarnem na mesma família, como forma de resolverem suas diferenças
através do amor. Essa é a razão pela
qual o ser humano esquece as encarnações passadas. Se lembrássemos do passado,
teríamos dificuldade para nos reconciliar com inimigos que hoje convivem
conosco como filhos, irmãos, mães ou pais.
Para o espiritismo,
quando reencarnamos, traçamos um "plano de vida", com compromissos
assumidos com a Espiritualidade e conosco, e que dizem respeito à reparação do
mal e à prática de todo o bem possível. Muitos escolhem sofrimentos que
ajudarão a reparar erros de outras vidas. Outros dedicam sua vida a ajudar os
outros, reparando-se através do amor. Assim, os sofrimentos não são uma punição
de Deus, mas uma escolha do espírito para espiar erros do passado.
A partir de um
determinado nível de evolução, o espírito passa para outro planeta, de
categoria mais elevada. A Terra é vista como um mundo de provas e expiações,
acima apenas dos planetas primitivos onde encarnam as almas mais jovens e menos
sábias. Num nível mais elevado, há os mundos de regeneração, que servem de
transição para o nível mais elevado dos mundos felizes. Nos mundos de
regeneração, a alma encontra a paz, o descanso e evolui. Mas ainda é um mundo
físico em que se experimenta o desejo, mas sem as paixões desordenadas.
Nos mundos felizes, o
bem supera totalmente o mal. A matéria é menos densa e os espíritos são mais
livres das garras da matéria. A autoridade é sempre respeitada, pois decorre
unicamente do mérito. Também a reencarnação acontece mais rápido justamente
pela proximidade entre corpo físico e espiritual.
Finalmente, no
patamar mais elevado, existem os mundos celestes ou divinos, em que só reina o
bem.
Chico
Xavier
Chico Xavier é o mais
famoso médium brasileiro e grande responsável pela popularização do espiritismo
no país. Sua importância é tão grande que ele era respeitado até mesmo por
pessoas de outras religiões. Quando morreu, aos 92 anos, em junho de 2002,
deixou 412 livros psicografados, a maioria de autoria de seu parceiro
espiritual, Emmanuel, reencarnação do padre Manoel da Nóbrega. Por seu
pacifismo e luta em prol dos necessitados, é comparado a Gandhi, Madre Tereza
de Calcutá e São Francisco de Assis.
Chico Xavier nasceu
em Pedro Leopoldo, Minas Gerais, em 2 de abril de 1910. Desde pequeno revelou
sinais de mediunidade. Aos quatro anos, um espírito lhe disse que o aborto da
vizinha havia sido espontâneo, e não provocado. Os pais não lhe deram atenção.
Em 1915, a mãe morreu
e Chico passou a ser criado pela madrinha, que o maltratava continuamente.
Nessa época a mediunidade aflorou e ele, sempre que era castigado, corria para
o quintal, para se consolar com o espírito da mãe.
Apesar da
mediunidade, ele continuava freqüentando a igreja católica. Mas em 1927
resolveu aderir definitivamente ao espiritismo. Foi nessa época que lhe
apareceu o espírito Emmanuel, que o acompanharia pelo resto da vida.
A fama veio na década
de 1970, quando Chico participou do programa Pinga Fogo, da TV Tupi. O sucesso
foi imediato e houve um grande interesse pelo kardecismo a partir de então.
Filas de pessoas se
formavam na frente do Centro Espírita onde ele atendia, em Uberaba (MG),
procurando notícias de pessoas desencarnadas. Nem sempre se conseguia contato
com o espírito, mas quando esse contato acontecia, até as gírias e assinaturas
eram iguais.
Apesar do sucesso,
Chico continuava uma pessoa humilde e vivia com simplicidade. Sua única fonte
de renda era a aposentadoria de funcionário público do Ministério da
Agricultura. O dinheiro dos 30 milhões de livros vendidos ia todo para
instituições de caridade.
Chico nunca se casou,
mas adotou um filho, o dentista Eurípedes Higino dos Reis, hoje diretor do
Grupo Espírita da Prece e do Museu Chico Xavier.
Pouco antes da sua
morte, uma câmera de TV captou duas luzes que caíram do céu e entraram pela
janela onde Chico estava. A fita foi mandada para perícia, que revelou que as
imagens não haviam passado por nenhum tipo de manipulação. Ele revelou que as
luzes eram o espírito de Emmanuel e de sua mãe.
Chico morreu em casa,
no dia em que o Brasil conquistou o pentacampeonato de futebol, no Japão. Seu
corpo foi enterrado no cemitério São João Batista, em Uberaba.
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