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quarta-feira, outubro 01, 2025

A hora do vampiro

 

Li A hora do vampiro, de Stephen King.
O livro é de 1975 e foi lançado na sequência de Carrie. Mostra um King em plena forma: na pequena cidade de Salem´s Lot, uma antiga mansão, na qual um homem se matou e matou a esposa, volta a ser ocupada. Desde o começo, o leitor advinha que os novos moradores são vampiros, mas na primeira metade da obra, o que mais interessa são os ótimos personagens (entre eles o protagonista, um escritor que volta para a cidade natal) e a ambientação. King cria uma cidade tão realista que, quando surge o terror,você fica pensando: Será que os heróis serão presos por homicídio após cravarem a estaca no coração do vampiro? Quem leu a história sobre vampiros escrita por Alan Moore para o Monstro do Pântano vai lembrar imediatamente dessa HQ ao ler A hora do vampiro. Moore nitidamente se inspirou em King ao estabalecer a ideia de uma cidade habitada por vampiros.
A hora do vampiro também é interessante por antecipar o King da escrita automática, solta, que veríamos em Saco de ossos, por exemplo.
A garotada que hoje curte Crepúsculo deveria ler King para saber o que realmente é trabalhar com vampiros.  
Como não poderia deixar de ser, A hora do vampiro virou filme e fez tanto sucesso que surgiram vários outros títulos semelhantes em português. Quando a Sampa resolveu fazer uma copilação de histórias minhas e do Bené, eles a chamaram de A hora do Crepúsculo.

A tessitura do nó górdio

 


Em 2017 as professoras Isabel Regina Augusto e Maria Cristina Dadalto organizaram o livro A tessitura do nó górdio: redes periféricas em identidades, paisagens (e-I) imagração e comunicação. A publicação era uma parceria entre o Cucas (Grupo de Pesquisa em Cultura, comunicação, Arte e Sociedade), vinculado à Unifap e o Laboratório de Estudos Migratórios, vinculado à Universidade do Espírito Santo. Eu colaborei como o artigo “Francisco Iwerten: o quadrinistas que nunca existiu”, sobre o artista de quadrinhos fake que foi considerado como real e chegou até mesmo a ganhar prêmio e quase foi homenageado por uma escola de samba.

Guerras Secretas – Situação desesperadora

 


O número quatro da série Guerras Secretas começa com o Homem Molecular destruindo a fortaleza dos heróis e recebendo afagos apaixonados de Vulcana (a personagem que Jim Shooter tirou da cartola ao escrever a série):

- Incrível! Você destruiu esse lugar só com um gesto, Homem Molecular.

- Ora, para alguém quem controla moléculas, isso não é nada!

O Homem-Molecular garante a vitória dos vilões. 


Mesmo assim, com a fortaleza sendo dizimada molécula por molécula, os heróis sobrevivem – o roteirista não se preocupa em explicar como.

Ao perceber que os heróis se salvaram, o Homem Molecular joga uma montanha em cima deles (mesmo assim eles sobrevivem graças ao Hulk, que segura a montanha, gerando uma bela capa). Logo depois, Thor e Encantor aparecem por ali depois do interlúdio romântico e os vilões resolvem matar o deus do trovão, algo que é feito por Ultron com um raio desintegrador. Depois descobrimos que Thor sobreviveu ao invocar um trovão e sumir dali.

Os heróis morrem... mas não morrem. 


É tanto morre-não-morre-morre-não morre que começa a incomodar. Fica óbvio que as aparentes mortes são apenas um artifício dramático barato – o que tiraria o impacto de qualquer morte real. Numa comparação com Crise nas infinitas terras: na série da DC todo mundo que morria, morria de fato (pelo menos ali, naquela publicação).

Em uma narrativa paralela, os X-men se refugiam na fortaleza de Magneto, onde encontram o moço no interlúdio romântico com Vespa.  Magneto argumenta que o grupo de mutantes deve assumir um papel agressivo: “Se Destino triunfar, Beyonder realizará todos os seus desejos egoístas! Porém nós, com a ajuda de um ser tão poderoso, criaríamos uma nova era, onde humanos normais e mutantes viveriam em paz”.

Thor morre... mas não morre. 


Surpreendentemente, a Vespa, que até então parecia apaixonada pelo rei do magnetismo passa a atacá-lo. Qual a parte de “Humanos normais e mutantes vivendo em paz” que a fez se tornar tão agressiva, do nada?

Os personagens pareciam agir de acordo com as necessidades narrativas do roteirista, que precisava ali de um conflito para ter mais algumas páginas de porrada.

Aliás, todos os personagens parecem agir assim. Ninguém tem uma ação que seja fruto da sua jornada e da lógica interna da história – são todos escravos das necessidades da roteirista.

Pequeno dicionário das expressões paraoras

 

Belém, como toda a Amazônia, é rica em tudo. Em bio-diversidade, em minérios, e até em expressões e lendas. O caso das expressões é particular porque eu acabei participando, direta ou indiretamente, da criação de algumas que se tornaram célebres. O que apresento a seguir é uma amostra de palavras e expressões relacionadas por mim e por Alan Noronha (algumas definições são dele). Tal dicionário pode ser útil, caso você tenha a temerária idéia de visitar Belém. Saber que égua não é xingamento pode ser tão útil quanto saber que, em Curitiba, salsicha é vina...
Égua - essa é, depois de deveras, a única palavra brasileira que pode ser usada em qualquer situação. Você pode usar égua para expressar dor, tristeza, alegria, admiração, espanto e até mesmo enfado. Se, por exemplo, passar pela sua frente uma morena jeitosa, você pode exclamar deliciado: “Égua!”. E não se preocupe que ela não vai achar que você está chamando-a de eqüina. Se, por outro lado, descer um disco voador no seu quintal, não pense duas vezes. Grite: “Égua!”.
Pai d´égua - é uma derivação do égua. Significa legal, bacana. Se um paraense gostar de você, vai dizer que é um cara pai d´égua. Sinta-se orgulhoso, pois você acaba de receber um grande elogio
 - é o primo pobre do égua. Também pode ser usado em qualquer situação, mas não tem autonomia para constituir uma frase. Geralmente é usado para dar ênfase à frase: “Mas quando, já?”; “Mas maninho, tu já bebe...”.
Mofino - entristecido, quieto. Geralmente boladas no saco, foras da namorada e ônibus que não param (muito comuns em Belém) deixam o indivíduo mofino.
Noiado - redução de paranóico que, com o tempo, ganhou outras significações. Usa-se para designar um indivíduo neurótico, problemático. Você, por exemplo, pode estar mofino porque é um indivíduo noiado. Mas a experiência tem demonstrado que, assim como chifre, nóia é coisa que botam na sua cabeça.
Rolar o mal - jogar sinuca. Diz a lenda que um metaleiro que jogava sinuca soltava a cada dois segundos: “Pô, cara, muito mal”. Assim que ele saiu, os outros começaram a usar a expressão, por sarro, até que a expressão acabou se aplicando ao próprio jogo. Esse é um termo que surgiu num grupo de amigos meus e acabou se alastrando assustadoramente pela cidade. Estar em mal significa estar em situação de sinuca. Em Belém você pode convidar um amigo para rolar o mal, ao que ele vai responder, indignado: “Eu não. Você só gosta de deixar a gente em mal”.
Ah se eu te pego, te requebro, na cabeça do meu prego - cantada sutil e malevolente. Deve ser empregada no tom de voz adequado.
Pariceiro - colega, amigo. Pejorativo muito usado pelas mães em referência aos amigos do filho.
Pano de bunda - trouxa, mala. Normalmente usado pelas mães que querem expulsar os filhos de casa. Exemplo: “Você só vive com esses seus pariceiros! Pega os seus panos de bunda e vai morar com eles!”.
Teba - grande. Geralmente usado para aquilo. Comum a expressão “Olha a teba!”, com gesto indicativo do tamanho da coisa em questão.
Miúdo - pequeno, de pouco valor.
Graúdo - grande. Certa vez fui assaltado e o e ladrão, depois de examinar minha carteira, perguntou enfurecido: “Cadê o dinheiro graúdo?”. Eu só tinha dinheiro miúdo...
Rolar o chocolate - fazer amor. Essa expressão surgiu depois que passou no cinema o filme Como Água para Chocolate e chegou a ter uma certa popularidade. Atualmente foi substituído por comparecer. Há também quem use conhecer, no sentido bíblico.
Tocar piano - é o que você faz quando está com uma garota, mas não pode rolar o chocolate. Foi inspirada no filme O Piano. Talvez por causa da origem nobre, não chegou a ter ampla repercussão, embora fosse a expressão predileta de alguns alunos meus. Provavelmente porque eles ainda não haviam chegado na idade de rolar o chocolate.
Hermético - fechado, difícil. Palavra recuperada do português formal, de uso corrente em alguns bairros.
Leso - doido, abobalhado. Se, por exemplo, você tem oportunidade de rolar o chocolate com uma gatíssima, mas acaba só tocando piano, então você corre o risco de ser chamado de leso.
Broca - comida. Comendo uma broca, você deixa de estar brocado.
Cachorro-quente - a expressão não é pitoresca, mas o que ela representa sim. Belém é, provavelmente, o único local do Brasil onde o cachorro-quente é feito com carne-moída (chamada de picadinho). Em cada esquina de Belém há uma banca de cachorro-quente e essa é, pasmem, a razão pela qual a McDonalds demorou tanto a se instalar na cidade...