Confesso que tive mais de uma oportunidade de
comprar um exemplar de Black Hammer, série de Jeff lemire e Dean Ormston. Mas
eu achava estranha a capa do primeiro número e não conseguia decifrar o que era
aquilo: super-heróis? Terror? Uma mistura? Mas um amigo me convenceu a comprar
o primeiro número (valeu, Rodrigo Bandeira!).
Black Hammer conta a história de um grupo de
heróis que, ao derrotar o maior vilão de todos os tempos (o Antideus), acabam
sendo misteriosamente exilados em uma pequena cidade. Nenhum deles sabe o que há
além das fronteiras do local, pois o único que tentou ultrapassá-las
aparentemente morreu. Dessa forma, vivem vidas normais enquanto tentam
descobrir onde estão, como vieram parar ali e como voltar para o mundo normal.
No posfácio da edição, Lemire conta que criou
Black Hammer porque achava que nunca teria a oportunidade de trabalhar com “super-heróis
de verdade”. Na época ele estava fazendo uma série alternativa sobre uma cidadezinha,
o condado de Essex e a nova série prometia unir esse amor por histórias sobre
pequenos povoados com a paixão por super-heróis.
A Dark Horse se interessou pelo projeto, mas a
série só engrenou anos depois, quando Lemire já estava escrevendo “super-heróis
de verdade”. E o motivo foi a entrada de
Dean Ormston. “O que torna Dean Pefeito para Balck Hammer é que a arte dele é
muito diferente dos quadrinhos tradicionais”, escreve o roteirista. De fato, é
uma arte que causa o estranhamento que relatei no início deste texto.
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As capas são homenagens a gibis clássicos. |
Black Hammer é herdeira direta de Watchmen e
Miracleman, ambos de Alan Moore, mas consegue encontrar um ponto de vista
diverso dentro da proposta de mostrar super-heróis como pessoas normais. Colocá-los
dentro de uma fazenda, numa pequena cidade, dá uma outra perspectiva para o
assunto. Ali, cada um se depara com problemas. É Abraham Slam apaixonado por
uma garçonete, mas com medo de levá-la até a fazenda, é a menina de ouro vivendo
as arguras de mulher de 50 anos preso no corpo de uma menina... esse contexto
muito pé no chão é entremeado por sequencias de flash back, com esses
personagens na sua versão super-heroiesca. É muito nítido que esses flash backs
são claras homenagens a quadrinhos clássicos, como o Capitão Marvel de CC Beck
ou o Capitão América de Jack Kirby e Joe Simon. Aliás, as próprias capas são na
maioria das vezes homenagens a gibis clássicos.
Lemire consegue equilibrar muito bem esses dois
aspectos: o de aprofundamento psicológico e de heroísmo. O desenhista Dean
Ormston funciona muito bem para esse aprofundamento psicológico (embora,
pessoalmente, eu teria colocado outro artista mais convencional para as
sequencias heroiescas para criar na arte o mesmo contraste do texto).
Enfim, é uma leitura instigante.
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