Talvez o maior problema de Território
Lovecraft, livro de Matt Ruff, seja o título. Ele dá a entender que a obra
explora a mitologia de Lovecraft, o que não é verdade.
A história trata de uma disputa entre grupos
mágicos que usam uma família de negros na década de 1950 como peões. O livro é
todo estruturado em contos, cada um focado em um membro da família. Alguns têm
uma pegada de terror, outros de ficção científica, outros de aventura e alguns
até flertam com o humor. Essa estrutura é provavelmente um dos pontos altos da
obra. Já existiram livros anteriores em que contos são costurados, a exemplo de
Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury. Mas a proposta de Ruff é inovadora: o
conjunto de contos forma de fato um romance.
A primeira história, cujo título é exatamente
Território Lovecraft dá o tom do volume: Um jovem, Atticus, recém saído da
guerra da Coréia, volta para casa, descobre que seu pai desapareceu deixando
apenas um bilhete misterioso e vai atrás dele junto com o tio e uma amiga. Já
na estrada para casa ele é parado por um policial que o ameaça, revista seu
carro e o dispensa com a condição de que ele irá dirigir diretamente para Chicago,
sem parar em nenhum outro local.
O terror do livro está resumido ali: está muito
mais no preconceito da américa segregacionista dos anos 1950 do que nos
monstros em si. Era uma época em que um negro poderia ser linchado apenas por
ter entrado na lanchonete errada – daí a importância do Green Book, que
indicava estabelecimentos comerciais que atendiam negros. Aliás, a própria
referência a Lovecraft no título parece ter mais relação com o racismo do autor
do que com seus monstros. Esse aspecto será explorado em todas as narrativas do
livro.
A obra é bem escrita, divertida – e nitidamente
produzida para se transformar em um seriado de TV, com um final que lembra um
final de temporada – e lança ganchos para uma segunda temporada.
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