Seriado aprofunda conceitos do quadrinho e do filme.
Expresso do amanhã é um filme de 2013, do diretor coreano
Bong Joon-Ho baseado na HQ francesa Le Transperceneige, de
Jacques Lob e Jean-Marc Rochette (publicado no Brasil como O perfura neve, pela
Aleph). Era o início da carreira em Hollywood do diretor coreano que em 2020
ganhou o Oscar por Parasita.
A trama mostrava um mundo pós-apocalítico, em que, numa
tentativa de reverter o aquecimento global, cientistas haviam soltado na
atmosfera uma substância que provocara uma nova era do gelo. O frio era tão
intenso que não permitia a vida humana. Assim, um milionário cria um trem que
percorre o mundo em eterno movimento, gerando calor e garantindo a
sobrevivência das últimas pessoas da espécie humana.
Era também uma metáfora social, com as pessoas ricas nos
vagões da frente, desfrutando do bem e do melhor e os pobres nos vagões mais
afastados, sofrendo todo tipo de privação e comendo um preparado de proteína
feito de animais. O filme fez muito sucesso e garantiu os aplausos da crítica
por sua abordagem autoral do cinema de ação e ficção científica.
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A HQ foi lançada no Brasil com o título de O perfura neve. |
O sucesso foi tão grande que levou à criação de uma série, disponível
na Netflix.
O seriado aproveita os conceitos básicos do filme e da HQ,
mas amplia-os, explorando melhor o mundo da locomotiva Snowpiercer. Se antes
tínhamos o mundo dos pobres e dos ricos, agora temos a primeira, a segunda, a
terceira classe e os fundistas. A primeira classe formada por milionários que
não fazem outra coisa senão comer, beber o dia inteiro. A segunda classe
formada por funcionários mais gabaritados, como médicos e cientistas, a
terceira por trabalhadores em geral – e o fundo, formado por párias, pessoas
que entraram no trem nos últimos momentos antes da partida e estão lá, no vagão
do fundo, há sete anos, com pouca comida e bebida e sem poder ver o mundo lá
fora. De tempos em tempos alguém é escolhido entre os fundistas para substituir
uma pessoa que morreu na terceira classe – e essa é a única forma de ascenção
social. Aliás, as classe aqui são verdadeiras castas, com uma divisão
totalmente fixa.
A trama do seriado é focada em Andre Layton (Daveed Diggs),
um fundista que é chamado para investigar um assassinato cometido na terceira
classe. Ele é também o líder dos revoltosos e tentará usar essa oportunidade
para, de alguma forma, tirar seus amigos do último vagão. Mas a história tem
uma outra personagem, que rivaliza com Layton em importância: Melanie Cavill (com
ótima atuação de Jennifer Connelly), a pessoa que parece comandar de fato o
trem. O foco nessa personagem ajuda a trazer o diferencial do seriado, ao
apresentar a perspectiva de alguém da frente do trem e suas dificuldades em
lidar com uma sociedade que pode desmoronar a qualquer momento e que todas as
classes parecem de alguma maneira envolvidas num jogo de poder.
Ao misturar ficção científica, política e dramas pessoais, O
expresso do amanhã consegue prender a atenção do expectador a todo momento. É o
tipo de série em que a todo momento há algo acontecendo.
O elenco ajuda bastante, em especial Jennifer Connelly, que
consegue transitar bem entre opostos, indo de vilã a heroína.
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