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quarta-feira, maio 07, 2025

Mister No

 

Um dos mais carismáticos – senão o mais carismático – personagem da Bonelli é Mister No. Lançado em 1975 em revista própria, o herói estreou em uma aventura cujo título era o seu próprio nome.

A forma como a história começa mostra a genialidade de Sergio Bonelli (roteirista e criador do personagem, sob o pseudônimo de Guido Nolitta).

Um guia de viagens apresenta o personagem e a ambientação. 


A sequência é focada em um agente de viagens, que tenta vender um pacote de férias para um casal. Ele oferece uma excursão à Itália, à França. Quando ouve que querem conhecer o Brasil, sugere o Rio de Janeiro, mas o casal prefere um local tranquilo, afastado da civilização moderna.

“Nesse caso, tenho o local ideal: um lugar que, pelo clima e sua falta de meios de comunicação, garante um isolamento absoluto. Aqui está senhores: a Amazônia... ou, para ser mais preciso, Manaus... uma sonolenta cidade no coração da selva amazônica, acessível somente por via fluvial, com uma viagem de dez dias!”.

O contraste entre a fala do guia e a realidade de Mister No cria uma ironia narrativa. 


É aqui que entra o herói: “Há seis meses mandei um amigo para lá vindo da guerra, um herói da aviação... um cara tão difícil de contentar, tão ranhento que o tem o apelido de Mister No!”.

Sergio Bonelli consegue, de maneira natural, caracterizar o personagem, explicar seu nome e ainda ambientar a história. E faz isso de maneira que o leitor se sente interessado e curioso em saber quem é o tal Mister No.

Além de jogador compulsivo, Mister No é um beberrão.


A sequência ainda traz uma ironia narrativa. O agente termina sua fala lendo um telegrama do aviador: “Perceberam? Se Mister No diz Ok, significa que tudo lá é perfeito, maravilhoso!”.

E, na página seguinte vemos Mister No em Manaus, apanhando de alguns valentões.

O personagem é contratado para um trabalho... 

O contraste entre o que é dito pelo agente de viagens e a situação em que de fato vemos o herói torna a HQ ainda mais curiosa e interessante.

O leitor descobre que Mister No está apanhando rufiões que não querem mais que ele jogue pôquer com os hospedes do Hotel Amazonas, pois eles querem, eles mesmos, explorá-los com suas cartas marcadas e dados viciados. Em uma surpreendente reviravolta, o herói consegue derrotar os bandidos em uma briga em que quase é quebrada uma garrafa de conhaque. “Eu não me importo de quebrar as caras e as cabeças de vocês... mas quebrar uma garrafa de conhaque quase cheia eu jamais me perdoaria!”.

... mas logo descobre que se trata de uma roubada. 


A sequência termina de completar a caracterização: Mister No não só é ranhento, ele também é um beberrão que adora apostar no pôquer. Ou seja, está muito mais para um anti-herói do que para um herói certinho dos quadrinhos.

Nessa primeira história ele é contratado por um homem que pretende resgatar um tesouro no meio da floresta. Claro que na verdade, o serviço é uma roubada – algo que veríamos continuamente nas histórias do personagem. Mister No nunca sempre se ferra.

Os indígenas são mostrados de forma estereotipada. 


Apesar de todos os aspectos positivos, a história tem um problema: os indígenas são mostrados como ameaças, que atacam os personagens sem que nem porque, da mesma forma que os nos faroestes clássicos. Com o tempo isso seria modificado e as histórias evitariam essa visão estereotipadas dos povos orginários.

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