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domingo, maio 25, 2025

O inspetor geral


O inspetor geral é uma das mais importantes peças teatrais de todos os tempos. Escrita por Nicolai Gógol, e encenada em 1836, ela foi tão mal recebida pela crítica na época a ponto do escritor ter saído da Rússia. Aliás, ela só foi encenada graças ao apoio do imperador Nicolau I, que foi convencido pelos amigos de Gógol.

Com o tempo, no entanto, ela foi redescoberta e foi se tornando, cada vez mais clássica e mais e mais idolatrada.

Na verdade, Gógol estava muito além de seu tempo. Sua peça só seria reconhecida de fato com a encenação, em 1926 (quase um século depois) dirigida pelo vanguardista Vsévold Emílievitch Meyerhold.

Na trama, as autoridades de uma pequena vila no interior da Rússia ficam aterrorizadas com uma notícia: um inspetor geral, enviado pelo imperador, irá visitar o local. Como todos são extremamente corruptos, o medo de prisão e até da forca é geral. Para piorar, o Inspetor geral, segundo informações, vai aparecer totalmente incógnito como forma de descobrir os podres locais.

Pouco depois da carta, descobre-se que um forasteiro está hospedado na hotelaria e se diz um graduado funcionário de São Petersburgo – e todos acreditam que ele é o Inspetor Geral. Começa uma verdadeira maratona de suborno e regalias na tentativa de impedir que ele reporte ao governo central todos os abusos das autoridades locais. Ocorre que o “inspetor geral” é na verdade um funcionário público pouco graduado que perdeu todo o dinheiro nas cartas e vê na oportunidade uma forma de embolsar dinheiro dos ingênuos e apavorados governantes locais.

É uma comédia de erros, muito bem representada pelo primeiro encontro do trambiqueiro com o prefeito em que este o convida para um passeio pela cidade e aquele acredita que será preso por não pagar a conta do hotel – e cada um, tão apavorado com seus próprios temores, não consegue prestar atenção ao que o outro está falando.

Um aspecto da peça criticado na época é exatamente o que faz dessa obra algo tão interessante: os personagens são todos caricaturas. Ao fazer isso, Gógol transformou sua obra não em uma crítica específica à corrupção e à burocracia do estado russo, mas em uma fábula universal sobre os abusos dos poderosos e sobre como pessoas que se acham tão importantes são na verdade absolutamente risíveis.

Não por acaso, a peça não só foi encenada diversas vezes, em diversos países, mas também ganhou versões inesperadas, como um livro da série Perry Rhodan.

No Brasil, a peça ganhou uma encenação clássica em 1966 no Teatro Arena e outra em 1974, pelo grupo Asdrubal trouxe o trombone. Não por acaso, essas duas versões mais famosas foram encenadas exatamente no período da ditadura militar. Os censores da época devem ter achado que seria interessante uma peça criticando a burocracia russa sem perceber que a mesma se adequava muito bem à realidade brasileira.

Sobre as publicações há uma tradução de Augusto Boal e Gianfracesco Guarniere e outra mais recente, traduzida por Arlete Cavaliere e publicada pela Peixoto Neto em 2007. Essa última se destaca por um longo texto, de autoria da tradutora, sobre Gógol e sua obra teatral. 

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