O inspetor geral é uma das mais importantes peças teatrais de todos os tempos. Escrita por Nicolai Gógol, e encenada em 1836, ela foi tão mal recebida pela crítica na época a ponto do escritor ter saído da Rússia. Aliás, ela só foi encenada graças ao apoio do imperador Nicolau I, que foi convencido pelos amigos de Gógol.
Com o tempo, no entanto, ela foi redescoberta e
foi se tornando, cada vez mais clássica e mais e mais idolatrada.
Na verdade, Gógol estava muito além de seu
tempo. Sua peça só seria reconhecida de fato com a encenação, em 1926 (quase um
século depois) dirigida pelo vanguardista Vsévold Emílievitch Meyerhold.
Na trama, as autoridades de uma pequena vila no
interior da Rússia ficam aterrorizadas com uma notícia: um inspetor geral,
enviado pelo imperador, irá visitar o local. Como todos são extremamente
corruptos, o medo de prisão e até da forca é geral. Para piorar, o Inspetor geral,
segundo informações, vai aparecer totalmente incógnito como forma de descobrir
os podres locais.
Pouco depois da carta, descobre-se que um
forasteiro está hospedado na hotelaria e se diz um graduado funcionário de São Petersburgo
– e todos acreditam que ele é o Inspetor Geral. Começa uma verdadeira maratona de
suborno e regalias na tentativa de impedir que ele reporte ao governo central
todos os abusos das autoridades locais. Ocorre que o “inspetor geral” é na
verdade um funcionário público pouco graduado que perdeu todo o dinheiro nas
cartas e vê na oportunidade uma forma de embolsar dinheiro dos ingênuos e
apavorados governantes locais.
É uma comédia de erros, muito bem representada
pelo primeiro encontro do trambiqueiro com o prefeito em que este o convida
para um passeio pela cidade e aquele acredita que será preso por não pagar a
conta do hotel – e cada um, tão apavorado com seus próprios temores, não consegue
prestar atenção ao que o outro está falando.
Um aspecto da peça criticado na época é
exatamente o que faz dessa obra algo tão interessante: os personagens são todos
caricaturas. Ao fazer isso, Gógol transformou sua obra não em uma crítica
específica à corrupção e à burocracia do estado russo, mas em uma fábula
universal sobre os abusos dos poderosos e sobre como pessoas que se acham tão
importantes são na verdade absolutamente risíveis.
Não por acaso, a peça não só foi encenada
diversas vezes, em diversos países, mas também ganhou versões inesperadas, como
um livro da série Perry Rhodan.
No Brasil, a peça ganhou uma encenação clássica
em 1966 no Teatro Arena e outra em 1974, pelo grupo Asdrubal trouxe o trombone.
Não por acaso, essas duas versões mais famosas foram encenadas exatamente no
período da ditadura militar. Os censores da época devem ter achado que seria
interessante uma peça criticando a burocracia russa sem perceber que a mesma se
adequava muito bem à realidade brasileira.
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