Embora tenhamos conhecido o personagem Mister
No na primeira revista do personagem, só vamos conhecer de fato a filosofia da
série a segunda aventura, Amazônia.
Na história, o filho de um magnata que
desapareceu próximo a uma tribo indígena resolve procurar o pai. Mas a única
pessoa que aceita levá-lo ao local é Mister No.
Mister No é o único que aceita acompanhar o rapaz na busca pelo milionário.
Sérgio Bonelli, o roteirista, de fato visitou
Manaus e conhecia a Amazônia, o que se revela em pequenos detalhes. À certa
altura, Mister No fala que precisa de dinheiro para resgatar seu “voador”,
deixado como garantia de uma dívida de jogo. O rapaz acha que se trata de um
avião, mas na verdade, o voador é um bar com motor de popa. “Meu pipper não
serviria para esta ocasião. Naquela área não há uma única pista onde pousar!”.
De fato, na Amazônia há muitos locais em só é possível chegar pela água, tanto
que uma música famosa aqui na região diz: “Esse rio é minha rua”.
Outra curiosidade é que, à certa altura, eles
vão parar num bar na beira-rio e o local começa a pegar fogo. Para que o fogo
não se alastre para outros locais, Mister No corta a corda que prende a casa às
outras. Parece invenção, mas existiu realmente um bairro flutuante em Manaus.
Sérgio Bonelli aproveita na HQ um fato real: o bairro flutuante em Manaus.
Os perigos enfrentados pela dupla vão da
formigas-de-fogo a jacarés. Mas o principal perigo é mesmo o homem, entre eles
uma dupla que parece ter sido responsável pela morte do empresário, já que um
deles é encontrado com o relógio do mesmo.
Apesar de toda ação e de todos os embates,
descobrimos que Mister No é um pacifista, uma postura que ele provavelmente
adquiriu durante a guerra. “Eu me mostrei tão bom em matar japoneses na
primeira, que meu governo não pensou duas vezes em me mandar matar coreanos”. A
sequência inteira é, nitidamente, um discurso do roteirista contra as guerras.
Formigas de fogo e jacarés: os perigos da selva.
Posteriormente, quando a dupla encontra um
personagem que está vivendo entre os indígenas, temos uma outra parcela da
ideologia da série: a da vida na selva em oposição à vida civilizada. Até então
nos quadrinhos, os personagens brancos sempre eram o que ensinavam tudo aos
povos “Incivilizados”, mas aqui ocorre o oposto: “O fato é que desde que vivo
com eles entendi muitas coisas que me ensinaram a respeitá-los... aliás, a
amá-los”. O personagem sente-se tão feliz ali que não quer voltar para a
“civilização”.
Essa sequência quebra também com a imagem
estereotipada dos povos indígenas como ameaças terríveis: “Infelizmente esta
pobre gente aprendeu à sua própria custa a ter de se defender dos homens
brancos”, diz o personagem.
Para quem ficou curioso sobre a cidade
flutuante, este é um ótimo texto: https://idd.org.br/reportagens/exotica-cidade-flutuante-de-manaus2/
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