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quinta-feira, junho 05, 2025

Mister No – Amazônia

 

Embora tenhamos conhecido o personagem Mister No na primeira revista do personagem, só vamos conhecer de fato a filosofia da série a segunda aventura, Amazônia.

Na história, o filho de um magnata que desapareceu próximo a uma tribo indígena resolve procurar o pai. Mas a única pessoa que aceita levá-lo ao local é Mister No.

Mister No é o único que aceita acompanhar o rapaz na busca pelo milionário. 


Sérgio Bonelli, o roteirista, de fato visitou Manaus e conhecia a Amazônia, o que se revela em pequenos detalhes. À certa altura, Mister No fala que precisa de dinheiro para resgatar seu “voador”, deixado como garantia de uma dívida de jogo. O rapaz acha que se trata de um avião, mas na verdade, o voador é um bar com motor de popa. “Meu pipper não serviria para esta ocasião. Naquela área não há uma única pista onde pousar!”. De fato, na Amazônia há muitos locais em só é possível chegar pela água, tanto que uma música famosa aqui na região diz: “Esse rio é minha rua”.

Outra curiosidade é que, à certa altura, eles vão parar num bar na beira-rio e o local começa a pegar fogo. Para que o fogo não se alastre para outros locais, Mister No corta a corda que prende a casa às outras. Parece invenção, mas existiu realmente um bairro flutuante em Manaus.

Sérgio Bonelli aproveita na HQ um fato real: o bairro flutuante em Manaus. 


Os perigos enfrentados pela dupla vão da formigas-de-fogo a jacarés. Mas o principal perigo é mesmo o homem, entre eles uma dupla que parece ter sido responsável pela morte do empresário, já que um deles é encontrado com o relógio do mesmo.

Apesar de toda ação e de todos os embates, descobrimos que Mister No é um pacifista, uma postura que ele provavelmente adquiriu durante a guerra. “Eu me mostrei tão bom em matar japoneses na primeira, que meu governo não pensou duas vezes em me mandar matar coreanos”. A sequência inteira é, nitidamente, um discurso do roteirista contra as guerras.

Formigas de fogo e jacarés: os perigos da selva. 


Posteriormente, quando a dupla encontra um personagem que está vivendo entre os indígenas, temos uma outra parcela da ideologia da série: a da vida na selva em oposição à vida civilizada. Até então nos quadrinhos, os personagens brancos sempre eram o que ensinavam tudo aos povos “Incivilizados”, mas aqui ocorre o oposto: “O fato é que desde que vivo com eles entendi muitas coisas que me ensinaram a respeitá-los... aliás, a amá-los”. O personagem sente-se tão feliz ali que não quer voltar para a “civilização”.

Essa sequência quebra também com a imagem estereotipada dos povos indígenas como ameaças terríveis: “Infelizmente esta pobre gente aprendeu à sua própria custa a ter de se defender dos homens brancos”, diz o personagem.

Discurso pacifista. 


Para quem ficou curioso sobre a cidade flutuante, este é um ótimo texto: https://idd.org.br/reportagens/exotica-cidade-flutuante-de-manaus2/

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