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segunda-feira, julho 07, 2025

Mister No – O último cangaceiro



É notório o fato de que Sérgio Bonelli tinha um fascínio pelos cangaceiros, tanto que já na terceira história do personagem deu um jeito de inclui-los na trama. Mas como fazer isso? Primeiro, porque os cangaceiros já não existiam na época em que a série acontece (década de 1950), segundo porque as histórias de Mister No acontecem na Amazônia.

O roteirista contorna esses problemas com inteligência. A questão da ambientação é resolvida através de um homem que contrata Mister No para levá-lo à Bahia, o que, aliás, nos fornece uma sequência maravilhosa de humor, com o tranbiqueiro e sua descupa fleumática “Sua digna confiança poderá vir a ser recompensanda, quando um dia eu tornar a ver a cor dos dólares! Então acertaremos nossas contas!”.

Um homem contrata Mister No para levá-lo à Bahia, mas é roubada. 


Aqui, já na terceira história, já é possível perceber um padrão: quando todo serviço que o Mister No pega é uma roubada que, ao invés de lhe render dinheiro, acaba deixando-o no prejuízo. O protagonista da série é, portanto, um divertido perdedor.

Sem dinheiro sequer para colocar gasolina no avião piper, o herói tenta conseguir algum desafiando um lutador de capoeira (uma forma inteligente do roteirista de incluir na história mais essa manifestação cultural brasileira). E, numa verdadeira inversão do que se poderia esperar, acaba levando uma surra. Um contraste total com o que até então era comum nos quadrinhos – em que os personagens norte-americanos eram geralmente invencíveis.

Mister No não é um herói invencível. 


Sem dinheiro, derrotado e cheio de hematomas, o herói vai para um bar tomar uma pinga para se consolar. É quando encontra um homem que o contrata para um serviço: levar alimentos para pastores que se perderam no sertão. Mas, como sempre, o serviço é uma roubada. Na verdade, os campangas que vão junto no avião estão ali para matar um grupo que se escondeu no meio da caatinga. E esse grupo é formado por... cangaceiros!

Aqui entra novamente a genialidade do roteirista. Ele consegue achar uma explicação verossímil para esse anacronismo. Na verdade, segundo a história, os cangaceiros são na verdade revolucionários, lavradores que se revoltaram contra a opressão dos grandes proprietários de terras e resolveram se vestir como cangaceiros como forma de ganhar a simpatia da população.

Cangaceiros em plena década de 1950? 


Nem mesmo quando o líder dos revolucionários começa um longo monólogo sobre os cangaceiros e sua importância social e histórica, a história perde o fôlego: “Mesmo privado de claras ideologias, fez nascer no povo os primeiros sintomas da revolta contra os latifundiários e os governadores corruptos que com seu poder esmagavam a miserável população do nordeste!”.

Essa situação inusitada gera uma longa trama, que se estende por dois números, repleta de reviravoltas.

O roteirista arranja uma explicação verossímil. 


Em tempo: posteriormente o personagem teria outra trama com cangaceiros, essa focada na cabeça de Lampião.

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