O roteirista Giancarlo Berardi é conhecido por seu trabalho em Ken Parker e Júlia. Mas ele escreveu outros personagens bonellianos com a genialidade que lhe é peculiar. Berardi foi o responsável pela história Mosaico para um crime, da série Nick Raider – divisão de homicídios, publicado no número 4 da Mythos (primeira série).
A história tem todas as carcterísticas dos roteiros
berardianos, como uma trama que começa focada não no protagonista, mas num
personagem secundário ou aleatório. Assim, temos um casal de jovens tentando
realizar a sua primeira relação sexual num parque da cidade de Nova York.
Acompanhamos as desventuras dos dois, o que inclui uma moita cheia de pedras e
espinhos e a passagem de um guarda, até que ocorre aquilo que será o gancho da
trama: eles encontram a mão de uma mulher morta.
Essa garota estava desaparecida há dias (numa narrativa
paralela, a mãe adotiva vai até a delegacia fazer a denúncia). Com a certeza de
que a garota foi de fato morta, começam a investigações por parte da delegacia
de homicídio, que interroga cada um dos suspeitos e das testemunhas.
Aqui entra característica marcante de Berardi: as falas
incompletas, como se tivéssemos surpreendido duas pessoas no meio de um diálogo
real, estratégia que dá muito mais verossimilhança à trama. Um exemplo: um dos
investigadores vai entrevistar uma prostituta que pode ser testemunha de um
hálibe: “Não quer mesmo?”, diz ela. “Não é o caso de se acanhar... ofereço de
coração”. Nós só conseguimos entender do que ela está falando com a resposta do
detetive: “Obrigado, não bebo!”.
Há uma outra característica na trama que chama atenção:
surgem várias pistas de que o assassino é determinada pessoa, depois
descobrimos que ela é inocente. Essa é uma estratégia muito usada por ótimos
escritores policiais, mas Berardi inova ao fazer com que pistas encontradas
contra um dos suspeitos sejam como gancho para mostrar que o assassino era
outra pessoa, que não era suspeita.
O bom trabalho de Bruno Ramella também ajuda a dar o tom da
história. Em tempo: difícil achar um desenhista ruim na Bonelli, especialmente
pelo fato deles colocarem a arte a serviço da narrativa.
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