Sem dúvida a melhor e mais impactante história da fase de
Denny O´Neil e Neal Adams à frente da revista do Lanterna e do Arqueiro Verde é
aquela que mostra Ricardito, o parceiro mirim do arqueiro, como um viciado.
Curiosamente, a história surgiu da insatisfação de Adams
com as histórias, que, segundo ele, estavam perdendo a relevância social. Foi quando
o desenhista sugeriu que abordassem o tema da dependência de drogas.
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A história começa com o Arqueiro sendo atingido por uma de suas flechas. |
Adams era presidente do centro de reabilitação de dependentes
do seu bairro. E O´Neil tinha amigos viciados, que apareciam na sua porta três
da manhã, tremendo. Ou seja: era um tema que relevante para os dois, o que
provavelmente contribuiu para a qualidade da trama.
Na história, o Arqueiro é atacado por viciados e atingido
no ombro por uma flecha. Mas não é uma flecha qualquer: é uma de suas flechas,
o que o faz investigar o caso. Ele descobre todo um esquema de tráfico de
drogas e encontra com Ricardito entre viciados, mas acredita que ele está
disfarçado para investigar o caso.
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O Lanterna tem uma bad trip. |
Ocorre que Ricardito se tornou de fato um viciado.
Os autores acertam ao tratar do tema como um perigo, mas
sem didatismo ou puritanismo.
Ao ser perguntado pelo Lanterna se ele não conhecia os
perigos das drogas, Ricardito responde: “Eu tinha ouvido os sermões... mas a
sua geração mentiu para a nossa, Lanterna! Disse que a guerra era divertida...
que o racismo é importante... que se mede o homem pelo tamanho da conta
bancária... por que esse papo furado sobre drogas seria verdade?”.
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O Arqueiro não aceita que seu parceiro tenha se tornado um viciado. |
Para acentuar esse aspecto de crítica, O´Neil coloca como vilão
um traficante que é um grande empresário, amigo de juízes e ricaços e bajulado
pela alta sociedade. O mesmo está organizando uma festa na qual o assunto são “os
bicho-grilo viciados e imprestáveis”.
O vilão é, portanto, uma pessoa comum e não um super-ser
com uniforme colorido, o que estragaria completamente a trama tirando dela todo
o aspecto social e verossimilhança.
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A cena da overdose é uma das mais impactantes da história. |
Se não bastassem esses acertos, o roteiro ainda introduz um
conflito entre Ricadito e Arqueiro, que não aceita o fato do parceiro mirim ter
se tornado viciado. “Mete bronca! Prova a si mesmo que é mais forte que a gente
os viciados! Um herói como você não precisa de drogas, né? O seu barato é
viajar no puritanismo!”, diz o garoto.
Considerando que essa era uma época em que os sidekicks eram
extremamente subservientes aos heróis adultos, essa história deve ter caído
como uma bomba na DC.
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"Sua geração mentiu para nós", diz Ricardito. |
Se O´Neil está na sua melhor forma, Adams está estupendo,
com destaque para a sequência do viciado morrendo de overdose, com grande
impacto dramático.
Essa história era tão revolucionária que o editor Julius Schwartz
chegou a pensar em não publicar a capa na qual Ricardito aparece usando heroína,
com medo do Comics Code. O que o convenceu a publicar a capa original foi a
publicação, pela Marvel, de uma história em que Harry Osborn aparecia como
viciado em drogas. As duas partes da história foram publicadas sem o selo do Comics
Code, um código tão severo quanto idiota, uma vez que proibia qualquer menção a
drogas nos quadrinhos, mesmo como forma de alertar para os perigos das mesmas.
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A diagramação também era inovadora. |
No final, a história saiu em Green latern – Green Arrow 85
e 86, transformando-se num verdadeiro terremoto na indústria dos comics. Era a obra-prima
da dupla O´Nel – Adams.
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