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sábado, setembro 20, 2025

Meninos do Brasil

 

Meninos do Brasil é título de um famoso filme da década de 1970, baseado no romance homônimo de Ira Levin, dirigido por Franklin J. Schaffner  e que incluia no elenco figuras como Gregory Peck e Laurence Olivier.
No filme, um jovem militante anti-nazista descobre, na América do Sul, que nazistas fugitivos planejam matar 10 homens. Antes de ser morto ele consegue avisar um caçador de nazistas (baseado na figura real de Simon Wiesenthal), que passa a investigar o assunto. Ele acaba descobrindo que a morte dos homens faz parte de um projeto para trazer Hitler de volta.
Na trama, haviam sido produzidos clones do ditador alemão e inseminadas mulheres com as mesmas características da mãe de Hitler. Também as famílias deveriam ter os mesmos aspectos, com um pai dominador, que deveria morrer quando os clones ainda fossem jovens.
O responsável pelo programa de clonagem é o próprio Joseph Mengele, o anjo da morte, que, em algum país da América do Sul, continua realizando suas experiências macabras, como injetar tinta azul nos olhos de crianças.
O filme torna-se um emocionante triller de suspense, com o caçador de nazistas tentando impedir a morte dos pais dos clones.
O filme fez grande sucesso e a interpretação de Gregory Peck ajudou a formar a imagem que a maioria das pessoas têm sobre Mengele, um homem culto, mas cruel. 

TEA e TDAH

 

 

Aos 52 anos descobri que sou autistae TDAH. Eu poderia dizer que estou surpreso, mas estaria mentindo.

Entre as minhas lembranças mais antigas está está aquela em que eu me sentia extremamente incomodado com o contato da roupa contra a pele. Fazia frio, estávamos fazendo uma viagem de trem e minha avó me colocou um agasalho. Eu devia ter uns quatro anos.

Durante a minha infância morei no sul de Minas um local que naquela época dominava um silêncio tranquilizador, mas quando nos mudamos para Belém, uma das minhas lembranças era o som alto da vizinha e eu com uma dor de cabeça terrível.

Descobrir o autismo explica porque eu fico totalmente atordoado com som alto a ponto de já ter tido inclusive crises de labirintite labirintite.

Foi também em Belém que percebi pela primeira vez a minha total inabilidade social. Quando fazia a crisma ao final da aula o grupo se reunia entre conversas e risos. Eu me mantinha afastado. Eu conseguia conversar com uma pessoa em particular, mas tinha muita dificuldade com grupos, pois não conseguia acompanhar o fluxo da conversa. Da mesma forma, quando conhecia alguém, não tinha a menor ideia de como puxar assunto.

Olhando as fotos dessas época, percebo que a questão da hiper-sensiblidade da pele provocava um efeito cômico. Eu era muito magro e parecia que eu tinha roubado todo o meu guarda-roupa de alguém com 30 quilos a mais.

Havia claro também também a dificuldade com o contato físico. Eu odiava pessoas que me tocavam enquanto falavam comigo, mas mesmo algo mais simples como um aperto de mão é no máximo tolerável. Pessoas desconhecidas que me abraçavam? Ah isso com certeza me deixava desconfortável!

Quanto ao hiper-foco, é óbvio. Na primeira oportunidade, lá estava eu falando de quadrinhos. Por sorte, na época em que esse hiper-foco principal se desenvolveu (década de 1980, época de Watchmen e Cavaleiro das Trevas), muitas pessoas liam quadrinhos e era fácil encontrar alguém para conversar sobre o assunto.

Eu tinha também a tendência a me isolar. Enquanto a maioria das pessoas tem um verdadeiro pavor da solidão, eu consigo lidar muito bem com isso. Alguns dos momentos mais felizes da minha vida eu estava ou sozinho ou acompanhado de um pequeno grupo de amigos ou familiares. Não lembro de uma única ocasião em que eu estivesse em um grupo grande e me sentisse ao menos confortável.

Pode-se se perguntar por que nas gerações antigas raramente um indivíduo era diagnosticado com autismo. A razão disso é que dificilmente alguém pensava que aquela pessoa com comportamento divergente era autista. Na maioria das vezes essa pessoa só era vista como estranha.

Gilgamesh, de Jim Starlin

 


Gilgamesh é o protagonista de uma das primeiras epopéias da história da humanidade. Estima-se que o clássico babilônico sobre um herói que matava monstros seja 1.500 anos anterior a obras como a Odisséia.

Recontar essa história, por si só seria um desafio. Mas Jim Starlin acrescenta um item a mais de complexidade. Especialista em sagas estelares, ele resolve transformar o épico Gigamesh em uma história de ficção científica.
O comandante tenta salvar a espécie enviando duas cápsulas, mas o robô envia dois machos. 


Na trama, uma nave extraterrestre vinda de um planeta condenado está se aproximando da Terra. A energia da nave está acabando e não há tempo de procurar outro local para pousar. Por outro lado, não existem mais o sistema de defesa. Para aumentar a chance de sobrevivência da espécie, o comandante manda soltar duas sondas. Quando a nave é destruída por misséis terrestres, as duas sondas são tudo que restou da espécie. Só que, por uma falha de robô, foram enviados dois meninos.

Uma das sondas cai em uma selva sul-americana, enquanto a outra cai em uma plantação de maconha na fronteira do México com os EUA e o garoto alienígena acaba sendo adotado por um casal hippie. O garoto é chamado de Gilgamesh em homenagem ao herói clássico.
Jim Starlin faz algumas ótimas sequências de humor... 


A história pula para 25 anos depois. O garoto que caiu na floresta torna-se um selvagem que expulsa todos que se aproximam, enquanto o outro, Gilgamesh, tornou-se presidente da empresa que domina a política mundial.

Há cenas cômicas, como a de quando Gilgamesh manda uma prostituta para cuidar do selvagem e este não sabe lidar com a sensualidade da garota. Há cenas memoráveis de ação, como no primeiro encontro entre os dois, ou quando eles enfrentam um monstro nas selvas sul-americanas.
... mas o forte da história é a ação. 


Jim Starlin mistura ficção científica e humor para falar dos mais diversos temas atuais, que vão do colonialismo à ecologia ao mesmo e o faz numa narrativa envolvente de ficção científica. Ou seja: Starlin fazendo o que ele faz de melhor.

O único aspecto lamentável dessa história em quatro partes é o fato de que ela acaba rápido demais. Fica a impressão de que os personagens poderiam ser muito melhor desenvolvidos uma série mais longa.
No Brasil essa minissérie foi lançada pela editora Globo.

Você, um estudo objetivo do comportamento humano

 


Desmond Morris era um zoólogo especializado em pesquisar primatas. Um dia ele percebeu que o método de observação que usava para analisar o comportamento dos macacos poderia ser usado para os seres humanos. O resultado disso foi o livro O macaco nu. Posteriormente, Morris desenvolveu suas ideias numa obra mais completa, “Você – um estudo objetivo do comportamento humano”, certamente um dos melhores livros que já li.
A obra faz análises de comportamento a partir das observações do autor. Há, por exemplo, um capítulo apenas sobre a pupila e como o tamanho dela mostra ou não nosso interesse por algo (da mesma forma como o tamanho da pupila de alguém pode torná-la interessante para um possível par).
Um dos capítulos mais interessantes é o que trata de estímulos Supernormais. Segundo Morris, um estímulo supernormal “é o que excede seu correlativo natural”. Em outras palavras, é o que chamamos de hiper-realidade.
O autor começa analisando como o ser-humano modifica a sua própria natureza de maneira artificial: se quer ficar mais alto, usa sapatos de salto, se deseja melhorar a maciez de sua pele, usa cremes. Usa peruca, cílios postiços, maquiagem. “São intermináveis as maneiras como ele ampliou seus sinais corporais como meio de aperfeiçoar suas exibições sexuais, suas exibições hostis ou exibições de status”.
Mas o ser humano passou a supernormalizar também o ambiente à sua volta. Um passeio pelo supermercado revela uma série de ardis supernormalizantes: dentrifícios que prometem um riso supernormal, sabões que prometem uma limpeza supernormal, xampus que prometem uma maciez supernormal dos cabelos. E esse recurso já inicia na embalagem: “A vasta indústria da propaganda comercial está interessada quase que inteiramente na questão de ampliar o apelo visual dos produtos. Já que muitos dos produtos reais são virtualmente indênticos, é necessário dedicar atenção de perito para apresentá-los de modo mais estimulante que os rivais”.
O recurso é usado até mesmo nos desenhos: “Como as pernas de uma garota se tornam mais longas quando ela se aproxima da maturidade sexual, segue-se que pernas compridas podem ser vistas como sensuais. Os artistas que retratam garotas atraentes, então, exageram o comprimento das pernas em seus desenhos e pinturas”.

O Sombra – 1941

 



Embora tenha surgido no rádio e nos pulp fictions, o personagem O Sombra também teve algumas memoráveis encarnações quadrinísticas. E, entre os que trabalharam com o personagem, os melhores foram a dupla Denny O´Neil e Michael Kaluta, autores da graphic novel O Sombra 1941.

O´Neil situa sua história em 1941. Hitler está dominando a Europa e encontra-se diante de um dilema: invadir ou não a Rússia.

É quando uma garota alemã é perseguida em Nova York e salva pela equipe do Sombra. Ela se revela Gretchen Baur, filha do principal astrólogo de Hitler. E por trás da astrologia se revela uma trama palaciana pelo poder. Um grupo, liderado por um coronel, quer usar as previsões astrológicas para impedir a Alemanha de invadir a Rússia. Outro grupo, liderado por Goebbels, quer usar essas mesmas previsões para garantir a invasão.

O Sombra e seu grupo irão intervir nesse jogo internacional.

A graphic novel apresenta uma trama muito bem amarrada de espionagem e violência em que até fatos históricos, como a ida de Rudolf Hess para a Inglaterra sozinho, num avião, são explicados.

O roteiro desenvolve bem os vários personagens e consegue dar um tom tenebroso para o Sombra.

Já Kaluta é um mestre do desenho, que mostra sua habilidade já na capa, num close do personagem título segurando duas armas, o olhar frio e o lenço vermelho escondendo seu rosto. Kaluta tem o traço ideal para uma história vintage como essa e sua habilidade para desenhar rostos faz toda a diferença numa história com dezenas de personagens.

Esse foi um dos melhores números da coleção graphic novel da Abril e merecia uma republicação.

Superman e a Legião dos Super-heróis

 


O roteirista Geoff Johns e o desenhista Gary Frank foram responsáveis por uma das fases mais interessantes do Homem-de-aço em época recente. Foram histórias que se tornaram imediatamente clássicas. E o melhor dessa fase foi o encontro do Superman com a Legião dos Super-heróis.
Na história, Superman recebe um pedido de socorro e uma cápsula do tempo enviadas por brainiac 5. Ao viajar para o século 31, o herói descobre que a Terra se tornou uma distopia. Membros rejeitados pela Legião se uniram, formando a nova Liga da Justiça, e transformaram o planeta numa ditadura xenofóbica. Mas a ida do Homem de aço para o futuro pode ter sido um erro: o sol se tornou vermelho, tirando boa parte de seus poderes. Se o herói morrer no futuro, o que pode acontecer com a realidade?

Geoff Johns usa como fio motor da história o fato de grande parte da Legião ser formada por extraterrestres e cria uma metáfora política. Assim, a nova Liga introduz uma cruzada contra extraterrestres, aprisionando-os ou simplesmente levando-os ao exílio. Mas há um problema aí: no futuro a figura do Superman é simplesmente idolatrada pela população. Como adequar isso a essa campanha? Inventando que o Homem de aço não veio de Kripton, mas nasceu na Terra e lutou a vida inteira contra alienígenas, incluindo Ajax, o caçador de Marte. Ou seja: criam uma campanha xenofóbica a partir de uma fake News.
O prelúdio da história é genial: um casal vê seu planeta ser destruído e envia seu único filho ao planeta Terra. Aqui a nave é encontrada por um casal de lavradores, que simplesmente mata o bebê. Essa sequência, além de ecoar a própria origem do super-homem, também mostra o quanto a realidade foi alterada a partir do boato criado pelos vilões.
Outra grande sacada foi a percepção de que os membros rejeitados da Legião o foram não apenas por não dominarem seus poderes, mas por terem problemas de caráter, como tendências psicóticas. Aliás, o trecho que mostra a nova Liga detalha isso: são obcecados por poder, depravados, têm ódio por terem sido rejeitados.
Geoff Johns maneja muito bem tanto esses momentos barra-pesada quanto os momentos idílicos, como os flash backs que mostram o primeiro encontro do Superboy com a Legião. Aliás, ele é um dos roteiristas que melhor entenderam o Homem de aço e o que ele representa.
Já o desenho de Gary Frank é simplesmente encantador. Ele caracteriza o Superman exatamente como Christopher Reeve no antológico filme da década de 1980, o que, por si só já agrada aos fãs. O mesmo vale para sua representação da Legião: é soberba, especialmente nas cenas em aparecem muitos personagens.

sexta-feira, setembro 19, 2025

Capitão América – Operação renascimento

 


Capitão América é, certamente um dos melhores personagens da Marvel. É o personagem ideal para histórias repletas de ação. poucas vezes essas características foram bem aproveitadas depois da fase Stan Lee – Jack Kirby.

Uma das vezes em que foram produzidas histórias realmente memoráveis com o personagem sem desvirtuá-lo foi em 2009, quando a dupla Mark Waid e Ron Garney assumiram o título.

Na sequência anterior, o Capitão América começa a morrer graças ao soro do supersoldado, que se transforma em um veneno em seu sangue.

Waid assume no meio dessa trama melodramática e aproveita o gancho para fazer uma história na qual os Vingadores enfrentam um grupo de terroristas que sequestra do presidente dos EUA e exige a presença do sentinela da liberdade. Como ele está desaparecido e aparentemente morto, a equipe terá que resolver o problema sozinho. A trama é principalmente uma desculpa para explorar a importância do personagem e a forma como ele inspira outros heróis muito mais poderosos que ele. O capitão é visto aqui como um líder nato.

Terminado esse prelúdio, Waid simplesmente traz o herói de volta numa trama digna dos melhores filmes de ação.

O Capitão precisa se aliar ao seu maior inimigo. 


Na história, o capitão precisa se aliar ao Caveira Vermelha, seu maior inimigo, para impedir que a realidade seja reconfigurada por Hitler, que está preso dentro do cubo cósmico e passou a controlá-lo. Para ajudá-los ressurge uma personagem do passado do herói: a agente Sharon Carter, que todos achavam ter sido morta.

É Sharon que revela ao capitão que ele foi salvo da morte por seu maior inimigo para fazer aquilo para o qual foi criado: matar Hitler.

É impressionante como a trama consegue unir ação desenfreada com uma trama muito bem elaborada e cheia de reviravolta como só os melhores escritores conseguem produzir.

As cenas de ação são empolgantes. 


Por outro lado, Rona Garney não decepciona. Ele sabe criar cenas de ação e principalmente sequências que mostram o personagem em toda a sua grandiosidade.

Essa trama foi publicada em Captain América 444 até 448, sendo reunida no Brasil no álbum Operação renascimento, da editora Panini.

Demolidor – Demônios Internos

 

 

Desde a primeira história do Demolidor de Miller que li, ficou claro que aquela série era brilhante em termos de narrativa e de ação. Mas só fui pereber que Miller podia ser também um mestre no aprofundamento dos personagens quando li a história originalmente publicada em Daredevil 177 e que saiu aqui em Superaventuras Marvel 17.

Na trama, Matt Murdock perdeu seu radar depois da explosão de uma bomba e procura seu mestre Stick para recuperar essa habilidade.

O arco e flecha é uma metáfora para os conflitos internos do personagem. 


A história começa com o personagem praticando arco e flecha, totalmente exausto. “Nada disso faz sentido. Se ao menos você me deixasse dormir... Stick, já faz três dias!”.

A tentativa de acertar um alvo é uma metáfora e uma forma de dar ação a um conflito interno. Conforme a atividade se desenvolve, Murdock começa a alucinar. Miller reconta a história do personagem, mostrando desde o bullying sofrido por Murdock na infância até o acidente que o tornou cego.

Matt Mudock sente-se atormentado pela promessa feita ao pai. 


As partes mais interessantes, no entanto, são as que mostram o pai. Miller reconstitui até a mesma imagem da história de origem do personagem, mas agora, ao invés do menino sendo aconselhado pelo pai, vemos o Demolidor, já adulto, e já com seu uniforme. O pai o acorrenta a livros e o manda ir para o quarto estudar.

Vale lembrar que, lá naquela história de origem, o pai de Matt o obrigou a prometer que ele não iria lutar, mas, ao invés disso, deveria ser um estudioso e se tornar um médico ou um advogado.

Miller reconta a origem do personagem. 


Em uma das sequências, eles estão em um ringue. “Você me prometeu! Disse que não lutaria! Olha só... você já esteve em mais lutas do que eu! Vai terminar como seu pai... um lutador velho e decadente, com o nariz quebrado e o cérebro moído. Você mentiu para mim, filho. No túmulo de sua mãe. Mentiu para mim!”.

Quando criou o Demolidor, Stan Lee usou sua estratégia de introduzir um pé de barro como tornar o herói bidimensional. Assim, apesar de ser um herói, o Demolidor também era cego. Miller foi além, introduzindo camadas e subtextos que tornaram o personagem tridimensional.

O conflito com o pai e o sentimento de culpa. 


Nessa história descobrimos que Matt Murdock odeia o pai por tê-lo transformado em um escravo de livros, por tê-lo feito prometer que ele jamais lutaria, o que fez com que o garoto se tornasse vítima de bullying de todos os meninos da rua.

Mas, como bom católico, Matt Murdock se sente culpado por esses sentimentos com relação ao pai. Mais ainda: ele se sente culpado por usar seus poderes para lutar contra o crime, o que contraria o juramento feio ao pai de que ele nunca lutaria.

Miller estava introduzindo ali toda a neurose do personagem que seria posteriormente explorada com brilhantismo em A queda de Matt Murdock, em que o herói chega aos limites da insanidade.

Korg e o mundo misterioso

 


A Hanna-Barbera é mais conhecida pelos desenhos animados, mas também fez suas tentativas em atrações live actions. Entre essas tentativas, uma das mais memoráveis é Korg 7000 DC (conhecida no Brasil como Korg e o mundo misterioso).

A série, ambientada na idade das pedras, foi criada por Fred Freiberger, roteirista que já tinha escrito episódios da série clássica de Jornada nas Estrelas e o filme The Beast from 20,000 Fathoms (lançado no Brasil como O Monstro do Mar).

A ideia era fazer uma série didática, que mostrasse informações reais sobre como viviam os homens das cavernas. Para isso tinha a consultoria do O Museu Americano de História Natural e do Museu de História Natural do Condado de Los Angeles. O caráter didático era acentuado pela narração, feita por Burgess Meredith (o Pinguim da série do Batman) e Mickey Goldmill (o treinador do filme Rocky).

Os enredos giravam em torno de uma família de neandertais composta pelo patriarca Korg (interpretado por Jim Malinda) e sua esposa,  filhos e irmão mais novo.

A abertura dava o tom do seriado: em meio à floresta soava uma música que simula o som de um animal selvagem. Então aparecia a família vislumbrando a vastidão do alto de uma montanha. Seguiam-se cenas da própria série: os personagens enfrentando animais, como elefantes, caindo em correntezas, caçando. Nada de dinossauros ou qualquer situação fantástica. Apenas situações que homens da caverna enfrentariam de fato.

Nos quadrinhos o personagem enfrentava até robôs alienígenas.


Apesar das boas intenções, Korg foi um fracasso de audiência. Foi produzida apenas uma temporada, com 19 episódios. Mas, curiosamente, teve vários produtos licenciados incluindo uma história em quadrinhos. Produzida por Pat Boyette (que escrevia, desenhava e pintava as capas) para a Charlton Comics, a publicação começou seguindo a linha didática da série, mas logo descambou para situações bizarras, como os neardentais enfrentando dinossauro e até robôs alienígenas. Algumas dessas histórias foram publicadas pela editora Abril na primeira série da revista Heróis da TV.

Embora não tenha sido um sucesso de audiência, essa série me chamou muita atenção quando criança justamente por seu conteúdo didático (o que, aparentemente, afastou a maioria dos expectadores).

As histórias do personagem foram publicadas na primeira série da revista Heróis da TV. 


Um episódio em específico me chamou muita atenção, sobre como os humanos descobriram o uso do sal.

Na história, a família consegue caçar um animal e vão comê-lo na beira da praia. Mas um perigo surge e eles são obrigados a abandonar a carne, que é levada pelo mar. O episódio inteiro gira em torno das tentativas deles de conseguir comida, sem sucesso. Ao final, eles voltam para a praia e descobrem que o mar trouxe a carne de volta. Ao comer, eles percebem que o gosto havia melhorado. A partir daí, passam a temperar a carne na água do mar.

Até hoje uso essa história em minhas aulas de metodologia científica como exemplo de como surge o conhecimento empírico.

Fundo do baú - Recruta zero

 


O Recruta Zero (Beetle Bailey) surgiu nas tiras dos quadrinhos em 1950, criado por Mort Walker. No começo o personagem era um universitário, mas a tira só começou a fazer sucesso mesmo em 1951, quando o criador resolveu que o protagonista deveria se alistar no exército para aproveitar a onda de nacionalista provocada pela guerra da Coreia. A mudança agradou: mais de 100 jornais americanos compraram a tira e ela passou a ser publicada no mundo todo. No Brasil o personagem chegou a ser chamado de Recruta 23 e Zé - o soldado raso, mas acabou conhecido como Recruta Zero, nome adotado pela editora RGE, que publicou o personagem com grande sucesso até a década de 80.

Zero é um preguiçoso, praticamente impossível de ser acordado quando finalmente dorme. Ele é atormentado pelo sargento tainha, que constantemente aparece nas histórias pulando sobre o recruta na tentativa de acordá-lo.

A série tinha uma incrível galeria de personagens secundários, entre eles o soldado Platão, caracterizado pela inteligência e erudição e o seu oposto, o Dentinho, caracterizado pela burrice. Ou o general Dureza, um inepto que prioriza até o golfe à administração do quartel e é constantemente tiranizado por sua esposa Martha.

Embora a tira fizesse muito sucesso, ela também acabou sendo alvo da fúria dos oficiais norte-americanos que a consideravam uma afronta à ordem militar.

Com tal popularidade, não é de se admirar que o recruta ganhasse um desenho animado produzido pela King Features Syndicate entre 1963 e 1964. Foram cinquenta episódios e cinco pilotos. No Brasil esse desenho foi exibido pelo SBT.

O Jeremias

 


Uma agradável surpresa na Netflix é o filme mexicano O Jeremias.

A obra acompanha a trajetória de um garoto de oito anos (o Jeremias do título) que se descobre superdotado e precisa lidar com esssa situação.

O filme é narrado pelo próprio Jeremias, uma estratégia do diretor Anwar Safa que faz com que o expectador já simpatize com o protagonista desde a primeira cena.

A família está assistindo a uma novela mexicana e, no meio de uma sequência de um velório, o garoto pergunta: “Já repararam que ninguém fala mal de um morto?”, ao que é repreendido pelos que querem assistir à atração. “Desde que tenho memória, tive mais perguntas do que respostas”, diz em ele, em off. Segue-se uma deliciosa sequências de flash backs do personagem nas quais ele questionava o mundo ao seu redor (uma delas, por exemplo, mostra o garoto chorando enquanto é acalantado pela mãe, que canta nana neném “Por que achavam que cantar sobre um monstro que come crianças me faria dormir?”).

Essa sequência inicial serve tanto para apresentar o personagem quanto para demarcar a diferença dele para o resto da família, todos com baixo QI. É uma perfeita demonstração de como apresentar os personagens, ambientar e ao mesmo tempo estabelecer o tema de uma obra, tudo de maneira divertida e natural.

A diferença de Jeremias não é apenas com relação à família. Na escola ele é escarnecido pelas outras crianças e alvo de irritação da professora, já que ele questiona tudo. Sua salvação acontece quando ele, correndo de garotos que o perseguiam, vai parar ao lado de dois homens que jogavam xadrez na calçada de uma livraria. Os dois apresentam não só proteção, mas também compreensão. quando Jeremias se revela um gênio do xadrez, o que leva o dono da livraria a pagar para ele um teste de QI. É curioso que isso é feito às escondidas, uma vez que o pai se recusa a acreditar que seu filho seja um gênio.

Embora a vida de Jeremias pudesse ser um drama, afinal ele é um gênio incompreendido, sua forma de ver o mundo faz com que o filme seja suave e divertido. Afinal, é o olhar de uma criança.

Vale destacar a atuação incrível do garoto Martín Castro, que consegue dar vida ao protagonista e, ao mesmo tempo, entregar uma atuação que encaixa perfeitamente no clima da obra.

Em tempo: como logo percebemos no filme, Jeremias é um gênio exatamente por ser alguém que sempre pergunta e não vergonha de dizer que ignora algo. Exemplo disso é quando a professora pergunta algo a ele que não foi ensinado. “Você não é um gênio? Deveria saber?. “Eu sou um gênio, não um adivinho”, retruca ele.

A aliança Luthor/Brainiac

 


Lex Luthor e Brainiac são, provavelmente, os dois principais adversários do Superman. Os dois se uniram para tentar derrotar o herói na história publicada Superman 167, com roteiro de Edmond Hamilton e desenhos de Curt Swan.

Na trama, Luthor consegue fugir da prisão usando mais de uma de suas muitas estratégias científicas e tenta destruir o homem de aço lançando sobre ele um míssil com uma ponta de kriptonita verde. Mas o herói é mais esperto e, ao dar várias voltas ao redor da terra, faz com que a ogiva se destrua através do atrito com o ar.



É quando o careca decide que precisa de um aliado igualmente inteligente.

Naquela época, tudo nos roteiros era muito conveniente e, convenientemente, o cientista do mal tem uma “sonda perscrutadora de mentes”, que lhe permite achar pessoas inteligentes em qualquer lugar e qualquer época. Era a forma do roteirista que o roteirista Edmond Hamilton encontrou para contar a origem de Brainiac: em um planeta distante de pessoas verdes, os cientistas criaram robôs super inteligentes, que tomam o poder. E esses robôs decidem enviar espiões para outros planetas, afim de conquistá-los. Como as pessoas ali eram verdes, os robôs fazem o espião verde, achando que esse é o padrão do universo. Esse espião é Brainac.  

A origem de Brainiac. 


Decidido que o robô alienígena é seu aliado ideal, ele o liberta da prisão onde o super-homem o prendeu de uma forma que só seria possível naqueles tempos inocentes da era de prata: eles botam fogo na grama e nas árvores, o que faz com que os portões se abram. “Como imaginei! Superman deixou sensores que abririam automaticamente sua cela em caso de ameaças como inundações e incêndios!”. Os heróis da DC àquela época eram bonzinhos de dar dó.

Na tentativa de derrotar o homem de aço, os dois passam por um planeta em que Luthor é considerado um herói e o leitor descobre que Brainac é responsável por miniaturizar a cidade de Kandor.

A história inclui uma passagem por um mundo onde Luthor é um herói. 


Era incrível como os quadrinhos do super dessa época uniam ingenuidade com inventividade em história que em que não havia praticamente nenhuma violência. Reflexo direto de uma época mais inocente. Contribui muito para isso o desenho limpo e bonito de Curt Swan, quase sempre sem cenários, destacando os personagens. Não é à toa que quando quis produzir uma história para homenagear a era de prata, antes da reformulação de John Byrne, Alan Moore fez questão que a história fosse desenhada por Curt Swan. O seu traço virou símbolo de uma época.

Mestre Giles d´Aldeia, de J.R.R. Tolkien

 


Embora seja mais conhecido pela trilogia O senhor dos anéis, Tolkien tem também uma ampla produção de livros de fantasia com histórias fechadas. Exemplo disso é o volume Mestre Giles d´Aldeia, lançado no Brasil em uma belíssima edição da Harperkids.

O livro conta a história de um pacato fazendeiro que sem querer acaba se tornando um herói ao afugentar um gigante de suas terras. A narrativa une fantasia com humor, como se pode ver na descrição do cachorro do protagonista: “O nome dele era Ganido. Os cães deviam contentar-se com nomes curtos da língua nacional: o latim dos livros era reservado para seus superiores. Ganido não sabia falar nem mesmo um latim grosseiro, mas sabia usar a língua dos plebeus tanto para ameaçar e contar vantagens como para bajular”.

A sequência do gigante é hilária. Giles enche seu bacamarte de pedras e entulhos, mas quando vê o gigante fica tão assustado que, sem querer, dispara a arma. Um prego vai parar no nariz do monstro, que, achando que se trata de insetos gigantes, vai embora, não sem antes levar algumas ovelhas para o jantar.

O episódio tem duas consequências. Primeiro transforma Giles em um herói local a ponto dele receber do rei uma velha espada de presente. Segundo, o gigante passa a espalhar a notícia de aquela região é rica de vacas e ovelhas que podem ser comidos à vontade, o que leva um dragão a se aventura pelo local.

Como herói local, Giles é obrigado a enfrentar a fera. O primeiro diálogo entre os dois é de uma simplicidade e, ao mesmo tempo, de um humor único:

- Desculpe a pergunta, mas você está procurando por mim? – indaga o dragão.

Lá na frente, no segundo encontro entre o fazendeiro e o dragão, será travado o mesmo diálogo, mas com sinal invertido, de modo que o significado se torna oposto, o que mostra que Tolkien tinha pleno controle da obra, planejando muito bem até mesmo os menores falas dos personagens.

No final, Mestre Giles d´Adeia se torna uma parábola sobre como os poderosos usam os pobres a seu próprio benefício. É uma sutil, mas ferina crítica social.

Não bastassem os méritos do próprio livro, a edição da Harperkids é uma verdadeira preciosidade. Em formato 12 x 16 cm, capa dura, com fitilho, a obra também traz as belíssimas ilustrações de Pauline Baynes, que mimetiza com perfeição o estilo das iluminuras medievais. O único defeito é que, ao invés de colocar as ilustrações no meio do livro, elas foram colocadas no final.

quinta-feira, setembro 18, 2025

Mentes únicas

 


Atualmente estima-se que cerca de 1% da população mundial esteja dentro do espectro autista. Até meados da década de 1970 esse transtorno era praticamente desconhecido e normalmente visto como causados por “mães geladeiras”, que rejeitavam a existência do filho. Hoje em dia, o desenvolvimento da neurociência permitiriu descobrir que autismo é provocado por uma série de fatores genéticos e ambientais. Ainda assim, muitos mitos e lugares-comuns ainda persistem e fazem com que pediatras, professores e psicólogos demorem para identificar os sinais, postergando o diagnótico e as intervenções.
É para tentar preencher esse vácuo de informações que Luciana e Clay Brites escreveram Mentes únicas. O casal tem uma história diretamente ligada ao assunto. Ele é neurologista infantil especializado em autismo. Ela é especialista em educação especial.
Essa característica do casal de autores traz para o livro muitas qualidades e alguns problemas.
O principal problema é que o livro não fala sobre autismo em adultos – ou mesmo em adolescentes. Ele é todo focado em crianças dentro do espectro. É quase um manual para pais lidarem com a situação. Para quem busca isso é um livro muito interessante, embora em alguns momentos a linguagem seja um pouco técnica.
O livro inicia fazendo uma verdadeira revisão histórica sobre o assunto, desde Eugen Bleuler, que em 1912 cunhou o termo ao se referir aos pacientes que tinham condições de isolamento tão severas que ficavam totalmente internalizados em si mesmos. O que Bleuler descreveu foram provavelmente casos de autismo severo, ou clássico. Com o tempo a ciência descobriu que havia todo um espectro, com sintomas mais ou menos severos. Descobriu-se também que o autismo tem relação direta do a arquitetura do cérebro, responsável por armazenar, processar e limpar o lixo: “No cérebro do autista, essa arquitetura se encontra desorganizada e apresenta uma modelagem anormal, impedindo que o funcionamento seja pleno. As pontes, as ligações e as ramificações se encontram incompletas, desviadas, ora ativadas, ora desligadas, com conexões que se encontram ora perdidas, ora sobrecarregadas”.
Há um capítulo só de relatos de casos atendidos pelo casal. Desde a mãe que se recusava a aceitar que o filho fosse autista, mesmo ele tendo sintomas de autismo severo, até o professor que indicou a mãe a levar no neuro em decorrência de comportamentos observados em sala de aula.
Há também um capítulo sobre tipos de tratamentos e sobre o tipo de especialista que se deve procurar.
Mas para os pais que começam a observar sinais de autismo em seu filho, o capítulo mais interessante provavelmente será aquele que descreve os sintomas. Os autores explicam que existem sintomas principais e secundários. De forma resumida, os principais são a inadequada interação social, dificuldade de comunicação social, comportamentos repetitivos e interesses restritos. Já os secundários são: preferência excessiva por objetos, distúrbios sensoriais (como hipersensibilidade auditiva), fobias inexplicáveis, manias alimentares, problemas de sono e atraso no desenvolvimento motor e linguístico.