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terça-feira, maio 13, 2025

Homem-Coisa, o Monstro do Pântano que não deu certo

 


Gerry Conway, criador do Homem-coisa e e Len Wein, criador do Monstro do Pântano, dividiam um apartamento e conversavam sobre suas criações, de modo que ninguém sabe de fato quem copiou quem. As semelhança entre os dois personagens são gritantes:  ambos tem aparecia monstruosa, ambos vivem no pântano e ambas as histórias se passam na Flórida. 

Mas um entrou para a história dos quadrinhos enquanto o outro se tornou no máximo um personagem secundário nas histórias de heróis da Marvel. 

Na primeira história o monstro salva um bebê de um pai abusivo. 


É possível perceber a razão disso lendo as primeiras histórias do personagem. 

Para começar, percebe-se que o próprio Gerry Conway não tinha muito apego pelo personagem. Tanto que acabou abandonando a publicação depois da primeira história da série (antes havia publicado um conto, em preto e branco, na revista Savage Tales 1) um conto tocante, mas sem grande brilho, do monstro salvando um bebê do pai abusivo.  A história tinha desenhos de Gray Morrow e Howard Chaykin.

No número dois o roteiro ficou por conta de Steve Gerber e arte de Rich Buckler. A história desse segundo número flertava mais com o terror, com dois irmãos pré-adolescentes fazendo um ritual de magia negra.

Na segunda história, uma invocação demoníaca...


Os dois irmãos acham que a inovação não deu certo e vão para o cinema, mas surge um demônio alado que ataca a menina. Nada faz muito sentido. Por que eles fizeram a invocação? Por que o demônio ataca a garota que o invocou? Gerber não se preocupa muito em explicar. Alan moore tem uma história sobre invocação de demônio que mostra bem como esse mote pode ser usado para criar uma trama de terror, mas aqui o roteirista desperdiça completamente o tema. 

Essa primeira história é usada por Gerber para estabelecer o principio de que o pântano é um cruzamento de dimensões, o que seria fundamental nas tramas posteriores.

... e um demônio indisciplinado. 


No número 3 a equipe muda de novo, mostrando que a Marvel não sabia o que fazer com o personagem. Entra Jim Starlin no desenho. 

A equipe definitiva só vai se estabelecer no número 4, com a entrada de Val Mayerik nos desenhos. Ele tinha um traço inconstante e ainda em formação. Isso mostra o quanto a Marvel dava pouca atenção ao personagem. Só para comparar, desde a primeira edição, o Monstro do Pântano contou com a mesma equipe criativa, exemplarmente afinada: Len Wein no roteiro e Berni Wrightson e nos desenhos.

Mas logo a história descambaria para a fantasia, incluindo um mago vilão...


Se o Monstro do Pântano de Wein e Wrightson navegava no terror, Gerber parecia mais interessado em levar o título para a fantasia.

No número 14 da revista Adventure into Fear, que publicava o personagem, o Homem- Coisa e uma garota são sugados para uma outra dimensão. Nela, um mago vestido com todos os clichês dos magos de fantasia tenta matar o protagonista colocando-o para lutar em uma arena para diversão de um rei medieval. 

... que logo se torna aliado. 


Esse mesmo mago vai aparecer em outra história, agora como aliado. A desculpa é que só estava testando o monstro. Gerber nitidamente não tinha um planejamento a longo prazo para o título e ia inventando e reinventando a trama ao longo da série. 

Uma invasão de demônios é deflagrada, mas o Homem-Coisa a debela da forma mais fácil do mundo, quase sem querer, ao enfrentar um monstro de lava. Nenhuma ameaça parecia real ou realmente importante. 

A melhor história é uma sátira do Supermam... 


Além disso, o texto de Gerber passa longe de se adequar ao terror, um gênero com características próprias, entre elas o texto denso. Gerber chega ao ponto de usar um tomate como metáfora, aliás uma péssima metáfora: “Pegue um tomate e o coloque na palma de sua mão, e então aperte – devagar – até que a pele comece a rasgar e estoure... assim você terá uma ideia do que a máquina está fazendo com o Homem-Coisa”.

Com o tempo, as histórias vão singrando casa vez mais pela aventura e se afastando do terror até o número 18 , quando surge Howard, o pato. Era o cúmulo da falta de foco: a série, de terror, tinha agora um alívio cômico. Mas o personagem agradou e Howard se tornou um astro, logo ganhando revista própria. Deve ter sido um alívio para Steve Gerber, que nitidamente não sabia o que fazer com o Homem-Coisa, poder se dedicar a um personagem humorístico.

... em que o bebê não foi resgatado por conta da paranóia comunista.


Na história desse monstro não surgiu nenhum Alan Moore, que conseguisse aproveitar todo o potencial do personagem, o que é uma pena. Pessoalmente considero ele um personagem mais interessante que o Monstro do Pântano, com mais camadas a serem exploradas.

Para não dizer que tudo é ruim, a melhor história dessa fase é uma bizarra sátira do Superman na qual o foguete sobrevivente de um planeta moribundo cai na terra, mas não é salvo por um casal de meia idade que teme que a nave seja uma ameaça comunista. Prova de que Gerber se saia melhor no humor do que no terror. 

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