Gerry Conway, criador do Homem-coisa e e Len
Wein, criador do Monstro do Pântano, dividiam um apartamento e conversavam
sobre suas criações, de modo que ninguém sabe de fato quem copiou quem. As
semelhança entre os dois personagens são gritantes: ambos tem aparecia
monstruosa, ambos vivem no pântano e ambas as histórias se passam na
Flórida.
Mas um entrou para a história dos quadrinhos
enquanto o outro se tornou no máximo um personagem secundário nas histórias de
heróis da Marvel.
![]() |
Na primeira história o monstro salva um bebê de um pai abusivo. |
É possível perceber a razão disso lendo as
primeiras histórias do personagem.
Para começar, percebe-se que o próprio Gerry
Conway não tinha muito apego pelo personagem. Tanto que acabou abandonando a
publicação depois da primeira história da série (antes havia publicado um
conto, em preto e branco, na revista Savage Tales 1) um conto tocante, mas sem
grande brilho, do monstro salvando um bebê do pai abusivo. A história
tinha desenhos de Gray Morrow e Howard Chaykin.
No número dois o roteiro ficou por conta de
Steve Gerber e arte de Rich Buckler. A história desse segundo número flertava
mais com o terror, com dois irmãos pré-adolescentes fazendo um ritual de magia
negra.
![]() |
Na segunda história, uma invocação demoníaca... |
Os dois irmãos acham que a inovação não deu certo
e vão para o cinema, mas surge um demônio alado que ataca a menina. Nada faz
muito sentido. Por que eles fizeram a invocação? Por que o demônio ataca a
garota que o invocou? Gerber não se preocupa muito em explicar. Alan moore tem
uma história sobre invocação de demônio que mostra bem como esse mote pode ser
usado para criar uma trama de terror, mas aqui o roteirista desperdiça
completamente o tema.
Essa primeira história é usada por Gerber
para estabelecer o principio de que o pântano é um cruzamento de dimensões, o
que seria fundamental nas tramas posteriores.
![]() |
... e um demônio indisciplinado. |
No número 3 a equipe muda de novo, mostrando
que a Marvel não sabia o que fazer com o personagem. Entra Jim Starlin no
desenho.
A equipe definitiva só vai se estabelecer no
número 4, com a entrada de Val Mayerik nos desenhos. Ele tinha um traço
inconstante e ainda em formação. Isso mostra o quanto a Marvel dava pouca
atenção ao personagem. Só para comparar, desde a primeira edição, o Monstro do Pântano
contou com a mesma equipe criativa, exemplarmente afinada: Len Wein no roteiro
e Berni Wrightson e nos desenhos.
![]() |
Mas logo a história descambaria para a fantasia, incluindo um mago vilão... |
Se o Monstro do Pântano de Wein e Wrightson
navegava no terror, Gerber parecia mais interessado em levar o título para a
fantasia.
No número 14 da revista Adventure into Fear,
que publicava o personagem, o Homem- Coisa e uma garota são sugados para uma
outra dimensão. Nela, um mago vestido com todos os clichês dos magos de
fantasia tenta matar o protagonista colocando-o para lutar em uma arena para
diversão de um rei medieval.
![]() |
... que logo se torna aliado. |
Esse mesmo mago vai aparecer em outra
história, agora como aliado. A desculpa é que só estava testando o monstro. Gerber
nitidamente não tinha um planejamento a longo prazo para o título e ia
inventando e reinventando a trama ao longo da série.
Uma invasão de demônios é deflagrada, mas o
Homem-Coisa a debela da forma mais fácil do mundo, quase sem querer, ao
enfrentar um monstro de lava. Nenhuma ameaça parecia real ou realmente
importante.
![]() |
A melhor história é uma sátira do Supermam... |
Além disso, o texto de Gerber passa longe de
se adequar ao terror, um gênero com características próprias, entre elas o
texto denso. Gerber chega ao ponto de usar um tomate como metáfora, aliás uma
péssima metáfora: “Pegue um tomate e o coloque na palma de sua mão, e então
aperte – devagar – até que a pele comece a rasgar e estoure... assim você terá
uma ideia do que a máquina está fazendo com o Homem-Coisa”.
Com o tempo, as histórias vão singrando casa
vez mais pela aventura e se afastando do terror até o número 18 , quando surge
Howard, o pato. Era o cúmulo da falta de foco: a série, de terror, tinha agora
um alívio cômico. Mas o personagem agradou e Howard se tornou um astro, logo
ganhando revista própria. Deve ter sido um alívio para Steve Gerber, que
nitidamente não sabia o que fazer com o Homem-Coisa, poder se dedicar a um
personagem humorístico.
![]() |
... em que o bebê não foi resgatado por conta da paranóia comunista. |
Na história desse monstro não surgiu nenhum
Alan Moore, que conseguisse aproveitar todo o potencial do personagem, o que é
uma pena. Pessoalmente considero ele um personagem mais interessante que o Monstro
do Pântano, com mais camadas a serem exploradas.
Para não dizer que tudo é ruim, a melhor
história dessa fase é uma bizarra sátira do Superman na qual o foguete
sobrevivente de um planeta moribundo cai na terra, mas não é salvo por um casal
de meia idade que teme que a nave seja uma ameaça comunista. Prova de que Gerber
se saia melhor no humor do que no terror.
Sem comentários:
Enviar um comentário