segunda-feira, maio 05, 2025

Demolidor- O garra

 


Frank Miller foi revolucionário em muitos aspectos em sua fase à frente do Demolidor. Entre essas inovações, ele trouxe a quebra da quarta parede, em uma história publicada em Daredevil 185.

A história, muito influenciada pelo estilo de Will Eisner, gira em torno da namorada de Matt Murdock, Heather Glenn, que parece estar envolvida em sérios problemas – afinal ela descobriu que a empresa a qual ela é presidente parece estar envolvida em atividades ilegais, mais especificamente a fabrição de explosivas para uma rede criminosa. Como Matt Murdock acredita que ela deveria renunciar ao cargo para se tornar sua esposa (não fica claro se é simplesmente uma atitude machista dele ou se ele quer evitar que ela fique em perigo), Heather resolve pedir ajuda para Foggy Nelson, sócio de seu namorado.

Quebra da quarta parede: o Demolidor conversa com o leitor. 


Acontece que Foggy é, provavelmente, a pessoa mais inepta possível para o trabalho, o que nos dá o tom humorístico da história, a começar pelo início, em que o Demolidor conversa com o leitor e explica quem é. “Aposto que você está se perguntando porque estou contando tudo isso. Bem, é que o narrador da aventura deste é mês é Foggy Nelson, o sócio de Matt Murodock... e ele não sabe que eu sou o Demolidor. Então, por favor, não conte para ele”.

As sequências de humor são maravilhosas, a começar por aquela em Foggy resolve tentar descobrir o que está acontecendo por meios burocráticos. “Posso topar com um emaranhadozinho de burocracia, mas vou descobrir tudo... sem nem um SE nem um E ou um MAS”, afirma ele.

Foggy lidando com a burocracia governamental: influênica de Will Eisner. 


Em seguida vemos uma sequência dele saindo de vários departamentos públicos, e sendo escorraçado com frases que começam com SE, E ou MAS. Uma típica cena Will Eisner, que termina com o personagem sendo mostrado percorrendo um caminho e deixando atrás de si um rastro como se fosse uma corda emaranhada. “Eu disse emaranhadozinho de burocracia? Está mais para enrosco sem fim. Um fio longo e cheio de nós que não levam a lugar nenhum”.

A situação se torna ainda mais cômica quando Foggy resolve investigar no submundo, com o personagem sempre sendo mostrado saindo de cenas e diálogos do tipo:

- Não é da sua conta.

- Tudo bem.

- Cai fora.

- Tudo bem.

A repetição sendo usada como elemento de humor. 


No final, ele acaba sendo sequestrado e levado para um subchefe do submundo chamado Slaughter, que resolve matá-lo. mas o Demolidor apaga a luz e derrota todos os bandidos. É uma sequência que mistura ação e humor, já que Nelson acredita piamente que é ele que está realizando a façanha. Quando a luz é finalmente acesa, apenas ele e Tucão não foram nocauteados, o que faz com que Tucão resolva apresentar Foggy, agora chamado de O garra, para o Rei, como seu novo assassino profissional.

A HQ é uma maravilhosa comédia de erros.

Nelson acredita que foi o responsável por derrotar os bandidos e Tucão resolve se transformar em seu empresário. 


Uma curiosidade é que Miller fez apenas o roteiro e o layout, deixando o lápis e a arte-final para o parceiro Klaus Jason, que segue milimetricamente todas as indicações do mestre. A impressão que dá é que, depois da morte de Elektra, Miller se cansara da série – pouco depois ele iria para a DC onde revolucionaria o Batman.

No Brasil essa história foi publicada em Superaventuras Marvel 34. 

Sem comentários: