Frank Miller foi revolucionário em muitos
aspectos em sua fase à frente do Demolidor. Entre essas inovações, ele trouxe a
quebra da quarta parede, em uma história publicada em Daredevil 185.
A história, muito influenciada pelo estilo de
Will Eisner, gira em torno da namorada de Matt Murdock, Heather Glenn, que
parece estar envolvida em sérios problemas – afinal ela descobriu que a empresa
a qual ela é presidente parece estar envolvida em atividades ilegais, mais
especificamente a fabrição de explosivas para uma rede criminosa. Como Matt
Murdock acredita que ela deveria renunciar ao cargo para se tornar sua esposa
(não fica claro se é simplesmente uma atitude machista dele ou se ele quer
evitar que ela fique em perigo), Heather resolve pedir ajuda para Foggy Nelson,
sócio de seu namorado.
Quebra da quarta parede: o Demolidor conversa com o leitor.
Acontece que Foggy é, provavelmente, a pessoa
mais inepta possível para o trabalho, o que nos dá o tom humorístico da
história, a começar pelo início, em que o Demolidor conversa com o leitor e
explica quem é. “Aposto que você está se perguntando porque estou contando tudo
isso. Bem, é que o narrador da aventura deste é mês é Foggy Nelson, o sócio de
Matt Murodock... e ele não sabe que eu sou o Demolidor. Então, por favor, não
conte para ele”.
As sequências de humor são maravilhosas, a
começar por aquela em Foggy resolve tentar descobrir o que está acontecendo por
meios burocráticos. “Posso topar com um emaranhadozinho de burocracia, mas vou
descobrir tudo... sem nem um SE nem um E ou um MAS”, afirma ele.
Foggy lidando com a burocracia governamental: influênica de Will Eisner.
Em seguida vemos uma sequência dele saindo de
vários departamentos públicos, e sendo escorraçado com frases que começam com
SE, E ou MAS. Uma típica cena Will Eisner, que termina com o personagem sendo
mostrado percorrendo um caminho e deixando atrás de si um rastro como se fosse
uma corda emaranhada. “Eu disse emaranhadozinho de burocracia? Está mais para
enrosco sem fim. Um fio longo e cheio de nós que não levam a lugar nenhum”.
A situação se torna ainda mais cômica quando
Foggy resolve investigar no submundo, com o personagem sempre sendo mostrado
saindo de cenas e diálogos do tipo:
- Não é da sua conta.
- Tudo bem.
- Cai fora.
- Tudo bem.
A repetição sendo usada como elemento de humor.
No final, ele acaba sendo sequestrado e
levado para um subchefe do submundo chamado Slaughter, que resolve matá-lo. mas
o Demolidor apaga a luz e derrota todos os bandidos. É uma sequência que
mistura ação e humor, já que Nelson acredita piamente que é ele que está
realizando a façanha. Quando a luz é finalmente acesa, apenas ele e Tucão não
foram nocauteados, o que faz com que Tucão resolva apresentar Foggy, agora
chamado de O garra, para o Rei, como seu novo assassino profissional.
A HQ é uma maravilhosa comédia de erros.
Nelson acredita que foi o responsável por derrotar os bandidos e Tucão resolve se transformar em seu empresário.
Uma curiosidade é que Miller fez apenas o
roteiro e o layout, deixando o lápis e a arte-final para o parceiro Klaus
Jason, que segue milimetricamente todas as indicações do mestre. A impressão
que dá é que, depois da morte de Elektra, Miller se cansara da série – pouco
depois ele iria para a DC onde revolucionaria o Batman.
No Brasil essa história foi publicada em Superaventuras Marvel 34.
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