Carlos Trillo é um dos melhores roteiristas argentinos. Suas
histórias sempre fogem do convencional, surpreendendo o leitor. E é isso que
ele faz na série de álbuns Menino Vampiro, com desenhos do também argentino
Eduardo Risso.
A história inicia com trabalhadores abrindo uma antiga rede
de esgoto que foi fechada há décadas. Lá, vemos aos poucos um cadáver se
transformar em um menino conforme entra em contato com o sol. Esse início é
suficiente para deixar o leitor curioso para saber o que está acontecendo – o que
só saberemos de fato lá pelo final do álbum.
Na história, vampiros têm uma fome avassaladora após serem renascidos.
O garoto é filho do faraó Queops e sobrevivente de uma
doença que acometeu uma caravana egípcia. Ele foi salvo pelo deus sol, que não
só lhe curou da doença como lhe deu o dom da imortalidade. Só aqui temos uma
grande inversão das narrativas comuns sobre vampiros – aqui é o sol que faz
renascer os sugadores de sangue, ao
invés de matça-los. Outra diferença é que eles não vivem apenas de sangue, mas
precisam também de comida normal, especialmente após serem renascidos.
Mas o sol fez o mesmo com a amante do faraó, sacerdotisa
das cobras. Inicia ali uma relação de ódio imortal, que fará com que cada um tente
matar o outro ao longo de milênios – e não, esse ódio recíproco não é gratuito,
mas é muito bem explicado pelo roteiro.
O protagonista é sobrevivente de uma caravana egípcia morta por uma praga.
Trilo explora com perfeição o fato de seu protagonista ser
um menino de dez anos que viveu cinco mil anos e todo o conflito decorrente
disso. Como jamais saiu da infância, o garoto não sabe o que é atração sexual e
nunca se apaixonou.
A situação do rapaz não faz com que a série seja isenta de
sensualidade – ao contrário. A sacerdotisa por exemplo, agora vive como
prostituta e stripper e usa todo o seu conhecimento acumulado ao longo de
séculos para seduzir e manipular os homens. aliás, o grande conhecimento de história do
roteirista faz com que ele recheie a trama de fatos históricos que a tornam
ainda mais interessante.
As soluções narrativas de Eduardo Risso são um dos atrativos da série.
Embora o primeiro álbum seja muito bom, é no segundo que
vemos a trama engatando, especialmente com relação ao desenvolvimento dos
personagens. A fuga do garoto, da mulher cega que o acolheu e uma garota
indígena para Nova Orleans é um dos momentos mais interessantes do álbum.
Trillo nitidamente é um apaixonado pela cultura negra e pelo jazz e traz essa
paixão para a história.
Vale destacar também o traço de Eduardo Risso, em especial
sua ótima narrativa visual, ao mesmo tempo eficiente e inovadora.
Infelizmente a Mythos lançou apenas dois álbuns da série
aqui. Faltaram mais dois para completar a coleção.
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