domingo, agosto 03, 2025

Monstro do Pântano – Mistérios no Espaço

 


O ano era 1991 e a revista que eu mais curtia não chegava mais às bancas Belém, a cidade na qual eu morava. Desde que a Monstro do Pântano passara do formatinho para o formato comics, ela entrara numa distribuição setorizada, que, num primeiro momento, não chegou ao norte.

Naquele ano precisei fazer uma viagem para Minas (para pegar a minha avó que fora visitar parentes) e aproveitei para dar uma esticada até São Paulo, onde ficava a editora Nova Sampa, com a qual eu colaborava há um bom tempo. Também recebi alguns valores por roteiros e estava com o bolso relativamente cheio. Foi quando passei numa banca de revistas e me senti maravilhado. Lá estava a Monstro do Pântano, em uma das edições que não haviam chegado a Bélém (a 14). Foi uma viagem mágica (a primeira que fiz como roteirista de quadrinhos) e talvez por isso essa essa seja uma das minhas histórias prediletas das escritas por Alan Moore.

A história começa com um toque de humor. 


A história começa com um personagem loiro chegando a um deserto para descobrir que há um shopping ali (o local provavelmente não são os EUA, já que um guarda chama o homem de gringo). Ele corre pelo shopping até chegar ao banheiro, onde um gordo está sentado na descarga, lendo um jornal. O forasteiro o arranca do local a tempo de entrar e sumir no meio de uma luz.

Quando ele finalmente chega ao seu destino (numa cena simplesmente maravilhosa de Rich Veitch e Alfredo Alcala), vemos o personagem caído no chão desacordado, em primeiro plano. Em segundo plano, uma mulher corre na direção dele e grita: “Adam! Duss maol qu?”.

Adam Strange chega a Rann. 


Só então descobrimos que o “gringo” é na verdade, o herói espacial Adam Stange. Enquanto ia para Ram, no raio Zeta, o personagem colidira com o Monstro do Pântano, que havia sido coletado pelo mesmo raio.

O Monstro vai para a cidade, na tentativa de encontrar com o terrestre, mas é confundido com um monstro e “morto” por Strange numa bela sequência de ação.

Para além da competência de Rich Veitch e Alfredo Alcala, o que se destaca mesmo é a inventividade revolucionária do roteiro de Alan Moore.

Embora seja o herói de Rann, Adam é considerado um bárbaro pelos habitantes locais.


Moore simplesmente inventou uma língua para os habitantes de Rann (como pudemos ver na splash page inicial) com suas regras e sintaxe. Mais do que isso: resignificou a presença de Strange em Rann. Nas histórias clássicas ele é apenas um herói espacial que ajuda o planeta contra monstros e tiranos espaciais. Mas, na versão de Moore, a guerra nuclear tornou o planeta estéril, assim como seus habitantes. Assim, sua missão é, na verdade, engravidar a princesa Alanna.

Moore também resignificou os habitantes de Thanagar, o planeta do Gavião Negro. Na história, eles prometem recuperar a vegetação do planeta em troca do raio zeta. E para que eles iriam querer dominar a tecnologia de um raio cuja única função é criar uma fonte até o planeta Terra? A resposta é óbvia: invasão.

A partir dessa história, os habitantes de Thanagar passaram a ser vistos como colonizadores. 


Esses dois aspectos tiveram um impacto tão grande que a DC simplesmente mudou a cultura thanagariana, que passou a ser vista não só como uma cultura guerreira, como uma cultura colonialista. Uma minissérie de Timotthy Truman inaugurou essa nova visão.

Essa história é tão boa que, se eu fosse editor da DC, convidaria imediatamente Alan Moore para escrever Adam Strange assim que terminasse seu período no Monstro do Pântano.  

Quarteto Fantástico contra Namor

 


Depois de três números, a revista do Quarteto Fantástico já era um sucesso o suficiente para Stan Lee decidir trazer de volta um dos personagens mais famosos da primeira fase da editora, na década de 1940.

O convido especial, Namor, já aparece na capa, fugindo para o mar com a Mulher Invisível nos braços enquanto os outros membros do Quarteto correm atrás dele.  

O Quarteto sai em busca do Tocha, mas a Mulher Invisível faz uma pausa para tomar um refri. 


A história em si já começa com uma grande inovação. No número anterior, o Tocha ia embora, depois de uma briga feia com o Coisa. O número quatro começa com os outros heróis decidindo procurar pelo cabeça quente. Isso pode parecer banal hoje em dia, mas na época era algo revolucionário fazer uma história que continuava um fato da edição anterior. A norma até então era fazer apenas edições isoladas cujos fatos, na maioria das vezes não influenciavam edições posteriores. Aparecia ali o germe da cronologia Marvel, um dos motivos que fizeram com que a editora se tornasse um sucesso.

Johnny lê um gibi do Namor. Auto-referências se tornariam comuns nos quadrinhos da Marvel. 


Na tentativa de fugir dos amigos, Johnny Storm se hospeda numa penção de um bairro pobre. É lá que ele encontra um velho gibi dos anos 1940, com o príncipe submarino na capa. Mais uma inovação de Stan Lee: as auto-referências se tornaram lugar comum nas histórias da Marvel e mais especificamente nas do Quarteto. Aqui a referência tem um objetivo bem específico: preparar o leitor para o que virá a seguir. Storm encontra na pensão um mendigo que todos dizem ter a força de dez homens e percebe que o homem sofre de amnséia. Ao usar suas chamas para cortar sua barba e cabelo, descobre que se trata do mesmo Namor cujas aventuras ele estava lendo antes (muito conveniente, não é mesmo, Stan Lee?).

Namor recupera a memória e quer vingança. 


Ao ser solto no mar, ele recupera sua memória, descobre que Atlântida foi destruída por um teste nuclear e  resolve se vingar da humanidade. Lá pelas tantas resolve também sequestrar a Mulher Invisível, dando início ao mais famoso triângulo amoroso da Marvel de todos os tempos.

Coração de ferro

 


Há uma quantidade enorme de filmes sobre a II Guerra Mundial, com as mais diversas abordagens. Mas um tema pouco abordado são os tanques. Eles foram essenciais na guerra, mas na maioria das películas aparecem pilotados por nazistas, como em Resgate do Soldado Ryan.

Assim, Coração de Ferro, filme de David Ayer disponibilizado no Brasil pela Netflix se destaca por ter como protagonistas a tripulação de um tanque norte-americano apelidado de Fury.

A história acompanha o sargento linha dura Don "Wardaddy" Collier (Brad Pitt) e sua equipe realizando operações dentro da Alemanha Nazista na fase final da guerra, quando os aliados estavam encurralando as tropas alemães dentro de seu próprio território. É também um período em que os alemães resisitiram obstinadamente, recrutando até mesmo crianças (em uma das sequências, jovens que se recusaram a lutar são enforcados pelos nazistas e pendurados com placas de traidores).

À certa altura, o tanque é avariado e a equipe precisa, sozinha, impedir o avanço de todo um regimento da SS numa verdadeira missão suicida.

A película se destaca pela preocupação com os detalhes históricos, inclusive com uso de tanques que são, de fato remanescentes da II Guerra. Os atores também foram treinados em regime militar, passando noites acordados, molhados e com sono.

Além disso, é interessante o tom realista, com insinuações até mesmo de estupros por parte dos soldados e buylling por parte dos veteranos com o novato Norman "Machine" Ellison.

Mas talvez o que mais chame a atenção seja a atuação de Brad Pitt. Impressionante como ele evoluiu como ator desde seus primeiros trabalhos e aqui ele consegue um perfeito equilíbrio entre o linha-dura grosseirão e até mesmo abusivo e o líder que todos seguem.

O resultado disso é um filme de ação eletrizante que não fica nada a dever a clássicos do gênero.  

Dylan Dog – Alguém chama do espaço

 


Umberto Eco não só foi um dos mais importantes pensadores do século XX como também um notório fã de quadrinhos. Assim, não é de se admirar que ele se tornasse também um personagem de HQs. Isso aconteceu graças à amizade do escritor com o roteirista Tiziano Sclavi, criador de Dylan Dog.

Na história, publicada no Brasil no número 7 do título (editora Mythos), um observatório recebe uma mensagem extraterrestre. Para decifrá-la é chamado o linguista Humbert Coe (o nome do personagem é um anagrama do nome real do escritor). Ele consegue decifrar uma parte da mensagem, que parece não fazer sentido algum. Quem mata a charada é a faxineira do local, uma imigrante africana: é o nome de uma cidade em Gales.

A história pula para meses depois, quando Dylan é chamado à cidade para investigar o desaparecimento de uma menina (a filha da faxineira).

A trama toda gira em torno da questão da língua universal e dos problemas de linguagem, como a compreensão equivocada do que é dito, algo representado pela torre de Babel – que, aliás, aparece na capa do volume.

A chegada de Dylan e Groucho brinca exatamente com o fenômeno do ruído na comunicação. A mulher que eles buscam tem o sobrenome de Jones, mas várias outras mulheres locais têm o mesmo sobrenome, o que gera uma comédia de erros com maridos querendo saber o que querem com suas mulheres (e Dylan achando que se trata da mesma mulher). Além disso, os dois forasteiros são confundidos com agentes oficiais ingleses, o que gera ainda mais problemas.

Cômico, lírico e filosófico, o volume traz todas as características das melhores histórias de Dylan Dog. E traz uma esperança, refletida nas falas de Umberto Eco: a de que um dia a humanidade possa se comunicar em harmonia. Talvez nesse dia estejamos preparados para nos comunicarmos com inteligências extraterrestres.

sábado, agosto 02, 2025

A arte fantástica de Arthur Rackham

 


Arthur Rackham foi um dos mais importantes ilustradores de livros do século XIX. Sua veia fantástica era ideal para livros como Alice no país das maravilhas ou Contos dos irmãos Grim. Ele também ilustrou Rip van Winkle, Peter Pan e até a ópera O anel de Nibelungo. Confira alguns trabalhos desse fantástico desenhista inglês. 







As vinhas da ira – o filme

 

John Ford retratou os personagens como pessoas reais. 


Na década de 1990 a TV Cultura passava diversos filmes clássicos sem intervalo. Se você pegava um filme pela metade, ficava sem saber o título. Foi o que aconteceu comigo quando assisti a uma película em preto e branco sobre uma família de retirantes na época da grande depressão norte-americana. O impacto foi imenso. Embora o tema fosse social, o filme era divertido, com uma narrativa fluída e um equilíbrio perfeito entre drama, humor e humanismo.
Passei anos procurando informações, perguntando para todos que conhecia... até descobrir que o filme que me prendera durante toda a noite era Vinhas  da Ira, de John Ford.
Lançado em 1940, as vinhas da ira era baseado no livro homônimo de John Steimbeck. Steimbeck fora enviado para fazer uma série de matérias sobre os agricultores expulos de suas casas pelos bancos na época da grande depressão e que sobreviviam em condições sub-humanas. Ficou tão chocado com o que viu que resolveu escrever um livro de ficção baseado no que vira.
O filme destacatou a dura vida dos oakis em busca de trabalho em plena depressão. 

Vinhas da Ira conta a história de uma família expulsa de suas terras no Oklahoma que migra para a Califórnia em busca de trabalho. A maior parte do filme se passa durante a viagem atravessando os EUA em um caminhão repleto de pessoas, colchões, panelas penduradas. O realismo é impressionante tanto no caminhão, que de fato, parece capaz de virar a qualquer momento (um dos personagens comenta à certa altura que seria um milagre chegarem na Califórnia com aquele veículo) quanto nas atuações. Os atores não parecem astros de hollywood: parecem antes terem saído diretamente dos acampamentos dos oakies, como eram chamados os retirantes.
Até mesmo o astro Henry Fonda parece alguém do povo, um homem sofrido e endurecido pela vida, mas com um forte senso de justiça. Jane Darwell, a mãe da família Joad também tem uma atuação marcante e sua imagem representa as pessoas do povo que, apesar de tudo, conseguem manter sua dignidade. Não por acaso, ela ganhou o oscar daquele ano como atriz coadjuvante.
Jane Darwell ganhou o Oscar por sua atuação no filme como a matriarca que consegue manter a dignidade mesmo em meio às maiores provações. 

O filme em nenhum momento descamba para o dramalhão, apesar do tema. Tudo é muito sutil e, talvez por isso, pareça algo tão impactante. Em uma cena, por exemplo, o pai da família entra numa lanchonete de posto de gasolina e pede dez centavos de pão para dar para a avó. O dinheiro não paga um pão inteiro, mas mesmo assim a garçonete o vende e, quando vê as crianças esfomeadas observando um doce, os vende dois por um centavo, quando na verdade cada um custava cinco centavos. É um dos momentos mais emocionantes da obra.
Mas momentos de ternura como esse são raros. Por onde passam, os Joad são escorraçados, perseguidos, explorados. Grandes fazendeiros se aproveitam da situação de miséria para oferecer salários de fome de modo que toda a família trabalhando consegue ganhar apenas um dólar ao final do dia – o suficiente apenas para que não morram de fome.
Tudo isso é mostrado com uma fotografia impressionante. A iluminação hollywoodiana não funcionaria em uma obra tão realista. A casa de um retirante muito iluminada simplesmente não pareceria verossímil. Em uma das cenas, os atores são iluminados apenas por um fósforo e conseguimos ver com perfeição os atores e suas expressões sofridas.
O filme não é tão depressivo quanto o livro e seu final dá ao expectador uma ponta de otimismo. Mesmo assim entrou para a história como uma das mais pulgentes críticas sociais já feitas.

Aluga-se

 


Blueberry - O cavaleiro perdido

 

 

Foi no quarto álbum da série Blueberry que apareceu um dos personagens mais carismáticos de toda a saga,o garimpeiro Jim Mclure. 

Mclure deveria participar de apenas parte da história, mas Giraud gostou tanto dele que pediu que Charlier ampliasse sua participação, uma decisão mais do que acertada. 

A história começa com Blueberry salvando o Tenente Craig em uma sequência eletrizante. 


Na história, Blueberry precisa encontrar Crowe, um mestiço que havia desertado do exército, mas que é o único que poderia levá-lo ao chefe Cochise para negociar o fim da guerra. E só quem poderia guiá-lo pelo deserto repleto de apaches é o velho Mclure, alguém que conhece o local como a palma da mãos e tem boas relações com as tribos. 

Já nas primeiras páginas percebemos que aquele é um personagem foge completamente do estereótipo do bom mocinho. Ele vende armas e bebidas para os indígenas e não consegue resistir a um bom trago de uísque. Isso, aliás, coloca a missão em perigo à certa altura. 

McLure já chama atenção desde sua primeira participação. 


Ou seja, Mclure é o parceiro perfeito para o nada convencional Blueberry.

Da mesma forma que em outros álbuns, aqui temos os perigos constantes rondando os protagonista, com soluções sempre criativas para os mesmos. Nisso Charlier era um mestre. 

Considerando que essa característica agora ganha o peso de mais um personagem carismático, a leitura se torna viciante. 

Quem foi Edgar Allan Poe?

 

 

Edgar Allan Poe é um dos mais importantes escritores norte-americanos e considerado pai não só dos relatos de terror, mas principalmente das narrativas policiais. Seu poema O Corvo é considerado um dos mais importantes da literatura norte-americana. Além de ter influenciado decididamente gêneros populares, como a ficção-científica, o terror e o policial, Poe também influenciou grandes escritores, como o argentino Jorge Luís Borges.
Poe nasceu em 19 de janeiro de 1809. Era filho de atores de teatro. O pai abandonou a família e a mãe morreu de tuberculose. O rapaz foi, então, adotado por John Allan, próspero comerciante da cidade de Richmond.
Quando era adolescente, Edgar apaixonou-se pela mãe de um amigo. A paixão era correspondida, mas impossível na sociedade puritana da época. A mulher acabou se matando. Esse fato marcou definitivamente os textos do autor, que sempre tinham algo de mórbida paixão.
Poe tentou a carreira militar, mas foi expulso por indisciplina e passou se dedicar exclusivamente à literatura. A publicação de seu poema O Corvo o transformou em astro literário. Posteriormente, ele escreveu uma análise do processo de criação de seu próprio poema, inaugurando a crítica literária nos EUA.
O escritor chocou o país ao se casar com a prima Virgínia, de apenas 13 anos, que morreu jovem.
Essa sucessão de fatos tristes fez de Poe o maior representante do romantismo mal do século, especialmente nos seus contos de terror.
Poe criou um tipo de terror em que nada de realmente terrível parecia acontecer, senão no interior dos personagens. Nos seus contos não havia monstros ou demônios, exceto os do espírito, como na história O demônio da perversidade. Nesse, um homem comete um crime perfeito. Só uma coisa poderia delatá-lo: o impulso incontrolável de gritar aos quatro ventos a própria culpa.
Os personagens de Poe eram perturbados e românticos como ele mesmo: gente apaixonada e impulsionada por seus delírios depressivos. 

Capitão América – Se houver amanhã

 


Na trama criada por JM DeMatteis e Mike Zeck para o encontro do Capitão América com Deathlok, no ano de 1986, uma organização criminosa lançara um plano de extermínio de super-heróis. Esses foram enviados para dimensões separadas, onde acabaram sendo mortos. Como resultado, a Terra se tornou uma distopia.

No número 289 da revista Capitain America, o sentinela da liberdade volta para 1986 para tentar impedir que isso aconteça.

O Capitão precisa impedir um plano para matar todos os super-heróis. 


O plano já está em execução, então ele não pode pedir ou contar com o auxílio de nenhum grupo de heróis. Nessa época, o Capitão era um herói fodão, que sozinho conseguia salvar o mundo.

A sequência mais interessante é quando entra na sede da organização e precisa destruir gerador que transportará todos os heróis para as dimensões paralelas. O meio de defesa são raios psíquicos, que cavam as profundezas do inconsciente e projetam horrores aos quais nenhuma mente resiste.

Mike Zeck faz toda uma sequência em um único quadro. 


A sequência era JM DeMatteis exercitando a profundidade psicológica que o tornaria célebre anos depois com Mooshadow e A útlima caçada de Kraven.

Por outro, lado, Zeck se mostra extremamente competente e criativo nos desenhos. Ele, por exemplo, usa um quadro só para mostrar todo uma sequencia de ação impressionante, com o Capitão se movimentando ao redor de um robô.

A edição trazia uma história imaginária. 


Uma curiosidade é que a edição americana trazia uma história, curta, imaginária, na qual Bernie torna-se uma super-heroina, Bernie America.

A capa de Watson. 


 A Abril cortou essa HQ e, como a capa fazia referência a ela, a solução foi encomendarem uma capa original para o artista brasileiro Watson, que fez um belo trabalho.

Raul Seixas - Eu sou

 


Se estivesse vivo, Raul Seixas estaria fazendo 80 anos. Para marcar a data, a Globo produziu a minissérie Raul Seixas – Eu sou. Dirigida por Paulo Morelli, ela conta a história do pai do rock nacional, desde a infância até a sua morte em 1989.

O seriado começa errático. O primeiro capítulo foca em um show de Raul na cidade de Caieiras, no ano de 1982, no qual Raul foi confundido com um farsante, atacado pela multidão e preso por policiais. Raul pergunta: se eu não sou eu, quem eu sou? E esse é gancho para contar sua história. É uma ideia interessante, que atrai o expectador desde o início. Mas o roteiro acrescenta tantas linha narrativas, com tantos saltos temporais, que a história se torna confusa.

Esse problema vai sendo resolvido nos capítulos seguintes, com uma narrativa mais clara ao mesmo tempo em que o espectador vai se fascinando com a história do cantor.

Seria impossível fazer um seriado ruim sobre Raul pela simples razão de que só suas músicas já salvariam a atração. Mas Paulo Morelli maneja bem a trilha, usando-a para pontuar os mais diversos momentos, dos mais tristes aos mais empolgantes, passando por momentos verdadeiramente hilários, como quando Raul foi fazer um show em um garimpo no Pará e quase morre quando começa um tiroteio. Isso é facilitado pelo fato de Raul ter mais de 200 músicas, o que torna muito simples encontrar pelo menos uma adequada para cada momento.

Outro destaque é mostrar, ainda que de forma ficcional, como Raul revolucionou o rock ao misturá-lo a ritmos nacionais, como o baião.

Além disso, há algumas boas metáforas, como a do elevador em que cada andar representa um ano, antecipando a morte do cantor, aos 44 anos.

No elenco se destaca Ravel Andrade, que faz o protagonista e imita com perfeição até mesmo a maneira de andar do cantor. Já João Pedro Zappa, que faz Paulo Coelho, parece e caricato em alguns momentos, mas nada que comprometa a série.

No últimos episódios, já estamos tão envolvidos na história do pai do rock que a tendência é maratonar.

X-men – Wolverine à solta

 


Quando tornou-se co-roteirista dos X-men, John  Byrne começou a dar protagonismo ao Wolverine. A razão é que o desenhista queria chamar atenção para um herói canadense como ele. Mas esse processo logo transformaria o baixinho em um dos personagens mais populares da Marvel.

Em nenhum outro momento o protagonismo do herói foi tão relevante quanto em The Uncanny X-men 133. Na história anterior, todos os X-men tinha sido facilmente derrotados e aprisionados pelo círculo interno do Clube do Inferno, com excessão de Wolverine, que foi jogado no esgoto.



A revista começa exatamente com os capangas do Clube no subsolo do local, procurando pelo Carcaju enquanto ele se equilibra acima deles, no teto. Sem dúvida, uma das cenas mais célebres dos X-men de todos os tempos, assim como toda a sequência seguinte.

Wolverine salta do teto e enfrenta os capangas. No final sobra apenas um. Wolverine se mostra em toda a sua essência, numa perfeita demonstração de como o texto de Claremont encaixava perfeitamente nas imagens criadas por Byrne: “Sei o que está pensando, xará. Ele tá ferido, a cinco metros de distância e meu fuzil está carregado. A pergunta é: eu consigo matar o Wolverine antes que dele me alcançar e me fatiar como um sushi com aquelas garras?”. No final, o homem, apavorado, joga sua arma no chão e se entrega.



Só essa sequencia já valeria a história, mas há duas outras, igualmente antológicas.

Na primeira, a Rainha Negra trata Ororo como escrava, revelando como o lado sombrio se apossara dela.



Na segunda, Ciclope tenta entrar em contato com Jean usando o elo mental que existia entre eles. Byrne desenha a sequência sem cenários, com um fundo branco. Em contraste com as outras cenas, repletas de cenários, fica claro que aquela sequência se desenrola num espaço mental. E é nesse ambiente que Cíclope é derrotado e morto pelo Mestre Mental em um duelo de espadas.