sábado, maio 10, 2025

O Eternauta

 


A primeira sequência da série O Eternauta mostra três garotas em um veleiro. Enquanto elas comemoram e brindam, a cidade de Buenos Aires ao fundo vai se apagando aos poucos, bairro a bairro, rua a rua. No fim, quando uma delas entra na cabine para pegar algo, vê as outras caindo mortas do lado de fora.

Esse início é uma referência direta aos vários apagões pelos quais a Argentina tem passado nos últimos meses e que paralisam a cidade. Ao misturar esse fato concreto e atual com a trama dos quadrinhos de Hector Oesterherld e Solano, o diretor e roteirista Bruno Stagnaro constrói uma ótima adaptação, que interliga realidade e ficção e consegue prender o expectador desde o primeiro episódio. Mesmo com baixo orçamento, consegue produzir uma narrativa repleta de cenas impactantes e suspense contínuo.

Hector Oesterheld construiu sua HQ em torno do conceito de “herói coletivo”, em oposição ao herói norte-americano, que salva todos sozinho e isso se reflete inclusive no elenco. Embora Ricardo Darín seja o protagonista, ele muitas vezes perde destaque para outros atores. Fica muito óbvio que ali temos um grupo de pessoas tentando sobreviver em conjunto a uma realidade desesperadora.

A série é baseada em uma HQ argentina. 



Outro aspecto da filosofia do herói coletivo é a ideia de que esses heróis são pessoas normais, o que se reflete na escolha do elenco, sem galãs (algo, aliás, que tem afastado alguns expectadores, que esperavam atores e atrizes no modelo Hollywood).

Aqueles que tiverem a capacidade de ir além das aparências encontrarão uma série bem construída e impactante, que, da mesma forma que a história em quadrinhos, te surpreende a todo instante.

Em tempos: alguns desavisados têm comentado que a série é uma cópia de Walking Dead. Nada mais falso. A HQ que deu origem ao seriado é de 1954 e serviu de base para a maioria das narrativas apocalípticas posteriores.

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