terça-feira, julho 01, 2025

Amazing Fantasy 15 - Surge o Homem-aranha!

 


Um dos aspectos interessantes da coleção clássica Marvel é o fato de muitas vezes eles reproduzirem textos da época, que permitem compreender melhor as estratégias editoriais – o que ainda é complementado pelos excelentes estudiosos italianos que escrevem os artigos de apoio.

O volume 1, dedicado ao Homem-aranha, é um exemplo disso. No texto de introdução, Massimiliano Brighel explica que Martin Goodman não havia gostado do herói aracnídeo e Stan Lee usara uma estratégia para convencê-lo a publicar o personagem. A revista Amazing Adult Fantasy ia ser cancelada no número 15 e Lee sugeriu publicar uma história do novo herói naquele último número. 

A capa, de autoria de Jack Kirby, mostra o aracnídeo se balançando numa teia, segurando um malfeitor e dizendo: “Embora o mundo possa zombar de Peter Parker, o adolescente tímido, em breve todos ficarão maravilhados com o incrível poder do Homem-aranha!”. Na mesma capa havia uma caixa com o texto: “Ainda nesta edição: uma mensagem importante do editor para você... sobre a nova revista!”.

A capa com a primeira aparição do personagem foi desenhada por Jack Kirby. 


A capa é um ótimo exemplo de como Stan Lee era um gênio da auto-promoção. O diálogo instiga o leitor a querer conhecer o personagem e a chamada o leva a procurar o tal texto do editor. E o que dizia o texto do editor? Esse texto está presente na edição da Panini e diz mais ou menos o seguinte: que a revista iria perder a palavra Adult porque alguns leitores se sentima constrangidos de comprar uma revista que era para adultos, ia mudar o formato, de magazine para comics e, finalmente, a malandragem de Lee: “Como você verá, apresentamos um dos personagens mais incomuns de todos os tempos, o HOMEM-ARANHA, que continuará a aparecer todos os meses em AMAZING. Talvez se suas cartas exigirem, podemos estender suas histórias, ou incluir DUAS aventuras do Homem-aranha em cada edição”.

O texto é uma tremenda malandragem porque Lee sabia que a revista ia ser cancelada, então sabia que o herói não continuaria a aparecer nela. Mas estimulava os leitores para escreverem cartas para a redação. Essas cartas seriam o seu argumento para convencencer Goodman a continuar publicando a revista, mas agora alterada, tendo apenas histórias do heróis aracnídeo.

Mas toda essa estratégia não daria certo se o material não tivesse qualidade. E o que vemos é uma história em quadrinhos realmente empolgante, muito bem narrada, um exemplo de como contar uma boa história em apenas 11 páginas.



A HQ inicia com uma splash page de Peter Parker olhando, desconsolado para um grupo, que caçoa dele. Na parede, sua sombra emula uma aranha. Aquela primeira página já cria uma identificação imediata. As pessoas a tendem a se identificarem e a simpatizarem com personagens vítimas de injustiças.

Segue-se uma sequência em que vemos que Peter Parker vive com os tios, pelos quais sente enorme carinho e  mais uma vez ele sendo desprezado pelos amigos porque prefere ir para uma feira de ciências a comparecer a uma festa.

Mais do que uma vítima, Peter Parker é um bom rapaz, querido pelos professores e pelos tios. É também muito inteligente, e possivelmente ganhará uma bolsa de estudos.

Em seguida vemos toda a sequencia célebre: o garoto sendo picado pela aranha, descobrindo que ganhou poderes, aproveitando os poderes para ganhar dinheiro e finalmente descobrindo que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, quando o tio morre por culpa dele, que não parou um ladrão quando poderia fazê-lo. Tudo isso em pouquíssimas páginas!

Uma curiosidade é que, ao contrário do que a maioria das pessoas imagina, naquela primeira história, o Tio Ben jamais falou a famos frase sobre poderes e responsabilidades. Ela aparece apenas na caixa de texto final da história.

Camelot 3000 – Prelúdio da Guerra


O capítulo 10 da série Camelot marca o início do terceiro ato, quando todas as tramas desenvolvidas se encaminham para sua resolução. 

E as coisas não estão boas para a Távola Redonda. 

Rei Arthur é acusado de matar os líderes mundiais. 


Mordred se apossara do Santo Graal e mandara construir com ele uma armadura para si, o que o tornava praticamente invencível, já que qualquer ferida era curada imediatamente. Ele também exterminara todos o principais governantes da terra e colocaram a culpa em Artur. 

Em paralelo a isso, Arthur e seus cavaleiros se encaminham ao décimo planeta, onde a batalha final terá lugar. 

A Rainha dos alienígenas se alia a Guinevere. 


Os cavaleiros ganham uma aliada inesperada na figura da rainha dos alienígenas, que pretende se vingar de Morgana por ela ter escravizado parte de seus filhos. 

Mike w. Barr constrói sua narrativa num crescendo, em que as ações vão se sucedendo na direção de um final que parece catastrófico.

Lancelot e Tristão parecem condenados. 


Lancelot é aparentemente morto por Mordred enquanto Tristão é aprisionada pelo sargento Owen, que agora pretende matá-la (em uma imagem de impacto com a moça engasgando e lutando pela vida).

Para tornar essa parte da história ainda mais célebre, aqui a arte final é de Terry Austin, que valorizava ainda mais a arte incluindo o fundo preto.

No Brasil esses capítulos finais foram publicados em Superamigos (a série havia começado a ser publicada na primeira série de Batman da Abril).

Zé, o carreteiro

 

Na minha família, quem não é professor, é carreteiro. Então o que mais tinha em casa era a revista O carreteiro. Eu adorava as histórias em quadrinhos que fechavam o volume, com o carreteiro Zé e seu ajudante Jesuíno. Considerando que a revista é publicada há mais de 40 anos, é uma das mais longevas HQs já publicadas no Brasil.
Criado pelo quadrinista italiano Michele Iacocca o personagem surgiu em 1970, tendo sido publicado por décadas na revista.
Evolução do personagem

No começo Zé se vestia de maneira esculhambada, bebia e fumava. Era chamado inclusive de Zé Sujinho, nome com o qual chegou a ter uma revista publicada pela editora Abril.

Com o tempo Zé largou o cigarro, deixou de aparecer nas histórias bebendo e passou a se vestir melhor. O traço, no entanto, continua simples, largado, mas muito expressivo.
Criador e criatura

Uma curiosidade é que Iacocca é tradutor de livros do Umberto Eco no Brasil, já tendo inclusive ganhado prêmios por suas traduções.
As histórias do Zé constantemente criticam situações da realidade atual. 

Sweet Tooth

 


Uma doença chamada flagelo mata a maior parte da humanidade. Ao mesmo tempo em que surge, bebês híbridos, humanos e animais começam a nascer. Ninguém sabe se eles são consequência do vírus ou a causa da pandemia. Na dúvida, a maioria das pessoas os odeia e eles são caçados como animais.

Essa é a premissa de Sweet Tooth, série da Netflix baseada nos quadrinhos de Jeff Lemire publicados pela DC Comics.

Sweet Tooth é centrada no garoto Gus, um híbrido de humano e cervo, criado pelo pai em uma floresta isolada de tudo e de todos. Esse idílio é quebrado quando o pai morre e Gus é aprisionado por caçadores e salvo por um homem chamado na série de Grandão. Grandão era um caçador de híbridos, mas a relação com Gus o transforma e surge daí uma amizade improvável. Os dois empreendem uma viagem, em busca de respostas e da mãe do garoto híbrido. No caminho, conhecem uma garota defensora dos híbridos chamada de Ursa. Forma-se assim um trio improvável e disfuncional, mas que magnetiza a simpatia do expectador.

Jim Mickle, o responsável pela adaptação, fez algumas mudanças. Gus, por exemplo, que é um garoto feio nos quadrinhos virou fofo garotinho na série. O tom também é menos cru. A relação de Gus com o pai, por exemplo, é mais afetiva.  

Mas aparentemente, nada do que era realmente essencial na história foi modificado. A premissa das pessoas odiando e perseguindo tudo que é diferente, por exemplo, se mantém. Além disso, o garoto Christian Convery interpreta com perfeição o personagem, conquistando o público desde a primeira tomada.

Muito bem dirigida, a série mistura uma narrativa pós-apocalíptica e uma forte denúncia social com um tom de fábula do tipo que vemos em filmes de Tim Burton, por exemplo. E a trama é envolvente, com personagens carismáticos (interpretados por atores igualmente carismáticos) e sem sequências de pura enrolação como é comum vermos em seriados desse tipo. Tudo ali contribui para a narrativa fluir.

O clima é tão envolvente que acabamos esquecendo que na grande maioria das cenas o único efeito especial é um garoto com uma tiara de chifres na cabeça.