Batman – terror sagrado é uma daquelas pérolas
esquecidas do homem-morcego. É também uma das mais curiosas e fora da curva.
Na história, Crowell conseguiu se manter no
poder na Inglaterra e exportou seu estado teológico para os EUA, de modo que o
país americano se torna uma ditadura governanda por religiosos.
O estado teológico dominou praticamente toda a América.
A história, claro, é focada em Bruce Wayne e
na descoberta de que seus pais foram assassinados por ordem de um conselho
religioso, mas executada de forma a parecer um assalto – o que leva o
personagem a uma jornada de vingança.
Provavelmente o momento mais interessante da
revista é um telejornal, no qual uma sorridente jornalista anuncia as medidas
do governo. Sabemos, por exemplo, que o exército de resistência do Brasil está
prestes a ser derrotado, de modo que os EUA tomaram conta de praticamente toda
a América. Nesse sistema de governo, grandes proprietários de terras têm um
voto de maior valor que outras pessoas. Não brancos têm direito a apenas meio
voto.
Os pais de Bruce Wayne abriram uma clínica para ajudar pessoas submetidas à cura gay.
Outra sequência interessante é um flash back
que mostra a atividade suberversiva dos pais de bruce Wayne: uma clínica de
ajuda a pessoas submetidas à cura gay, um tratamento que inclui choques nos órgãos
genitais. É essa atividade que leva o conselho a declarar a sentença de morte
do casal.
Ou seja: é uma história que prometia muito,
com um ótimo contexto, mas prejudicada por dois aspectos. O primeiro deles é a
quantidade de páginas. Fica óbvio que aquilo foi pensado como uma série, de
forma que a HQ parece inconclusa nas 47 páginas.
Toda a trama gira em torno da questão religiosa.
O outro problema é a necessidade de adequar
esse contexto a uma trama de super-heróis. Há, por exemplo, uma sequência com
seres super-poderosos vítimas de experiências dos religiosos que nos apresenta
algumas interessantes referências. Nenhum nome de herói é citado, de modo que o
leitor precisa advinhar quem são aqueles personagens. Mas, apesar de curiosa, a
sequência parece ter sido introduzida apenas para agradar os fãs de super-heróis
e parece ter pouco impacto na trama principal. Provavelmente, se a história
girasse apenas em torno de Batman, o resultado fosse mais resolvido,
principalmente levando-se em conta o número de páginas que a história teria.
Há uma sequência em que aparecem vários heróis da DC.
O roteirista Alan Brennert escreve bem e tem
boas ideias. Embora tenha escrito alguns quadrinhos, ele parece ser mais
conhecido pelas séries de TV (ele chegou a roteirizar episódios do seriado da
Mulher Maravilha (interpretado por Lynda Carter), o que reforça a ideia de que
ele pretendia fazer uma série ou uma minissérie dentro desse universo distópico.
O desenho fica por conta de Norm Breyfogle,
que aqui enfrenta o desafio de mostrar visualmente o que seria essa América
puritana e se sai relativamente bem.
No Brasil essa HQ foi publicada pela Abril em
1992.
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