quinta-feira, abril 17, 2025

Batman – terror sagrado

 


Batman – terror sagrado é uma daquelas pérolas esquecidas do homem-morcego. É também uma das mais curiosas e fora da curva.

Na história, Crowell conseguiu se manter no poder na Inglaterra e exportou seu estado teológico para os EUA, de modo que o país americano se torna uma ditadura governanda por religiosos.

O estado teológico dominou praticamente toda a América. 


A história, claro, é focada em Bruce Wayne e na descoberta de que seus pais foram assassinados por ordem de um conselho religioso, mas executada de forma a parecer um assalto – o que leva o personagem a uma jornada de vingança.

Provavelmente o momento mais interessante da revista é um telejornal, no qual uma sorridente jornalista anuncia as medidas do governo. Sabemos, por exemplo, que o exército de resistência do Brasil está prestes a ser derrotado, de modo que os EUA tomaram conta de praticamente toda a América. Nesse sistema de governo, grandes proprietários de terras têm um voto de maior valor que outras pessoas. Não brancos têm direito a apenas meio voto.

Os pais de Bruce Wayne abriram uma clínica para ajudar pessoas submetidas à cura gay. 


Outra sequência interessante é um flash back que mostra a atividade suberversiva dos pais de bruce Wayne: uma clínica de ajuda a pessoas submetidas à cura gay, um tratamento que inclui choques nos órgãos genitais. É essa atividade que leva o conselho a declarar a sentença de morte do casal.

Ou seja: é uma história que prometia muito, com um ótimo contexto, mas prejudicada por dois aspectos. O primeiro deles é a quantidade de páginas. Fica óbvio que aquilo foi pensado como uma série, de forma que a HQ parece inconclusa nas 47 páginas.

Toda a trama gira em torno da questão religiosa. 


O outro problema é a necessidade de adequar esse contexto a uma trama de super-heróis. Há, por exemplo, uma sequência com seres super-poderosos vítimas de experiências dos religiosos que nos apresenta algumas interessantes referências. Nenhum nome de herói é citado, de modo que o leitor precisa advinhar quem são aqueles personagens. Mas, apesar de curiosa, a sequência parece ter sido introduzida apenas para agradar os fãs de super-heróis e parece ter pouco impacto na trama principal. Provavelmente, se a história girasse apenas em torno de Batman, o resultado fosse mais resolvido, principalmente levando-se em conta o número de páginas que a história teria.

Há uma sequência em que aparecem vários heróis da DC. 


O roteirista Alan Brennert escreve bem e tem boas ideias. Embora tenha escrito alguns quadrinhos, ele parece ser mais conhecido pelas séries de TV (ele chegou a roteirizar episódios do seriado da Mulher Maravilha (interpretado por Lynda Carter), o que reforça a ideia de que ele pretendia fazer uma série ou uma minissérie dentro desse universo distópico.

O desenho fica por conta de Norm Breyfogle, que aqui enfrenta o desafio de mostrar visualmente o que seria essa América puritana e se sai relativamente bem.

No Brasil essa HQ foi publicada pela Abril em 1992.

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