No ano de 2009 a amiga Ana Vidigal descobriu que José Sarney tinha dado 2 milhões de reais e a deputada Dalva Figueiredo para a a cineasta Tizuka Yamazaki vir filmar uma cena de seu filme no Amapá. Com 2 milhões e 300 mil reais dava para fazer um edital incluindo vários curta metragens e até mesmo um longa. Da indignação dessa situação surgiu o movimento Farinha pouca meu pirão primeiro. A carta aberta desse movimento é considerado a certidão de nascimento do movimento audiovisual amapaense. Muitos dos que assinaram se tornaram figuras fundamentais do audiovisual do estado, com várias produções.
Confira abaixo o texto e quem assinou.
Farinha pouca, meu pirão primeiro!
O audiovisual é um forte instrumento de resgate e de acervo
de uma realidade histórica e social. É através dele que documentamos a trajetória de um povo e suas conquistas.
O mundo tem muito que conhecer e reconhecer a partir de suas inúmeras possibilidades. E esse nosso gigante lençol verde
que é a Amazônia tem uma gama infindável de temas a mostrar. O problema é que o olhar de quem aqui vive e reconhece
a importância desses focos nunca é valorizado por quem detém
o poder das políticas públicas. Elegemos os nossos representantes e estes elegem outros realizadores para filmar em nosso quintal
e levar a pouca verba que também deveria servir aos nossos propósitos documentais. Nada contra esses realizadores. Que bom que eles nos prestigiem mostrando nossa gente e nossas belezas naturais.
O senador José Sarney abre as burras e saca dois milhões,
a deputada federal Dalva Figueiredo comparece com trezentos mil e a cineasta Tizuka Yamazaki filma parte de seu longa-metragem Amazônia Caruana lá pros lados do Araguari. Que bom mesmo! Ela trouxe a sua equipe e somente meia-dúzia de gatos pingados daqui irão participar, carregando equipamentos na locação. Quem sabe poderão aprender com eles alguma nesga de suas experiências? Agora, perguntamos: será que isso está certo?
E o nosso pirão? Quem nos dera ter pelo menos um pouco do cuí dessa farinha! Uns poucos e minúsculos bagos, mesmo que fosse a sobra do fundo da saca. Somos nós que trabalhamos por este lugar e elegemos os representantes legais e são outros que levam a saca cheia? Esperamos que a nossa tribo esteja inserida no projeto Tainá III anunciado por seus produtores e pelo Governo do Estado. Tomara que possamos participar do processo e não nos deixem de fora, com nossas bundas ao alcance de suas lentes refinadas e com cara de quem está feliz com essa patuscada oficial.
Um dia, um amigo chegou à conclusão de que a “política é para quem tem coragem”. Aviso aos navegantes: quando nos pintamos para a guerra, nossos irmãos tucujus se vestem dessa mesma coragem. Decência e bom senso é que cobramos nessa batalha. Achamos que, em vez de ignorados, deveríamos ser olhados como o que somos: aliados e principais interessados na batalha pelo audiovisual.
Temos consciência do nosso valor e queremos o diálogo.
Não queremos guerra, mas estamos lutando pelo espaço a que temos direito.
ABDeC / AP
Associação Brasileira de Documentaristas
e Curtametragistas do Amapá
Sandra Rocha
Lucila Diniz
Thomé Azevedo
Ana Vidigal
Ronaldo Rodrigues
Patrícia Andrade
Gavin Andrews
Manoel do Vale
Zezão Reis
Jonny Bigoo
Rose Souza
Bruno Jerônimo
Alexandre Brito
Augusto Pessoa
Paulo zab
Ivan Carlo Andrade de Oliveira
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