Toda a fase final do Homem-Animal sob a
batuta de Grant Morrison parecia se guiar na direção de uma metalinguagem cada
vez maior. Assim, não é espantoso que o personagem acabasse encontrando com seu
roteirista.
Isso acontece nos números 25 e 26 do
título.
No começo, o Homem-Animal vai parar em um
limbo de personagens onde um macaco está escrevendo em uma máquina
datilográfica e, segundo a lenda, um dia haverá de escrever uma história que
irá tirar todos dali. Isso, obviamente, é uma referência direta ao famoso
teorema do macaco, segundo o qual um macaco datilografando eternamente, em
algum momento irá escrever uma obra prima, como uma peça do William
Shakespeare.
Morrison homenageia personagens esquecidos da DC.
O grupo de personagens encontrados pelo herói inclui alguns dos mais obscuros da DC Comics, como o Bobo da Corte, o Quinteto Inferior e o Abelha Vermelha. Os personagens imploraram para que o Homem-animal os tire de lá e um deles chega a dizer que ninguém se importa com eles. Vemos, então, uma imagem de Grant Morrison digitando no teclado e a legenda: “Eu me importo. Todas as coisas que significaram tanto quando éramos jovens estão perdidas... ou então esquecidas”.
É curiosa uma declaração como essa numa época
de descontrução dos super-heróis, uma época em que era chique escrever
super-heróis e dizer que não gostava deles. Fica óbvio que Morrison é
apaixonado por esses personagens obscuros da DC e usa a história para
homenageá-los.
A trama do macaco não dá em nada.
A trama não vai muito além disso, no
entanto.
O outros personagens avisam que o macaco
está morrendo e o herói o pega no colo e anda com ele por páginas e páginas
procurando uma tal cidade que nunca é encontrada.
No final dessa primeria parte, o
Homem-Animal encontra com Morrison. “Eu sou o gênio maligno por trás dos
bastidores. O marionetista que move os fios para você dançar. Eu sou seu
roteirista”.
A história inclui Morrison fazendo uma
auto-crítica.
Você matou minha família só para conseguir apelo emocional barato?
“Por que eu tenho vagado por uma série de
eventos não-relacionados, com pessoas me dizendo que tudo é relacionado?”,
pergunta o personagem.
“Bom, esse é o problema com as minhas
histórias... elas parecem avançar rumo a coisas que nunca acontecem de
verdade!”.
Apesar da auto-crítica, muito justa por
sinal, fica óbvio também que Morrison está usando a história para se auto-promover,
algo no qual o roteirista sempre se mostrou um mestre.
Morrison usa a história para se auto-promover.
Há um outro problema: o final dessa trama
faz com que toda a saga da morte da família de Buddy Barker, assim como o ciclo
de vingaça, perca todo o sentido. “É fácil obter choque emocional barato
matando personagens populares”, admite Morrison.
A história é inovadora no meio dos
super-heróis (Maurício de Sousa já usava o recurso, de aparecer nas histórias,
muitos anos antes, na Turma da Mônica) e chega a ser até divertida, mas no
final fica mesmo a impressão de que é apenas uma peça de marketing pessoal.
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