quinta-feira, maio 01, 2025

Homem-Animal – Deus Ex Machina

  

Toda a fase final do Homem-Animal sob a batuta de Grant Morrison parecia se guiar na direção de uma metalinguagem cada vez maior. Assim, não é espantoso que o personagem acabasse encontrando com seu roteirista.

Isso acontece nos números 25 e 26 do título.

No começo, o Homem-Animal vai parar em um limbo de personagens onde um macaco está escrevendo em uma máquina datilográfica e, segundo a lenda, um dia haverá de escrever uma história que irá tirar todos dali. Isso, obviamente, é uma referência direta ao famoso teorema do macaco, segundo o qual um macaco datilografando eternamente, em algum momento irá escrever uma obra prima, como uma peça do William Shakespeare.

Morrison homenageia personagens esquecidos da DC. 


O grupo de personagens encontrados pelo herói inclui alguns dos mais obscuros da DC Comics, como o Bobo da Corte, o Quinteto Inferior e o Abelha Vermelha. Os personagens imploraram para que o Homem-animal os tire de lá e um deles chega a dizer que ninguém se importa com eles. Vemos, então, uma imagem de Grant Morrison digitando no teclado e a legenda: “Eu me importo. Todas as coisas que significaram tanto quando éramos jovens estão perdidas... ou então esquecidas”.

É curiosa uma declaração como essa numa época de descontrução dos super-heróis, uma época em que era chique escrever super-heróis e dizer que não gostava deles. Fica óbvio que Morrison é apaixonado por esses personagens obscuros da DC e usa a história para homenageá-los.

A trama do macaco não dá em nada. 


A trama não vai muito além disso, no entanto.

O outros personagens avisam que o macaco está morrendo e o herói o pega no colo e anda com ele por páginas e páginas procurando uma tal cidade que nunca é encontrada.

No final dessa primeria parte, o Homem-Animal encontra com Morrison. “Eu sou o gênio maligno por trás dos bastidores. O marionetista que move os fios para você dançar. Eu sou seu roteirista”.

A história inclui Morrison fazendo uma auto-crítica.

Você matou minha família só para conseguir apelo emocional barato? 


“Por que eu tenho vagado por uma série de eventos não-relacionados, com pessoas me dizendo que tudo é relacionado?”, pergunta o personagem.

“Bom, esse é o problema com as minhas histórias... elas parecem avançar rumo a coisas que nunca acontecem de verdade!”.

Apesar da auto-crítica, muito justa por sinal, fica óbvio também que Morrison está usando a história para se auto-promover, algo no qual o roteirista sempre se mostrou um mestre.

Morrison usa a história para se auto-promover. 


Há um outro problema: o final dessa trama faz com que toda a saga da morte da família de Buddy Barker, assim como o ciclo de vingaça, perca todo o sentido. “É fácil obter choque emocional barato matando personagens populares”, admite Morrison.

A história é inovadora no meio dos super-heróis (Maurício de Sousa já usava o recurso, de aparecer nas histórias, muitos anos antes, na Turma da Mônica) e chega a ser até divertida, mas no final fica mesmo a impressão de que é apenas uma peça de marketing pessoal.

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