À primeira vista, “Você”, série da Netflix, é uma história
romântica. Uma garota entra numa livaria e o atendente apaixona-se por ela ao
primeiro olhar. Seguimos então, em uma narrativa em off, suas impressões
detalhadas a respeito dela, numa análise quase semiótica de suas roupas e seu
modo de agir.
Mas logo o que parece ser um romance água com açúcar se
revela uma história de terror, quando este passa a stalkeá-la e começa até
mesmo a matar para “protegê-la”.
A trama conta a história de Guinevere Beck, uma aspirante a
escritora que se torna alvo da paixão avassaladora e obsessiva de Joe Goldberg.
Joe segue Beck por todos os locais, vasculha suas redes sociais e as de suas
amigas, invade seu apartamento e aprisiona e mata o namorado da garota.
O interessante aí é a forma como Joe é mostrado. Ele não é
apresentado como um monstro ou um assassino. ao contrário, a narrativa em
primeira pessoa o humaniza e parece justificar seus atos. Joe Goldberg é um
personagem carismático, que foi abandonado pela mãe e criado por um homem
severo e abusivo (o dono da livraria em que Joe trabalha). Como reflexo da
forma como foi criado, Joe tenta a todo custo proteger um garoto, Paco, cuja
mãe é vítima de um relacionamento abusivo. Esse é provavelmente o ponto que
torna a série tão interessante: a fuga do maniqueísmo ou do simplismo. A série
se permite até mesmo momentos românticos e humorísticos (por exemplo, quando
Joe descobre, espantado, que Beck está sendo stalkeada por outra pessoa). Destaque
para a atuação de Penn Badgley, que contribuiu muito para a humanização do
personagem.
Essa versão moderna do Barba Azul parece ter conseguido seus
fãs, tanto que a série já está na terceira temporada.
E, antes que me perguntem, Joe não parece ser um psicopata.
Sua preocupação com Paco, por exemplo, revela que ele sente empatia por outras
pessoas.
Sem comentários:
Enviar um comentário