domingo, agosto 31, 2025

O reinado do Super-homem, de Jerry Siegel

 


Em 1933 o fanzine de ficção científica The advance guard of future civilization publicou um conto de Herbert Fine sobre um homem com poderes extraordinários. Teria passado despercebido se não fosse o embrião dos super-heróis e se o tal do Herbert Fine não fosse um pseudônimo de Jerry Siegel, criador do Super-homem.

Essa história chega finalmente ao Brasil em uma coleção para lá de interessante. Trata-se da Biblioteca de Livros impossíveis, capitaneada pelo escritor Rubens Angelo.

Todos os volumes contam com textos introdutórios e esse aqui explora a origem dos super-heróis e a importância desse conto para o gênero.

Quanto ao conto, apesar de toda a sua relevância histórica, é muito óbvio que se trata de um texto de alguém que ainda estava dando os primeiros passos na escrita.

Na história, um cientista procura uma cobaia na fila do pão (a história, aparentemente se passa durante a grande depressão norte-americana), até encontrar a pessoa ideal, um tal de Bill Dunn. Seu objetivo é fazer o mendigo ingerir uma substância produzida a partir de um meteoro (o que provavelmente é a origem da kriptonita). Essa substância havia provocado “uma estranha influência nos animais de laboratório aos quais era administrado”, diz o texto, sem especificar que influência era essa.

O cientista leva o mendigo para casa, manda o mordomo cuidar dele e lhe dá novas roupas (“Pela primeira vez em semanas seu rosto estava barbeado. Roupas limpas e impecavelmente passadas substituíram suas vestes desgastadas”).

A fórmula estava no café, mas após ingerir a refeição, Dunn fica desconfiado e foge da casa do cientista – é quando descobre que tem poderes. Não há nenhuma preparação nesse sentido. Ele descobre e com muita facilidade que é capaz de ler mentes, ver à distância (ele vê uma cena de combate em Marte) e ver o futuro, o que lhe permite ganhar dinheiro com apostas e bolsa de valores. Ele também é capaz de sugestionar pessoas, fazendo com que elas lhe dêem seu dinheiro.

A transformação moral do personagem é tão rápida quanto a descoberta dos poderes: de uma pessoa boa e preocupada em seguir a lei, ele logo se torna um tirano disposto a destruir o mundo.

O texto, como dito, é primário. Há metáforas que não funcionam, como “De repente, enquanto estava deitado no chão, um verdadeiro holocausto de confusão irrompeu em sua mente”. Além disso, há problemas de coerência interna. Dunn fugiu da casa do cientista barbeado e usando a roupa nova, mas Siegel esquece isso e, mais lá na frente, o descreve como um mendigo.

Vale mais como curiosidade e como registro do personagem que depois seria modificado e transformado em herói, tornando-se uma das figuras mais conhecidas do mundo, o Super-homem.

A coleção tem mais três livros (A Curiosa Experiência de Thomas Dunbar, de Gertrude M. Barrows;  Eu, Robô, Eando Binder e A máquina pensante, de JJ Connington), todos inéditos ou pouco conhecidos no Brasil. Para adquiri-los, basta fazer um pix de três reais por exemplar para a chave PIX: rubensangelo@yahoo.com.br e enviar o comprovante para o Rubens Angelo: rubensgrafico@gmail.com.

Cursed – a lenda do lago

 


Cursed é a nova série da Netflix explorando os mitos arturianos. A série é baseada no livro de Tom Wheeler com ilustrações de Frank Miller. Os dois, aliás, são produtores da versão televisiva.
A história tem como protagonista Nimue, a dama do lago, que nas narrativas medievais, entrega a espada para Arthur.
Mas Tom Wheeler faz uma tremenda salada, aproveitando apenas os nomes de personagens como Morgana, Lancelot, Arthur, Percival e mudando todo o resto. E acrescenta uma raça de seres mitológicos, os feéricos da qual a dama do lago faria parte.
Na história, os feéricos estariam sendo massacrados por um grupo de fanáticos religiosos, os paladinos vermelhos, e os poderes de Minue em conjunto com a espada mágica seriam a única chance de sobrevivência da espécie.
Will Eisner dizia que nos quadrinhos quando a história era realista, a diagramação poderia ser mais ousada e inovadora. Já em histórias de fantasia, a diagramação deveria ser mais conservadora, pois isso ajudaria o leitor a aceitar aqueles fatos estranhos como reais. O mesmo pode ser dito sobre séries de TV. E Cursed peca exatamente nisso: é uma trama mirabolante, fantasiosa, contada de uma forma que não ajuda a verossimilhança. Pense em todos os exageros de Frank Miller e ele estarão presentes em Cursed. À certa altura, por exemplo, uma das freiras decide se tornar uma paladina vermelha. Na cena seguinte ela aparece indo embora enquanto o convento queima ao fundo.
Até mesmo as transições entre uma cena e outra pecam nesse sentido, ao mostrarem a continuação da cena ou a cena seguinte em desenhos (provavelmente uma referência às ilustrações de Miller), o que prejudica ainda mais a verossimilhança.
Falta também profundidade aos personagens, tanto que muitas vezes suas mortes praticamente não são sentidas pelos expectadores. No último episódio, por exemplo, um dos chefes feéricos morre e a direção dá um destaque dramático enorme para sua morte, mas mal sabemos quem é ele.
Ilustração de Frank Miller para o livro.

A série conta com o ótimo Gustaf Skarsgård, de Vikings, fazendo o papel de Merlin, mas aqui ele parece apenas exagerado.
Outro problema da série são os efeitos, fracos para uma produção desse tipo, que pretende rivalizar com GOT. Em certos momentos parece que estamos vendo um episódio de Xena, com a difereça de que Xena não se levava a sério, o que garantia a diversão, ao contrário de Cursed, que, segundo a sinopse, “é uma história sobre amadurecimento, com temas conhecidos de nosso tempo: destruição da natureza, terror religioso, guerras sem sentido e a coragem de assumir a liderança quando tudo parece impossível”.
Entretanto, os episódios vão melhorando aos poucos com o tempo, talvez pelo fato do expectador começar a se acostumar com os personagens. O episódio final também tem, finalmente, uma cena de batalha bem produzida, o que indica que talvez a segunda temporada seja melhor.
Em todo caso, Cursed pode ser divertido se você a considerar apenas como uma série pipoca.

Super-homem – Quem quer matar Clark Kent?

 


Na Era de prata, a perseguição contra os quadrinhos fez com que a DC comics evitasse histórias que mostrassem violência. Imaginem escrever uma história de super-heróis evitando brigas. Mas no caso do Super-homem a situação era ainda mais complicada, pois ele é um personagem extremamente poderoso, quase invencível.

A solução dos roteiristas era criar histórias com tramas muitas vezes bizarras, que beiravam o lisérgico, a exemplo da HQ “Quem quer matar Clark Kent” publicada em Action Comics 409.

Na história, escrita por Cary Bates e desenhada por Curt Swan e Murphy Anderson, o repórter Clark Kent sofre diversos atentados. No primeiro deles, o elevador no qual está é lançado no ar a uma velocidade incrível graças a foguetes. Em outra oportunidade um carro sem motorista quase o atropela.

Quem poderia estar por trás do atentado?

Clark Kent sofre uma série de atentados... 


A capa da edição já trazia esse mistério. Clark Kent, com as roupas esfarrapadas, agarra-se ao super-homem, que lhe diz: “Fique calmo, Clark Kent. Eu vou proteger você!”, ao que o repórter retruca: “Você não entende? Meu assassino é a única pessoa que você não pode parar!”.

Para ajudar a desvendar esse mistério, o Super-homem recebe a ajuda de... um detetive de outro planeta! Não, não é uma viagem de LSD, o roteirista pensou nisso mesmo. Um personagem chamado Shalox, vestido com uma versão futurista da roupa de Sherlock Holmes (ou pelo menos o que o pessoal da época achava que seria uma roupa futurista) aparece do nada e diz que vem de um planeta em que todos são detetives e como uma espécie de trabalho de conclusão de curso, ele recebera a incumbência de ajudar o homem de aço. Detalhe: no planeta dos detetives espaciais todos têm no mínimo três personalidades.

Para ajudar a desvendar esse mistério, o herói recebe a ajuda de um detetive espacial. 


No final eles descobrem que o assassino é... o Super-homem! Explica-se: como passara diversas noites sem dormir, o herói desenvolvera uma terceira persona, que por alguma razão resolvera se livrar de Clark Kent.

Difícil pensar numa história mais louca que essa para o herói.

No Brasil essa história foi publicada várias vezes pela Ebal e pela Abril em Super-homem 10.

A lenda do lobisomem

 

Lobisomem é um homem capaz de se transformar em lobo. A lenda do lobisomem é muito antiga.
Na mitologia grega, o pugilista Damarco Parrásio ganhou a capacidade de se transformar em lobo após um sacrifício a Zeus.
No livro Satyricon, de Petrônio (o primeiro romance do Ocidente) fala-se de um soldado que podia se transformar em lobo após urinar sobre as próprias vestes.
O Licantropo dos gregos é o mesmo que o Versipélio dos romanos, o Volkodlák dos eslavos, o Werwolf dos saxões, o Wahrwolf dos germanos, o Óboroten dos russos, o Hamtammr dos nórdicos, o Loup-garou dos franceses, o Lobisomem da Península Ibérica e da América Central e do Sul, com suas modificações fáceis de Lubiszon, Lobisomem, Lubishome; nas lendas destes povos, trata-se sempre da crença na metamorfose humana em lobo, por um castigo divino.
Na Alemanha medieval foram realizados diversos julgamentos de pessoas que saiam à noite na forma de lobos para devorar velhos e bebês.
O mais famoso desses julgamentos de licantropia aconteceu na cidade de Colônia, em 1589. Peter Stubb confessou que usava um cinto mágico para se transformar em um lobo ávido e devorador, tendo cometido muitos crimes. Para voltar à forma humana, bastava tirar o cinto. Stubb foi condenado e sua pele foi arrancada do corpo, seus membros quebrados e seu cadáver queimado até virar cinza.
Nessa época, acreditava-se que para virar lobisomem a pessoa precisava tomar uma porção com o corpo nu, envolto na pele de um lobo, numa noite de lua nova. Para voltar a se transformar em humano, bastava urinar.
No Brasil, a lenda varia de região para região. Em alguns locais, o lobisomem é o oitavo filho de uma família de sete mulheres, em outros é o oitavo filho de uma família, independente do sexo dos irmãos. Acredita-se que ele se transforma à meia-noite, durante a lua cheia, em uma encruzilhada.
Em outros locais, diz-se que é possível transformar-se em lobisomem esponjando-se onde o jumento esponjou e dizendo palavras do livro de São Cipriano.
Acredita-se que o ser transformado sai pela noite atacando pessoas, mordendo-as e comendo crianças não batizadas.
A única forma de matar um lobisomem seria atingi-lo com um artefato feito de prata, seja uma bala ou uma faca.

Dupla criativa

 


 

No livro A história secreta da criatividade, Kevin Ashton defende que, ao contrário do que se imagina, as melhores duplas criativas são formadas por pessoas muito diferentes entre si.

E dificilmente eu conseguiria imaginar pessoas tão diferentes quando eu e Bené, uma diferença que, na época da dupla, se destacava até visualmente e em termos de vestimenta. Há uma matéria conosco no jornal O Liberal em que o compadre, musculoso, está usando uma camiseta tão apertada que parece prestes a estourar no seu peito e eu, magrelo, estou usando uma camisa que parece ter pertencido a alguém pelo menos vinte quilos maior que eu.
Bené sempre foi extrovertido, o tipo que se sente bem em qualquer cenário, sendo o centro das conversas e atenções. Eu, ao contrário, sempre fui introvertido e reservado, o tipo que numa festa provavelmente vai ser encontrado lendo algum livro do proprietário.
A diferença física entre nós era visível até mesmo nas fotos de jornais
Essas diferenças se revelavam até mesmo no processo criativo. Bené, como o seu ídolo Jack Kirby, era uma máquina de ideias. Ele simplesmente jorrava conceitos e tinha uma capacidade extraordinária de pensar narrativas visuais. Quando me contava suas ideias, ele não só narrava as mesmas, mas também a forma como elas seriam visualmente apresentadas, com ângulos e planos. Mas, em comunhão com essa fornalha de ideias, também havia uma indecisão crônica. A boa ideia de manhã era considerada uma péssima ideia de tarde.
Eu, ao contrário, levo um longo tempo elaborando a trama e até mesmo burilando o texto (para quem acha que escrevo muito, isso está muito mais relacionado à disciplina do que a uma velocidade real). Cada história que crio é um verdadeiro parto, um processo que pode durar meses ou até anos, como nos casos dos meus romances. Eu não sento para escrever antes de ter todo o texto na cabeça, já muito bem definido e às vezes chego a passar longo tempo pensando em uma única frase.
Além disso, enquanto Bené se preocupa essencialmente com a ação, eu estou mais preocupado com os personagens e seus sentimentos. Enquanto Bené está preocupado que a história seja empolgante, eu estou preocupado que a história faça sentido, que toda as peças se encaixem.
Essa junção de visões é que fazia a diferença em nossas HQs, de modo que um completava o outro.
O nosso método de trabalho era o Marvel way, de uma forma que devia ser muito semelhante ao que Stan Lee e Jack Kirby faziam. Nós discutíamos a história. Uma vez estabelecidos os conceitos principais, o Bené se sentava e fazia o rafe – eu ficava impressionado com a rapidez com que ele fazia isso. A narrativa visual simplesmente jorrava da caneta. Eu, ao contrário, ficava longo tempo olhando as páginas, burilando a narrativa, pensando no que podia fazer. Quando sentava, já tinha normalmente todo o texto na cabeça, ou pelo menos boa parte dele.
Todas as características do nosso processo criativo aparecem naquela história que tanto eu quanto o Bené consideramos a nossa melhor – Refrão de Bolero. A história tinha sido criada a partir da música dos Engenheiros do Hawaii em especial do trecho: “Um erro assim tão vulgar nos persegue a noite inteira e quando acaba a bebedeira ele consegue nos achar”, que aparece na última parte. Sim, nós criamos toda uma história a partir de uma citação que só faria sentido quando o leitor lesse a última página.



(Trecho do meu livro A árvore das ideias)

Capitão Marvel – O sabor da loucura

 


Embora o personagem Thanos tenha sido testado por Jim Starlin em uma história canhestra do Homem-de-ferro, o grande vilão da Marvel só surgiu de fato nas páginas da revista do Capitão Marvel, mais especificamente nos números 25 a 27, que marcam a entrada de Starlin no título e a renovação que transformaria o personagem em um dos mais balados da Casa das Ideias.

A história começa com roteiro de Mike Friedrich e apenas desenhos de Starlin, mas aos poucos Starlin vai interferindo cada vez mais na trama a ponto de se tornar co-roteirista e, finalmente, roteirista da série.

O Capitão Marvel imitava o Capitão Marvel original


Na história, um policial mata o professor Savannah, um conhecido de Rick Jones. Naquela época, o Capitão Marvel e Jones trocavam de lugar, indo um para uma espécie de limbo enquanto outro ocupava o corpo na terra, numa clara imitação do Capitão Marvel da Fawcett, o que mostra que a Marvel não tinha a menor ideia do que fazer com o personagem.

Quando Rick Jones aparece, o policial o prende e o leva para uma delegacia. Na verdade, é tudo parte de uma trama rocambolesca dos alienígenas skrulls para derrotar o capitão Marvel afetando sua mente.

Jim Starlin já era bom em cenas de ação. 


É óbvio que Friendrich não sabia muito bem o que fazer com o título e o resultado é algo que acaba se tornando confuso e enrolado, apesar de algumas sequências boas, nas quais o capitão Marvel enfrenta vários de seus inimigos do passado, como nas quais Starlin demonstra seu dom para sequências de ação.

A história só se torna mais clara quando finalmente aparece Thanos e descobrimos o que há por trás de tudo isso: o titã louco quer uma informação gravada no cérebro de Rick Jones: a localização do Cubo Cósmico, o grande artefato de poder da Marvel, objeto de ganância de todos os vilões da editora.

A primeira aparição de Thanos. A primeira que vale. 


Além do roteirista Friendrich nitidamente não estar entendendo muito bem o que estava acontecendo, Jim Starlin ainda estava claudicante nos desenhos, com bons momentos e outros sofríveis, mas a primeira aparição de Thanos já é memorável, com a morte ao seu lado: “Sou Thanos, rei de Titã... e em breve, imperador do universo! Pelo poder das legiões que comando... e reconhecendo a Morte como minha única companheira, tomei o poder de Titã, meu mundo natal!”.

Nessa época Starlin ainda estava compondo o personagem e a morte de fato aparecia como esposa dele. Mais à frente ele repensaria o conceito e mostraria Thanos cortejando a morte, o que faz com planejar o assassinato de milhões de seres.

Qual a origem da lenda do vampiro?

 

 

Alguns autores acreditam que a palavra vampiro venha do húngaro. Outros acreditam que seja mais antiga, e venha da palavra turca urbe (feiticeiro). Em todo caso, a lenda dos vampiros surgiu, no Ocidente, por volta do século XVII.
As pessoas acreditavam que os vampiros eram as almas dos suicidas e dos bandidos condenados à morte. Segundo a tradição, seus corpos não se decompunham até completarem o período de vida pré-estabelecido. Assim, eles despertavam no meio da noite e saiam em busca de vítimas para sugar-lhes o sangue. Depois de saciados, eles voltavam para o túmulo e ficavam em animação suspensa, até que a fome os levasse a matar novamente.
A imagem dos vampiros nessa época era associada a pessoas com lábios leporinos, cabelos nas palmas das mãos, olhos azuis e cabelos vermelhos.
Voltaire escreveu sobre vampiros no seu Dicionário Filosófico. Segundo ele, "Estes vampiros eram corpos que saem das suas campas de noite para sugar o sangue dos vivos, nos seus pescoços ou estômagos, regressando depois aos seus cemitérios.".
No Oriente, o mito é ainda mais antigo. Eles já aparecem na peça ¨As rãs¨, do grego Aristófanes. Essa vampira teatral era a filha de Hecate que seduzia homens para se alimentar de seu sangue e permanecer sempre bela e jovem.
Acredita-se que o mito do vampiro tenha chegado à Europa pela rota da seda, espalhando-se principalmente entre os eslavos. Nessa época, os vampiros eram fantasma de pessoas mortas, principalmente bandidos, bruxas e suicidas. Na mesma época, o cristianismo e o mito vampiresco foi se adaptando à nova crença. É quando surge, por exemplo, a idéia de que o crucifixo seria uma arma contra sugadores de sangue.
Segundo a tradição, a única forma de matar definitivamente um vampiro era descobrir o seu túmulo e enfiar uma estaca em seu coração.
Durante séculos os vampiros eram nada mais que monstros. A imagem do vampiro sexy só surgiria depois, com o romance Drácula, de Bran Stocker.

sábado, agosto 30, 2025

A incrível arte de Michael Golden

 

Michael Golden é um desenhista norte-americano conhecido no Brasil principalmente graças ao seu trabalho para a Marvel nos anos 1980. Seu primeiro trabalho para a editora foi a série Micronautas. Seu traço detalhado e elegante fazia com que ele fosse lento para desenhar, de modo que sua produção era pequena em comparação com outros artistas da época, mas mesmo assim ficou muito popular no Brasil. O encontro do Homem-aranha com os X-men, desenhado por ele se tornou uma das revistas mais diputadas pelos fãs de super-heróis. Outro trabalho dele de destaque foi a revista"O Conflito do Vietnã". 











Jornada nas estrelas - Uma guerra particular

 


Jornada nas estrelas tem uma visão positiva sobre o futuro, em que a evolução tecnologica seria acompanhada de uma evolução espiritual.

O episódio Uma guerra particular é um daqueles momentos que parecem ir na contramão dessa visão.

Na história, a Enterprise visita um planeta conhecido de Kirk. Na adolescência ele visitara o local e fizera um relatório que previa um desenvolvimento pacífico para seus habitantes.

Mas, quando descem, Spock é alvejado por um dos locais, que, surpreendentemente, usa um mosquete. Poucos anos depois a arma mais evoluída do planeta era o arco e flecha.

Enquanto Spock luta entre a vida e a morte, Kirk tenta descobrir o que está acontecendo. A suspeita é que os klingon introduzir armas de fogo no local para criarem aliados no planeta até então neutro. Nesse meio tempo, Kirk é mordido por um animal venenoso e salvo por uma curandeira, esposa de seu amigo de longa data.

Com a percepção de que um dos lados tem armas de fogo fornecidas pelos Klingons, Kirk resolve armar o outro lado, numa estratégia no mínimo controversa.

Nem às lutas ou a feiticeira sensual conseguem desfazer o tom pessimista que domina o episódio. Um tom resumindo na expressão de Kirk: "uma serpente no jardim do Éden".

Perry Rhodan - O sol chamejante

 

 

Os volumes finais do segundo ciclo, depois que a ameaça dos druufs já tinha sido debelada e Atlan ocupará o lugar do computador regente de Arcon, foram destinados a costurar as pontas soltas. O volume 94 tinha o objetivo de fazer isso com uma história publicada no volume 81, A nave dos antepassados. Nele, Gucky encontra uma velha nave arconida repleta de colonos que vaga pelo espaço há milhares de anos e parece estar sendo governada por um computador déspota. 

No volume em questão Atlan pede que Rhodan vá atrás dessa nave, pois precisa de arconidas não degenerados para ajudá-lo a administrar o império.

O sol chamejante começa com uma situação que não tem relação nenhuma com a trama. Uma dezena de naves druufs entra na nossa dimensão e Rhodan os persegue e elimina. Essa sequência, que ocupa as 30 primeiras páginas, não tem importância nenhuma no livro e parece ter sido escrita apenas para preencher o total de páginas necessárias para o padrão da série. 


A tarefa de resgatar os arconidas é dificultada por um erro dos que estão acordados. Eles tentam uma transição na direção do sistema solar mais próximo. Mas o salto acaba acordando os 10 mil que estão congelados. Ocorre que a nave não tem espaço, comida ou roupas para tanta gente e como resultado intalase o caos. Nesse ponto a narrativa de Clark Darlton foca na nave desgovernada, que, para piorar ainda mais a situação, está indo na direção de um sol. Como não há nenhum comando, eles chegam a atirar na nave terrana a que vai resgatá-los. Tudo leva a crer que acontecerá um desastre.

É um livro tenso, escrito por um dos melhores autores da série. Pena que o início não seja promissor, o que pode afastar alguns leitores.

O benfeitor dos quadrinhos

 


Quando era criança, havia uma profusão de quadrinhos em minha casa. Minha mãe morava em São Paulo e eu e minha vó morávamos em Mococa, interior do estado. Sempre que minha mãe ia me visitar levava um pacote de gibis, que eu devorava como sofreguidão.
Eu sempre acreditei que era minha mãe que comprava, mas não era. Na época ela trabalhava na contabilidade das lojas Mappin e tinha um amigo na repartição, um senhor já de idade, que adorava quadrinhos. Mas tinha vergonha de comprar e mais vergonha ainda de ser visto com gibis. Assim, ele comprava dizendo que era para o “filho da Amélia” e lia antes de enviar ao destinatário.
Era principalmente Disney e um ou outro Turma da Mônica. Ele pelo jeito adorava as histórias italianas da Disney, pois li muitas quando era criança – a ponto de conseguir identificar que aquelas eram diferentes das outras.
Uma curiosidade é que a revista que ele mais gostava era a humorística MAD, mas essa ele não mandava para mim, pois achava que não era leitura para crianças. Anos mais tarde eu conheci a revista comprando inicialmente em sebos e virei um fã. Lembro de mais de uma situação em que eu estava lendo em um local público, como ônibus, e passava pelo constrangimento de cair na gargalhada sob o olhar intrigado dos outros.
Muito tempo depois eu virei roteirista da MAD – e foi quando minha mãe me contou a história do benemérito que comprava gibis e me enviava quando eu era criança. Surgiu a ideia de tentar achá-lo e enviar uma MAD com roteiro meu autografada. Infelizmente, nossa busca nunca deu resultado e nunca pudemos enviar essa revista.
E fica a pergunta: será que ele imaginava que estava criando uma paixão que me levaria um dia a escrever a revista que ele mais gostava?

A Balsa da Medusa

 


A Balsa da Medusa, de Théodore Géricault, pintura de 1818,  é considerada por muitos como o marco inicial do romantismo nas artes plásticas. Ela retrata um fato real: o naufrágio da barcaça Medusa. O barco, que levava colonos para a África, afundara graças à inabilidade do capitão, que conseguira o cargo graças a indicações políticas.
Embora a Medusa transportasse 400 pessoas, incluindo 160 tripulantes, os barcos só tinham espaço para cerca de 250 pessoas. Os outros 146 homens e uma mulher, amontoaram-se numa jangada feita às pressas. Tinham para comer apenas um saco de biscoitos. Para beber, dois barris de água (que se perderam no mar depois de uma briga) seis barris de vinho. Foram 13 dias à deriva até serem encontrados por acaso por um navio francês que passava pela região. Para sobreviver, tiveram que recorrer até mesmo ao canibalismo. O quadro mostra o momento em que os sobreviventes avistam o barco que os resgataria.
A história na época gerou grande comoção na opinião pública francesa. Gericault pintou o tema com grande emoção e, embora retratasse pessoas normais, a imagem é épica (reforçada pela escolha de colocar a cena no meio de uma tempestade), duas das características do romatismo nas artes, além do tema social. Uma curiosidade: Delacroix, que viria a ser o grande nome do romantismo era amigo de Géricault e pousou para o amigo (é a figura caída em primeiro plano, com o braço estendido).

A margem negra

 

 

Em 1989 eu era estudante de comunicação na Universidade Federal do Pará e procurava material para um trabalho sobre história em quadrinhos. Iríamos apresentar um seminário sobre meios de comunicação e o professor responsabilizara meu grupo para falar sobre HQs. Isso seria impensável em qualquer época que não fosse o final dos anos 1980 e o início dos anos 1990. Antigamente por conta do enorme preconceito e atualmente porque os quadrinhos se tornaram um nicho, com baixas tiragens e vendas segmentadas. Mas na época todo mundo lia quadrinhos. Séries como V de Vingança eram lidas mensalmente e comentadas nos corredores da universidade da mesma forma como hoje se discute séries de grande impacto, como Guerra dos Tronos.

Todo mundo estava falando de quadrinhos, mas precisávamos de algo diferente para a apresentação. Foi quando alguém me disse que no bloco de Artes, ao lado do nosso, havia um rapaz, Bené Nascimento, que trabalhava profissionalmente como desenhista, publicando em editoras de São Paulo. Um paraense fazendo quadrinhos era a novidade das novidades na época e fiz questão de entrevistá-lo. A entrevista, que deveria durar meia-hora, durou a tarde inteira (e os dois perdendo aula, claro) e, no final, um convite de Bené: que tal fazer um fanzine de quadrinhos? Assim surgiu "Crash!", o primeiro fanzine paraense dedicado exclusivamente aos quadrinhos.

Estávamos na produção do segundo número quando Bené chegou com os originais de uma belíssima história, toda arte-finalizada com pincel. Desenhada no estilo Hall Foster (autor do Príncipe Valente) a HQ mostrava um cavaleiro medieval livrando uma floresta de um demônio.

- Gostou? - perguntou Bené.

- Claro.

- Quer colocar o texto?

Aceitei na hora. "Floresta Negra" foi o primeiro roteiro que escrevi, um caminho bastante curioso, já que não era de fato um roteiro. Foi também o primeiro roteiro publicado, na saudosa revista Calafrio.

A partir dali surgiu uma parceria que se estenderia por vários anos e mexeria com o jeito como se fazia quadrinhos de terror no Brasil.

O quadrinho de terror ganhou grande força no Brasil na década de 1960, quando os gibis da editora EC Comics foram proibidos nos EUA. As revistas que publicavam essas histórias tinham grande público aqui e não havia mais material inédito. A solução foi recorrer aos quadrinistas brasileiros e assim surgiu a era de ouro do terror nacional.

Mas a estrutura narrativa daquela época se tornou uma espécie de camisa de força para os artistas. Tirando alguns quadrinistas mais renomados mais renomados, como Mozart Couto, a maioria seguia os cânones do terror década de 60 que tinha inclusive algumas histórias básicas, como da pessoa má que apronta todas as malvadezas possíveis durante toda a HQ e no final os mortos voltam para se vingar. 


O quadrinho que fazíamos era bem diferente disso. Influenciados por séries como Sandman, Monstro do Pântano e Hellblazer (John Constantine) e autores como Alan Moore e Neil Gaiman, fazíamos um terror pesado. Bené caprichava nas vísceras e, da parte do roteiro, os personagens eram sempre perseguidos por traumas e pavores. Ou seja: era uma mistura de terror trash com horror psicológico. Em uma das histórias, por exemplo (uma adaptação do conto "O nariz", de Gógol), um personagem capaz de despertar os maiores medos das pessoas próximas entra num hospício e ocasiona um surto de pavores secretos.

Essa abordagem visceral inicialmente não agradou os editores da época. A história "Puritano", por exemplo, está até hoje inédita: foi recusada por todos os editores da época, talvez por envolver questões religiosas. Uma das histórias, "Noir", só foi publicada porque a assistente de edição levou o original para o dono da editora e insistiu que saísse na revista. 


Mas com o tempo fomos ganhando público. Uma editora chegou até mesmo a encomendar uma revista com histórias nossas e de quadrinistas que tinham um estilo semelhante. Levamos semanas para conseguir reunir o material para fazer uma boneca (para que não é do meio editorial, boneca é uma prévia de como irá ficar a revista). Não aconteceu por causa da incapacidade de Bené de dizer não: um primo o visitou e pediu a boneca emprestada, levou para casa e... perdeu no ônibus!

A maioria das revistas nas quais publicávamos eram vendidas ensacadas, o que nos criava um problema. Não havia o costume atual de indicar na capa as histórias e os autores, de modo que nunca sabíamos se a revista tinha história nossa ou não. Assim, tivemos a ideia de colocar uma margem negra nas páginas. Isso permitia pudéssemos perceber se havia histórias nossas sem nem mesmo abrir o volume. Inadvertidamente isso se tornou uma estratégia de marketing: os fãs da dupla passaram a também procurar as margens negras nas revistas. 

X-men – Tarde demais, heróis!

 


Para quem acompanhava as HQs dos mutantes à época da Saga da Fênix parecia que a história estava num constante crescendo em que uma edição superava a outra e tudo poderia acontecer. Tudo mesmo. Já tínhamos visto, por exemplo, Jean Grey se transformar na vilã Rainha Negra. Mas a edição 134 de The Uncanny X-men ia além ao mostrar a personagem se transformar no maior perigo já enfrentado pela galáxia: a Fênix Negra.

A capa, de autoria de John Byrne, emulava uma capa clássica da fase de Dave Cockrum (publicada em The Uncanny X-men 100), que mostrava o professor Xavier no meio, estimulando o confronto entre os X-men clássicos (à esquerda) e os novos X-men (à direita). Aqui temos a Rainha Negra ao centro, emoldurada pela fênix de fogo, com os X-men à esquerda e o círculo interno do Clube do Inferno à direita.

A capa da edição 134 é uma referência à clássica capa da edição 100 dos X-men. 


Na história anterior, Scott tentara entrar em contato com Jean Grey através do elo mental entre os dois. Mas o Mestre Mental o matara em um duelo de espadas, achando que assim, romperia definitivamente a ligação entre os dois. Mas o que aconteceu foi exatamente o oposto: o choque de ver seu amado sendo aparentemente morto fez com que ela se libertasse do domínio do vilão.

Essa mudança faz com que os heróis consigam derrotar o vilão, mas tem consequência grave: faz com que todas as travas criadas por Jean Grey desapareçam. O que emerge é uma deusa maligna de poder inconcebível.

A sequência em que a personagem se vinga do Mestre Mental – e começa a se transformar na Fênix Negra – é uma demonstração perfeita da sintonia da dupla Claremont – Byrne e como os personagens foram elevados a um nível de tridimensionalidade muito maior do que o esperado numa HQ de super-heróis. A personagem é vista encomberta pela sombra, aproximando-se do vilão, enquanto o texto diz: “Jean Grey está aterrorizada... mais do que jamais esteve em toda a sua vida... porque sabe o que havendo e não pode impedir”.

A história traz para a personagem Jean Grey um nível de aprofundamento poucas vezes nos quadrinhos de super-heróis. 


Mais à frente, no diálogo, a personagem diz: “Este aparelho lhe permitiu criar ilusões sob medida para minhas fantasias mais secretas... o lado sombrio e reprimido da minha alma”.

É interessante notar que o balão já muda aqui, transformando-se no balão irregular com a moldura preta que seria característico da Fênix Negra.

O surgimento da Fênix Negra é um dos momentos mais marcantes dos quadrinhos. 


Mas a sequência também deixa uma questão em aberto. O diálogo deixa a entender que o Mestre Mental despertou algo que já existia na personagem. Se for assim, a Fênix Negra não é uma entidade isolada, mas apenas a manifestação de poder de uma parte maligna da própria Jean Grey. Para quadrinhos de super-heróis essa era uma percepção muito complexa.

Em tempo: essa seria a última edição com o Clube do Inferno e Sebastian Shaw foge afirmando que voltará. Na época pensei: “Caramba, imagine que histórias incríveis vão sair disso”. Entretanto, os personagens nunca foram novamente tão bem aproveitados.