Publicada em 1988, pouco depois do Cavaleiro das Trevas, a minissérie em quatro capítulos Batman – O messias juntou dois dos maiores nomes da indústria dos quadrinhos, Jim Starlin (roteiros) e Berni Wrightson (desenhos), numa das histórias mais polêmicas e impactantes do personagem.
Na trama, vários bandidos de Gothan são assassinados e, ao
investigar o caso, Batman conclui que os assassinos vieram dos esgotos (vale
destacar aqui que Batman age como um detetive de verdade: ao invés de
simplesmente usar a intuição, como na maioria das histórias, ele analisa a cena
do crime). Ao investigar, ele é aprisionado, torturado, drogado e submetido a
uma lavagem cerebral por parte do Diácono Blackfire, um fanático religioso que
pretende purificar Gothan e, no processo, tomar conta da cidade.
Batman é torturado e submetido a uma lavagem cerebral.
A narrativa foge totalmente do convencional, ao misturar
delírios com flash backs. No tempo presente, Batman está amarrado e sendo
torturado.
A sombria sequência inicial é uma amostra do talento dos dois
artistas. Enquanto Bruce Wayne adentra numa mansão, o texto cria o clima sinistro:
“Algo gélido e infinito me espera. Meu espírito suplica para que eu fuja.
Entretanto, pra meu horror, eu abro a porta. Não consegui evitar. Compulsão”.
As telas de TV: influência de Cavaleiro das Trevas.
A influência de Cavaleiro das Trevas, publicada poucos anos
antes, é visível não só na abordagem densa, mas também na narrativa. Ali estão,
por exemplo, as telas de TV, com pessoas dando sua opinião sobre o Diácono ou
âncoras atualizando os expectadores sobre os acontecimentos. Aliás, uma
sequência inteira (da morte dos pais de Bruce Wayne) é reproduzida exatamente
como na obra de Frank Miller.
Mas Starlin e Wrightson não se limitam a imitar (com muita
competência) Miller. Eles também criam estratégias narrativas inovadoras, como
quadrinhos que se quebram como cacos de vidro ou a sequência em que Batman, num
delírio, é envolvido por espinhos e tem seu rosto fatiado.
A HQ tem soluções criativas para mostrar os delírios de Batman.
Os perigos do fanatismo religioso é um dos temas mais caros a
Jim Starlin, abordado em toda as suas obras autorais, de Warlock a Dreadstar,
então não é surpresa que o tema fizesse sua aparição em Batman. Starlin não só
cria uma metáfora sobre os perigos da religião como ainda destrincha, passo a
passo, o processo de lavagem cerebral que líderes religiosos utilizam para
fanatizar seus seguidores. É o tipo de obra que só seria possível nos
revolucionários anos 80, uma das épocas mais criativas dos quadrinhos de
super-heróis.
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