Pouco conhecido no Brasil, Donald E. Westlake é um dos mais importantes escritores policiais de todos os tempos. Seu grande diferencial era a capacidade de introduzir humor nas histórias, algo que pode ser perfeitamente observado no livro Deus salve o trouxa, publicado pela Artenova em 1972.
O protagonista e narrador da história é Fred Fritch, o
maior trouxa que jamais existiu. A grande habilidade de Fred é cair em qualquer
lorota que lhe contem. “Creio que tudo começou cerca de vinte e cinco anos
atrás, quando voltei para casa sem calças no meu primeiro dia no jardim de
infância”, conta o personagem “Daquele dia em diante minha vida tem sido uma
série interminável de descobertas tardias. Os trapaceiros botam o olho em mim, esfregam
as mãos e logo saem alegres a jantar um belo bife, enquanto o pobre Fred Fitch
fica sentado em casa e mais uma vez a jantar as unhas”.
O livro inicia, aliás, com as narrativas dos vários golpes
da qual ele é vítima. É o inquilino falso do vizinho que quer dinheiro para
pagar o frete de uma encomenda que não existe, é a compra de um pule
falsificado. Quando o protagonista compra um jornal, um policial o segue
alegando que ele passou uma nota falsa. Vistoriando sua carteira, descobre mais
várias notas falsas e as confisca para análise. Claro que é apenas um golpe.
Entretanto a vida desse herói azarado e crédulo vira de
cabeça para baixo quando ele recebe uma herança de um tio desconhecido. A
partir daí ele passa a ser alvo dos mais diversos trapaceiros. Destaque para o
vizinho tentando convencê-lo a investir em um livro sobre aviões na época de
Júlio César. “Eles usam metralhadoras?, pergunta fred. “Claro que não. A
pólvora só foi inventada muito tempo depois. Faço questão de manter a
fidelidade histórica!, responde o vizinho.
Mas não são só trapaceiros: alguém está querendo assassiná-lo.
O resultado dessa premissa inusitada é um livro divertido,
repleto de ação e com uma surpreendente reviravolta final, no melhor estilo das
melhores histórias policiais. Um final, aliás, que já está antecipado nas
primeiras páginas.
Eu comprei esse livro em 1996, mas só recentemente peguei
para lê-lo. Foi quando descobri que as páginas pulavam da 96 para a 129. Analisando
a lombada, percebi que não houve qualquer alteração na encadernação. O livro
tinha saído daquele jeito da gráfica e a editora, ao invés de descartar,
resolveu colocá-lo à venda. Pelo jeito,
o trouxa não é apenas o protagonista, mas também quem comprou essa edição
amputada. Poucas vezes um título fez tanto sentido. Em tempo: a leitura estava tão divertida que
eu continuei mesmo assim até o final.
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