Embora seja mais conhecido pela trilogia O senhor dos anéis,
Tolkien tem também uma ampla produção de livros de fantasia com histórias fechadas.
Exemplo disso é o volume Mestre Giles d´Aldeia, lançado no Brasil em uma
belíssima edição da Harperkids.
O livro conta a história de um pacato fazendeiro que sem
querer acaba se tornando um herói ao afugentar um gigante de suas terras. A narrativa
une fantasia com humor, como se pode ver na descrição do cachorro do
protagonista: “O nome dele era Ganido. Os cães deviam contentar-se com nomes
curtos da língua nacional: o latim dos livros era reservado para seus
superiores. Ganido não sabia falar nem mesmo um latim grosseiro, mas sabia usar
a língua dos plebeus tanto para ameaçar e contar vantagens como para bajular”.
A sequência do gigante é hilária. Giles enche seu bacamarte
de pedras e entulhos, mas quando vê o gigante fica tão assustado que, sem
querer, dispara a arma. Um prego vai parar no nariz do monstro, que, achando
que se trata de insetos gigantes, vai embora, não sem antes levar algumas
ovelhas para o jantar.
O episódio tem duas consequências. Primeiro transforma
Giles em um herói local a ponto dele receber do rei uma velha espada de
presente. Segundo, o gigante passa a espalhar a notícia de aquela região é rica
de vacas e ovelhas que podem ser comidos à vontade, o que leva um dragão a se
aventura pelo local.
Como herói local, Giles é obrigado a enfrentar a fera. O
primeiro diálogo entre os dois é de uma simplicidade e, ao mesmo tempo, de um
humor único:
- Desculpe a pergunta, mas você está procurando por mim? –
indaga o dragão.
Lá na frente, no segundo encontro entre o fazendeiro e o dragão,
será travado o mesmo diálogo, mas com sinal invertido, de modo que o
significado se torna oposto, o que mostra que Tolkien tinha pleno controle da
obra, planejando muito bem até mesmo os menores falas dos personagens.
No final, Mestre Giles d´Adeia se torna uma parábola sobre como
os poderosos usam os pobres a seu próprio benefício. É uma sutil, mas ferina
crítica social.
Não bastassem os méritos do próprio livro, a edição da Harperkids
é uma verdadeira preciosidade. Em formato 12 x 16 cm, capa dura, com fitilho, a
obra também traz as belíssimas ilustrações de Pauline Baynes, que mimetiza com perfeição
o estilo das iluminuras medievais. O único defeito é que, ao invés de colocar
as ilustrações no meio do livro, elas foram colocadas no final.
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