O número 29 do título do Capitão Marvel representou uma virada de página na vida do personagem e no Brasil provocou furor ao seu publicada na revista Heróis da TV 11, da editora Abril, em 1980.
Jim Starlin, o responsável por essa revolução, já vinha
trabalhando com o personagem antes, mas essa foi sua primeira oportunidade de cuidar
de tudo, desenhos e roteiro - e fez bonito, a começar pela página inicial, com
o personagem em primeiro plano, olhando assustado para uma figura monstruosa e
disforme que ocupa todo o fundo.
A página de abertura é memorável.
“Nós esperamos muitos anos por este encontro, Mar-vel. Oito
bilhões de anos para ser exato!”, diz a figura monstruosa. “É verdadeiramente
uma longa espera por aquilo para o qual fomos criados... a missão de nossa
vida... destruir Capitão Marvel, o guerreiro!”.
Esse início por si só já garante todo o interesse do leitor,
fisgado pela informação de que o personagem será destruído (mais à frente
descobrimos que a frase não pode ser levada ao pé da letra).
Starlin conta a origem de Titã.
O título, colocado na lateral, é outra grande sacada.
Começando com uma fonte certinha, de formas retas, a cada letra ele vai se
transformando em algo mais irregular, em perfeita sintonia com a palavra
metamorfose.
O ser chamado Eon conta uma história de milênios, com o
guerreiro deus urano sendo destronado por Chronos, a formação do planeta Titã e
o surgimento de Mentor, Eros e Thanos. Starlin faz aqui o que faz melhor:
contar grandes sagas cósmicas em um texto que resume séculos ou milênios de
acontecimentos.
A história ecoa um profundo discurso pacifista.
A sequência toda mistura odisséia cósmica, psicodelismo e
pacifismo: “O homem tem muitos motivos para a batalha, mas é possível acreditar
verdadeiramente que qualquer causa valha todo o sangue que a guerra derrama?”,
diz o texto.
Era Starlin, um legítimo representante da geração hippie,
colocando suas ideias e conceitos num quadrinho de super-heróis!!!
O Capitão Marvel adquire a consciência cósmica.
No final, descobrimos que a destruição do guerreiro capitão
Marvel prometida pela figura monstruosa era na verdade uma promessa de mudança.
O herói “morre” e renasce, abrindo caminho para a abordagem revolucionária de
Starlin no título.
Histórias como essas só seriam possíveis naqueles
improváveis anos 1970.
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