sábado, maio 17, 2025

Ministério

 


Os quadrinhos argentinos se destacam, entre outras coisas, pelas ótimas HQs de ficção científica. Não por acaso, a mais emblemática HQ argentina, O Eternauta, é uma trama de invasão extraterrestre. Solano López, desenhista de Eternauta, é artista de uma outra HQ digna de atenção: Ministério, com roteiro de Ricardo Barreiro.

Na HQ, após uma gerra nuclear, o vírus da AIDS sofre uma mutação, tornando-se extremamente agressivo. Para sobreviver, um grupo de empresários constrói, na Argentina, um edifício com centenas de andares totalmente livre da praga.

Cada andar é dedicado a uma função: há um andar de contadores, outro de telefonistas e assim em diante.

O edifício funciona como uma estrutura burocrática. 

É uma estrutura burocrática sem sentido, que funciona como uma empresa para um mundo em que não existe mercado, já que todas as pessoas fora do edifício estão mortas.

Então, por que as pessoas continuam trabalhando? Qual o objetivo do sistema burocrático?

Os dois autores são muito competentes ao deixar o leitor com essa dúvida e a explicação posterior, absurdamente aterrorizante, faz todo o sentido. Não vou dar spoiler, mas é possível dizer que toda a estrutura tem a única função de manter a vida e os privilégios dos grandes empresários que se refugiram no local.

Carlos é protagonista da história. 


O protagonista é Carlos, um office boy, apaixonado por uma telefonista, Susana. Os dois estão prestes a engatar um namoro quando a moça é vítima de uma intervenção  brutal: soldados da polícia (todos com a cara do Super-homem) invadem seu andar e sequestram todas moças, levando-as para os andares superiores, onde ficam os hierarquicamente superiores. Lá, algumas delas são usadas para remoçar os executivos enquanto outras servem como escravas sexuais.

É Carlos que irá empreender uma jornada de salvamento, que depois se torna uma jornada revolucionária, à medida que mais e mais fatos aterrorizantes são revelados.

É, portanto, uma boa trama e uma distopia original.

Garotas são sequestradas. 

Há trechos narrativos que, a meu ver, quebram o pacto de verossimilhança ao apresentar relatos explicativos, como em: “É possível que o leitor experiente considere improvável a rapidez com que os acontecimentos de desenrolam. A verdade é que os sequestros de jovens funcionárias se repetiam com cada vez mais frequência... se adicionarmos a isso a péssima e escassa comida, compreendemos que a reação do pessoal não é casual nem exagerada...”.

Apesar disso, os bons desenhos de Solano López e a originalidade da trama prendem a atenção leitor.

Algumas garotas são transformadas em escravas sexuais. 


A metáfora da obra é clara: à certa altura aparecem os ídolos do homem que governa o edifício: Hitler, Gengis-kahn, Ronald Reagan. Torna-se ainda mais clara no final, quando toda a narrativa se mostra uma metáfora da ditadura militar argentina.  Da mesma forma que em o Eternauta, a ficção científica é usada, aqui, para discutir temas políticos.

No Brasil essa história foi lançada pela Comix Zone.   

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