Os quadrinhos argentinos se destacam, entre outras coisas, pelas ótimas HQs de ficção científica. Não por acaso, a mais emblemática HQ argentina, O Eternauta, é uma trama de invasão extraterrestre. Solano López, desenhista de Eternauta, é artista de uma outra HQ digna de atenção: Ministério, com roteiro de Ricardo Barreiro.
Na HQ, após uma gerra nuclear, o vírus da
AIDS sofre uma mutação, tornando-se extremamente agressivo. Para sobreviver, um
grupo de empresários constrói, na Argentina, um edifício com centenas de
andares totalmente livre da praga.
Cada andar é dedicado a uma função: há um andar de contadores, outro de telefonistas e assim em diante.
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O edifício funciona como uma estrutura burocrática. |
Então, por que as pessoas continuam trabalhando? Qual o objetivo do sistema burocrático?
Os dois autores são muito competentes ao deixar o leitor com essa dúvida e a explicação posterior, absurdamente aterrorizante, faz todo o sentido. Não vou dar spoiler, mas é possível dizer que toda a estrutura tem a única função de manter a vida e os privilégios dos grandes empresários que se refugiram no local.
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Carlos é protagonista da história. |
O protagonista é Carlos, um office boy, apaixonado por uma telefonista, Susana. Os dois estão prestes a engatar um namoro quando a moça é vítima de uma intervenção brutal: soldados da polícia (todos com a cara do Super-homem) invadem seu andar e sequestram todas moças, levando-as para os andares superiores, onde ficam os hierarquicamente superiores. Lá, algumas delas são usadas para remoçar os executivos enquanto outras servem como escravas sexuais.
É Carlos que irá empreender uma jornada de salvamento, que depois se torna uma jornada revolucionária, à medida que mais e mais fatos aterrorizantes são revelados.
É, portanto, uma boa trama e uma distopia original.
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Garotas são sequestradas. |
Há trechos narrativos que, a meu ver, quebram o pacto de verossimilhança ao apresentar relatos explicativos, como em: “É possível que o leitor experiente considere improvável a rapidez com que os acontecimentos de desenrolam. A verdade é que os sequestros de jovens funcionárias se repetiam com cada vez mais frequência... se adicionarmos a isso a péssima e escassa comida, compreendemos que a reação do pessoal não é casual nem exagerada...”.
Apesar disso, os bons desenhos de Solano López e a originalidade da trama prendem a atenção leitor.
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Algumas garotas são transformadas em escravas sexuais. |
A metáfora da obra é clara: à certa altura
aparecem os ídolos do homem que governa o edifício: Hitler, Gengis-kahn, Ronald
Reagan. Torna-se ainda mais clara no final, quando toda a narrativa se mostra
uma metáfora da ditadura militar argentina.
Da mesma forma que em o Eternauta, a ficção científica é usada, aqui,
para discutir temas políticos.
No Brasil essa história foi lançada pela Comix
Zone.
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