terça-feira, dezembro 09, 2025
Roteiro para quadrinhos: Texto narrativo – texto redundante
Edgar Morin e a teoria da complexidade
Demolidor – Surge Elektra
No número 168 da revista do Demolidor, Frank Miller assume de vez os roteiros. Ele tinha assumido os desenhos do título apenas alguns números antes, mas sua narrativa revolucionária já mostrava que ele se tornaria o nome mais quente do mercado.
Assim que assumiu, Miller quis já imprimir sua assinatura no título, introduzindo uma personagem que se tornaria uma das mais badaladas da Marvel, a assassina Elektra.
Na trama, o Demolidor está atrás de um ladrão chamado Alarich Walllenquist, que testemunhou um assassinato e pode ser a única pessoa capaz de livrar da prisão uma pessoa inocente. Só que Elektra também está atrás do mesmo homem.
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| A primeira aparição de Elektra |
A história começa numa sequência antológica (eu me lembro até hoje quando a li em Superaventuras Marvel 6). Tucão está disfarçado de cego quando chega o Demolidor, perguntando informações sobre o homem desaparecido. Começa uma briga entre os dois que é quase um covardia, afinal estamos falando do Tucão, o eterno perdedor da série. Um falso mendigo tenta matar os dois com uma garrafa de nitroglicerina. O demolidor está interrogando esse segundo atacante quando surge Elektra.
Embora nessa primeira imagem não seja possível nem mesmo ver seu rosto, é uma cena impactante, com a anti-heroina agarrada a um cabo, numa atitude corporal que conota poder e grande capacidade física.
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| Miller revela forte influência de Will Eisner e Steve Ditko. |
Então, um flash back mostra como Elektra e Matt Mudock se conheceram. Os dois estudaram na mesma faculdade, ele um pobre rapaz e ela a filha de um diplomata. Há cenas de humor, em especial aquelas envolvendo o guarda-costas dela que parecem ter saído diretamente das páginas de Will Eisner. E há cenas de ação com forte influência de Steve Ditko (do qual ele copia também as páginas com muitos quadros). Miller une perfeitamente essas duas influências, misturando-as com novidades narrativas únicas, como a forma como é mostrado o radar.
Acresente a isso diálogos descolados (“Não vá embora ainda, Slaughter. Já falo com você... assim que tiver jogado fora o lixo!”, enquanto se livra de alguns capangas) e textos de ótima qualidade (“Ecoando pela via expressa da zona norte, sirenes da polícia, irremediavelmente atrasada, lamuriam-se... uma distante sirene de nevoeiro emite um longo e doloroso gemido... pois pela primeira vez, Elektra chora”).
A divulgação científica nos quadrinhos
A saga da Viúva Negra
A Viúva Negra é uma das personagens mais populares da Marvel no cinema. Entretanto, nos quadrinhos poucas vezes ela ganhou protagonismo. Uma dessas poucas vezes foi uma ótima minissérie em quatro partes publicada na revista Marvel Fanfare no ano de 1982.
Jornada nas estrelas – A caminho de Babel
DC Fontana é, sem sombra de dúvidas, uma das melhores roteiristas da série clássica de Jornada nas Estrelas. Prova disso é o episódio A caminho de Babel, da segunda temporada.
Na história, a Enterprise é designada para transportar
embaixadores de diversos locais para uma convenção onde será discutida a
entrada de um novo planeta na federação. O tema é polêmico e muitos
embaixadores são contra, tornando o clima tenso.
O embaixador de Vulcano é Sarek, ninguém menos que o pai de
Spock. Quando um embaixador com o qual ele havia discutido morre com um golpe
Vulcano, ele se torna o principal suspeito. A situação se complica ainda mais
quando Sarec cai doente e a única forma de salvá-lo parece ser uma cirurgia na
qual ele terá que receber sangue – e Spock é o único doador possível. Mas
quando o Capitão Kirk é ferido num atentado, Spock deve escolher entre assumir
o comando na nave num momento crítico ou salvar o pai.
Para piorar, uma nave desconhecida está seguindo a
Entreprise com objetivos desconhecidos.
O episódio se destaca não só pela trama muito bem
elaborada, com várias coisas acontecendo ao mesmo tempo e várias ameaças se
sobrepondo, mas também pelo bom desenvolvimento dos personagens, em especial
Spock e Sarek, que oscilam de admiração mútua a conflito.
Roberto Carlos - O divã
Muitas flores na janela
Minha mãe lá dentro dela
Me dizia num sorriso
Mas na lágrima um aviso
Pra que eu tivesse cuidado
Na partida pro futuro
Eu ainda era puro
Mas num beijo disse adeus.
eu estava seguro
Não tinha medo de nada
Não tinha medo de escuro
Não temia trovoada
Meus irmãos à minha volta
E meu pai sempre de volta
Trazia o suor no rosto
Nenhum dinheiro no bolso
Mas trazia esperança.
E na multidão um grito
O sangue no linho branco
A paz de quem carregava
Em seus braços quem chorava
E no céu ainda olhava
E encontrava esperança
De um dia tão distante
Pelo menos por instantes
encontrar a paz sonhada.
Essas recordações me matam
Essas recordações me matam
Por isso eu venho aqui.
Pra você que só escuta
Não entende a minha luta
Afinal, de que me queixo
São problemas superados
Mas o meu passado vive
Em tudo que eu faço agora
Ele está no meu presente
Mas eu apenas desabafo
Confusões da minha mente.
segunda-feira, dezembro 08, 2025
A jornada do escritor
Em 1949 Joseph Campbell publicou o livro O herói das mil faces no qual defendia que a maioria dos mitos mundiais são na verdade a mesma história recontada em variações ilimitadas. Anos depois Christopher Vogler sistematizou essa teoria em um dos mais importantes livros de roteiro de todos os tempos, A jornada do escritor.
Vogler argumenta que as histórias são verdadeiros mapas da psique, modelos precisos da mente humana, psicologicamente válidos e emocionalmente realistas mesmo quando retratam eventos fantásticos, impossíveis ou irreais.
Essas histórias, que normalmente tratam de transformação, apresentam a jornada de um herói com passos muito claros: o herói abandona seu ambiente confortável, aventurando-se em um mundo mágico, onde surge um conflito com forças antagônicas: “Em qualquer boa história, o herói cresce e se transforma, empreendendo uma jornada de um modo de ser para outro: do despero à esperança, da fraqueza à força, da tolice à sabedoria”, explica Vogler.
Esses passos da jornada foram sitematizados pelo escritor na seguinte sequência: o mundo comum, o chamado à aventura, a recusa do chamado, o encontro com o mentor, a travessia do primeiro limiar, as provas, aliados e inimigos, a aproximação da caverna secreta, a provação, a recompensa, o caminho de volta, a ressurreição e o retorno com o elixir.
O livro não só destrincha cada um desses passos, mas também analisa os personagens arquetípicos que aparecem nessas histórias, como o mentor, o pícaro, o guardião do limiar, o arauto, a sombra e o camaleão. Cada um desses é analisado não só com relação à sua função na história, mas também a sua função psicológica.
O mentor, por exemplo, é um personagem que ensina, protege o herói e lhe concede presentes. A origem do termo vem da Grécia antia. Na Odisséia, de Homero, Mentor era o guia do jovem Telêmaco em sua jornada. O mentor também tem a função narrativa de ser a consciência do herói, guiando-o por um código moral. Psicologicamente, mentores representam o self: “Como o Grilo Falante na versão da Disney de Pinóquio, o self age como uma consciência para orientar na estrada da vida quando não há Fada Azul ou gentil Gepeto para nos proteger e dizer o que é bom ou ruim”.
O livro de Vogler, por ter inaugurado a abordagem mitológica na construção de roteiros, é obra de leitura obrigatória. É uma obra também muito criticada por ter dado origem a uma receita para histórias, especialmente depois do sucesso de Guerra nas Estrelas, uma crítica pertinente, embora essa receita tenha surgido de uma leitura superficial da obra. No geral, Vogler parece mais interessado em discutir possibilidades do que em fechar padrões a serem seguidos rigidamente.
Há alguns aspectos problemáticos, no entanto: o livro poderia ser facilmente sintetizado sem perda de conteúdo – algumas vezes a mesma ideia é repetida várias vezes. Além disso, o autor tem uma verdadeira fixação pelo Mágico de Oz, e cita o filme em praticamente todos os itens e subitens. O mesmo pode ser dito a respeito do filme Tudo por uma esmeralda. Mas ignora obras que também são nitidamente calcadas na jornada do herói, como o desenho animado Caverna do Dragão.
Leo
Há obras que não parecem nada promissoras e nos surpreendem. Um exemplo disso é Leo, animação lançada pela Netflix e dirigida por Robert Smigel, David Wachtenheim e Robert Marianetti.
A premissa parece receita para dar sono. O personagem principal é uma iguana que vive em um aquário, ao lado de uma tartaruga, em uma sala de uma escola infantil norte-americana. Leo passou dos 70 anos e acredita que irá morrer em breve, razão pela qual pretende realizar um antigo sonho: conhecer a vida natural, a floresta. A oportunidade surge quando uma nova professora implementa uma tarefa para as crianças: levar um dos animais para casa durante a semana e cuidar dele.
Na primeira visita, a criança descobre que Leo consegue falar, mas ao invés disso se tornar um desastre, torna-se uma oportunidade: ao conversar com o réptil a criança consegue compreender a si mesma e recebe conselhos que a ajudarão no seu cotidiano.
A fórmula se repete diversas vezes: Leo é acolhido por uma criança e a ajuda em algum dificuldade ajudando-a a superar dificuldades.
A grande capacidade de Leo é saber ouvir e compreender, algo que parece faltar para todas as crianças, o que se reflete em comportamentos pouco saudáveis, como do menino que é acompanhado o tempo todo por um drone que deve “cuidar de sua segurança”, mas que o impede de manter relações sociais.
Leo tem pouquíssimas cenas de ação (e as as poucas são realmente é ótimas), sendo calcado principalmente na envolvente relação do protagonista com as crianças.
História medieval
A Idade Média é uma das épocas da história humana que geram maior interesse na maioria das pessoas. São incontáveis os filmes, quadrinhos, RPGs, filmes, seriados e desenhos animados que se passam nesse período. No entanto, apesar de todo o interesse, boa parte do que se sabe sobre o período na verdade são equívocos. Essa é a tese principal do livro História Medieval, de Marcelo Cândido da Silva.
O autor é doutor em história medieval pela Université Lumière Lyon 2 e professor titular da Universidade de São Paulo.
Marcelo afirma que nunca ouve um consenso sobre os marcos iniciais e finais da Idade Média. Alguns acreditam que esses eventos teriam sido marcados pela queda de Roma, em 476 e pela queda de Constantinopla, em 1453. Para outros, seria o edito de Milão, em 313 e a chegada dos espanhóis à América, em 1492.
Já a polêmica sobre as características do período são ainda maiores: “Até os anos 1980, muitos historiadores consideravam a Idade Média o resultado da decadência e da corrupção do legado antigo, da depressão econômica, sendo uma época marcada pela violência sem limites, por perseguições contra aqueles que ousavam desafiar o poder da Igreja, por guerras incessantes, pela penúria, pela fome e também pela peste. Um quadro desolador”. No entanto, descobertas arqueológicas e novas interpetações têm lançado uma nova luz sobre o período.
Marcelo começa o livro desmistificando a ideia de que os bárbaros tomaram Roma e provocaram o fim da idade antiga. Segundo ele, na grande maioria das vezes, os bárbaros foram assimilados à sociedade romana.
Aliás, a queda de Roma, com a deposição de Rômulo Augusto por Odoacro é um evento que teve pouca importância à época. A começar pelo fato de que o poder do imperador do ocidente se restringia apenas à Itália (o poder mesmo havia se transferido para Constantinopla). Além disso, Rômulo não era romano, pois provinha de uma família da Germânia. E Odoacro, embora tivesse origem bárbara, fez carreira no exército romano.
É errado também pensar que as cidades não se desenvolveram na Idade Média. Em alguns casos, houve inclusive interesse dos senhores em desenvolver as vilas em decorrência dos impostos que geravam. Além disso, as cidades permitiam o escoamento do excesso de produção agrícola: “Esses aglomerados urbanos possuíam uma relação de simbiose com o mundo rural que os cercava, e essa simbiose foi uma das condições que favoreceram seu desenvolvimento”.
Aliás, as cidades produziram um dos mais importantes fenômenos medievais: as universidades. Tais instituições tinham de tamanho status que gozavam de autonomia jurídica em face de poderes civis e eclesiásticos. Surgidas na efervescência intelectual gerada pela redescoberta de Aristóteles, as universidades atendiam às necessidadades de reis, príncipes e papas que precisavam de pessoal qualificado para a administração, além de produzirem estudos que davam sustentação teórica às reinvidicações de supremacia dos poderes civis e eclesiásticos. Numa época em que reis e papas lutavam por poder, essa base teórica era essencial.
Mas, se por um lado o livro de Marcelo Cândido da Silva dá uma nova luz sobre o período, por outro também reforça muito do que se sabia, inclusive a dominação da igreja católica no período. Uma curiosidade: na época a Igreja católica proibiu a adoção de criança e o casamento de viúvas. A razão? Pela lei, quando alguém morria sem descendentes, todos os seus bens ficavam para a igreja. O enriquecimento da igreja foi tal que acredita-se que no final do século VII um terço de todas as terras aráveis da França pertencia à igreja.
Seja desfazendo alguns mitos ou reforçando muito que já se sabe sobre a Idade Média, o livro é uma boa introdução aos que se interessam pelo período. De negativo, a linguagem mais acadêmica e as longas citações de documentos da época, que podem afastar leitores menos acostumados com essas características.
O desafio das capas
O desafio das capas é uma brincadeira entre fãs de quadrinhos no Facebook. Um desafia o outro a publicar as capas que mais o marcaram. Eu fui desafiado pelo amigo Dennis Oliveira. A ideia era publicar apenas imagens, mas imaginem se eu ia resistir a fazer alguns comentários. Abaixo as imagens e os textos que publiquei.
Essa eu nunca li, mas foi o primeiro gibi de heróis que vi, na vitrine de uma mercearia, único local que vendia quadrinhos na cidade onde eu morava, Mococa - SP. Lembro que ficamos todos olhando através da vitrine, impressionados com a capa, mas ninguém tinha dinheiro para comprar.Desafio das capas que mais me marcaram. Essa foi a primeira revista que comprei em banca. Não é nem de longe a melhor dessa série, mas adoro essa capa e foi aí que começou a saga da Fênix, uma das melhores HQs de heróis todos os tempos.
O primeiro número de Sandman teve um impacto muito grande, não só pelo texto de Gaiman, mas também pela capa incrível de Dave McKean. Nunca tinha visto nada parecido.





























