domingo, setembro 30, 2018

Patrícia Swzen, a pet humana



Vivemos em um mundo em que as pessoas acreditam em tudo que encontram nas redes sociais, sem a menor preocupação em pesquisar a validade da informação. Com isso histórias falsas circulam facilmente. Algumas são inocentes. Outras podem até matar, como nos casos de linchamentos provocados por boatos (já tivemos pelo menos três no Brasil).
Assim, quando precisei fazer um trabalho final para a disciplina Arte e novas tecnologias (ministrada por Edgar Franco na FAV-UFG), pensei em fazer uma obra que alertasse sobre os hoax na internet.
Usando como base o universo pós-humano criado por Edgar Franco, eu e José Loures criamos a história de Patrícia Swzen, uma moça catarinense que iria para a China passar por uma cirurgia que a transformaria em uma mistura de humana e animal (nós nunca deixamos claro, mas provavelmente ela seria uma mistura de humano com felino).
Criamos uma carta fake na qual Patrícia contava sua história e soltamos nas redes sociais. Além disso, enviamos essa carta para diversos veículos de imprensa.
Como imaginávamos que algumas pessoas poderiam ficar curiosas a ponto de procurarem pela personagem, criamos seu perfil no Facebook, como se ela fosse uma pessoa real (o perfil existe até hoje e recebe até mesmo felicitações de aniversário).
A história foi criada e espalhada em 2014 e logo se alastrou, com muitas pessoas acreditando na mesma - e chegou a ser destaque no podcast do Omelete.
Também chegamos a fazer um vídeo com uma narrativa visual apresentada em congresso de arte, a partir da história.
Quando estava no auge, revelamos a farsa. O recado era claro: desconfie de tudo que você ver nas redes sociais, sempre pesquise antes de compartilhar.
A página sobre a Pet Humana ainda existe e pode ser acessada aqui https://www.facebook.com/hqpethumana/
Em tempos: o uso de fakes não é novidade na arte. Vários outros artistas já usaram o recurso como forma de refletir sobre os mais variados assuntos, inclusive sobre a própria arte. Existe inclusive um filme de Orson Welles, F for Fake que aborda o tema.

Entrevista com Carla Camuratti - 1995


Procurando material para usar como exemplo com meus alunos de Redação Jornalística, encontro essa entrevista-perfil sobre a Carla Camuraiti que escrevi para o jornal Folha de Londrina em 1995 (na época em que a Folha de Londrina era o melhor jornal do Paraná). Entrevista jornalística não é só perguntas e respostas.

sábado, setembro 29, 2018

Como foi a reação à descoberta dos campos de concentração?


Os soldados aliados que libertaram os prisioneiros nos campos de concentração ficaram espantados com o que viram. Os norte-americanos que liberaram o campo de Dachau,  viram milhares de corpos de prisioneiros, que forravam os galpões e vagões de trens, numa cena de terror absoluto. Ficaram tão revoltados que executaram, a pauladas, pedradas e tiros, os 112 soldados alemães que faziam a guarda do centro.
Em Buchenwald as mulheres alemãs foram obrigadas a visitar o campo de concentração local. Elas cantavam e marchavam, com sorrisos no rosto. Ao verem o que realmente acontecia lá, e o monte de corpos espalhados pelo local, saíram chorando e em desespero, abaladas com o que estavam vendo.
Para muitos a libertação dos campos de concentração não representou necessariamente a salvação. Foi o que aconteceu com oito mil sobreviventes que estavam sendo resgatados pena baia de Neustadt. Os três navios que resgatavam os prisioneiros foram bombardeados, por engano, pelos aviões da Força Aérea Britânica. Foi o pior caso de fogo amigo da guerra.
Outros 11 milhões de pessoas, entre adultos e crianças,  terminaram a guerra como refugiados e aguardavam auxílio das forças aliadas para encontrarem um novo lar.

Como escrever quadrinhos



O livro Como escrever quadrinhos ensina os fundamentos básicos do roteiro a partir da experiência do premiado roteirista Gian Danton. Valor: 25 reais (frete incluso). Pedidos: profivancarlo@gmail.com.

A arte fantástica de Keith Parkinson

Keith Parkhinson começou a se interessar por fantasia ainda criança. Quando cresceu, virou um especialista em ilustrações de RPG. Ilustrou jogos como Forgotten RealmsDragonlanceGamma WorldGuardiansEverQuestMagic: The Gathering e Vanguard: Saga of Heroes. Também ilustrou livros e revistas.














sexta-feira, setembro 28, 2018

Receita de bolo de cenoura


Modo de preparo: 

1.            Em um liquidificador, adicione a cenoura, os ovos e o óleo, depois misture
2.            Acrescente o açúcar e bata novamente por 5 minutos
3.            Em uma tigela ou na batedeira, adicione a farinha de trigo e depois misture novamente
4.            Acrescente o fermento e misture lentamente com uma colher
5.            Asse em um forno preaquecido a 180° C por aproximadamente 40 minutos

Essa é uma receita muito boa, que todos deveriam conhecer. Para outras receitas, clique aqui

quinta-feira, setembro 27, 2018

Você sabia?

Charles Chaplin era considerado comunista por causa de filmes como Tempos Modernos e O grande ditador. Ele teve que fugir dos EUA na época do Marcatismo para não ser preso.

Homem aranha 23



Um autor que não costuma ser associado ao Homem-aranha é Denny O´Neil. No entanto, ele chegou a escrever o personagem no início da década de 1990. Uma dessas histórias, “Aranha ao mar”, foi publicada no Brasil em 1985 na revista Homem-aranha 23. O volume tem uma bela capa de John Romita Jr, desenhista da história. O Romitinha estava na fase anterior ao seu estilo atual (amado por muitos, odiado por outros). Na fase dessa história, ainda imitava o pai, Romita Senior. Na trama, o aracnídeo enfrenta Namor (daí a bela capa com os dois em conflito em um navio).
O problema da HQ é que o Aranha é um personagem urbano e o Namor, marítimo. Há uma história clássica do Demolidor, escrita por Stan Lee, em que o homem sem medo enfrenta o rei dos mares, mas este vai até Nova York. O´neil preferiu levar o aranha até alto-mar em uma solução para lá de forçada e pouco verossímil. A conclusão do conflito entre os dois também é apressada e pouco convincente. O mesmo para a história seguinte, em que surge o Homem hídrico. O Aranha vence-o com jornais e roupas! Considerando que O´Neil foi responsável por uma das melhores fases do Batman, parece que estava de má-vontade quando escreveu as histórias do amigo da vizinhança.

Uma grata surpresa é outra história, do volume, protagonizada pela Mulher Aranha, com roteiro de Chris Claremont e desenhos de Steve Leialoha na qual a personagem enfrente Agar, o gritador. O vilão tem a capacidade de provocar alucinações com seus gritos, o que nos lega as melhores páginas do volume. Embora seja pouco mais que competente nas cenas normais, o desenhista se solta nas sequencias de alucinação, com um desenho que flui pela página, rompendo os limites da diagramação. Há, claro, todo o novelão característico de Claremont, mas as sequencias de alunciação valem ler até o final. Fico imaginando se esse dom lisérgico fosse melhor aproveitado em uma série em que o desenhista pudesse usar todo o seu potencial. 

Hoje tem Rádio Pop!


quarta-feira, setembro 26, 2018

Quem foi Wilm Hosenfeld?


Quem assistiu ao filme O Pianista deve ter ficado intrigado com o oficial nazista que salva Wladislaw Szpilman, escondendo-o no sótão de uma casa e lhe levando comida. O nome desse oficial era Wilm Hosenfeld e cartas suas recentemente publicadas revelam que ele não só salvou o pianista, como outras pessoas, pois discordava do genocídio praticado pelos alemães.
Hosenfeld era um veterano da Primeira guerra Mundial, na qual lutou muito jovem. Como outros alemães, sentia-se ressentido com o Tratado de Versalhes e achou uma resposta para suas ansiedades no partido nazista. Alistou-se em 1939, tendo participado da invasão da Polônia, mas seu entusiasmo com o nazismo terminou no dia em que viu uma criança ser executada por ter roubado um pouco de feno.
Sua revolta era expressa em cartas à mulher. Em uma delas dizia: "Envergonho-me de fazer parte dos culpados por uma tragédia tão grande, sem poder auxiliar as vítimas" . Em outra afirmava: “Pode um alemão ainda mostrar-se ao mundo? É para isso que nossos soldados morrem na frente de batalha? A história não conhece nada igual. Talvez os arcaicos tenham praticado o canibalismo. Mas nós que conduzimos a cruzada contra o bolchevismo, como podemos abater homens, mulheres e crianças em pleno século XX? Seremos normais? A culpa é tão grande que nos faz afundar no chão de vergonha.Será que o demônio adotou forma de gente?”. 
Como forma de resistência, começou a esconder fugitivos, a fornecer comida e documentos falsos. Salvou tantos quanto pôde. Mesmo as cartas enviadas à família já seriam suficientes para condená-lo à morte, mas mesmo assim ele continuou praticando o bem até ser preso pelos russos.  Apesar dos apelos de muitas pessoas que tiveram sua vida salva por ele, Stalin não abrandou sua pena, condenando-o a 25 anos de trabalhos forçados, praticamente uma condenação à morte na União Soviética stalinista. Ele morreu em 1952, num campo de prisioneiros, aos 57. 

Sua vida demonstra que, mesmo para os que estavam diretamente envolvidos com o regime, havia como fazer algo para evitar o massacre de pessoas. 

A voz do fogo

Quem lia quadrinhos na década de 80 espantava-se com a capacidade narrativa do mestre inglês Alan Moore. E surgia sempre a dúvida: ele se sairia tão bem na literatura, sem o auxílio dos desenhos? A voz do fogo, seu livro recentemente lançado no Brasil pela Conrad Editora, prova que quem é bom, é bom em qualquer mídia.
A obra traça a trajetória de Northampton, a cidade natal de Moore, por meio de seus habitantes. A trama tem início quatro mil anos antes de cristo e prossegue até 1995. São vários contos interligados que nos dão um panorama geral da localidade e de sua evolução, mesclando magia, reencarnação e sacrifícios.
O primeiro conto, O porco do bruxo, é provavelmente o mais interessante e também o de leitura mais difícil. Gira em torno do drama de um garoto na Era Neolítica, abandonado pela tribo quando sua mãe morreu. Imagine, então, o desafio de redigir uma aventura em primeira pessoa cujo narrador ainda não domina a linguagem falada. Para tanto, Moore cria uma linguagem estranha, sem tempos verbais e com pouquíssimos pronomes. O resultado é fantástico, mas árduo.
Sinta só este exemplo: Agora olha eu para baixo, para a grama em fundo da colina, vê porcos. Porcos grandes, compridos, um atrás de outro, traçando a fêmea, pelo que parece. Ver faz um osso subir dentro de eu vontade. Eu e barriga de eu, junto, posso descer colina correndo até porcos, acertar pedra em um e fazer ele sem vida, para comer ele todo. Antes é eu juntando isso. Agora é fazendo isso.
O episódio que vem a seguir é igualmente interessante. Os campos de cremação é uma trama policial e de suspense ambientada no ano 2.500 antes de Cristo. Em viagem para conhecer seu pai, um bruxo de uma rica aldeia, uma jovem depara-se com uma esperta andarilha, que já havia feito de tudo, inclusive vender uma criança perdida da mãe como escrava. Ingenuamente, a menina conta-lhe detalhes da fortuna do seu genitor. A mau-caráter, então, mata a incauta e apresenta-se na aldeia, fazendo-se passar por ela. A grande questão é saber se a impostora será descoberta ou não. A todo instante, Alan Moore mantém-nos no fio da navalha, jogando com os nervos da personagem e os nossos.
Neste mesmo episódio, dá-se algo que define bem a atuação do autor. O velho bruxo tatua, no corpo, o mapa de Northampton e assim influencia a cidade, que, por sua vez, exerce influência sobre ele. O mesmo ocorre com Moore. Suas palavras são uma espécie de magia simbólica que molda e se deixa moldar pela cidade. Compreender como isso transcorre e descobrir as coincidências entre as diversas tramas é mais um dos atrativos do livro. Muitas vezes, a conclusão de uma narrativa dá-se apenas em outra. Além disso, há personagens fixas, como arquétipos, que surgem aqui e acolá, permeando os textos. Entalhando as palavras, Moore garante que, se o conteúdo mágico e holístico do livro não for suficiente para atrair o leitor, a poderosa narrativa cuidará de prender sua atenção até o último parágrafo. São, portanto, mais de trezentas páginas, mas que muito facilmente serão lidas num fôlego só.

O uivo da górgona


Um som se espalha pela cidade (ou pelo estado, ou pelo país, ou pelo mundo?). Um som que ouvido transforma as pessoas em seres irracionais cujo único o objetivo são os instintos básicos de violência e fome. É o uivo da Górgona.
Acompanhe a história dos sobreviventes neste livro de terror, uma história de zumbis diferente, em que qualquer um pode se transformar, bastando para isso ouvir o terrível uivo da górgona.
Escrito em capítulos curtos, o livro transforma o suspense em elemento de fantasia, prendendo o leitor da primeira à última página. 
Pedidos: profivancarlo@gmail.com. 

terça-feira, setembro 25, 2018

Hulk: um herói a cada dia



Publicada na revista Hulk 39 da edtora Abril, “Um herói a cada dia” é um ótimo exemplo das razões pela qual a dupla Bill Mantlo e Sal Buscema criaram a mais longeva e mais elogiada fase do gigante verde.  
A história se passa em um futuro apocalíptico em constante guerra em que pessoas têm como único objetivo matar e destruir. Um desses guerreiro é acertado por um raio gama e enviado ao passado, indo parar exatamente no laboratório onde Bruce Banner faz suas pesquisas e, claro, entra em conflito com o Hulk.
É o tipo de história que só poderia ser publicada na Marvel da Era de Bronze. Mais do que uma boa aventura, é um libelo pela paz e uma metáfora sobre como os soldados são doutrinados de forma a matarem sem nem mesmo saberem porque o fazem.
O “herói”  do título faz parte da crítica e tem sentido irônico.
O texto, mesmo resumido, guarda sua força “Na noite passada, o campo de batalha foi sua cama e os gases venenosos que pairam sobre ele foram seu corbertor. Para a café da manhã, uma injeção intravenosa de ração pré-programada. Ontem lutou com garra... hoje vai ter que ser melhor ainda, pois recebeu uma menção honrosa e foi declarado herói do dia (...) Um soldado apenas obedece ordens.

A leitura te transforma



Espiritismo e ciência

Apesar do espiritismo ser relativamente conhecido na sociedade brasileira, um aspecto seu é pouco dilvugado: a relação da doutrina espírita com a ciência. Ao contrário de outras religiões, que negam as descobertas científicas, o espiritismo sempre se valeu tanto das descobertas quanto de sua metodologia.
O fundador do espiritismo, Allan Kardec, era um educador famoso na época e influenciado por toda uma herança intelectual que vinha do iluminismo, em especial o filósofo francês Jean Jacques Rousseau, e tinha encontrado seu auge no positivismo de Augusto Conte.
Curioso, Kardec teve sua atenção despertada para o fenômeno das mesas girantes, sensação na época, em que mesas se elevavam no ar e respondiam às perguntas dos presentes com batidas no chão. Kardec analisou o fenômeno e percebeu que as respostas demonstravam inteligência e concluiu: “Se todo efeito tem uma causa, o efeito inteligente tem uma causa inteligente”. Portanto, as mesas girantes agiam sob orientação de espíritos inteligentes. A forma como demonstrou sua conclusão revela suas origens científicas. Desde os primeiros pesquisadores, a ciência tem procurado observar variáveis, identificando relações de causa e conseqüência.
Descartes dizia que a origem do conhecimento está na dúvida e Kardec vai aplicar essa máxima ao seu estudo e na estruturação da nova religião. Durante séculos, o conhecimento religioso foi visto como intocado, mas a ciência, segundo Kardec, havia saltado com pés juntos sobre os erros e preconceitos. “Neste século de emancipação intelectual e de liberdade de consciência, o direito e exame pertence a todo mundo, e as Escrituras não são mais a arca santa na qual ninguém ousa tocar os dedos sem o risco de ser fulminado”, escreveu ele no livro A Gênese. 

Em sua análise, Kardec usou o que pregavam os cientistas da época, o método indutivo: “Não (se) colocou como hipótese nem a existência e intervenção dos Espíritos, nem o perispírito, nem a reencarnação, nem nenhum dos princípios da Doutrina; concluiu(se) dos Espíritos quando essa existência se deduziu, com evidência, da observação dos fatos; e assim os outros princípios. Não foram os fatos que vieram confirmar a a teoria, mas a teoria que veio, subseqüentemente, explicar e resumir os fatos”, afirmou ele em A Gênese.
O método indutivo, em que se estuda vários casos singulares, para só então chegar a uma conclusão universal, foi posteriormente criticado por Karl Popper, mas na época de Kardec era o que havia de mais avançado no método científico. Tivesse vivido algumas décadas mais tarde, o criador do espiritismo provavelmente teoria usado o método hipotético-dedutivo de Popper, em que o cientista cria uma teoria e depois a testa em confronto com os fatos, procurando não confirmá-la, mas falseá-la.
Com o desenvolvimento da mediunidade, passou-se a estudar não só o fenômeno das mesas girantes, mas também a psicografia e os médiuns que incoporavam espíritos. Kardec levava, então, para as sessões, perguntas metodologicamente preparadas, com um encadeamento de assuntos. O resultado ele analisava, comparava, destacava as incoerências, e não simplesmente acreditava no que era dito. Nesse sentido, sua técnica lembra muito o primeiro princípio de Descartes segundo o qual não se deve aceitar como verdadeira uma coisa que não se conhecesse evidentemente como tal.
À indagação sobre o porquê da existência de encarnações sucessivas, a obra kardecista responde que o objetivo é a evolução espiritual. Depois de sucessivas encarnações, a alma iria avançando como uma criança que passa de uma série a outra na escola. A resposta tem sinais claros de influência da teoria da evolução de Charles Darwin. Enquanto a maioria das religiões da época combatiam ferozmente Darwin, Kardec o usava como referência para explicar sua doutrina. 

A importância das descobertas e métodos científicos para a nova doutrina ficam expostos no livro O Céu e o Inferno:“O que falta (à religião) neste século de positivismo, em que se procura compreender antes de crer é, sem dúvida, a sanção de suas doutrinas por fatos positivos, assim como a concordância das mesmas com os dados positivos da Ciência. Dizendo ela ser branco o que os fatos dizem ser negro, é preciso optar entre a evidência e a fé cega”.
Em oposição à fé cega, Kardec propõe aos adeptos do espiritismo a fé raciocinada, em que se deve sempre questionar, comparando a doutrina com os fatos e a lógica.

Se, no seu surgimento, o espiritismo bebe nas fontes do racionalismo cartesiano, do física newtoniana, do positivismo de Conte, nada impede que hoje ele beba em outras fontes, igualmente científicas, como a teoria do caos, a física quântica e a teoria da complexidade.

segunda-feira, setembro 24, 2018

Sebos

Sobre sebos, confesso que sou viciado neles. Como venho de uma família com pouco dinheiro, que pouco valor dava aos livros, só comecei a ler regularmente depois que descobri a biblioteca pública e os sebos com seus preços convidativos.

O primeiro sebo que descobri não era propriamente um sebo. Era um cambista do jogo do bicho, que vendia revistas usadas, no entroncamento, em Belém. Com ele comprei uma grande quantidade de revistas em quadrinhos Heróis da TV, que eu revendia a um colega de turma, colecionador, ganhando o suficiente para comprar minhas próprias revistas.

Algum tempo depois mudamos para a Cidade Nova, também em Belém e lá descobri um sebo que merecia o nome (inclusive em termos de sujeira), mas que tinha os melhores preços que já vi num estabelecimento do tipo. Nessa época percebi que tinha uma espécie de faro para descobrir sebos. Geralmente eles ficam perto de feiras ou de rodoviárias. Isso os sebos populares, pois os sebos mais “chiques” costumam ficar em casas antigas de bairros do centro.

Ao mudar para Curitiba tive contato com um novo tipo de sebo que não conhecia: o sebo organizado. Havia alguns que até tinham o catálogo em computador. Foi lá que vi uma cena que me pareceu surrealista: uma mulher chegar com uma lista de livros perguntando quais tinha. Pode ser prático, mas não tem o mesmo charme de procurar item a item nas prateleiras. O interessante nos sebos é a incrível capacidade deles nos surpreenderem. As livrarias são um espaço de ordem, de determinação. Uma ou duas visitas a uma livraria são o suficiente para entende-la, para saber o que ela tem. Um sebo não. Em um sebo bom, como o são os de Curitiba, é possível ir todos os dias durante todo um mês e, a cada dia, descobrir uma novidade, uma obra-prima escondida. Sem falar que os bons sebos costumam ter alta rotação. Sempre está chegando novidades.

Ir aos sebos para mim é tão relaxante que passei a considerar uma terapia, capaz de curar depressão, tristeza ou qualquer outro mal do espírito. Sempre que eu não estava bem, visitava um sebo e saía de lá feliz. Como é meio complicado visitar diariamente um sebo sem comprar nada, eu costumava comprar a cada dia uma ou duas obras. Havia uma ótima coleção sobre história do Brasil, com mais de 100 exemplares. Comprei um a um. Hoje sei que essa não é exatamente uma ótima estratégia, pois comprando muito é quase certo que haja desconto. Mas para mim, só o fato de estar ali, cercado de livros, já era para mim um prazer.

Jorge Luís Borges dizia que sempre imaginou que o paraíso fosse uma espécie de biblioteca. Para mim, o paraíso deve ser como um sebo. A biblioteca, embora seja cheia de livros, é um espaço de ordem e determinação. Os sebos, ao contrário, são informação em estado puro, pura indeterminação.

Quando mudei para Macapá, o que eu mais sentia falta era de um sebo. Vivia falando em ir embora. Só me aquietei quando começaram a surgir os primeiros sebos. Na feira do Buritizal surgiu um rapaz vendendo os mais variados tipos de revistas, incluindo vários exemplares antigos da revista Heróis da TV, justamente as que eu comprava para revender ao meu colega de escola, quando morava em Belém. Esse não durou muito, mas logo depois surgiu o sebo do Ramos, na rua Tiradentes. No começo era um espaço mínimo, com poucos livros, nenhum quadrinho, e muitas revistas Veja antigas. Cheguei a comprar algumas Veja, só para incentivar. 
O  Ramos nunca foi a um sebo e não sabia direito como o negócio funcionava. Um dia, quando ele já tinha mais variedade, alguém chegou para ele e disse que as revistas em quadrinhos podiam se tornar raridades e valor milhões. O que ele fez? Pegou os gibis que tinha em estoque e aumentou o valor para 10 vezes o de banca. Assim, uma revista do Batman, da abril, em formatinho, que na banca custava R$ 2,50, ele passou a vender a R$ 25,00. Claro, não apareceu nenhum colecionador interessado em comprar uma revista que ainda podia ser achada nas bancas, danificadas pelo selo com o preço, por um preço tão alto.

Os quadrinhos argentinos


A década de 40 foi marcada na Argentina pela dita­dura do presidente Perón. Influenciado pelo nacionalismo nazi-fascista, Perón resolveu acabar com a forte influência estrangeira dos quadrinhos em seu país proibido a importação de material americano. A proibição durou apenas alguns anos, mas foi o bastante para fortale­cer a HQ platina, crian­do uma das escolas mais fortes do mundo.
      Antes da proibição já existiam quadrinhos de sucesso, como o índio Patoruzú, criado por Dante Quinterno, em 1929. Mas foi a partir do governo Perón que a HQ platina teve um salto. Surgiram grandes publicações, como a “Ri­co Tipo’ “Intervalo’; e “Aventu­ra” que iriam alcançar a incrível marca de 165 mi­lhões de exemplares por ano - metade do que se lia num pais cuja capital tinha mais livrarias do que todo o Brasil.
Na Argentina não só as crianças, mas tam­bém os adultos foram conquistados pelos quadrinhos. O mercado se tornou tão forte que até mesmo roteiristas e de­senhistas europeus foram trabalhar na Argentina, como aconteceu com Hugo Pratt e René Goscinny, criador do Asterix.  
      Era a inversão: os qua­drinistas argentinos luta­vam de igual para igual com os seus concorren­tes estrangeiros.
      Um dos maiores responsáveis pelo sucesso da HQ Argentina foi o editor e roteirista Héctor Germán Oesterheld. Filho de uma argentina e um alemão, ele estudou se formou em geologia, mas abandonou a profissão para se dedicar aos roteiros de quadrinhos. Durante sua fase mais criativa ele era mais lido que Jorge Luís Borges, o mais famoso escritor argentino, que chegou a se declarar fã do roteirista.
      Seus roteiros se destacavam pelo conteúdo humano e pela crítica social. O Eternauta, sua obra-prima, conta a história da invasão de Buenos Aires por alienígenas durante um rigoroso inverno. Enquanto os invasores seguem dizimando a população, surge um homem, Juan Salvo, o Eternauta, que decide combatê-los. Acredita-se que os extraterrestres tenham sido inspirados nos militares argentinos, que alguns anos depois instalariam uma ditadura no país.
Oesterheld trabalhava em todos os gêneros, do faroeste à ficção científica e a fantasia, criando obras de grande significado. Seus roteiros e seu trabalho como editor transformaram a HQ Argentina em uma das melhores do mundo.
Entretanto, sua carreira terminou bruscamente na década de 1970, quando se instalou uma ditadura militar na Argentina. Oesterheld foi um dos primeiros a serem perseguidos. Ele e suas filhos acabaram sendo mortos. Da família, só sobrou a esposa do roteirista e um de seus netos.
Além de todos os crimes cometidos pelos militares, somou-se mais esse: dar sumiço a um dos homens mais talentosos já surgidos nos quadrinhos.

domingo, setembro 23, 2018

O ataque a Pearl harbour foi orientado por espiões?


O ataque japonês a Pearl harbour foi um dos momentos mais importantes da II Guerra Mundial, pois apressou a entrada dos EUA no conflito. Uma investigação efetuada pelo coronel norte-americano Franck Knox mostrou que muitos cidadãos de origem nipônicas, moradores de Honolulu, no Havaí, faziam espionagem para os japoneses e orientaram os ataques.
Uma prova disso é que os aviões atacaram preferencialmente os hangares cheios de aviões, ignorando completamente os que estavam vazios.
Aparentemente agricultores eram usados para espionar as intalações militares. Enquanto iam entregar verduras aos comissários de bordo dos navios de guerra, procuravam conhecer as unidades da esquadra norte-americana em Pearl Harbour.
Um japonês, preso por usar um transmissor de ondas curtas, durante o ataque a Pearl Harbour, era um negociante que durante 20 anos fora um frequente visitante do quartel de Schofield, posto militar do exército norte-americano.

Além disso, parece que os próprios norte-americanos treinaram alguns dos pilotos que os atacariam. Alguns dos japoneses abatidos tinam anéis de academias de aviação dos EUA.

Doctor Who


Doctor Who é uma premiada série de ficção científica britânica, produzida e transmitida pela BBC. A série mostra as aventuras de um humanoide alienígena conhecido apenas como "O Doutor". Ele explora o universo em sua máquina do tempo, conhecida como TARDIS, cuja aparência exterior se assemelha a uma cabine da polícia londrina de 1963  e é pequena por fora mas imensa por dentro.
O Doutor enfrenta uma variedade de inimigos, enquanto trabalha para salvar as civilizações, ajudar as pessoas comuns, e corrigir erros temporais .
O programa originalmente funcionou de 1963 a 1989. Houve um filme para TV em 1996 que foi um fracasso, mas a série voltou em 2005 e desde então tem sido um grande sucesso. Recentemente foi exibido em todo o mundo, ao mesmo tempo, o especial de 50 anos, o dia do doutor, batendo recordes de audiência.
Doze atores já atuaram na série como O Doutor. A transição de um ator para outro é escrito no enredo do show como a regeneração. Essa foi a solução encontrada para continuar a série com atores diferentes. 
Dr. Who se tornou famosa pelos roteiros inteligentes e pelo uso econômico de efeitos especiais, mostrando que a força da boa ficção científica está na história. 

A fantástica história do homem que não existia


Já está disponível para leitura, no site da FAV-UFG, a minha tese A fantástica história de Francisco Iwerten: hiper-realidade e simulacro nos quadrinhos do Capitão Gralha. O PDF pode ser baixado aqui.

Aulas de arco e flecha no I Aspas Norte

Mais uma atração do Aspas Norte! 
A Arqueria Quiron vai oferecer aula experimental de arco e flecha para os participantes do evento. 
Nesse primeiro contato o interessado aprenderá o basico para executar um tiro e se divertir de forma segura. 
A aula dura em média 1h. Serão ofertadas 4 vagas por turma. 
Saiba mais sobre a Arqueria Quiron: https://www.facebook.com/ArqueriaQuiron/

sábado, setembro 22, 2018

Perry Rhodan - 5 décadas de aventuras espaciais

A maior série de ficção científica do mundo. Trata-se de Perry Rhodan, uma space opera alemã que vem sendo publicada ininterruptamente desde 1961. No mundo todo já foram publicados mais de um bilhão de livros nas mais diversas línguas e há fã-clube espalhados por vários países, inclusive em alguns em que o personagem não é mais publicado. É um fenômeno poucas vezes observado na história da literatura de gênero. 

Perry Rhodan surgiu como uma reação à dominação norte-americana no campo da FC. No final da década de 1950, esse mercado era totalmente dominado por material vindo dos EUA e os alemães só conseguiam publicar sob pseudônimo. Foi quando dois autores, Karl-Herbert Scheer e Walter Ernsting (também conhecido pelo pseudônimo de Clark Darlton) apresentaram o projeto de um herói audaz à editora alemã Moewig, que topou publicar depois de algumas alterações. Para fazer a capa foi chamado Johnny Bruck, um dos mais famosos ilustradores alemães de ficção-científica. À equipe criativa juntaram-se mais dois escritores, Klaus Mahn (Kurt Mahr) e Winfried Scholz (que assinava W.W. Shols). Scher escreveu a sinopse dos 10 primeiros volumes e começaram a produzir. 




Para dar ideia de que a série era importada, o personagem principal era o astronauta americano Perry Rhodan. Em viagem à Lua, encontra uma nave de uma civilização super-desenvolvida, mas decadente, os arcônidas, e seus dois ocupantes. Voltando à Terra, ele usa a tecnologia alienígena para impedir uma guerra nuclear e funda a Terceira Potência, unindo a humanidade em torno de um ideal: a conquista do espaço.

Os autores acharam que a série ia fazer, no máximo, um sucesso relativo, e planejaram apenas 30 números. Mas Perry Rhodan vendeu tanto que os primeiros números foram rapidamente republicados e a série foi exportada outros países, inclusive no Brasil. Logo a quantidade de livros publicados era tão grande que ficou difícil explicar como uma pessoa normal vivia tantas aventuras. A solução foi tornar o protagonista praticamente imortal graças a um ativador celular (atualmente Perry Rhodan tem mais de 3 mil anos) e encher a trama de personagens secundários, muitos dos quais vivem aventuras solo. 


Para conseguir contar uma trama tão complexa e cheia de detalhes e personagens secundários, que abarca centenas de anos na história da humanidade, os autores desde o primeiro número fazem um planejamento detalhado. Um dos autores é nomeado líder e escreve um resumo de cada volume semanal por todo um ciclo (que pode durar 50 ou 100 livros). Esse resumo deverá ser seguido à risca pelo autor do volume. Assim, se uma nave parte com uma determinada tripulação em um volume, ela deverá ter a mesma tripulação no volume seguinte. Os livros também são revisados para encontrar incoerências. 

Muitos dos principais conceitos da FC e dos quadrinhos foram antecipados pela série. Os mutantes, por exemplo, já exibiam seus poderes em Perry Rhodan anos antes do surgimento dos X-men. Outra antecipação são os pós-bis, uma raça de robôs que pretendem destruir toda forma de vida orgânica, conceito muito semelhante aos borgs, vilões que surgiriam na série Jornada nas estrelas - nova geração, décadas depois. 

Apesar da enorme quantidade de livros publicados e de alguns escorregões, na média, os autores nunca deixaram cair a qualidade da série e houve momentos em que os livros chegavam a uma qualidade insuspeita para esse tipo de publicação. 



Exemplo disso é o número 50, O Pseudo, escrito por Clark Darlton. O livro é uma adaptação da peça O Inspetor Geral, do dramaturgo russo Nicolai Gógol. Gógol escreveu sua peça como uma crítica ao autoritarismo e à corrupção do Estado Czarista. Darlton atualizou a discussão, transpondo-a para um cenário futurista. 

Pelo menos um dos escritores é considerado um mestre da FC do porte de Isaac Assimov e Ray Bradbury: Willian Voltz. Dono de um estilo poético que lembra Bradbury, Voltz colocou humanismo e filosofia na série. O estilo Voltz ficou muito bem claro desde os primeiros livros desse autor na série. No volume 99, a história era pueril e maniqueísta: um dos arcônidas encontrados por Perry Rhodan na lua, Crest, vai para um planeta longínquo para passar os seus últimos dias, mas recebe a visita inconveniente de seres extraterrestres que querem se apoderar de sua nave, o ápice da tecnologia terrestre até então. Voltz transformou essa sinopse numa parábola sobre a amizade e a lealdade, recheada de poesia. 

Na fase em que liderou os escritores, a humanidade passou a questionar seu papel no universo, percebendo que a evolução espiritual era tão importante quanto a material. As histórias passaram a ser mais filosóficas e contemplativas, fugindo do militarismo da fase anterior. 

Os personagens, mesmo os vilões, começaram a questionar sua própria existência, fugindo do maniqueísmo. Nessa nova fase, mesmo os mais ferozes inimigos tinham motivos que justificavam sua suposta maldade. 



No Brasil a série foi publicada pela editora Tecnoprint S.A. a partir de 1975 e durou até o número 536. No início as histórias eram publicadas em formato livro de bolso pequeno, com borda branca. Posteriormente, o formato aumentou, com livros compridos e estreitos e a borda ficou preta. No início da década de oitenta, amparada por propagandas de TV, a série ganhou popularidade e as edições passaram a ser semanais. 

No início da década de 1990, a era Collor provocou uma crise sem precedentes no mercado editorial e o personagem não resistiu, deixando de ser publicado no número 536. 



Apesar de não ser mais publicada, a série continuou aglutinando fãs que se reuniam em torno de fanzines e tentavam articular a volta do personagem. Como o surgimento da internet, essa articulação foi para as redes sociais. Surgiu o Perry Rhodan Fã Clube do Brasil (PRFCB) e o fã-clube começou a negociar com grande editoras, ao mesmo tempo que organizava uma lista de possíveis assinantes. Embora essa lista aumentasse cada vez mais, nenhuma editora parecia se interessar. 

A solução surgiu de um fã, Rodrigo de Lelis, dono de uma pequena empresa de informática, a SSPG, voltada para a documentação eletrônica e editoração de publicações, que passou a publicar a série em volumes que incluíam duas histórias e vendidas através de assinaturas. 

Infelizmente a nova editora parou a publicação impressa, mas continua vendendo os e-books exemplares avulsos através do site do personagem.