sábado, novembro 30, 2019

Jornada nas estrelas – a licença


A licença é um dos episódios menos lembrados da primeira geração de Jornada nas Estrelas. Entretanto, é um dos exemplos de como a série criada por Gene Roddenbery podia abordar todo tipo de trama sem fugir do padrão de qualidade.
Na história, McCoy percebe que a tripulação da Enterprise apresenta sinais de stress e aconselha uma licença em um planeta paradisíaco. O local  não tem animais e nenhum tipo de perigo: apenas uma bela vegetação. Parece o planeta ideal para relaxar.
Entretanto, coisas estranhas começam a acontecer ao grupo de reconhecimento e, quando Kirk desce, o teletransporte deixa de funcionar, assim como as comunicações como a nave.
Os fatos bizarros se sucedem: magro vê o coelho e a garota de Alice no país das maravilhas, Sulu encontra um revólver, uma antiga namorada de Kirk surge do nada.
Emily Banks interpretou o par romântico de McCoy. 

Essa é a típica história em que o encanto está em tentar entender o que está acontecendo. É um episódio leve, com toques de humor e um bom contraponto ao tenso episódio anterior, O equilíbrio do terror.
O episódio dá a entender que há algum tipo de envolvimento amoroso entre McCoy e a ordença Barrows (interpretada pela linda Emily Banks), algo que provavelmente foi esquecido por outros escritores da série. Uma pena, já que o casal parecia ter química.

Darth Vader deseja a você um feliz Natal!


Como fazer bolo de cenoura


  • 1/2 xícara (chá) de óleo
  • 3 cenouras médias raladas
  • 4 ovos
  • 2 xícaras (chá) de açúcar
  • 2 e 1/2 xícaras (chá) de farinha de trigo
  • 1 colher (sopa) de fermento em pó

Agora que os os outros já foram, o tema real deste post: 

Eu mesmo já cansei de tirar dinheiro do bolso para realizar atividades com meus alunos: desde data-show próprio até xerox e livros de reportagens que compro e levo para emprestar para meus alunos de redação.

A arte estranha de Arcimboldo

Arcimboldo é, provavelmente, um dos mais criativos pintores de toda a história da arte. Seus retratos eram feitos a partir da junção de imagens: flores, verduras, frutas, raízes e até animais. Foi protegido do rei Fernando I, monarca do reino da Boêmia, e de seus sucessores. Na época, a Boêmia, embora fosse um reino católico, era um local bastante tolerante, o que permitiu que o pintor pudesse realizar sua arte repleta de dualidade e simbologias. Embora tenha sido ignorado após a sua morte e quase esquecido por séculos, Arcimboldo foi resgatado pelos surrealistas, que o consideravam uma forte influência. 








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sexta-feira, novembro 29, 2019

O Homem pássaro



Homem-pássaro foi um desenho animado criado pelo lendário Alex Toth para a Hanna-Barbera. Foi exibido entre 1967 e 1969 no canal NBC.
O personagem era um super-herói que combatia o crime a serviço de uma sociedade secreta, com ajuda de seu ajudante Birdboy e da ave Vingador.
O herói tinha os seguintes poderes:
Absorção solar espontânea: capacidade mágica de absorver energia solar e converter em vigor corporal, resistência física a danos físicos, gerar potentes raios de calor concentrado através das mãos e dedos, controlar a temperatura de um ambiente ou equipamento e produzir um “escudo” solar protetor de grande resistência contra ataques.
Voo: por possuir um par de asas é possível alçar grandes alturas e impulsionar-se através do ar em qualquer direção.
Regeneração ou fator de cura solar: capacidade de curar ferimentos e restaurar a própria saúde em alta velocidade desde que exposto à luz solar.
Capacidade de se comunicar com a ave Vingador.

Feliz Natal!!!


O troll


Beto Norberto era um troll. Seu reino era seu computador. Era através da internet que ele aterrorizava dezenas de pessoas. Gostava de pensar em si como alguém invencível, que provocava pânico por onde passava enquanto digitava freneticamente com seus dedos sujos de Doritos. 
Qualquer um poderia ser sua vítima. Especialmente aqueles que se achavam vencedores. Ah, bando de patifes, quando estavam mais seguros de suas conquistas, o grande Beto Norberto aparecia e mostrava o quanto eram pequenos, frágeis e insignificantes, para delírio da imensa legião de fãs, que aplaudiam de pé esse linchamento virtual.
 Quer dizer, legião de fãs era, claro, um exagero. Na verdade eram três fãs e Beto Norberto nunca os vira pessoalmente. Também é verdade que todos eles usavam Nicks estranhos, como “Comeu, morreu” e “O terror de Itanhanheim” e “Suja bundas” e nosso herói não sabia quais eram seus nomes verdadeiros.  Mas eles eram seus amigos, os melhores amigos que um homem como ele poderia ter. 
Eles certamente estariam ao seu lado naquele fatídico dia de 1985 em que acontecera o fato terrível que o colocara nessa situação. 
Todo herói havia passado por uma situação traumática que o levara em direção ao seu grande desafio: Batman perdera os pais, o mundo de Superman havia sido destruído e o Homem-aranha fora picado por uma aranha radioativa (ou geneticamente modificada, maldito Sam Raimi!). 
Ele também havia tido seu grande trauma. 
Beto Norberto estava na terceira série e se apaixonara pela menina mais bonita da escola. Era uma garota loira, de cabelos cacheados, com uma pele de pêssego, olhos azuis e uma infinidade de notas máximas no boletim. Ou seja: era a queridinha dos professores e o alvo dos olhares apaixonados de todos os rapazes da escola. 
O garoto imaginava-se como um cavaleiro andante, percorrendo as planícies com seu cavalo branco indo salvar sua princesa do dragão malvado. E foi assim que ele abriu caminho até ela, resoluto e imponente, heroico até... no horário do recreio. 
O garoto colocou-se aos seus pés, de joelhos, pegou-lhe a mão e pronunciou as palavras. Que palavras eram ele não se lembrava, mas deviam ser palavras lindas, de absoluto furor  romântico. 
A garota ouviu atentamente e até sorriu (e, diante daquele sorriso, Beto Norberto temeu que aparecesse um vilão e a sequestrasse, como o Duende Verde fizera com a Gwen Stacy). 
Quando terminou, seus lábios lindos e carnudos pronunciaram uma única frase: 
- Você já se olhou no espelho? 

Beto Norberto crispava os dedos e fazia pequenos grunhidos de ódio quando se lembrava da cena. Por vezes, tinha ímpetos de destruir o teclado e só não o fazia porque era o único que tinha e, se destruísse o computador, não teria como baixar todos os seriados que assistia. 
Ah, os seriados, ah, os filmes... depois dos gibis eram a felicidade de sua existência. Gostava especialmente daqueles inteligentes, como o filme em que quatro zumbis jogavam poker e quem ganhava comia o cérebro dos demais e depois ia para o banheiro vomitar, pois era um grupo de zumbis que sofria de bulimia. 
Mas, enquanto esperava seus filmes e seriados baixarem, ele percorria fóruns e redes sociais atacando com sua metralhadora de palavras. Como um cão perdigueiro, ele procurava sua vítima. Ele sentia prazer em destruir-lhes os castelos: era um mestre nisso. Lembrava-se como um troféu como criticara o texto de um garoto de 12 anos que acabara de publicar um fanfic muito elogiado. Nosso herói, sem nem mesmo ter lido o texto, mostrou que ele na verdade era um analfabeto que mal sabia digitar seu próprio nome. O guri deve ter saído de perto do computador chorando para se consolar com sua mãe! 
Que glória! 
Os amigos o parabenizaram! Com que maestria ele destruíra o texto do garoto, com que destreza ele transformara sua alegria em pura tristeza e choro. Ah, se existissem mais pessoas assim, diziam os amigos, ah se existissem! 
De fato, a argumentação de Beto Norberto era infalível. E, mesmo que não fosse, havia sempre a saída de mestre: bastava dizer que o trabalho do outro era uma merda. Não há argumentos contra isso!
Mas essa vida  de vitórias virtuais começava a incomodar. Beto Norberto achava que era o momento de passar para um ponto mais radical de sua carreira. Não bastava fazer alguém chorar, ou ofendê-la publicamente. Ele achou que só seria plenamente realizado no dia em que matasse um de seus desafetos.  E já havia um escolhido: o escritor José Augusto, um dos maiores sucessos dos últimos tempos. Nosso herói nunca lera um livro dele (Deus me livre, dizia ele, quero continuar com meu cérebro saudável), mas sabia que eram horríveis, especialmente pelo fato de que o escritor jamais se dignara a responder a suas ofensas, prova máxima de que se tratava de um desqualificado. 
Matá-lo seria um serviço à humanidade. 
Mas como? Beto Norberto sabia que teria que levantar a bunda gorda da cadeira e fazer aquilo que qualquer herói da envergadura dele faria: 
- Mãe, me empresta dinheiro? 
A mãe, que assistia à novela da tarde comendo um saco de salgadinhos que pareciam mais gostosos a cada segundo, levantou os olhos, desconfiada: 
- Emprestar dinheiro?! Quanto você quer? 
- É pouco, mãe, só dois mil reais!  
- Pra que você quer dois  mil reais, seu imprestável?
Vamos, pense rápido, todos os grandes heróis têm raciocínio rápido!  
- É que eu preciso... 
Pense, pense homem! Onde está toda a inteligência que arrebata uma legião de fãs? 
- Eu preciso comprar uma Coca-cola! 
A mãe olhou-o, desconfiada. 
- Uma Coca-cola, por dois mil reais? 
- É uma Coca-cola beeem grande... 
A mãe piscou três vezes, ainda desconfiada. 
- Uma Coca-cola por dois mil reais? 
Beto Norberto soltou seu melhor sorriso: 
- É que vem com um brinde! 
Houve um minuto de silêncio, contado no relógio. 
- Está bem. Pegue a minha bolsa. Era o dinheiro que eu estava economizando para comprar uma máquina de lavar nova... 
Uma máquina de lavar! O que era uma máquina de lavar nova diante da glória de ter um filho assassino? Beto Norberto já se imaginava o crime em todos os jornais. E, mesmo que o pegassem, ainda assim valeria a pena. Pensando bem, talvez fosse até melhor que o pegassem, todo grande escritor já tinha sido preso. Ia ser famoso e escrever suas memórias.  Sucesso, aí vou eu! 
Agora restava escolher a arma. Beto Norberto tinha um conhecido que vendia drogas e  armas, e era o seu fornecedor oficial de jujubas.
Ele encomendou um rifle de alta precisão, com mira telescópica, mas tudo que o traficante tinha por dois mil pilas era uma espingarda velha. Tanto faz, pensou nosso herói. Afinal, ele era um exímio atirador em todos os jogos de computador que conhecia. O que importa é o atirador, e não a arma, não é mesmo? 
Basta procurar um local alto, apontar e atirar. Não tem erro. 
Beto Norberto passou a seguir os passos do escritor, o que não foi um trabalho fácil, com seus 120 quilos. Ele descobriu que José Augusto fazia caminhada de manhã e passava sempre pela mesma praça. Ao lado, havia um prédio abandonado, com saída para uma rua lateral. Era o local perfeito para atirar. 
No dia escolhido, nosso herói se postou na sacada de um dos apartamentos, apontou a espingarda e esperou.

Seu coração bateu mais forte quando o escritor veio correndo.  Ao mesmo tempo, um rapaz veio na direção dele, talvez um fã pedindo um autógrafo. Era agora ou nunca. Beto Norberto atirou e saiu correndo. Foi bamboleando pela escada e pela rua. Chegou em casa esbaforido e ligou a TV, esperando a notícia. Quase desmaiou de emoção quando ouviu o plantão do Jornal Nacional. 
A principal notícia era a de que um dos escritores mais famosos do país havia sofrido uma tentativa de assalto. De alguma forma, o assaltante havia sido morto. 
“Não entendi nada”, disse o escritor. “Ele se aproximou com a arma, anunciou o assalto e depois caiu no chão, morto”. 
Segundo a jornalista, a polícia estava investigando a possibilidade do assaltante ter atirado em si mesmo. 
Beto Norberto desligou a TV, indignado. Só não quebrou o aparelho porque certamente a mãe ia brigar. 
Havia errado o tiro! Pior: matara o homem que talvez fosse matar seu desafeto.  Pior ainda: a polícia e a imprensa haviam ignorado completamente o fato de que o escritor sofrera um atentado! 
Era necessário tomar medidas drásticas! 
Beto Norberto procurou mais uma vez o traficante de jujubas e trocou a espingarda por uma bomba.  Dessa vez ia matar não só o escritor, mas uma grande quantidade de seus fãs, pois gente assim não merece viver. 
Já tinha tudo planejado. Na mesma semana o famoso escritor faria uma noite de autógrafos em uma livraria próxima (o fato de ser próxima foi particularmente tentador, já que Beto Norberto não precisaria correr tanto quanto da outra vez). Basta ir lá, instalar a bomba abaixo da mesa onde ficaria o escritor e assistir pela TV o artefato explodindo. Perfeito!
No dia do lançamento ele foi até a loja mais cedo e ficou lá, esperando os funcionários terminarem os preparativos para a noite de autógrafos. Queria ter certeza de colocar a bomba no lugar certo. De vez em quando olhava no casaco e vislumbrava a bomba e o relógio preso a ela. Faltava pouco para se tornar famoso. 
Quando se sentiu seguro, tirou a bomba do bolso e abaixou-se para prender a bomba. Para isso, era necessário ajustar o relógio e retirar o plástico que cobria o adesivo. Quando fez isso, percebeu que a mão ficara presa à bomba. Talvez fosse uma reação à gordura do Doritos, mas o fato é que nem com os maiores esforços ele conseguia desgrudá-la. 
Pior: o relógio travara e a bomba iria explodir em minutos! 
Beto Norberto levantou-se, sacudindo as mãos e saiu correndo na direção da saída, derrubando clientes e estantes no caminho. Os segundos iam tiquetaqueando em sua mão, enquanto ele corria resfolegando pelos corredores do shopping. Finalmente achou o banheiro e enfiou a mão dentro de uma privada. Achou que isso iria parar o processo, mas estava errado. O relógio era à prova de água! Felizmente o líquido da privada ajudou a desgrudar sua mão. 
Beto Norberto saiu do banheiro sem lavar a mão. Já estava longe quando ouviu um estrondo. 
Na mesma noite uma das matérias falava de um gordo que fizera uma brincadeira explodindo um vaso sanitário no banheiro de um shopping. As imagens de segurança o mostravam saindo do banheiro com as calças molhadas. 
Era o cúmulo da humilhação. Além de não ter conseguido o que queria, Beto Norberto ainda havia sido filmado depois de ter urinado na própria calça! 
Só restava a saída honrada do suicídio. Pelo menos isso ele aprendera com os milhares de mangás que baixara pelo Torrent. Mas todos deveriam saber que o  escritor era o culpado. Ele aparecia no jornal doando dinheiro para instituições de caridade, fazendo visitas a asilos e creches. Todos o idolatravam, mas ninguém sabia a víbora que se escondia por trás daquela fantasia de bom moço. 
Beto Norberto escolheu um prédio abandonado em um local movimentado da cidade e subiu o máximo que pôde (enquanto ele subia, pensava em como era fácil arranjar prédios abandonados naquela cidade). 
Foi até a sacada, começou a gritar que ia se matar e esperou os repórteres. Acontece que nesse mesmo dia, no mesmo horário, estava ocorrendo um incêndio em um prédio na outra parte da cidade e todos os jornalistas estavam lá, fazendo a cobertura. 
Uma das redações de jornais chegou a receber uma ligação de alguém avisando sobre a tentativa de suicídio, mas o editor descartou logo: “Nosso único repórter livre está tentando descobrir onde está o babaca que explodiu o banheiro do shopping!”. 
Dessa forma, como não havia imprensa e como o gordo nunca se decidia a pular, a população foi perdendo o interesse. No final, ficou só uma velhinha. Surda. 
- Meu filho, por que você quer pular? 
- Quero mostrar que esse tal de José Augusto é um cretino. 
- Você não precisa pular daí para mostrar que é um cretino, meu filho. – respondeu a velhinha, desviando o olhar do tricô. 
- Não, Eu não disse nada disso, sua velha idiota. – gritou ele. 
- Também não é preciso pular para mostrar que é idiota. – sugeriu a velhinha. 
Era demais! A gota d´água! Beto Norberto sentiu que tinha chegado a hora de matar uma pessoa. Pouco importava que a velhinha fosse uma desconhecida. Alguma publicidade é melhor do que nenhuma...  ele ia descer lá, agarrar o pescoço da velhinha e apertar até que ela largasse aquele maldito tricô.... e depois ia apertar mais. 
Quando se levantou, alguma coisa estranha aconteceu. O parapeito pareceu escorregadio – ou talvez fosse sua mão, suada com o calor. Ele tentou se segurar, mas os pés também escorregavam. Por fim caiu. 
Acordou no quarto de um hospital com sua mãe ao lado, chorando e enxugando as lágrimas com um lenço sujo. 
- Oh, meu filho, fiquei tão preocupada! Que susto... Não, não fale, meu filho. O médico disse que você não deve falar por um bom tempo. Ele disse também que o fato de você ter subido só até o segundo andar ajudou. Além disso, a gordura ajudou a diminuir o impacto da queda. Ah, eu sabia que o mingau de Mucilon que eu te dava quando era criança um dia ainda salvar a sua vida! Fiquei tão feliz que comprei um presente para o meu garoto predileto... 
Disse isso e pegou um pacote de presente. Como o filho estava com os braços quebrados, ela mesma abriu. 
- Enquanto você estava desacordado, falava o tempo todo em um tal de José Augusto. Fiquei tão curiosa  que resolvi pesquisar e descobri que esse José Augusto é um escritor famoso.  Já que você gosta tanto, comprei toda a obra dele e vou ler todos os livros para você...  até o meu menino ficar bom. 
Beto Norberto queria estar morto. Ou matar alguém. 

Hinduísmo: 330 milhões de Deuses em uma das mais antigas religiões do mundo



            O hinduísmo é uma religião com 900 milhões de fieis. É uma religião sem fundador, credo fixo ou uma organização oficial, como ocorre no catolicismo. Também é chamada de monoteísta, embora tenha 330 milhões de deuses.
            A palavra hinduísta significa simplesmente indiano. Isso nos ajuda a compreender um pouco dessa religião: trata-se de uma designação genérica para várias formas religiosas que surgiram na Índia e que foram, pouco a pouco, sendo agregadas em torno de um credo.
            Acredita-se que os primeiros a chegarem à região tenham sido os drávidas, por volta de 2.700 a.C. Eles construíram uma das primeiras civilizações do mundo antigo, maior que do Egito e da Mesopotâmia juntas. Era uma sociedade urbana, mercantil e agrícola, dirigida por sacerdotes. Arqueólogos encontraram figuras em barro representando uma deusa feminina, Kali e uma masculina de três faces, Shiva.
            Essa civilização entrou em declínio com o início das invasões arianas, entre 1.500 e 800 a.C.  Eles vinham da Ásia Central, eram altos e tinham pele clara, sendo antepassados dos gregos, celtas e latinos. Acabaram dominando os habitantes locais, de pele escura, criando a civilização védica.
            Seus integrantes tinham o costume de recitar hinos com histórias de deuses. Em torno de 1.200 a.C. essas histórias começaram a ser copiladas pelos brâmanes, que aproveitaram para unir essas crenças às já existentes na região. Desse caldeirão surgiram os Vedas, a mais antiga e mais extensa coleção de textos sagrados do mundo.

Castas
            Os Vedas estabeleciam a forma de organização da sociedade através do sistema de castas. O livro conta que os deuses criaram o mundo através do sacrifício do gigante Purusha (uma das formas do deus Brahma). Seu corpo foi desmembrado e dos pés surgiram os trabalhadores braçais, os shadras. Dos braços foram criados a nobreza e os guerreiros, os Kshatriya. Da boca, surgiram os brâmanes, santos e sábios, aos quais todas as outras castas devem obediência.
            O sistema de castas determinava a profissão da pessoa, o que podia comer e  e com quem podia se casar.
            A explicação para isso era puramente religiosa. Acreditava-se que quem nascia em uma classe alta é porque, em vida anterior havia feito boas ações e por isso ganhava uma nova encarnação afortunada como prêmio. Por outro lado, quem havia sido mal, podia nascer em uma classe menos favorecida, como animal ou, pior, como pária.
            Os párias são aqueles que não se encaixam em nenhuma casta. Chamados de dalits, são descendentes de pessoas que violaram o código de suas casta. São considerados impuros e não se pode tocar neles, sob o risco de tornar-se também impuro, razão de serem também chamados de intocáveis. Eles recolhem o lixo, enterram defuntos e entram em esgotos para limpá-los retirando os dejetos com as mãos. Não podiam comprar roupas e tinham que roubá-las dos cadáveres. Suas casas eram construídas de coisas retiradas do lixo.

A vaca

            Uma das características fundamentais da religião hindu é o respeito pela vaca. Esse animal é considerado mais puro que os brâmanes. Uma pessoa que toca uma vaca está ritualmente limpa. Até mesmo os excrementos e a urina dela são considerados sagrados e podem ser usados para purificação.
            Assim, os animais andam pelas ruas livremente, sem serem incomodados e recebendo alimento da população.
            A vaca é adorada em diversas festas religiosas. Nos Vedas há hinos à vaca, pois ela supre tudo que é necessário à vida, especialmente com leite, muito usado na culinária indiana.
            Uma das explicações para esse relacionamento com as vacas está no deus Krishna, que era um pastor e adorava esses animais. Como Krishna é um dos deuses mais famosos do panteão indiano, acredita-se que o amor dele pelas vacas influenciou toda a sociedade.

Brahman

            Embora a Índia tenha cerca de 330 milhões de deuses, o hinduísmo é considerado uma religião monoteísta por conta do conceito de Brahman.  Brahman seria o supremo, que se manifestou no mundo de diversas formas, gerando inúmeros deuses. Os principais formariam uma trindade, composta por Vishnu, Brahma  (não confundir com Brahman) e Shiva. Essas divindades, por sua vez, se manifestavam no mundo através de seus avatares.
            Brahman não é um ser pessoal, mas uma força, uma energia que está em tudo: pedras, animais, homens, plantas. Ele seria formado por Shiva, Brahma e Vishnu.                         
            Essa trindade foi uma forma de tentar unificar as várias religiões, que já existiam na região quando os Vedas foram escritos, e tem impacto apenas sobre as classes intelectualizadas, tendo pouca importância para o povão, que prefere adorar aos deuses menores.

Reencarnação

            Uma das bases da religião indiana é a crença na reencarnação: depois da morte, o espírito renasce em outro corpo. A reencarnação é regida pelo karma. O karma estabelece uma relação de causa e conseqüência: para todos os atos, tem-se conseqüências em outras vidas. Trata-se de uma lei natural: da mesma forma como o fogo provoca a fumaça, boas ações trazem um bom karma e ações maldosas trazem um karma ruim.
            Durante séculos, o karma foi visto como algo positivo e as pessoas se esforçavam para acumular um bom karma através de boas ações e sacrifícios aos deuses. Com o tempo, no entanto, o entendimento mudou e o karma passou a ser visto como um círculo vicioso e ilusório que deveria ser quebrado para se conseguir finalmente a salvação.

Três vias

            Segundo a religião hindu existem três vias para superar o karma, alcançando finalmente a graça.
            A primeira via é a do sacrifício. Oferecer flores, frutas e verduras aos deuses seria uma forma de superar o karma. Infelizmente, boa parte da população vê esses sacrifícios como uma forma de conseguir felicidade terrena, saúde e riqueza, o que acabaria trazendo-lhes mais karma.
            A segunda via é a do conhecimento. Segundo essa perspectiva, é a ignorância que prende o homem nas amarras da reencarnação. Assim, compreender a verdade da existência seria a melhor forma de quebrar esse círculo vicioso.
            O grande segredo é que a alma humana (atmã) e o mundo espiritual (Brahman) são uno. Assim, todas as almas individuais são reflexos de um único ser universal e têm uma centelha divina. O homem se liberta do ciclo de karma ao unir sua alma ao supremo como uma gota de água que se junta ao mar.
            A terceira via é a da devoção. Ela vai se tornar importante a partir dos ensinamentos de Krishna, um dos avatares de Vishnu. Krishna ensinou que a atitude mental é uma fonte karmica. Ao realizar uma boa ação, a pessoa quer uma recompensa por ela. Queira ou não, irá renascer para receber os resultados dessa ação. A solução para acabar com o ciclo era continuar fazendo as coisas normalmente, mas abdicar do fruto de todas as ações oferecendo-as a Deus. Essa atitude de renúncia criaria um estado mental e espiritual que permitiria ao devoto escapar do círculo vicioso das reencarnações.
            Essa filosofia, chamada de bhakti ioga e expressa no livro Bhagavad Gita permitiu uma associação mais pessoal com Deus estabelecendo uma relação de amor e devoção.
            Algo revolucionário na doutrina trazida por Krishna é que qualquer pessoa, independente de sexo ou casta, poderia devotar suas ações à divindade, alcançando assim a graça. Bastaria adotar a filosofia de renúncia aos frutos da ação.
            Na bhakti ioga o devoto oferece a Deus até o alimento que come, de forma simbólica. Nesse simbolismo, sua alimentação é feita das sobras do que foi ofertado à divindade.

Cultos
            Quase todas as aldeias indianas têm sua própria divindade, mas a grande maioria idolatra Vishnu através de seus avatares mais famosos, Krishna e Rama.
            Em cada casa há um cômodo especial para ser usado nos cultos, com estampas e esculturas representando um ou mais deuses. Normalmente o culto consiste na recitação de textos sagrados, na meditação e sacrifícios (normalmente de água, flores, frutas ou verduras). Antes do culto, a pessoa deve se purificar tomando banho.
            Nos rituais, tanto nos templos quanto caseiros, acontece a veneração aos deuses, tratados como convidados especiais. Os deuses são lavados, perfumados, ornados com flores, enfeitados com o cordão sagrado. Incensos são acesos para alegrá-los. Depois disso, normalmente são colocados diante deles alimentos, que depois são divididos pelas pessoas da casa (a prasadam). O ritual pode ter até 108 passos, mas a versão resumida inclui apenas cinco: unção, oferenda de flores, incenso, lâmpadas a óleo e alimentos.
            Durante os cultos é comum cantar mantras, as palavras sagradas. Os indianos acreditam que através do som é possível experimentar o poder divino, entrando em sintonia com a divindade. O mantra mais famoso é “aum”, emblema de Brahman.
            Outro mantra muito famoso é o hare krishna, usado na ioga da devoção:
Hare Krishna
Hare Krishna
Krishna Krishna
Hare Hare
Hare Rama
Hare Rama
Rama Rama
Hare Hare
            Também são usados nos rituais as mandalas, formas geométricas que auxiliam na meditação.

Os deuses indianos

            Conheça  alguns desses deuses mais populares:

            Brahma é o deus da criação. Conta a lenda que ele foi criado por Brahman, que depositou uma semente sobre as águas cósmicas. Dessa semente surgiu um ovo e de dentro dele surgiu o deus responsável pela criação do mundo e de suas criaturas. O ovo que o envolvia quebrou-se em dois, dando origem à esfera divina e à esfera terrestre. Depois de separar as metades, ele criou os homens, animais, plantas e todas as outras coisas do universo.
            Brahma é descrito como um homem de pele vermelha e dotado de quatro braços. Também possui quatro cabeças, cada uma voltada para um lado do universo. Ele geralmente é representado sentado sobre uma flor de lótus. Seus atributos são um rosário, que usa para manter a ordem no universo; um pote de água, utilizado para criar a vida; uma flor de lótus e os vedas.

            Shiva, suas primeiras representações datam de 4000 a.C. Na época védica foi admitido no panteão divido graças à sua imensa popularidade entre a população mais pobre. Na trindade, ele é o deus da destruição, rótulo negado por seus seguidores, que consideram isso uma imagem negativa.
            Shiva é antissocial e impulsivo, mas também é o deus da meditação. Ele normalmente é representado sentado na posição de meditação, vestido apenas com a pele de um tigre. Na mão traz um tridente com a qual destrói a ignorância humana e costuma cavalgar o touro Nandi, representando o domínio sobre a violência. Seus adeptos andam pelas estradas e florestas com os cabelos desgrenhados, cobertos por cinzas, parcamente vestidos e carregando consigo apenas uma vasilha de água. São pessoas que abdicaram totalmente à vida mundana, dedicando-se apenas à vida espiritual. As cinzas são para lembrar que o corpo humano é mortal e não vale a pena se dedicar aos desejos mundanos.
            Shiva, deus dos mendigos e miseráveis, é constantemente representado dançando em um círculo de fogo. Em uma das mãos ele segura um tambor, com o qual marca o ritmo do mundo e o compasso de sua dança. A dança representa as forças opostas de criação e destruição.

            A esposa de Shiva é Pavarti, representação da paciência e da bondade. Oposto do marido, ela o completa, formando um dos mais belos casais do panteão hindu. A harmonia entre os dois é tanta que os devotos costumam recorrer a ela para pedir felicidade conjugal.
            Pavarti nasceu para ser esposa de Shiva, mas o deus, após perder sua primeira mulher, entrou em profunda meditação. Para conquistá-lo, ela mergulhou numa meditação severa, ficando em pé sobre uma só perna em volta de quatro fogueiras. O calor liberado por tal estado era tão grande que os deuses, com medo, forçaram Shiva a se casar com Pavarti.
            Da união entre Shiva e Pavarti nasceu um dos mais populares deuses hindus por sua capacidade de remover obstáculos e atrair sorte para novos empreendimentos.
            Ganesha nasceu nas montanhas do Himalaia. Quando sua mãe ainda não sabia que estava grávida, seu pai, Shiva, foi para a floresta meditar. Ao retornar encontrou um menino na frente de casa, vigiando-a enquanto a mãe tomava banho. Shiva, com saudades da esposa, quis entrar imediatamente, mas foi barrado pelo menino. Sem saber que era seu filho, ele usou seu poder para matá-lo, separando a cabeça do corpo.
            Quando a Pavarti saiu do banho e viu o filho assim, entrou em desespero. Mas Ganesha não estava morto, pois, como deus, era imortal. Assim, o pai penalizado pela atitude impensada, saiu à procura de outra cabeça para o filho. A primeira criatura que encontrou foi um filhote de elefante. Por isso Ganesha é representado como um homem com cabeça de elefante. 
            Ganesha está diretamente ligado ao Mahabharata. Dizem que  o escritor do livro sagrado teve medo de não acabá-lo e pediu ajuda ao deus Ganesha. Esse concordou em ajudar colocando no papel as falas do velho. Mas o ancião não poderia parar de recitar os versos, sob pena do deus se entediar e parar de escrever. O sábio parece ter entendido mal, pois começou a recitar tão rápido que pegou Ganesha desprevenido. O deus foi obrigado a quebrar uma das presas para usá-la como pena. Por essa razão ele é representado com um dos dentes quebrados. É também por isso que ele é visto como deus da sabedoria e da literatura.

            O deus mais popular da Índia é Krishna, aquele que possui as seis opulências: beleza, força, conhecimento, fama, riqueza e renúncia. É um deus brincalhão, que adora passatempos. Krishna trabalhava como pastor e tinha muito amor pelas vacas, o que seria um dos motivos pelos quais esses animais são sagrados na Índia.
            Também existem muitas histórias de Krishna com as pastoras, chamadas de gopis, todas apaixonadas por ele. Mas sua gopi preferida é Rhada, que geralmente é retratada ao lado dele. A relação entre os dois é vista como uma relação espiritual e de devoção.

quinta-feira, novembro 28, 2019

Mirza, a mulher vampiro


A primeira vampira de sucesso dos quadrinhos surgiu no Brasil. Trata-se de Mirza, criação do desenhista italiano naturalizado brasileiro Eugênio Colonesse e do roteirista Luís Meri. A personagem surgiu na época de ouro dos quadrinhos de terror nacional, na década de 1960.
Nessa época, Colonnese e Rodolfo Zalla tinham um estúdio, o D´Arte, especializado em quadrinhos, no qual chegavam a produzir 300 páginas por mês nos mais diversos gêneros (dos super-heróis aos de guerra). Um dia José Sidekerskis, da editora Jotaesse os procurou e pediu que Colonesse criasse uma personagem vampira.
No dia seguinte surgia Mirza. O nome era uma variação de Mylar, super-herói de sucesso, criado por Colonesse. ¨Não parecia nome de uma mulher, tanto que resolvi acrescentar no título ´a mulher vampiro´ para acentuar mais. Hoje se você pesquisar na lista telefônica, vai encontrar várias Mirzas, mas naquele tempo não existia¨, lembra Colonnese.
A revista foi publicada em 1967 e virou um hit. Dos 35 mil exemplares impressos, sobravam pouco mais de mil. Além disso, a redação da editora começou a receber várias cartas de fãs pedindo a continuidade da personagem. O interessante é que as histórias conseguiam captar muito bem o clima erótico, elemento essencial do terror vampiro. O roteirista Luis Meri escrevia de acordo com as orientações de Colonnese, mas de vez em quando colocava uma inovação, como uma festa de lésbicas.
Apesar do sucesso, o gibi durou apenas 10 números. A razão disso foi a mudança de ramo do desenhista. Um dia Rodolfo Zalla procurou Colonnese com a proposta de desenhar para livros didáticos. Este respondeu que não sabia fazer livros didáticos, pois sua especialidade era quadrinhos. ¨Uma cenoura que você fizer para um livro didático paga mais que cinco páginas de quadrinhos¨, rebateu Zalla. Foi o bastante para convencer o amigo. Dedicando-se apenas às ilustrações didáticas, o criador deixou de lado sua personagem, que ainda seria republicada, no início dos anos 1970, pela Editora Regiart, de forma pirata. Essa publicação manteve o interesse pelos leitores.
Na década de 1980 houve um renascimento dos quadrinhos nacionais e Colonnese acabou voltando à sua personagem mais famosa, pelas editoras Press, D´arte e Vecchi.
Eram outros tempos, de abertura política e a vampira ganhou contornos mais sensuais. Se antes ela usava um vestido longo, que cobria até suas pernas, agora ela usava decotes generosos e vestidos curtos, quando não lingiere sensual. O roteirista Osvaldo Talo colaborou nessa fase dando um passado para a personagem: ela seria uma condessa chamada Mirela Zamanova.  Uma nova história, na revista Metal Pesado, apresentou uma versão totalmente erótica da vampira.
Desde então, Mirza tem voltado em edições especiais, para jubilo dos fãs. E, quando se fala que Vampirella é a primeira vampira dos quadrinhos, ele se lembram que a grande criação de Colonnese é bem anterior.