quinta-feira, fevereiro 28, 2019

Cosplay é uma arte














Liga da Justiça: um mundo melhor

Um mundo melhor é um episódio da segunda temporada do desenho da Liga da Justiça. Esse desenho se destaca pelos excelentes roteiros, com muita ação, mas também uma excelente caracterização de personagens e até alguma reflexão.
O episódio em questão gira em torno de um fato básico para quem assistiu outros episódios: por que o Superman nunca consegue derrotar definitivamente Lex Luthor. Ele é inteligente e super-poderoso, mas tem um freio ético e legal que o impede de ir além de determinado ponto. Já Luthor não tem freio nenhum, é um homem totalmente amoral.
No episódio, que se passa em uma terra paralela Luthor chega à presidência e cria uma guerra com super-heróis, chegando a matar o Flash. A Liga (que nessa realidade se chama Lordes da Justiça) entra na casa Branca e Luthor está prestes a apertar o botão que aciona uma arma nuclear. Quando o Superman chega para impedi-lo, Luthor diz o que parece óbvio: que ele só adiaria um novo confronto. Pois o ciclo irá iniciar de novo: mais uma vez Luthor será preso, irá escapar, fazer um novo plano, etc. A única maneira de impedir isso seria matá-lo. E é justamente o que o Superman faz.
Três anos depois, o mundo se transformou em uma ditadura, sem crimes, mas sem liberdade de expressão.
A trama realmente começa quando eles descobrem a realidade da Liga e tentam implantar uma ditadura nesse novo mundo.
Segue-se um ótimo episódio, com muita ação, ótima caracterização de personagens e uma lição interessante: Não existe desculpa para romper os limites da legalidade ou da ética. Os resultados sempre serão negativos.
Numa referência história, dá para comparar com a ditadura militar. Quando os militares tomaram o poder, em 1964, eles deixaram de ser os heróis que foram na II Guerra Mundial para se transformarem em vilões. Vale lembrar a famosa frase de Jarbas Passarinho (Ministro da Educação do governo militar) quando da instalação do AI-5, que cassou direitos civis: "Às favas com a ética!".

Action comics especial




Em 2018 o Homem de Aço completou 80 anos de sua primeira publicação. Para comemorar, a DC lançou uma edição especial da Action comics, a revista na qual o personagem estreou (lançada agora aqui pela Panini). Além da data, mais um ponto interessante: é a revista de número mil, provavelmente o único gibi a alcançar essa marca.
Action comics Especial é um mix de histórias curtas realizadas por diversos roteiristas e desenhistas conhecidos. É uma equipe única, mas de resultado variável. Há HQs muito boas, algumas boas, algumas poucas medianas e uma realmente ruim.
A fina flor dessa edição é “Terra da ação”, com roteiro de Paul Dini (os mesmos dos desenhos animados da DC da década de 90), lápis de José Luís Garcia-López e arte- final de Kevin Nowlan. A história reconta a trajetória do personagem, brincando com sua mitologia. E o desenho é simplesmente lindo, digno de ser apreciado com lupa. São apenas cinco páginas, mas suficientes para valer a edição.
Há histórias que não têm tramas, são apenas reflexões sobre ou do personagem. Um bom exemplo é “Carro”, de Geoff Jons e Richard Donner com desenhos de Oliver Coipel, que homenageia a primeira história do personagem e o mostra como justiceiro social que ele era nas primerias HQs. Já “Do amanhã”, de Ton King  e arte de Clay Mann segue o mesmo caminho com resultados bem medianos.
A pior história do volume é “A verdade”, de Brian Michael Bendis e arte de Jim Lee. Bendis apresenta do nada um personagem super-poderoso, capaz de matar o homem de aço (como se já não tivéssemos visto isso na morte do Super-homem). Em meio à briga dos dois e tentativas mal-sucedidas da Super-moça de interferir no conflito, diálogos “descolados” e deslocados de duas moças sobre a cueca do Super-homem. É uma história que destoa de todo o resto do volume. Aí, na última parte descobrimos que essa história é apenas um trecho de uma HQ da nova fase do personagem.
Para promover essa nova fase, a DC resolveu colocar uma arte de Jim Lee como capa. No final, uma galeria de capas alternativas mostra pelo menos umas dez capas muito superiores, como destaque para as de Steve Rude, Gabrielle Dell´Otto, Stanley Artegem Lau e até o brasileiro Felipe Massafera.

quarta-feira, fevereiro 27, 2019

Monteiro Lobato: fragmentos, opiniões e miscelânea


Monteiro Lobato foi a última inteligência enciclopédica que tivemos no Brasil. Escrevia sobre tudo: de geologia à medicina, passando por política e economia. Inquieto, ele parecia ter uma opinião a expressar sobre qualquer assunto do momento. Além disso, tinha uma incrível capacidade de conseguir fazer com que qualquer assunto se tornasse simples de ser compreendido. Esse lado didático e polêmico que os fãs do autor poderão encontrar no livro Fragmentos, opiniões e miscelânea, lançado pela editora Globo.
O livro é resultado de uma reorganização da obra de Lobato. Antes Fragmentos e Miscelânea integravam o volume Mundo da Lua. Opiniões fazia parte do volume Mister Slang e o Brasil. O objetivo de Lobato, ao organizar suas obras completas, era uniformizar o tamanho dos volumes. Mas, segundo a editora, isso criava um anacronismo, ao enfeixar textos de assuntos diferentes.
A nova obra é dividida em três partes. Fragmentos é composto de textos curtos, uma tentativa, abandonada por Lobato, de manter um diário pessoal. Essa parte apresenta textos curtos, nas quais Lobato expressa sua opinião sobre os mais diversos assuntos. No item colonialismo, por exemplo, ele escreve: “Somos um povo de mentalidade colonial. Nascemos colônia e até agora só conquistamos a independência política. Econômica, espiritual, mental e cientificamente, continuamos colônia. Damo-nos pressa em adotar tudo quanto vem de várias metrópoles que nos seguram pelo barbicacho – Paris, Berlim, Nova York, Londres”.
Já a parte Opiniões é uma coletânea de artigos datados de 1926, a maioria criticando os desmandos do governo Arthur Bernardes. Nesse capítulo se destaca o texto O padrão, no qual o autor explica aos leitores do que se trata a estabilização da moeda, objetivo do governo Washington Luiz. Lobato começa criticando os articulistas de jornal, que, ao invés de esclarecerem o tema, o tornam ainda mais obscuro: “Mais discutem, mais debatem, e menos o público se esclarece. Por quê? Porque em regra os expositores também não possuem ideias claras. Baralham coisas embaralháveis e dão valores arbitrários às cartas. O coringa vale tudo para um; para outro só vale o dez. Não definem os termos e discutem. Daí o caos”. Para tentar explicar o assunto, Lobato se socorre com um filósofo imaginário. Em sua ironia, o autor diz que ele é hóspede do Estado, num medíocre hotel de pedra com grades de ferro nas portas.
Também se destacam nesse capítulo a denúncia da forma subserviente como a imprensa comprada trata o governo, além de sua campanha contra o imposto sobre papel – na época, o livro importado não pagava imposto, mas o papel pagava taxas exorbitantes, inviabilizando a indústria livreira nacional.
Mas a melhor parte é mesmo Miscelânea. Nela, Lobato escreve, ora com emoção, ora com ironia, sobre os mais diversos assuntos, em textos maiores e mais profundos.
Em Alice in Wonderland, Lobato transforma uma simples notícia sobre a venda do manuscrito do famoso livro infantil numa narrativa de suspense e, dá, ao mesmo tempo um tom intimista ao texto ao focar a narrativa em Missis Hargreaves, a velhinha, que quando moça inspirara Lewis Carrol.
Em traduções, Lobato fala sobre o pouco remunerado e desvalorizado trabalho de tradutor e defende seu ponto de vista, de que o tradutor deve ser também um escritor, que deve fazer, na verdade, uma adaptação: “Se a tradução é literal, o sentido chega a desaparecer; a obra torna-se ininteligível e asmática, sem pé nem cabeça (...) A tradução tem que ser um transplante. O tradutor necessita compreender a fundo a obra e o autor, e reescrevê-la em português como quem ouve uma história e depois a conta com palavras suas”. Esse ponto de vista influenciou toda uma geração de tradutores e até hoje tem gerado polêmica. Em alguns casos, as traduções de Lobato eram tão pessoais que chegavam a mudar completamente o estilo do autor original.
Mas o relato mais pungente é Pearl Harbor, escrito no dia 7 de setembro de 1941, assim que Lobato soube do ataque japonês. Assustado com as vitórias do nazismo e seus aliados, Lobato escreve: “Os Estados Unidos são tudo quanto nos resta; e vê-los agora ameaçados pelo turbilhão das forças loucas da demência totalitária me deu calafrios no plexo”.
O leitor, acostumado à prosa leve e irônica de Lobato, certamente se espantará com o tom triste e desesperado: “Dá nojo o Homo. Mas há entre eles elementos dignos. O inglês salva-se. Salva-se o americano. Mas na luta de traições que Hitler desencadeou, as vitórias cabem sempre ao mais sem escrúpulos, ao mais torpe”.
Ainda em luto pela morte de um filho e com outro filho doente, Lobato desespera-se. A tragédia pessoal confunde-se com a tragédia histórica: “Durmo. Sonho. Acordo. Procuro lembrar-me do sonho, mas só consigo farrapos. Desisto – e gosto tanto de conhecer meus sonhos – e os dos outros... Madrugada. Passa o leiteiro e deixa o litro diário. Quatro horas, portanto. É o seu horário. ‘Que saúde!’, digo a Purezinha acordada. ‘Que diferença do nosso Edgard...’”. No fundo, Lobato prefere o filho morto a vê-lo sob o jugo nazista e suas câmaras de gás: “só a morte nos libertará da brutalidade alemã”.
Só esse texto já vale por todo o volume. 

Marketing: posicionamento

Posicionamento é o lugar que o produto ocupa na mente do consumidor. As pessoas associam coisas e indivíduos às palavras que representam o que essas coisas ou indivíduos simbolizam. Em um mundo em que tudo é valorizado pela sua simbologia, ter um bom posicionamento na mente do consumidor é um diferencial para qualquer marca ou produto. É a certeza de que o consumidor vai lembrar-se do seu bem ou serviço. O posicionamento é tão importante que a Dove conseguiu aumentar em 33% as vendas apenas posicionando-se como produtos de beleza para mulheres de verdade.
É o posicionamento que diferencia o produto da concorrência e permite ao consumidor situá-lo em sua mente. Dessa forma, enquanto a Coca-Cola se posiciona como um refrigerante para todos (“Sempre Coca-Cola”); a Sukita se posiciona como um refrigerante jovem (lembram da propaganda do tio?).
Há uma regra básica de marketing, dada por Al Ries, segundo a qual se você não é o primeiro lugar em sua área, deve se posicionar fazendo o oposto do que faz o primeiro lugar. Um exemplo: nos EUA um pequeno banco se via sendo engolido pelos grandes bancos até tornar possível uma grande virada ao mudar seu posicionamento. Enquanto o banco nº 1 se posicionava como aquele que tem mais agências, esse pequeno banco se posicionou como aquele em que o cliente tem tratamento individual. Claro, os grandes bancos, pela própria estrutura gigantesca, não podem dar tratamento individual aos clientes. Mas um pequeno banco pode. Nele, o gerente sabe o nome de cada um dos correntistas.

Em um esquema:
BANCO A – o maior banco do país.
BANCO B – o banco que cuida de você pessoalmente.


Outro exemplo, agora no ramo das cervejas. A cerveja Brahma durante muito tempo foi segundo lugar em vendas em relação à Antarctica e era vista como uma cerveja popular, sem refinamento. Esse posicionamento mudou no final dos anos 1990, quando lançaram a campanha “A número um”. Ser a número um é ser a primeira, a com maior tradição, a com maior qualidade etc. Posteriormente, a Skol ganhou mercado posicionando-se como redonda (ao contrário da Brahma, que seria quadrada).
No esquema abaixo pode-se visualizar o posicionamento de algumas cervejas:

BRAHMA – a número um.
ANTACTICA – a boa.
SKOL – a cerveja que desce redondo.
SKIN – a novidade.
SOL – no ponto.
CRISTAL – a celadinha do Brasil.

O exemplo acima mostra que, constantemente, o posicionamento de um produto já pode ser visualizado em seu slogan.

O posicionamento pode ser elaborado a partir dos atributos, da concorrência, em função do uso, do estilo de vida ou do histórico da empresa.
No posicionamento por atributos, verificam-se quais são as características do produto que podem ser importantes para o consumidor. Com isso, um carro pode ser:

Confiável (Gol)
Luxuoso (Mercedes)
Feminino (Ford K)
Potente (Ford Eco Strada)
Econômico (Fiat Uno - posicionamento herdado do Fiat 147)

No posicionamento em função da concorrência, usam-se as deficiências do concorrente para trabalhar o posicionamento do produto. Esse posicionamento é particularmente aconselhado quando não se é líder de mercado.
Assim, a revista Veja se posiciona como “indispensável” (ou seja, todo mundo lê Veja, afinal, ela é líder de mercado e a revista semanal com maior tradição). Sua concorrente, a revista Isto É, aproveitando-se do fato de que, durante um período a Veja ticou sob suspeita de ter aderido ao governo Collor, posicionou-se como “independente”.
No esquema:
VEJA – indispensável
ISTO É – independente

Da mesma forma, o SBT não pode brigar com a Rede Globo pelo mesmo posicionamento (qualidade), afinal a Globo é reconhecida internacionalmente pelo seu alto padrão de produção. Mas ter um padrão alto de produção também representa algo feito para elite. Dessa maneira, o SBT se posicionou como uma TV popular.
O posicionamento também pode dar-se pelas circunstâncias de uso de determinado produto. Por exemplo, uma cerveja com baixo teor alcoólico pode se posicionar como a melhor para beber com a família.
Finalmente, o posicionamento pode ser pelo estilo de vida.
Um carro, então, acaba tendo variações. Ele pode ser para pessoas esportivas (Palio Adventure) ou para quem tem família grande (Chevrolet Zafira).
Segundo Philiph Kotler, existem alguns fatores que interferem no posicionamento. O primeiro deles é o atributo da marca. Depois, os benefícios que o consumidor tem ao consumir seus produtos. Em seguida, a personalidade do produto. Qual a personalidade que os consumidores associam ao produto? Ele é jovem ou respeitável? Sério ou divertido? Seguro ou aventureiro?
Outro fator é a imagem que o consumidor tem da empresa e das pessoas que trabalham lá. Dizem que um dia o presidente da IBM, durante uma visita ao banco com o qual fazia negócios viu um rapaz malvestido, com barba por fazer, e disse ao gerente do banco: “Como vocês deixam alguém tão desleixado trabalhar aqui?”, ao que o gerente respondeu: “Ele não é funcionário nosso. É o boy da IBM, que veio pagar algumas contas.” A história mostra como a imagem que se tem da empresa e das pessoas que trabalham nela interfere no posicionamento que se forma a respeito de um produto. A companhia aérea Gol vende a ideia de que é a companhia mais jovem do Brasil. Por isso, a maioria dos seus comissários é formada por pessoas jovens e bonitas.
Finalmente, outro fator de grande influência no posicionamento é a imagem que se tem dos próprios consumidores. As sandálias Havaianas, na época em que o garoto-propaganda era o Chico Anísio, era vista como sendo um produto para pessoas de pouco poder aquisitivo. Hoje a percepção que se tem, graças a um bom trabalho de marketing, é exatamente oposta.

terça-feira, fevereiro 26, 2019

Handmaid´s Tale

Já faz algum tempo que as séries ultrapassaram o cinema americano em termos de qualidade, em especial de roteiro. Seriados como Black Mirror, Mindhunter e Black são exemplo disso. Em uma constelação de séries tão boas atualmente em exibição, Handmaid´s tale já se firma como uma das melhores. 
Adaptado do livro de Margaret Atwood, a série mostra uma distopia na qual os EUA foram dominados por cristãos fundamentalistas. Na história, as mulheres férteis são feitas prisioneiras e transformadas em árias, cuja função é conceber os filhos dos comandantes da sociedade (na história a maioria da população ficou estéril após um acidente em uma usina nuclear). 
Handmaid´s tales é um daqueles poucos exemplos em que a adaptação superou a obra original. O livro de Atwood é todo narrado por uma aia, cuja visão de mundo é limitada à casa na qual é praticamente prisioneira. O seriado extrapola essa prisão, mostrando o mundo como um todo de forma absolutamente coerente com a obra original. Mostra ainda como essa sociedade se estruturou desde o início, como as mulheres foram sendo afastadas de qualquer forma de poder - inclusive sendo proibidas de ler, já que informação é poder. 
A decisão de transformar a esposa do comandante, Serena Joy, em uma escritora de sucesso cujas ideias tiveram impacto sobre a configuração da distopia foi um dos grandes acertos - no livro ela é uma ex-apresentadora de TV. A ironia que surge daí - alguém cujas ideias ajudaram a conceber uma sociedade que tirou boa parte de seus direitos - é bem explorada no seriado. A relação dela com a aia também acabou se mostrando mais complexa no seriado - da ternura à tirania. 
Enfim, Handmaid´s tale é fundamental pelo roteiro inteligente, pela direção competente (que se aproveita continuamente da roupa das aiais como elemento estético às vezes de beleza, às vezes de tristeza, às vezes de rebeldia). E mais fundamental ainda pelas questões que levanta: estamos de fato tão distantes assim de tal distopia?

As aventuras do pequeno Xuxulu


segunda-feira, fevereiro 25, 2019

Marvel horror


Em 1971 o Comics Code, que limitava severamente a publicação de quadrinhos nos EUA foi abrandado. A restrição a histórias de terror foi finalmente retirada. A Marvel, claro, decidiu embarcar com tudo nessa onda, ressuscitando monstros clássicos como Drácula ou criando novos, como o Motoqueiro Fantasma e Homem-Coisa.
O volume Marvel Horror, da coleção de graphic novels Marvel Salvat reúne um apanhado dessas histórias.
Como o objetivo era principalmente reunir histórias de origem, o resultado é bastante irregular.
Uma das coisas que saltam aos olhos é perceber porque Gerry Conway era considerado a grande estrela da Marvel naquele período. Os melhores roteiros da edição são dele.
A começar pela história curta, em preto e branco, que conta a origem do Homem-coisa, publicada em Savage Tales 1. O texto magistral de Conway se une ao desenho do clássico absoluto do terror Gray Morrow em uma história de 11 páginas em que tudo é perfeito. O poético texto de abertura lembra muito o tipo de coisa que Alan Moore faria posteriormente no Monstro do Pântano: “Por quanto tempo você esperou? Por quanto tempo definhou nesse inferno de pútrida escuridão? Por quanto tempo ouviu o chamado da noite no canto das garças (...) por quanto tempo viveu esse pesadelo, aqui na escuridão?”.
Em tempo: a primeira história do Homem-coisa foi publicada antes da primeira do Monstro do Pântano e Len Wein e Gerry Conway dividiam apartamento em Nova York. Depois, Len Wein disse que as histórias “Não eram parecidas”.
É também de Conway a primeira história de Drácula, que se tornaria célebre com roteiro de Marv Wolfman. O roteirista tinha plena noção de que o gênero terror era muito diferente dos super-heróis. No terror, desenho e texto precisam criar a atmosfera correta, opressiva e isso se reflete na primeira legenda da história: “Horas se passaram desde que a tempestade começou. Longas horas desde que a luz do dia se foi e sombras foram tecidas sobre a montanha escarpada”. Para completar, essa primeira história já tinha o traço do gênio do terror Gene Colan, que se tornaria o desenhista principal do título.
O texto de Conway consegue salvar do Lobisomen, desenhada por um inseguro Michael Ploog, ainda em início de carreira na Marvel. Embora fosse fortemente influenciado por Will Eisner, o resultado era bastante irregular e nem sempre funcional.
Outro destaque do volume é o Motoqueiro Fantasma de Gary Friedrich, provavelmente o personagem mais longevo da galeria de horror da Marvel. Friedrich foi o autor que melhor conseguiu fazer a junção do gênero com o de super-heróis, criando um estilo Marvel de horror. Satã aparece aqui não como o demônio da Bíblia, mas como um vilão de quadrinhos em sua eterna obsessão pela alma de Johnny Blaze.
O roteirista ainda uniu isso à moda das gangues de motoqueiros, construindo um quadrinho que se tornou síntese dos anos 1970.
Essa é a única história que não é de origem. De forma inteligente, os editores escolheram uma história clássica do personagem, pegando-o em plena ação. Destaque para a segunda história, desenhada por Jim Money, cuja página de abertura é magistral.
Os leitores que acompanhavam o Motoqueiro Fantasma nas páginas da Heróis da TV certamente vão achar esse um dos melhores momentos do álbum.

Marketing: tipos de marcas

É importante lembrar que nem toda marca é de um produto. Existem as marcas de empresas e até de uma linha de produtos. Por exemplo, Nestlé é a marca da empresa. Nescafé é a marca do produto e Nescau é a marca da linha ou da família de produtos (achocolatado, cereal, chocolate).
Algumas empresas adotam marcas de linha como estratégia de posicionamento. A Unilever, por exemplo, fabrica os mais variados produtos, de sabonete a sucos, passando pela famosa Maizena. A variedade é tão grande que se corre o risco de confundir o consumidor. Como a marca Unilever está muito ligada a sabonetes e produtos de higiene, para caldos de carne e macarrões instantâneos foi criada a marca Knorr. Para sorvetes, é usada a marca Kibon. Para sucos derivados de soja, é usada a marca Ades. Com isso, a empresa consegue ter produtos nas mais diversas áreas, sem confundir a cabeça do cliente.

Outra tendência são as marcas privadas, também chamadas de marcas de loja. É cada vez mais comum produtores entregarem o produto para as lojas e estas colocarem sua marca neles. Assim, vê-se cada vez mais produtos com as marcas Carrefour ou Wall-Mart, por exemplo. Essa tendência tem sido muito boa para a loja, que fortalece sua própria marca, além de fazer com que o consumidor, na medida em que gosta daquele produto, fique fiel ao ponto de venda. O produtor também tem certeza de destaque nas prateleiras, além de não precisar gastar com publicidade (o processo de contrução de uma marca na mente do consumidor é caro e demorado). O aspecto negativo é que o produtor fica na mão do varejista, que impõe até mesmo o preço de venda. Além disso, se o varejista resolver desistir do produto, o fabricante ficará sem mercado da noite para o dia. 

Medo do comunismo nos EUA: os professores perseguidos e demitidos nos anos 50 sob a suspeita de serem 'vermelhos'


"Este livro é para lhe contar o que as mentes mestras por trás do comunismo têm planejado fazer com seu filho em nome da 'educação'. Elas querem levá-lo do berçário, vestí-lo com um uniforme, colocar uma bandeira da foice e do martelo em uma mão e uma arma na outra, e enviá-lo para conquistar o mundo".
Assim começa o livreto 100 coisas que você deveria saber sobre o comunismo e a educação, editado nos Estados Unidos, em 1948, pelo Comitê de Atividades Contra-Americanas, da U.S. House of Representatives - a Câmara dos Deputados americana. O material fazia parte de uma campanha de oposição a comunistas ou supostos comunistas dentro dos Estados Unidos, articulada pela direita americana, que durou cerca de uma década, entre os anos 40 e 50.

Os professores estavam entre os alvos principais, por exercerem uma atividade vista como potencialmente perigosa - a "doutrinação" das novas gerações americanas. Foram interrogados em comitês de investigação perante o Congresso, incluídos em "listas negras" de banimento e demitidos sob acusação de serem "vermelhos". Leia mais

domingo, fevereiro 24, 2019

O Namor de John Byrne





Em 1990 o Príncipe Submarino, o mais clássico herói da Marvel, foi reformulado por John Byrne. As primeiras histórias dessa nova fase do personagem foram publicadas pela editora Abril em Grandes Heróis Marvel 42.
Byrne aproveitou que o personagem estava “morto” (nos quadrinhos de super-heróis ninguém fica morto muito tempo) para modificar completamente suas histórias. Para começar, tirou totalmente a ambientação atlante. Além disso, mudou a personalidade do herói. Um cientista que aparece convenientemente no mesmo local em que Namor surge descobre que o humor instável do herói se devia a um desequilíbrio sanguíneo provocado por sua origem dupla (humana e atlante) e o submete a uma máquina que corrige o problema.
Como resultado, Namor se torna um herói de fato, ajuda o cientista a comprar um conglomerado de empresas e as coloca a serviço da preservação da natureza.
Byrne, que já foi um bom roteirista, parecia já ter perdido a mão nesse trabalho. Tudo é forçado ou mal-explicado. Quando Namor surge, descobre uma tribo que idolatra um avião – e isso não tem a menor explicação. A relação com o cientista é forçada, assim como a explicação para o humor instável do atlante.
Além disso, ao mudar a personalidade e Namor, Byrne tira dele sua característica mais interessante: o fato dele ser um anti-heróiE tirar dele toda a mitologia atlante tornou o personagem ainda mais vazio.
De positivo o desenho, simples, mas expressivo, que se encaixava bem com o formatinho da Abril.

Mestres do terror 65 - Loira fantasma

Mestres do terror é a mais longeva e uma das mais clássicas revistas de terror já publicadas no Brasil. Editada por Rodolfo Zalla, angariou uma geração de fãs nas gerações de 1980 e 1990. Em 2015, um desses fãs, Daniel Sacks, resolveu trazer a revista de volta, continuando a numeração original. Eu havia colaborado com a fase clássica da publicação e fui convidado a enviar novos roteiros. Minha primeira colaboração com a revista nessa nova fase foi “Loira fantasma” sobre a assombração dos banheiros públicos. Essa história foi escrita em meados da década de 1990 para a revista Manticore (na época havíamos lançado uma premiada graphic novel com esse título e a ideia era transformar a Manticore em revista mix de terror e FC). É um exemplo do que chamo de roteiro em mosaico, com a história sendo contada através de diversos fragmentos que unidos formam uma história só. E, claro, tinha uma virada no final, como as boas histórias de terror. A arte ficou por conta do grande Toninho Lima, que não economizou nos ângulos inusitados para ressaltar o terror da história. O escorço da sequência em que o estuprador se aproxima da moça caída é particularmente impactante.  







sábado, fevereiro 23, 2019

Making of do Astronauta

Há algum tempo o amigo JJ Marreiro me mandou algumas imagens para que usasse em uma postagem sobre os bastidores da criação de nossa história do Astronauta para o álbum MSP+50. Na correria da Bienal, acabei não fazendo o post, mas corrijo esse lapso agora.
Ao começarmos a discutir nossa história, concluimos que o ideal seria algo que remetesse aos clássicos da FC, tanto nos quadrinhos quanto na literatura pop, quanto nos seriados. Assim, nosso Astronauta deveria ser uma mistura de Perry  Rhodan, Jornada nas Estrelas e Flash Gordon. Abaixo, alguns dos estudos do JJ para o visual da hístória:



O JJ começou pelas armas. Embora o visual estivesse legal, eu pedi que ele não usasse uma arma, pois ela não se encaixaria no personagem criado pelo Maurício.
O visual da nave passou por várias versões, mas acabou sendo definido como uma homenagem às naves da série alemã Perry Rhodan, do qual sou fã.

Foram feitas três versões do roteiro (chamadas de tratamento). Numa das primeiras versões, o herói chegava a um planeta que mostrava uma versão alienígena dos principais personagens da Turma da Mônica. As tiras abaixo são dessa primeira versão.

Marketing: a marca


A marca é um dos elementos mais importantes de qualquer produto. Hoje, o poder das marcas é tão grande que muitas delas valem mais do que todo o ativo das suas empresas. A marca Coca-Cola, por exemplo, vale aproximadamente 65 bilhões de dólares, mais do que todas as coisas físicas que a empresa tem.
Uma boa marca começa com um bom nome. Muita gente escolhe o nome baseado em uma brincadeira, um xiste, como se esse assunto não fosse sério. Nomes como Pizzaria  Fracasso, Academia Osso, Mercearia do Zé Peidão, Lanchonete Comeu Morreu são praticamente um atestado de incompetência. Nesses casos, o nome é um indicativo de falta de qualidade do bem ou serviço.
Uma boa marca deve ser curta, fácil de pronunciar, simples de escrever, fácil de lembrar e sem conotações negativas.
Uma das maneiras de encontrar um nome para o seu serviço ou produto é procurar palavras que descrevam seu benefício. O creme dental Sorriso é um ótimo exemplo, assim como a livraria Cultura.
Outra maneira é procurar palavras que se relacionem com os benefícios e quebrá-las em várias partes, juntando posteriormente os pedaços. O exemplo clássico é o Bombril, mistura de bom com brilho. O grupo educacional Iuni é uma mistura de inteligência com universidade.
Escolhido o nome, é hora de pensar no logotipo. O logotipo é a formatação visual desse nome, com cores e fontes específicas. A letra manuscrita da Coca-Cola, por exemplo, é tão marcante que alguns anúncios apresentavam apenas parte dele e mesmo assim era possível identificar.
É nessa fase que se escolhem as cores da empresa, que devem aparecer no logo. Dica: quando se trata de cores, menos é mais. A maioria das empresas e produtos usa no máximo duas cores, tanto para evitar poluição visual quanto para garantir economia.
Quando a gráfica vai imprimir um panfleto ou um folder, ela passa esse material na máquina para cada cor que será impressa. Um material em policromia passa quatro vezes na máquina e, portanto, tem um preço bem maior que o de um material que passa apenas uma ou duas vezes.
A companhia aérea Gol estendeu sua política de baixo preço, baixo custo até mesmo para sua logo. São duas cores: laranja e cinza, o que barateia até mesmo os custos de impressão de material.
A escolha da cor ou das cores da marca vai refletir até nos detalhes. Por exemplo, numa lanchonete que use como cor o laranja, o ideal é pintar as paredes numa cor neutra e colocar o laranja em detalhes, como encosto das paredes, protetores de mesa, lixeiros, açucareiros etc.
Escolhidas a cor e a fonte da marca, é necessário criar um símbolo visual para ela: a TV no formato de globo terrestre, da rede Globo, o traço estilizado da Nike. Esses símbolos devem ser bastante simples para que sejam de fácil assimilação. A cruz, símbolo visual do cristianismo, é um ótimo exemplo de como a simplicidade permite comunicar de forma extremamente eficiente.
O símbolo visual também reforça o caráter de ícone da marca, facilitando sua assimilação – mesmo por parte das pessoas que ainda não aprenderam a ler. Tanto que é comum ver crianças lendo logomarcas (junção do logotipo com o símbolo visual).
Algumas empresas ainda utilizam mais um elemento para facilitar a assimilação da marca: os mascotes, bonequinhos-símbolo da empresa, que fazem muito sucesso, especialmente com o público infantil.

A arte fantástica de P. Craig Russell

P. Craig Russell é um ilustrador norte-americano especializado em fantasia. Seu traço detalhista e imaginativo se revelou perfeito para adaptações de livros fantásticos ou mitológicos, como O anel de Nibelungo. No Brasil ele ficou conhecido por seu trabalho com o personagem Elric e pelas histórias do Dr. Estranho. Russell se notabilizou também pelas parcerias com Neil Gaiman, entre elas a edição número 50 de Sandman. Aprecie o trabalho deste grande artista.