sexta-feira, agosto 31, 2018

Filmes baseados em obras de Stephen King

Stephen King é um dos escritores mais adaptados da história do cinema. Todo mundo já assistiu pelo menos um filme baseado em livros dele.Para os que não costumam ligar  o filme à obra original, coloco abaixo uma relação de algumas das melhores adaptações de obras de King. 


Carrie, a estranha - Obra-prima de Brian De Palma, um verdadeira aula de cinema. Numa época em que os efeitos especiais estava só engatinhando, o diretor consegue provocar medo apenas com um ótimo uso da linguagem de cinema. Além da memorável cena do sangue de porco caindo em Carrie, atenção para um momento no final: Carrie chega em casa, entra no banheiro para se lavar. Quando abre a porta, sua mãe aparece das trevas.
O iluminado - King nunca gostou dessa versão de Kubrick, especialmente por causa da interpretação de Jack Nicholson, que deixa claro desde o primeiro minuto quem é o vilão da história. Mesmo assim, é uma adaptação fenomenal e um dos melhores filmes de terror de todos os tempos. 



Um sonho de liberdade - O diretor predileto de King, Frank Darabont, fez um dos melhores filmes sobre penitenciárias que já assisti, com final surpreendente. Foi um fiasco nos cinemas, mas se tornou um clássico nas locadoras, o que deu a Darabont liberdade para dirigir mais um grande filme baseado em um texto de King: à espera de um milagre. 

À espera de um milagre - Mais um ótimo filme de prisão. Um homem negro, enorme, é preso pelo assassinato de duas garotas, mas o policial responsável pelo corredor da morte descobre que ele tem o dom de curar doenças. Na minha opinião, é o melhor texto de King e Darabont não decepciona. Atuação fenomenal de Tom Hanks. 


O nevoeiro - outra ótima adaptação de Darabont, sobre um escritor que acaba ficando preso em um supermercado quando um nevoeiro assassino toma conta da cidade. Nem de longe é tão bom quanto os dois filmes anteriores, mesmo assim, é um ótimo filme de terror. 

Conta comigo  - de Rob Reiner, um dos filmes mais sensíveis baseados em uma obra meio auto-biográfica de King sobre um grupo de garotos que vai atrás do cadáver de um menino. Uma ótima metáfora sobre o processo de amadurecimento de um rapaz e sobre a amizade. Foi um dos campeões da Sessão da tarde nos anos 1990 e muita gente assistiu diversas vezes. Chegou a influenciar seriados como Anos Incríveis e Simpsons, que apresentaram episódios com histórias semelhantes. 




1408 - filme de Mikael Hafstrom baseado em um conto de King sobre um escritor cético que, para esccrever um livro, se hospeda em um quarto mal-assombrado e só percebe o que realmente está acontecendo quando é tarde demais. Deu um ótimo filme, com John Cusack dominando a interpretação como Johnny Depp fizera em Janela Secreta. É um belo exemplo de terror psicológico. 

Essa é uma pequena relação de algumas das adaptações que mais gostei. Certamente os leitores devem ter outros exemplos, afinal foram mais de 100 filmes baseados em textos de King. Deixe nos comentários suas sugestões para essa lista. 

Mano Juan, de Marcos Rey

Mano Juan é um lançamento da Global, editora que está publicando as obras completas de Marcos Rey. O livro, escrito na década de 1970 e lançado após a morte do autor, conta a história de um guerrilheiro ferido que chega a são Paulo e, sem ter a quem recorrer, procura um jornalista que escrevera diversos artigos sobre ele. Mas é a época da ditadura militar e o repórter teme se comprometer. Além disso, Dalila, uma atriz de pornochanchadas pela qual se apaixonara, lhe prometera para aquele dia uma noite de amor em troca da publicação de suas fotos no jornal. 
Marcos Rey é um dos grandes roteiristas de cinema do Brasil, tendo escrito diversas pornochanchadas e novelas (experiência que ele conta nos livros O roteirista profissional: televisão e cinema e Esta noite ou nunca. Esse olhar cinematográfico permeia a maior parte de sua obra, inclusive a juvenil, como O Mistério do Cinco Estrelas e O Rapto do Garoto de Ouro, mas é ainda mais visível em Mano Juan. O capítulo de abertura do livro é uma boa amostra desse tino visual: construído emtakes, mostra a chegada de um guerrilheiro a São Paulo e a balbúrdia da rodoviária num feriado prolongado:

"Como era sexta-feira da Paixão parte da população da cidade batia asas. São Paulo, parcialmente deserta, transformava-se numa amplo parque ideal ao adestramento de motoristas de carta nova. (...) O número de mulheres e crianças, superior ao de homens, contribuía para intensificar a irritante sonorização do ambiente, apenas dominada pela voz de uma locutora que anunciava a partida dos ônibus numa robotizada emissão vocal (...) O tumulto maior e mais angustiante concentrava-se nas escadas, a de degraus e a rolante, onde acontecia um massacre de proporções razoáveis. Inúmeros balcões e guichês de transportadoras informavam por escrito: 'Não há mais passagens' (...) Uma mulher grávida, segurando uma criança em cada mão, parecia ter perdido o marido e chorava, um grupo de cabeludos ameaçava destruir um dos balcões de passagens, um estrangeirão, loiro, tentava fazer-se entender".

A história toda parece ter sido escrita como um roteiro de cinema, inclusive com flash backs e e referências diretas a filmes em trechos como: "Batista diante daquela bem-rodada cena do cinema nacional, ficou cabreiro e começou a lançar olhares de pesquisa ao redor", "os seios, que só vira em filmes pornô, saltaram como molas, pagando na boca do caixa o trabalho das fotografias". 

Marcos Rey constrói a trama como um thriller de humor com personagens marcantes: o guerrilheiro saudoso da infância, o jornalista que o tempo todo divide o pensamento entre o medo de ser preso e a possibilidade de conseguir, finalmente, levar a atriz para a cama; a atriz de pornochanchadas que se deslumbra com a possibilidade de fama, mas se apaixona pelo guerrilheiro; o líder sindical que é respeitado pelos trabalhadores, mas em casa é tiranizado pela mulher... O autor apresenta uma verdadeira fauna de tipos que vão desfilando diante do leitor num verdadeiro plano sequência que vai das 19h10 da sexta às 4h05 da madrugada de sábado. 

O livro tem gosto da década de 1970 em que a tensão provocada pela ditadura militar se misturava à revolução sexual, à moda hippie de vestir e à profusão de gírias. Expressões como "cana brava", "manjo seu truque, malandro", "a velha teve outro balacobaco" ajudam a dar o clima do momento histórico.

Mano Juan foi escrito em 1978, mas permaneceu inédito até 2005. Em 2003, quando a Global negociou com a viúva Palma Donato a publicação de toda a obra de Rey, ficou acertado que, além dos títulos já publicados, a editora teria prioridade sobre esse inédito. Cumprindo o acordo, a viúva entregou à editora os originais datilografados. 

A Global fez um verdadeiro trabalho de fã, com uma edição belíssima, que segue o padrão das outras obras da coleção Marcos Rey, uma sugestiva capa Victor Burton, com imagens que simbolizam bem a trama, como uma loira, um revólver, uma garrafa de uísque e um botton de Che Guevara. Além disso, incluiu uma apresentação de Ignácio de Loyola Brandão, que acertadamente escreve: "Ele (Marcos Rey) foi um homem desprezado pela crítica, mas lentamente começa a ser reavaliado, revisado e sua obra reciclada. Era um narrador sutil e fino, e a prova está em cada página deste livro que inclusive é permeado pela mais intensa ironia, pelo sarcasmo. Quem nunca leu Marcos Rey pode começar por este Mano Juan". Bom conselho. 

Os fumetti


 
Apesar da forte concorrência dos quadrinhos americanos e dos mangás, os quadrinhos italianos ainda sobrevivem e fazem sucesso em vários países principalmente na forma de gibis grossos, com histórias em preto e branco, muitas vezes tratando do velho oeste americano. São os fumetti, cujo melhor exemplo é Tex.
Após a II Guerra Mundial, a Itália parecia buscar uma identididade cultural e ela, em muitos sentidos, foi conseguida através do fumettis. O primeiro personagem a fazer sucesso no pós-guerrra foi L´Asso di Piche, com roteiro de Alberto Ongaro e desenhos de Mario Faustinelli e Hugo Pratt. O personagem era uma mistura de Fantasma, Batman e Spirit e fez pouco sucesso de público, mas garantiu contratos para que seus autores fossem atuar na Argentina.
Na década de 1950 os editores italianos viram as vendas dos comics americanos decaírem e resolveram investir em produtos nacionais.
Tex Willer, surgido em 1948 foi o personagem que fez mais sucesso. Ele é um ranger, casado com a filha de um chefe índio, com quem tem um filho, Kit. Até então, a maioria dos faroestes mostravam os índios apenas como selvagens a serem mortos. Tex revolucionou ao mostrá-los com simpatia. Mas, segundo a História de Los Comics, a razão do sucesso estava principalmente no desenho realista e ágil de aurélio Galleppini e nos roteiros de Gian Luigi Bonelli, sempre muito exatos nas informações históricas e geográficas. ¨Sempre tenho tentado recriar a verdadeira atmosfera do velho oeste, em que homens justos se viam obrigados a usar a lei do colt para reprimir os abusos e violências de homens sem escrúpulos. Por isso, tenho usado uma linguagem forte e roteiros violentos¨, declarou Bonelli.
A editora Bonelli praticamente padronizou os quadrinhos populares italinos, publicando gibis auto-contidos, com histórias longas em preto e branco.
Depois de Tex, outro grande sucesso foi Zagor, criado por Guido Nolitta (pseudônimo de Sergio Bonelli, filho do criador de Tex) e idealizado graficamente por Gallieno Ferri , uma mistura de faroeste com fantasia. Também Akin, uma espécie de Tarzan que fala com os animais e Diabolik fizeram grande sucesso. Diabolik, criado pelas irmãs Ângela e Luciana Giussani, causou grande polêmica por ter como protagonista um vilão, que constantemente derrota a polícia.
A editora criada por Bonelli torna-se a casa dos principais criadores italianos. Seu filho Sérgio iria substitui-lo não só na administração, mas também nos roteiros e acabaria se revelando um ótimo redator.
Aos poucos, a editora diversifica sua linha de gibis, com personagens como Mister No (um aventureiro), Nick Raider (um policial em Nova York), e terror (com Dylan Dog).
Mas a maior obra-prima publicada pela editora foi sem dúvida Ken Parker, o mais humano dos cowboys, criação de Ivo Milazzo (desenhos) e Berardi (roteiros).
Um diferencial dos fumetti é o fato de que, ao contrário do que aconteceu nos EUA, o desenho não se sobrepôs ao roteiro. O objetivo de qualquer revista publicada pela Bonelli ou por suas concorrentes mais diretas, é contar uma boa história, e um bom desenho é colocado sempre a serviço da história, e não o contrário.
Uma curiosidade: Tex foi, durante muitos anos, a revista predileta dos vigias noturnos.

quinta-feira, agosto 30, 2018

Ivanhoé, de Walter Scott

A batalha por um trono. Um personagem sem força física, mas inteligente, que consegue se destacar por sua sagacidade e frases de efeito. Parece "As crônicas de Gelo e Fogo", série de fantasia de George Martin, mas trata-se de Ivanhoé, romance histórico escrito pelo Walter Scott e publicado na Inglaterra em 1820. O livro de Scott é um daqueles clássicos que definem um gênero a ponto de influenciar desde obras mais profundas, como os livros de Martin, até os ingênuos filmes matinês. Está tudo ali, desde suas melhores qualidades aos mais irritantes clichês (como da mocinha que acaba sendo salva em cima da hora por um herói adoentado, mas valente).

A obra se passa na Inglaterra da Idade Média. Nesse período, a ilha tinha sido invadida pelos normandos (vindos do norte da Europa e falando a língua francesa), que exerciam sua opressão e desprezo pelos habitantes locais, os saxões. 

O personagem principal, Wilfred, é um jovem nobre saxão deserdado pelo pai após aceitar os costumes cavalheirescos franceses e acompanhar o rei Ricardo Coração de Leão à Terra Santa para participar da Cruzada. Seu pai, Cedric, é um saudosista da época em que a Inglaterra era governada pelos saxões e todos os seus pensamentos parecem voltados para o retorno do domínio de sua raça sobre a ilha.
 
Ao ler a obra, é importante lembrar que ela foi escrita numa época em que o gênero romance (que seria o mais importante da literatura moderna) ainda estava se construindo. Isso provoca, de um lado, algum estranhamento pelo aparente pouco domínio de algumas técnicas narrativas e, por outro, acaba tornado muito previsível alguns acontecimentos para leitores mais atentos, que facilmente conseguem desvendar os segredos escondidos pelo autor, como o fato de que Wilfred é o cavaleiro que luta incógnito na justa ou que o arqueiro vestido de verde na verdade Robin Hood. O leitor desavisado irá estranhar principalmente as elocuções (a forma como o diálogo é introduzido na narrativa) e as descrições, muitas vezes deslocadas ou didáticas demais como se o romance se misturasse com um livro histórico. Exemplo: 

"O chão era composto de terra batida misturada com cal, que se transformava numa substância consistente, como a que é muitas vezes empregada em nossos celeiros modernos". 

Igualmente irritante são as digressões que muitas vezes paralisam a narração comprometendo o ritmo do livro ou frases desnecessárias, como: "No capítulo seguinte, vamos procurar descrever a cena que lhe surgiu diante dos olhos". 

Esses "defeitos", que mais se devem à época em que foram escritos acabam sendo suplantados pelas qualidades do livro. 

O personagem Wamba, por exemplo, um bobo da corte de Cedric, é um proto-Tyrion. Sua atuação na trama é fundamental em vários momentos e suas tiradas são praticamente equivalentes ao do anão Lannister (a ponto de se imaginar que o bobo tenha sido a principal influencia para a criação do famoso personagem de George Martin). Por exemplo, quando viaja sozinho com o rei Ricardo pela floresta e pressente que serão atacados por inimigos e que o rei não fará uso de uma trompa que poderá chamar amigos para auxiliar na luta, diz: "Quando a coragem e a loucura viajam juntas, a loucura deve encarregar-se da trompa, pois sabe tocá-la melhor". 

Outro aspecto interessante da trama é a forma como são retratados os judeus, especialmente se considerarmos que o livro foi publicado em 1820, época em que esse povo era vítima de grande preconceito. Há quem pense que a perseguição aos judeus foi invenção dos nazistas. Nada mais falso. O povo judaico era perseguido por razões religiosas desde a Idade Média e Ivanhoé tem o grande mérito de mostrar essa perseguição, retratando os judeus de maneira positiva:

"Não havia raça alguma na terra, no mar ou nas águas, que fosse objeto, por parte de todos, de tão interrupta e constante perseguição, como os judeus eram nessa mesma época. Sob os mais ligeiros e irrazóaveis pretextos, bem como ante as acusações mais absurdas e infundadas, as suas pessoas e propriedades eram expostas a todos os caprichos da fúria popular, pois os normandos, saxônicos, bretões e dinamarqueses, por mais adversas que essas raças fossem entre si, disputavam a primazia da ferocidade para com esse povo, que eles supunham, baseando-se em suas próprias religiões, dever odiar, insultar, desprezar, saquear e perseguir". 

E essa condição permaneceu por séculos, só sendo encerrada pela divulgação dos horrores dos campos de concentração nazistas. Só para termos de comparação, outro clássico romântico, Taras Bulba, do grande escritor russo Nicolai Gógol mostra com simpatia a perseguição que soldados cossacos realizavam contra os judeus, chegando até mesmo ao ponto de matá-los por pura diversão. Assim, é surpreendente que um livro escrito em 1820 mostre com tanta benesse esse povo, a ponto de colocar uma judia, Rebeca, como protagonista romântica, de caráter extremamente correto, capaz de abdicar de uma paixão por puro amor.
Num romance recheado de personagens famosos, como Ricardo Coração de Leão, o princípe usurpador João, Robin Hood e outros, são justamente os que seriam os secundários, como a judia e seu pai, um bobo e um guardador de porcos que acabam se destacando, demonstração mais do que inequívoca de que Walter Scott estava muito além de seu tempo. 

Livro A arte dos quadrinhos

Já está on-line o e-book A arte dos quadrinhos. O livro reúne os artigos apresentados no III FNPAS com as mais variadas temáticas. Eu colaborei com o artigo SIMULACRO E PASTICHE EM 1963, DE ALAN MOORE. Para baixar o e-book clique aqui

Gógol - entre risos e lágrimas



Não, você provavelmente nunca leu uma obra de Gogol. Mas certamente conhece alguma de suas histórias. Afinal, são muitas as adaptações para cinema, televisão e quadrinhos. Eu mesmo cheguei fazer duas HQs baseadas em suas histórias: Fobia (baseada em O Nariz) e A Inspeção (baseada na peça O Inspetor Geral), ambas desenhadas por Bené Nascimento (a primeira foi publicada pela Nova Sampa, a segunda pela revista Calafrio). O grande destaque de Gogol se deve ao fato de ter sido o iniciador da moderna literatura russa, que nos legou nomes como Tcheckov, Tolstoi e Gorki.

Nicolai Vassilievitch Gogol nasceu em uma pequena província da Ucrânia, no ano de 1809. Até mesmo a data de seu nascimento é controversa: 19 de março no calendário russo e 31 de março no calendário ocidental. O pai era um fazendeiro que, ao contrário de seus vizinhos, tinha rudimentos de cultura artística. Gostava de ler e usava as horas vagas para escrever peças satíricas. Gogol herdou dele o gosto pela pena. E herdou da mãe a extrema religiosidade que o levaria à morte.

Desde criança, Gogol sempre foi estranho. Na escola era chamado de "anão enigmático" porque falava pouco e tinha dificuldade para se relacionar com colegas e professores. Como o apelido sugere, também era pequeno. Seu grande sonho era ir para São Petesburgo. Imaginava-se com um bom emprego, instalado em um quarto com vista para o rio Nieva. Depois da morte do pai, conseguiu finalmente realizar o seu sonho, que acabou parecendo mais com um pesadelo. Tudo o que conseguiu em São Petesburgo foi um emprego burocrático medíocre, um salário insignificante e um quarto a grande distância do rio Rio Nieva. Para sobreviver, era obrigado a pedir dinheiro à mãe.

Por esses tempos, teve sua primeira decepção literária e revelou uma característica que o acompanharia por toda a vida: Gogol dava mais atenção às críticas que aos elogios. Seu poema Hans Kuchelgarten foi tão mal recebido pela crítica que o escritor recolheu todos os exemplares e os queimou. Só voltaria a escrever mais tarde, empolgado com a efervescência literária da época.

Na Rússia de então, os intelectuais se dividiam em dois grupos. Um deles defendia a aproximação com a cultura ocidental e o outro estava preocupado com a preservação da cultura russa. Gogol era um simpatizante do segundo grupo. No interesse de resgatar as tradições de sua terra, ele escreveu alguns contos sobre a Ucrânia para revistas e publicou uma seleção deles. O livro se tornou extremamente popular, especialmente por seu humor, que fazia rir os funcionários da gráfica que o imprimia.
Foi nessa época que Gogol conheceu Punchin, o maior poeta russo do período. Punchin foi uma espécie de guru para o jovem Gogol. Gogol chegou a dizer que tudo que escrevia o fazia pensando no que Punchin pensaria, e duas de suas principais obras, Almas Mortas e O Inspetor Geral, surgiram a partir de idéias do poeta.

A trama da peça O Inspetor Geral era simples: as autoridades de uma pequena aldeia tomam conhecimento de que um inspetor do governo chegará incógnito em breve para investigar certos abusos. Por acaso, um aventureiro passa por ali e os poderosos do local, achando que ele é o inspetor, fazem de tudo para suborná-lo. Essa história já foi adaptada para a TV, para o cinema, para os quadrinhos e até na série alemã de ficção-científica Perry Rhodan.

A obra mais genial de Gogol, no entanto, foi escrita em 1842. Trata-se de uma novela com o singelo título de O Capote. É a história de um pobre funcionário público que, a grandes custos, conseguia comprar um novo capote e é roubado no mesmo dia em que o inaugura.

Segue-se, então, uma via-crucis pela burocracia russa. Ao invés do capote, ele consegue apenas uma grande bronca de um alto funcionário, interessado em impressionar um amigo. Isso, unido a uma gripe que o pega por estar sem capote, e portanto, desprotegido do terrível frio de São Petersburgo, leva-o à morte. Seu fantasma então, passa a puxar o capote de todas as pessoas que se aventuram a sair à noite.

Como se vê, suas histórias eram simples, bobas até, como contos infantis. Nada de pretensões filosóficas ou pedantismo. Nosso escritor queria apenas contar histórias de seu país natal, o jeito de ser de sua gente, e talvez nisso resida o seu maior encanto. Suas histórias misturavam humor e tragédia naquilo que os críticos chamaram de risos entre lágrimas. Personagens como o funcionário publico de O Capote são ridicularizados, mas ao mesmo tempo, redimidos por sua humanidade.

Gogol se tornou imortal porque suas obras eram repletas de vida. Era a vida dos grandes heróis nacionais, como Taras Bulba, ou dos insignificantes funcionários públicos. Mas, apesar do sucesso, o escritor vivia entre anjos e demônios. Sempre ouvia mais as críticas do que os elogios. Quando a peça O Inspetor Geral estreou, os conservadores pediram a proibição da mesma, acusando o autor de ter caricaturado tanto o país quanto seus dirigentes. Gogol mergulhou em profunda depressão e viajou para a Europa.

Com o tempo, essas crises de depressão foram se tornando mais e mais freqüentes. No dia 11 de fevereiro de 1852, influenciado por um padre fanático, Gogol queimou todos os manuscritos da segunda parte de Almas Mortas e deitou para morrer. Não se alimentava, nem aceitava remédios. A 21 de fevereiro daquele ano, a Rússia perdeu um dos seus escritores mais queridos, o homem que abriu as portas para torná-la uma das capitais mundiais da literatura.

terça-feira, agosto 28, 2018

A arte fantástica de BORIS VALLEJO

O peruano radicado nos Estados Unidos mistura temas fantásticos e eróticos com maestria. Suas pinturas são feitas a óleo e utilizam um traço hiper-realista para retratar guerreiros sempre musculosos e em cenas dramáticas. Inspirado por Frazetta, Vallejo chegou a desenhar diversas capas para Conan - O Bárbaro. Nos anos 1980, ilustrou dezenas de livros de pulp fiction de fantasia e, atualmente, muitos dos seus trabalhos são feitos em parceria com sua esposa, a também ilustradora Julia Bell.










Quadrinhópole lança novos volumes do Gralha e do Undeadman



O super-herói curitibano está de volta com um terceiro volume de histórias inéditas. Criado em 1997 por 9 autores - Alessandro Dutra, Antonio Eder, Augusto Freitas, Edson Kohatsu, Gian Danton, José Aguiar, Luciano Lagares, Nilson Müller e Tako X - o personagem fora publicado nas páginas do jornal Gazeta do Povo durante dois anos. Essas histórias foram compiladas em um álbum lançado pela editora Via Lettera em 2001, intitulado Primeiras Aventuras.
Um segundo volume só viria a ser publicado 13 anos depois, pela Editora Quadrinhópole, chamado de Tão banal quanto original. Em 2016 foi lançado também o álbum As Histórias Perdidas do Capitão Gralha, que fazia referência às HQs que teriam sido escritas pelo lendário Francisco Iwerten na década de 50.

Esses dois álbuns deixaram várias perguntas sobre o passado e futuro do herói, que só agora são respondidas em Gralha: o herói, o pinhão, o louco e amorte. Com histórias roteirizadas por Gian Danton e Leonardo Melo e ilustradas por Gabriel Baltazar, Renan Shody, André Caliman, Rui Silveira, Paulo Gerloff, Augusto Freitas, Márcio Freire, Paulo Kielwagen, Antonio Eder, Mario Cau e Edson Kohatsu, o álbum traz de volta vilões clássicos do Gralha e do seu avô, o Capitão Gralha, que retornam para atazanar a vida do herói e forçá-lo a voltar à ativa.

A Quadrinhópole também lança uma edição especial do Undeadman, personagem criado por Leonardo Melo. Sendo imortal, Jason de Ely vive inúmeras aventuras através dos tempos e esse especial traz histórias apenas com artistas convidados, não necessariamente tendo relação com a cronologia oficial do personagem.
São histórias de André Stahlschmidt, Leonardo Santana e Rom Freire, Zé Wellington e João Ferreira, Matheus Moura e Joniel Santos, Alex Mir e Junior Cortizo, Lillo Parra e Giorgio Galli, Marvin Rodriguez, Antonio Eder, e Leonardo Melo e Hugo Nanni.
Ambas as edições serão lançadas durante a Geek City e na Bienal de Quadrinhos, ambos eventos em Curitiba que ocorrem nos próximos dois finais de semana.

Serviço:
Geek city: de 31 de agosto a 02 de setembro.
Expo Barigui: Rua Batista Ganz, 430

Bienal de Quadrinhos de Curitiba: de 06 a 09 de setembro
MUMA – Museu Municipal de Arte: Av. República Argentina, 3432

Editora Quadrinhópole: www.quadrinhopole.com

Confira outras imagens do álbum: 








Histeria - a história do vibrador

No século XIX qualquer mulher que tivesse insônia, irritação ou simplesmente rebeldia era diagnosticada como histérica. Acreditava-se que essa doença era provocada por problemas no útero. Uma das maneiras comuns de tratá-la era massagear a vagina da mulher, o que aliviaria o útero, provocando um "paroxismo histérico". Isso era feito por um médico e supunha-se que não havia nenhum prazer envolvido. Mas os médicos acabavam ficando horas com as mãos ocupadas e sofriam com a hoje famosa LER (lesão por esforço repetitivo). Foi nesse contexto que surgiu o vibrador. Inicialmente movido a vapor, ele permitia ao médico conseguir o tal "paroxismo" em minutos. 
Essa é a história por trás do filme Histeria, a história do vibrador, de . A película conta a história do médico Mortimer Granville (Hugh Dancy), inventor do aparelho. A história mistura fatos históricos com uma comédia romântica (Granville apaixona-se pela filha rebelde de seu sócio). 
As cenas mais engraçadas e que chamam mais atenção, claro, são aquelas em que os médicos, com aparente rigor científico, levam suas pacientes ao orgasmo sem nem mesmo desconfiar disso. 
Mas há muito mais: desde uma discussão sobre a situação do povo numa época em que a Inglaterra era um império, mas seus operários viviam na miséria até a questão da luta entre paradigmas. Médico inovador, Granville só vai parar no consultório do médico que seria seu sócio porque nenhum hospital o aceita por causa de sua crença nos germes como causadores de doenças. Na época, a teoria de Pasteur era vista como fantasia pela maioria dos médicos, que se recusava até mesmo a lavar as mãos. 
Histeria, uma história do vibrador, embora não seja uma obra-prima, certamente vai agradar quem gosta de uma boa comédia e, principalmente, por quem se interessa pela história da ciência. 
Anúncio antigo de vibrador. Os médicos recomendavam.

Mestres do Terror 69 é lançada

O editor Daniel Saks divulgou a capa do novo número da revista Calafrio. Confira o release: 

"Essa revista com capa linda de Chris Ciuffi apresenta uma expansão do Anyverso com a estreia da Múmia, que soma aos enredos da Coisa do Tietê e a Anya, a Filha de Drácula. Anya, Coisa do Tietê e Múmia têm roteiro de Lillo Parra e respectivamente desenhos de Laudo Ferreira, Chris Ciuffi e Will.

Ainda nas HQs Sérgio Mhais e Rafael Feliczaki trazem mais um episódio da formação do príncipe Vlad, o empalador; e Rogério Faria e Rai Guimarães com Viagem Noturna. HQ clássica de Drácula de Rodolfo Zalla.

Nas seções, além dos correios, vocês podem conferir a capa clássica; Heidi Borges com a coluna literária; os bastidores das publicações em Conversa em Primeira Pessoa; e uma matéria especial sobre Esquadrão Atari.

A revista tem 52 páginas em formato 20,5 x 28cm, pelos mesmos R$15,00 de sempre (desde 2000 e tanto ouço o governo que inflação é mentira, eu acreditei e o preço está congelado!), logo nas lojas parceiras ou por este mail.

Não só o preço está mantido como esta edição, originalmente de Setembro, foi adiantada para lançamento nos eventos Geek City e Bienal de Quadrinhos de Curitiba, onde estarei com mesas expondo nossas revistas favoritas".