quarta-feira, junho 18, 2025
A arte fantástica de Frank Frazetta
Frank Frazetta começou sua carreira no início da década de 1950, fazendo histórias em quadrinhos para a editora EC Comics, onde se destacou por seu traço perfeito para histórias de fantasia e ficção científica. Logo se destacou como ilustrador de capas de livros e cartazes de filmes. Suas capas para Conan foram as principais responsáveis por tornar o personagem famoso antes da versão em quadrinhos. Ele ilustrou também célebres capas de livros de John Carter de Marte e Tarzan. Seu estilo foi fundamental para o sucesso do gênero espada e fantasia, influenciando quase todos os artistas do gênero que vieram depois.
terça-feira, junho 17, 2025
Taoismo: a filosofia da eterna transformação
O taoísmo é baseado num pequeno livro de 81 versos chamado Tao Te King. Conta-se que o autor seria um velho chamado Lao Tsé. Lao Tse viveu a primeira metade de sua vida, em torno do século 6 a.C. na corte imperial chinesa trabalhando como historiador e bibliotecário. Um dia, ele abandonou a corte e retirou-se para floresta, onde passou a viver como eremita, estudando e meditando. Depois de algum tempo, resolveu cruzar a fronteira da China. O soldado que guardava a fronteira, imaginando que as autoridades não iriam gostar se ele deixasse ir embora um homem tão sábio, impôs uma condição para que o velho atravessasse a fronteira: antes disso, ele deveria escrever um livro que reunisse toda a sua filosofia. Lao Tse sentou-se, escreveu rapidamente o pequeno livro, entregou ao soldado e foi embora para nunca mais ser visto.
Essa é apenas um das versões para o surgimento do Tao Te King. Hoje não se tem certeza nem mesmo de que Lao Tse tenha existido e muitos pesquisadores prefere creditar o livro à tradição oral.
O livro surge em um período conturbado da história chinesa. Por volta do ano 1000 a 700 a.C., a China foi unificada sob o domínio da Dinastia Zhou. No século 7 a.C. o império Zhou entrou em decadência. As famílias aristocráticas que governavam os estados começaram a brigar pelo poder, absorvendo os estados menores. Essa época conturbada foi chamada de “período dos reinos combatentes”.
Nessa época surgiu uma nova classe de homens, os shi, formada por camponeses ambiciosos e membros falidos da aristocracia. Eles ocupavam o cargo de administradores e conselheiros dos estados.
Embora a maioria dos shi se ocupasse apenas de questões práticas, outros eram idealistas e pretendiam reformular a vida política chinesa com ideais morais e espirituais. Esses homens normalmente se reuniam em torno de um mestre, como Confúcio, e tentavam convencer os governantes locais a seguirem suas políticas. Outros se afastavam do mundo para viver uma vida feliz e simples em bosques, onde apenas pescavam e meditavam.
O Tao Te King é uma mistura das visões desses grupos e de outros. Pode ser lido como um manual para governantes ou como um livro puramente espiritual e contemplativo. Política, religião e filosofia se misturam em uma obra que, ao mesmo tempo é simples e complexa, permitindo várias interpretações.
Na dinastia Han (151-41 a.C.) o Tao Te King foi adotado como um dos principais manuais da corte. Surgiu também a versão de que ele teria sido escrito por um rei, o Huang Di (Imperador Amarelo). No final desse período, o taoismo já era uma religião, com o Tao sendo considerado seu livro sagrado. A lenda de que Lao Tse teria deixado a China chegou mesmo a ser ampliada do modo que ele teria ido para a Índia, trocado de nome para Gautama e fundado o budismo. Aliás, ao entrar na China, o Budismo foi influenciado pelo taoísmo, dando origem ao Zen Budismo.
Tao - indo além da dualidade
O principal conceito do taoísmo é de Tao. Lao Tse diz que era impossível descrever o Tao de maneira racional: “O caminho que pode ser seguido não é o Caminho Perfeito. O nome que pode ser dito não é o Nome eterno. No principio está o que não tem nome”. Assim, o Tao deve ser conhecido de maneira direta e intuitivamente. Para isso é necessário manter a mente tranqüila e esquecer os pensamentos a respeito das coisas eternas.
Para conseguir compreender o Tao também é necessário ir além da dualidade. Nós achamos alguém belo e, por conseguinte, achamos outras pessoas feias. Ao concebermos o bem, criamos o mal. O Tao pretende ir além da ilusão da dualidade, vendo além dos pares opostos.
Eterna mudança
Para os taoistas, a realidade é vista como um fluxo contínuo de mudanças. A essência de todas as coisas é justamente o fato de que elas estão em constante transformação.
Os taoistas acreditavam que não só a mudança era parte essencial da vida, como era possível entender como ela acontecia harmonizando-se com a natureza e seu fluxo.
Assim, o Tao é caracterizado como uma mudança cíclica. Dessa forma, afastar-se significa retornar. Se alguém andar ininterruptamente para oeste, acabará chegando a leste. Quando uma situação atinge seu ponto extremo, é compelida a voltar e se tornar seu oposto. Essa crença dá aos taoistas coragem e perseverança nos períodos de dificuldade cautela nos períodos de sucesso. Eles seguem uma doutrina de meio-termo evitando o excesso e o exagero, pois sabem que uma atitude extrema gera seu oposto.
Simplicidade
Lao Tsé achava que o modo correto de viver era através da simplicidade e da sintonia com o Tao. Adaptação e humildade são virtudes vista como essenciais para os líderes, pois aquele que se intromete com violência no curso natural das coisas prejudica a si mesmo, a sociedade e causa o caos. O bom governo é aquele que menos se intromete na sociedade, deixando que ela cumpra seu curso natural: “Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá”.
As pessoas em posição de comando tendem a se achar melhor do que outras. Contrariando isso, o Tao Te King diz que o homem sábio não tenta se mostrar acima das outras pessoas. Constantemente, pessoas que falam demais são as menos sábias. Muitas pessoas ricas parecem não ter nada. Já por outro lado, pessoas enfeitadas de jóias e com roupas de marca muitas vezes moram em uma casa na favela.
Da mesma forma, muitos acreditam que pessoas em alta posição devem estar em constante atividade, o que as deixa estressadas e impossibilita ver os fatos com ponderação. Como resposta, o taoísmo aconselha exercícios meditativos que conservam a energia e produzem um estado de quietude e equilíbrio.
I-ching
As mudanças constantes do universo são representadas nas figuras do Yin Yang. Yang representa a força masculina do universo, violenta, criadora. Yin é a força feminina, receptiva, flexível. Yin é a intuitiva, meditativa e complexa. Yang é racional, criativo e ativo.
Na filosofia taoista, Yin e Yang são elementos do mesmo processo. Quando um chega ao seu auge, engendra o outro. Ser sábio é combinar esses dois pólos, harmonizando Yin e Yang.
O estudo do ciclo de Yin Yang, embora seja muito influenciado pelas ideias taoistas, é comum a toda a cultura chinesa e já existia em um livro ancestral, o I-ching.
A mais antiga forma de adivinhação chinesa era a leitura de sinais nos ossos de bois, surgidos depois que eram expostos ao fogo. Daí foi criada a adivinhação em cascas de tartaruga. Na dinastia Shang, o oráculo era consultado com o uso de varetas. O sábio jogava as varetas e determinava se a linha era inteira ou cortada. Depois de jogar seis vezes, formava-se o hexagrama e era possível interpretar seu significado.
Em torno do ano 1150 a.C., o imperador Shang Chou Hsin mandou prender o governador da província de Chou, o rei Wen. Na prisão, ele elaborou os julgamentos dos hexagramas. Posteriormente, seu filho tomou o poder, tornando-se imperador e, descobrindo o trabalho do pai, resolveu ampliá-lo, escrevendo os comentários às linhas mutáveis. Posteriormente, o oráculo foi enriquecido com comentários atribuídos a Confúcio e seus discípulos.
O I-ching não é um livro de adivinhações, pois ele não prevê o futuro, mas estabelece o estado em que as coisas estão, analisando a mudança e a relação entre as forças Yin e Yang.
Por exemplo, no primeiro hexagrama, todas as linhas são inteiras. A imagem formada representa uma situação apenas de linhas fortes Yang, que significam força, criatividade e liderança, razão pela qual esse hexagrama é normalmente chamado de O criativo. O julgamento diz que as forças do céu impelem o homem e o ajudam a iniciar ou levar adiante um empreendimento. O comentário diz que “as forças da natureza favorecem tudo aquilo que se inicia”.
O hexagrama oposto, chamado de O receptivo, é formado apenas por linhas cortadas, representando Yin, a passividade, a dedicação e concórdia, a diplomacia, a perseverança e a paz. O julgamento diz que o sucesso está garantido se a pessoa que consulta o oráculo colaborar e se deixar conduzir, mantendo-se sempre flexível e disponível. O comentário diz que “Ser receptivo é muito importante, pois todos os seres lhe devem o nascimento. Como a Terra, cuja função é receber a semente que depois darão os frutos, também obterá muitos benefícios aquele que souber tolerar e compreender as pessoas e as situações”.
Rituais
No taoísmo religioso, um dos principais rituais é o de iniciação. Ele é usado para introduzir aqueles que estão interessados em tomar o taoísmo como seu caminho espiritual. A cerimônia pode ser bem simples ou mais elaborada, mas tanto em um caso como outro, são estabelecidos compromissos entre mestre e discípulo. Os iniciantes passam a receber proteção dos mestres taoístas. Os iniciados também podem participar, de modo que são renovadas as bênçãos dos mestres.
No ritual de purificação são feitos pedidos de desenvolvimento espiritual. No ritual de oferenda são realizadas oferendas de frutas, flores, incenso, velas e alimentos para as divindades como forma de agradecimento e devoção. As oferendas representam desprendimento das coisas materiais e dedicação ao caminho de transformação espiritual. Através delas, Yin e Yang são fundidos, criando um estado de unidade no praticante.
Cada oferenda tem um significado. O incenso simboliza a transcendência e dissolução do ego, correspondendo ao conceito de Wu Wei (ação não-intencional). As flores simbolizam a vida e correspondem ao conceito de Dzé Zan (natureza e naturalidade). As frutas simbolizam o desapego e desprendimento em relação aos valores materiais. A água e o chá representam a purificação e a remoção dos apegos, correspondendo ao conceito Chin Jin (Transparência e Pureza). Finalmente, as velas simbolizam o encontro de nossa Consciência com a Consciência Sagrada, correspondendo ao conceito Suen Hua (Transformação Natural).
Nos templos taoístas também são feitos rituais de casamento, benção de crianças e ritos fúnebres.
O TEI-GI
O Tei-Gi, também conhecido como Yin Yang, é um famoso ícone popular. Mas poucos sabem o que significa. Seu desenho, na verdade, é uma interpretação icônica dos princípios do taoísmo. A figura é formada por duas partes, uma preta e outra branca. São os pares opostos, o Yin e o Yang: o masculino e feminino, o feio e o belo, o bom e o mal.
As figuras formam uma espécie de onda, como se fosse a água se movimentando. Isso simboliza a eterna mudança, base de toda a criação. Então, os pares opostos não estão estaques, mas em movimento. Uma mulher que hoje é bela amanhã pode se tornar feia. O que hoje é bem, pode ser o mal. Assim, no auge da parte branca, temos um pequeno círculo preto, demonstrando que o auge de um estágio é o começo do estágio seguinte. O auge do sucesso marca o início da decadência, etc.
Dessa forma, os pares opostos não são absolutos: o belo traz em si também o feio. O feio traz em si o belo. A imagem permite ver os pares opostos em uma perspectiva global e é o que faz o taoísta, indo além deles. Assim, para o taoísta, vitória e derrota são apenas dois lados da mesma moeda e não se deve apegar a nenhum deles, pois seria estar parado em um mundo de eterno movimento.
Concepção cognitivista da educação

Um dos paradigmas que tiveram grande influência sobre a área da educação é a cognitivista, especialmente de autores como Jean Piaget e Vygotski.
Piaget começou sua carreira trabalhando com dois psicólogos franceses, Binet e Simon, criadores do famoso teste de QI, que mede a inteligência. Analisando as respostas erradas das crianças, ele percebeu que essas respostas eram consideradas erradas por serem analisadas do ponto de vista do adulto. Na verdade, as respostas seguiam uma lógica própria característica de cada idade.
Ponto fundamental da teoria de Piaget é a noção de equilíbrio (chamada de homeostase pela cibernética) segundo a qual todos os organismos, sejam eles uma ameba, uma borboleta ou uma criança procura manter um estado de equilíbrio com seu ambiente.
A construção do conhecimento ocorre quando ações físicas e mentais sobre o objeto provocam desiquilíbrio, que resulta em assimilação ou acomodação. Na assimilação, a realidade do mundo é assimilada às estruturas cognitivas existentes, na acomodação, a estrutura cognitiva é modificada em decorrência das experiências.
Para Piaget, a pessoa passa por fases de desenvolvimento que refletem as fases pelas quais passou a própria humanidade. As fases não são diretamente ligadas a uma idade. É possível que uma criança passe para uma nova fase antes das outras. Mas a seqüência não pode ser pulada.
Na fase sensório-motora, a criança baseia-se exclusivamente nas percepções sensoriais e nos esquemas motores para resolver problemas que são essencialmente práticos: bater em uma bola, pegar um botão, etc.
Presa ao aqui e agora, a criança ainda não tem capacidade de representar eventos, evocar o passado ou se referir ao futuro. Se ela está brincando com uma bola e a bola cai debaixo da coberta, ela deixa de existir. Se a mãe sai de perto do bebê, ele ainda não tem a percepção de que ela irá voltar. Com o tempo a criança começa a perceber que as coisas perduram no tempo e no espaço independente de estarem visíveis ou não e esse tipo de descoberta traz grande prazer à criança. É a fase em que os pais colocam um pano na frente do rosto e depois o descobrem. Ou cobrem um objeto e depois tiram o pano. Essa brincadeira reflete uma mudança na estrutura cognitiva da criança.
Na fase pré-operatória a criança começa a trabalhar com símbolos e representações. Ela compreende que a palavra “papai” se refere a uma pessoa específica e que essa palavra substituí a pessoa real. Nesse período é comum a criança brincar de representação, em que um boneco é tido como um bebê, que come, brinca e faz arte.
É uma fase egocêntrica, em que a criança só consegue analisar os fenômenos tomando a si mesma como referência. O seguinte diálogo é característico dessa idade: “Quantos irmãos você tem?”. “Eu só tenho um irmão”. “E o seu irmão, quantos irmãos ele tem?”. “Nenhum”. O exemplo demonstra que a criança só pode conceber sua família tomando a si mesma como referência.
Embora já seja capaz de trabalhar com signos, a percepção da criança ainda é extremamente dependente da percepção imediata, sofrendo, em decorrência disso, uma série de distorções. A criança não é capaz, por exemplo, de perceber que a massa de uma determinada substância permanece a mesma, independente do formato. Assim, ao fazer uma salsicha com uma massinha, a criança achará que ela tem mais massa que uma bola da mesma substância, pois não é capaz de trabalhar com a reversibilidade, a capacidade de voltar mentalmente a substância ao seu estado anterior. Um outro exemplo seria o caso da água colocada em um copo pequeno, mas largo, passada para um copo estreito, mas alto. A criança nesse estágio acha que houve um aumento da massa.
Na etapa operatório concreta a criança já é capaz de lidar com a reversibilidade e com a lógica, mas ainda depende da percepção do mundo.
Na etapa do operatório formal, que geralmente inicia na adolescência, a pessoa já é capaz de trabalhar com o pensamento puramente abstrato e a utilizar a lógica dedutiva. Na lógica dedutiva, parte-se do todo para a parte. Por exemplo: todas as pessoas que usam uniforme da polícia são policiais. Este homem usa uniforme da polícia, logo este homem é policial. A lógica desse caso funciona por si só.
Na teoria de Piaget, a função da educação é ajudar nesse processo cognitivo. Ao professor cabe oferecer problemas aos alunos, sem ensinar-lhe soluções. Seu papel, essencialmente, é de um orientador. As fases do desenvolvimento do aluno devem ser respeitadas. Não se pode querer, por exemplo, que uma criança de cinco anos seja capaz de trabalhar com o pensamento hipotético-dedutivo.
Vygostski discordou de Piaget ao afirmar que a influência do meio era maior que fatores individuais. Para ele, a criança já nasce num meio social e, desde o nascimento, vai formando sua visão de mundo influenciada pela interação com adultos e crianças mais velhas. Segundo o autor russo, é impossível estabelecer etapas cognitivas que sejam válidas para todas as sociedades. Assim, variando o ambiente social, o desenvolvimento da criança também sofrerá variação.
Cada sociedade fornece aos seus integrantes instrumentos físicos (enxadas, faca, mesa, computadores) e culturais (rituais, valores, costumes, conhecimentos) desenvolvidos pelas gerações anteriores que vão orientar o desenvolvimento cognitivo.
A linguagem e a interação com os mais velhos é essencial nessa abordagem. Pensamento e linguagem são diretamente relacionados. Ao descobrir que todos os objetos têm nomes, a criança verá um objeto desconhecido como algo a ser nomeado e para resolver o problema recorre aos mais velhos. Assim, o processo de desenvolvimento do individuo possui dois níveis. Um, real, corresponde ao que ele pode fazer sozinho, com os conhecimentos já formados. O outro, potencial, refere-se à possibilidade de aprender com indivíduos mais experientes.
Para Vigotski, o aprendizado é o processo de desenvolvimento interno que só ocorre através da interação do indivíduo com o ambiente social no qual vive.
Piaget começou sua carreira trabalhando com dois psicólogos franceses, Binet e Simon, criadores do famoso teste de QI, que mede a inteligência. Analisando as respostas erradas das crianças, ele percebeu que essas respostas eram consideradas erradas por serem analisadas do ponto de vista do adulto. Na verdade, as respostas seguiam uma lógica própria característica de cada idade.
Ponto fundamental da teoria de Piaget é a noção de equilíbrio (chamada de homeostase pela cibernética) segundo a qual todos os organismos, sejam eles uma ameba, uma borboleta ou uma criança procura manter um estado de equilíbrio com seu ambiente.
A construção do conhecimento ocorre quando ações físicas e mentais sobre o objeto provocam desiquilíbrio, que resulta em assimilação ou acomodação. Na assimilação, a realidade do mundo é assimilada às estruturas cognitivas existentes, na acomodação, a estrutura cognitiva é modificada em decorrência das experiências.
Para Piaget, a pessoa passa por fases de desenvolvimento que refletem as fases pelas quais passou a própria humanidade. As fases não são diretamente ligadas a uma idade. É possível que uma criança passe para uma nova fase antes das outras. Mas a seqüência não pode ser pulada.
Na fase sensório-motora, a criança baseia-se exclusivamente nas percepções sensoriais e nos esquemas motores para resolver problemas que são essencialmente práticos: bater em uma bola, pegar um botão, etc.
Presa ao aqui e agora, a criança ainda não tem capacidade de representar eventos, evocar o passado ou se referir ao futuro. Se ela está brincando com uma bola e a bola cai debaixo da coberta, ela deixa de existir. Se a mãe sai de perto do bebê, ele ainda não tem a percepção de que ela irá voltar. Com o tempo a criança começa a perceber que as coisas perduram no tempo e no espaço independente de estarem visíveis ou não e esse tipo de descoberta traz grande prazer à criança. É a fase em que os pais colocam um pano na frente do rosto e depois o descobrem. Ou cobrem um objeto e depois tiram o pano. Essa brincadeira reflete uma mudança na estrutura cognitiva da criança.
Na fase pré-operatória a criança começa a trabalhar com símbolos e representações. Ela compreende que a palavra “papai” se refere a uma pessoa específica e que essa palavra substituí a pessoa real. Nesse período é comum a criança brincar de representação, em que um boneco é tido como um bebê, que come, brinca e faz arte.
É uma fase egocêntrica, em que a criança só consegue analisar os fenômenos tomando a si mesma como referência. O seguinte diálogo é característico dessa idade: “Quantos irmãos você tem?”. “Eu só tenho um irmão”. “E o seu irmão, quantos irmãos ele tem?”. “Nenhum”. O exemplo demonstra que a criança só pode conceber sua família tomando a si mesma como referência.
Embora já seja capaz de trabalhar com signos, a percepção da criança ainda é extremamente dependente da percepção imediata, sofrendo, em decorrência disso, uma série de distorções. A criança não é capaz, por exemplo, de perceber que a massa de uma determinada substância permanece a mesma, independente do formato. Assim, ao fazer uma salsicha com uma massinha, a criança achará que ela tem mais massa que uma bola da mesma substância, pois não é capaz de trabalhar com a reversibilidade, a capacidade de voltar mentalmente a substância ao seu estado anterior. Um outro exemplo seria o caso da água colocada em um copo pequeno, mas largo, passada para um copo estreito, mas alto. A criança nesse estágio acha que houve um aumento da massa.
Na etapa operatório concreta a criança já é capaz de lidar com a reversibilidade e com a lógica, mas ainda depende da percepção do mundo.
Na etapa do operatório formal, que geralmente inicia na adolescência, a pessoa já é capaz de trabalhar com o pensamento puramente abstrato e a utilizar a lógica dedutiva. Na lógica dedutiva, parte-se do todo para a parte. Por exemplo: todas as pessoas que usam uniforme da polícia são policiais. Este homem usa uniforme da polícia, logo este homem é policial. A lógica desse caso funciona por si só.
Na teoria de Piaget, a função da educação é ajudar nesse processo cognitivo. Ao professor cabe oferecer problemas aos alunos, sem ensinar-lhe soluções. Seu papel, essencialmente, é de um orientador. As fases do desenvolvimento do aluno devem ser respeitadas. Não se pode querer, por exemplo, que uma criança de cinco anos seja capaz de trabalhar com o pensamento hipotético-dedutivo.
Vygostski discordou de Piaget ao afirmar que a influência do meio era maior que fatores individuais. Para ele, a criança já nasce num meio social e, desde o nascimento, vai formando sua visão de mundo influenciada pela interação com adultos e crianças mais velhas. Segundo o autor russo, é impossível estabelecer etapas cognitivas que sejam válidas para todas as sociedades. Assim, variando o ambiente social, o desenvolvimento da criança também sofrerá variação.
Cada sociedade fornece aos seus integrantes instrumentos físicos (enxadas, faca, mesa, computadores) e culturais (rituais, valores, costumes, conhecimentos) desenvolvidos pelas gerações anteriores que vão orientar o desenvolvimento cognitivo.
A linguagem e a interação com os mais velhos é essencial nessa abordagem. Pensamento e linguagem são diretamente relacionados. Ao descobrir que todos os objetos têm nomes, a criança verá um objeto desconhecido como algo a ser nomeado e para resolver o problema recorre aos mais velhos. Assim, o processo de desenvolvimento do individuo possui dois níveis. Um, real, corresponde ao que ele pode fazer sozinho, com os conhecimentos já formados. O outro, potencial, refere-se à possibilidade de aprender com indivíduos mais experientes.
Para Vigotski, o aprendizado é o processo de desenvolvimento interno que só ocorre através da interação do indivíduo com o ambiente social no qual vive.
Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo
O herói romântico impávido e abnegado, lutando contra o destino e a natureza selvagem em uma empreitada impossível. Esse é o tema de Os trabalhadores do mar, de Victor Hugo.
O livro conta a história, fictícia, de um dos primeiros navios a vapor da Inglaterra, um prodígio de tecnologia que espanta a muitos, apavora a outros, e traz a riqueza para seu dono. Esse navio é vítima de um naufrágio, mas o motor, sua parte mais valiosa, resiste, intacto, junto com que sobrou do navio, no alto de duas torres na costa pedregosa.
O dono do navio oferece a mão da sobrinha para quem fosse capaz de resgatar tal engenho.
É quando um rapaz, pária na vila, e apaixonado pela sobrinha do armador, se dedica ao desafio. Sozinho e quase sem recursos além da própria habilidade e obstinação, ele se encaminha ao local, mas para retirar o motor de dentro do navio, terá de enfretar todo tipo de obstáculo, incluindo tempestades pavorosas, fome e sede. Como se vê, o título, “Trabalhadores do mar”, é mais do que equivocado, uma vez que é um livro de um herói só – e praticamente um só personagem.
A narrativa de Victor Hugo é arrastada (o gancho que puxa a história, o naufrágio do navio, acontece praticamente na metade do livro), mas o livro até aí se sustenta pelo texto envolvente de Hugo pela tradução de Machado de Assis. Um gênio traduzindo outro gênio.
A narrativa, especialmente da cena da tempestade, é grandiosa, dramática. O senso comum hoje associa romantismo a histórias água com açúcar, de final feliz. Mas o romantismo original é trágico, intenso. Quem já viu o quadro A barca da Medusa, de Gericault, certamente se lembrará do quadro ao ler esse capítulo.
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A barca da Medusa: obra inaugurou o romantismo na arte e apresenta o mesmo clima dramático do livro. |
Algo que espanta ao leitor moderno é perceber que Victor Hugo foi um dos primeiros, senão o primeiro, a retratar um psicopata em sua obra. E com uma precisão impressionante. Alguns trechos: “Odiava a virtude com um ódio de mal-casado. Teve sempre uma premeditação malvada; desde que se fizera homem trazia aquela armadura rígida, a aparência. Era monstro internamente; vivia em uma pele de homem de bem com coração de bandido (...) Passar-se por homem honrado é duro! Manter constante equilíbrio, pensar mal e falar bem, que labutação! (...) Arrancar a máscara, que livramento!”.
Espanta mais ainda que o livro tenha sido escrito em 1866, quando ainda nem existia a psicologia e quase 100 anos antes das primeiras pesquisas sobre psicopatas. Nesse sentido, o livro lembra a fala de Edgar Morin sobre como a literatura conseguiu adentrar na alma humana muito mais que a ciência.
Santiago - guia de viagem
Santiago, apesar de ser uma cidade latino-americana, é muito diferente da maioria das cidades brasileiras - e mesmo da América Latina. Para começar, é a capital mais segura da região. Mesmo uma população enorme, de 5 milhões de pessoas, parece não ter afetado a criminalidade. Eu andava pelas ruas e via gente mexendo no celular como se estivesse numa cidadezinha de interior. E, apesar da maconha ser liberada, não vi uma única pessoa fumando na rua - algo que vi muito em cidades como São Paulo e Curitiba.
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Lojas de maconha são comuns na cidade menos violenta da América Latina. |
No centro há os chamados cafés com pernas, em que os clientes são atendidos por moças em mini saias - daí o nome. Dizem que antigamente esses cafés tinham atração a mais. Em determinado momento todas as garçonetes tiravam a camisa exibindo seus seios - mas esse espetáculo parece ter ficado no passado.
Os prostíbulos são chamados de cafés elegantes - e você poderia facilmente entrar em um por engano, pois parecem realmente cafés.
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As bancas de revistas têm poucas revistas jornalísticas. |
Para alguém da área de comunicação o que espanta é a ausência de revistas nas bancas. Não há, por exemplo, revistas como Veja e Istoé. Em compensação, há muitos jornais, inclusive sobre maconha e sobre saúde, além dos jornais especializados em humor político. Para os fãs de quadrinhos uma dica são os álbuns do personagem Condorito - tão popular no Chile que em locais turísticos vendem imãs de geladeiras. É possível comprar os álbuns por valores que vão de 5 a 10 reais.
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Palácio de La Moneda |
Há também uma curiosidade: o palácio de governo se chama Casa de La Moneda. Isso porque de fato ela foi construído para ser uma casa da moeda, mas com o tempo acabou sendo apropriada como residência pelos presidentes. Aliás, a construção atual foi totalmente reformada. Quando do golpe militar que levou Pinochet ao poder, o palácio foi duramente bombardeado.
No centro há diversos guias turísticos oferecendo seus serviços. Não caia nessa. Nós contratamos um e o valor é alto (aproximadamente 100 reais por pessoa) e os guias falam pouca coisa que realmente interessa, se contentando com algumas piadinhas. Além disso, o percurso é feito totalmente a pé. Não vale os 100 reais.
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Os ônibus panorâmicos da Turistik são uma boa opção para conhecer os principais pontos turísticos da cidade. |
Para quem está chegando na cidade, uma boa dica é o ônibus da Turistik, que percorre os principais pontos turísticos da cidade. O valor é um pouco maior que o dos guias turísticos e são percorridos muito mais lugares - além da narração gravada que traz informações realmente relevantes sobre os pontos turísticos - inclusive sobre a resistência dos índios Mapuche aos espanhóis (uma dos poucos povos pré-colombianos que botaram terror nos espanhóis). Só não compre o passeio pelo site. Eu comprei e eles não mandaram o volcher. Tive que comprar numa loja da Turistik (há muitas espalhadas pela cidade) e pedir o reembolso.
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O shopping Costanera pode ser visto de todas as partes da cidade. |
Ponto turístico obrigatório é o shopping Costanera, um dos prédios mais altos do mundo - que pode ser visto de qualquer ponto da cidade - uma maravilha arquitetônica numa cidade que costuma ter frequentes abalos sísmicos. Aliás, prepare-se: os tremores são frequentes. Nós pegamos um de 6.4. Foi assustador (e divertido) ver a porta do apartamento batendo como se alguém quisesse entrar. Mas os chilenos só se preocupam se for acima de 7.0.
Falando em dinheiro, prepare-se. Embora o real seja muito valorizado com relação ao peso chileno, os preços são altíssimos. Quando fomos cheguei a fazer a conversão de um real para 180 pesos. Parece muito, mas você vai no supermercado e não encontra nada mais barato que mil pesos. Uma garrafa de água de 300 ml custa 800 pesos. Ou seja, quase cinco reais dependendo da conversão. A conversão engana. Uma senhora que foi conosco nos dizia que comprou uma barra de chocolate por um preço baixíssimo. Fui fazer a conversão e descobri que ele pagara quase 10 reais numa barra de chocolate que no Brasil custo no máximo 5 reais.
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Muitas empresas mandam fazer casas para cachorros de rua. |
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Os cachorros de rua de Santiago parecem cachorros de raça brasileiros. |
Outra boa opção é o passeio para Vina del Mar e Valparaíso. Mas não aconselho ir pela Turistik. Gastamos quase 60% do tempo em Vina del Mar, um local repleto de prédios de luxo nos quais os ricos passam férias. E passamos quase correndo por Valparaíso, uma cidade histórica super-interessante - para ter uma ideia, passamos tão rápido pelo Museu Pablo Neruda que algumas pessoas sequer viram o prédio. Se o seu interesse é por cidades históricas, aconselho ir de ônibus normal e ficar pelo menos um dia inteiro em Valparaíso. Se o seu interesse for tirar fotos para parecer rico, o passeio da Turistik é uma boa.
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A troca da Guarda é uma das atrações no Palácio de La Moneda |
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A arquitetura de Santiago chama atenção tanto pelos prédios modernos quanto pelos clássicos. |
O funicular é usado para subir ou descer dos cerros (morros) |
Para evitar que as casas históricas fossem pichadas, a prefeitura de Valparaíso incentivou os grafites. Isso transformou a cidade num museu a céu aberto. |
Até mesmo as mercearias de Valparaíso são diferenciadas, com placas vintage. |
Em Vina del Mar, praia e prédios luxuosos. |
Homenagem a Pablo Neruda. |
O teleférico permite ver toda a cidade de Santiago. |
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