domingo, novembro 30, 2025

Livro discute a cultura pop

 


 

Cultura pop, comunicação e linguagem é uma antologia organizada por Ivan Carlo Andrade de Oliveira (Gian Danton) e Rafael Senra. Divididos em artigos e ensaios, os textos abordam os mais diversos temas dentro do leque da cultura pop.

No âmbito dos quadrinhos, começamos com uma análise da adaptação da história de Conan "A torre do elefante", passando pelo conceito de Gynoid no mangá "Hyper future vision", e até uma interpretação da jornada do herói a partir da saga "Estação das brumas" em Sandman. No campo da música, temos uma abordagem semiótica da capa do álbum "Artpop" da cantora Lady Gaga, e, na interface entre literatura e outras mídias, uma análise de adaptações da obra "The Witcher".

Para completar o livro, os ensaios tratam de representações da Grande Depressão em dois quadrinhos, além das obras de Chris Ware e, para concluir, uma reflexão sobre o papel de Jim Shooter no comando da editora Marvel Comics. 

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Álbum de figurinhas Marvel 80 anos

 


Este ano a Marvel completa 80 anos. Para comemorar, a Panini lançou um álbum de figurinhas que é, desde já, item de colecionador.

Álbuns de figurinhas de quadrinhos não são novidade. Da Marvel muito menos. Lembro de pelo menos dois. Mas a maioria era apenas ilustrações, a maioria contemporâneas, de personagens da editora. O diferencial deste é que ele é praticamente um documento histórico. Embora de maneira bastante sucinta, os textos contam a história da editora, desde Marvel Comics número 1, que trouxe Namor e Tocha Humana, os primeiros heróis da editora, até os dias atuais, passando por fases pouco conhecidas da editora pelos leitores atuais, como quando a editora se especializou em histórias de terror, monstros, faroeste e até românticas.

Uma das atrações é a reprodução das capas originais.

A grande atração aqui são as reproduções das capas originais em figurinhas com borda metalizada.

Ao final há uma história em quadrinhos com quadros que precisam ser completados com figurinhas com o Capitão América, uma escolha mais do que acertada, já que o personagem foi um dos primeiros sucessos da Marvel e continua relevante até os dias atuais. É um pequeno conto sobre uma garota que ajuda o Capitão e precisa de sua ajuda para convencer sua mãe sobre os rumos de sua vida. Infelizmente a HQ não é creditada.

Ah, o álbum traz também cards desenhados por gente do calibre de Alex Ross e Mike Deodato Jr.

É uma boa oportunidade para apresentar a história da Marvel para as novas gerações. Eu comprei para montar com meu neto.

Pancadaria – por dentro do épico conflito Marvel vs DC

 

Todo fã de quadrinhos de super-heróis certamente conhece o embate entre as duas maiores editoras norte-americanas. Marvel e DC têm disputado o mercado do comics há décadas, com vitórias e derrotas para um lado e outro ao longo de todo esse tempo. A batalha entre essas duas gigantes é tão monumental quanto as batalhas de seus personagens. O livro Pancadaria, de autoria de Reed Tucker, da editora Fábrica 231 se desbruça sobre esse fenômeno.
Red Tucker é jornalista especializado em cultura pop, tendo trabalhado em várias publicações, como o New York Post, Esquire e USA Today. Ou seja: é um jornalista da área. Isso garante tanto uma linguagem agradável quanto um conhecimento adequado. Mais ainda: como bom jornalista, Tucker vai procurar causos interessantes, curiosidades dessa guerra – que tornam o livro extremamente divertido.
A DC foi a inventora do negócio. Os super-heróis surgiram com a publicação de Super-homem em Action Comics 1, em junho de 1938 (os donos pagaram apenas 130 dólares pelos direitos do personagem). Depois surgiram Batman, Mulher Maravilha, Lanterna Verde, todo um panteão de personagens. A trindade (Super-homem, Batman, Mulher Maravilha) sobreviveu até mesmo aos difícieis anos 1950, quando os quadrinhos foram acusados de provocar delinquência juvenil e muitas editoras fecharam suas portas.
Mas ser a primeira tem seus problemas. Na DC isso se refletiu na forma de conservadorismo. Os artistas iam trabalhar de terno e gravata e a tríade de editores dos anos 1960, Mort Weisinger, Julie Schwartz e Robert Kanigher se destacava pelo caráter abusivo. Weisinger ligava para o roteirista Jim Shotter, então com 13 anos, para chama-lo de idiota. Dizem que no funeral de Weisinger, em 1978, o rabino convidou os participantes a se levantar e discursar sobre as boas qualidades do falecido. Depois de um longo silêncio, alguém lá no fundo gritou: “O irmão dele era pior!”.
Enquanto no luxuoso prédio da DC imperava o conservadorismo, na discreta Marvel se operava uma revolução. A Marvel surgira pouco depois da DC publicando anti-heróis, como Namor e Tocha Humana e fora responsável pelo grande sucesso da guerra, o Capitão América. Mas assim que terminou o conflito, suas vendas caíram. No final dos anos 1950, a editora se resumia a uma sala e dois funcionários: o editor Stan Lee e uma secretária e se especializava em imitar qualquer coisa que estivesse fazendo sucesso em outra editora.
Stan Lee já estava para chutar o balde e partir para um emprego melhor quando resolveu fazer uma última tentativa. O dono da Marvel ordenara que ele fizesse uma cópia da Liga da Justiça, que estava fazendo sucesso na DC: “Ei, talvez ainda haja mercado para super-heróis. Por que não traz uma equipe como a Liga da Justiça? Podemos chama-la de Liga Correta ou algo do tipo”, disse Martin Goodman para Stan Lee.  
Mas, junto com Jack Kirby, Lee elaborou algo completamente diferente: o Quarteto Fantástico, publicado em agosto de 1961. Até então, a pequena editora nunca apresentara concorrência à DC. Mas Quarteto Fantástico mudou tudo. Era um quadrinho completamente diferente do que se fazia à época. Antes dele, os heróis de quadrinhos eram monodimensionais e, reflexo disso, todos falavam da mesma maneira. Tucker conta que era possível trocar os balões dos heróis da Liga da Justiça sem qualquer prejuízo para a história.  No Quarteto Fantástico, cada um tinha uma personalidade, um modo de falar e de encarar o mundo.
Se na DC os heróis pareciam muito felizes com seus poderes, no Quarteto, eles eram fontes de problemas, em especial para o monstruoso Coisa. E eles brigavam. Na primeira edição há pelo menos três pontos de conflitos entre os heróis. Na edição 2, a Mulher Invisível diz: “Nós vamos nos destruir se ficarmos pulando no pescoço um do outro!”.
Além disso, as histórias dos vários personagens faziam parte de um universo único, interconectado. Dizia-se que se estivesse trovoando em um gibi, estaria chovendo no outro. E, a cereja do bolo: a arte extremamente dinâmica de Jack Kirby, perfeita para as inúmeras cenas de luta.
O resultado disso é que logo as revistas da Marvel estavam superando as da Dc em percentual de vendas. Enquanto revistas como Super-homem vendiam 50% da tiragem, as da Marvel vendiam mais de 70%.
Os donos e editores da DC não se dignaram a ler as revistas para saber o que estava fazendo com que elas fossem especiais. Não podia ser as histórias, já que se imaginava que o público de quadrinho fossem crianças semi-alfabatizada. Também não podia ser a arte de Jack Kirby, muito “inferior” ao que se fazia na DC. A solução só poderia estar nas capas.
Reed Tucker conta os bastidores de uma hoje hilária reunião da DC em que os figurões da editora tentavam descobrir o que havia nas capas da Marvel que fazia as revistas venderem. Podiam ser o vermelho? As logos inúteis? Os balões prolixos? A arte “ruim” de Jack Kirby, que provocava uma associação com as crianças?
O resultado dessa cegueira nós conhecemos: a Marvel logo se tornou a maior editora de quadrinhos dos EUA. Por breves períodos a DC conseguiu suplantá-la. Tucker conta em detalhes essa saga, do início do gênero à explosão dos super-heróis no cinema. Isso numa linguagem divertida, fluída. Mal se percebe que o volume tem quase 300 páginas

O rei de porcelana

 


O rei de porcelana, série coreana dirigida por Song Hyun-wook, parte de uma situação real: antigamente, em países como Coréia e Japão, o nascimento de gêmeos era visto como mau agouro. Se fosse na nobreza então, a situação era ainda pior.

A história começa com o nascimento do filho do príncipe herdeiro. Quando se descobre que se trata de uma casal de gêmeos, o desespero toma conta de todos. Quem aceitaria ser governado por um homem que dividiu o útero com uma mulher? Assim, o rei decide por matar a menina e esconder a história, matando todos os criados que de alguma forma participaram do parto.

Mas a princesa não quer ver sua filha morrer e convence o médico real a usar acumputura para simular a morte da menina, que depois é levada para local desconhecido.

Anos depois, essa menina reaparece no palácio, como uma dama de companhia e o príncipe, percebendo a semelhança entre ambos, começa a trocar de lugar com ela. Numa dessas trocas, ele acaba sendo morto e quem assume seu lugar é a irmã gêmea. A situação, entretanto, é extremamente perigosa: se um dia descobrirem a troca, todos os envolvidos podem ser mortos.

Esse mote cria a espinha dorsal de uma trama viciante, que envolve romance (a princesa, disfarçada de príncipe, apaixona-se por seu preceptor), aventura, suspense, humor e cenas de ação.

Esse talvez seja o aspecto mais interessante desse dorama (ou, o que seria mais apropriado dizer, k-drama): é uma história de amor misturada com tramas palacianas.

A direção traz algo inusitado para os ocidentais: o uso das mãos como elemento dramático. Em diversas cenas são usados planos detalhes das mãos dos personagens para demonstrar seu estado de espírito (raiva, paixão, medo) ou suas intenções.

Também vale destacar a boa escolha do elenco. Park Eun-bin, que faz o papel principal é extremamente expressiva. Embora visualmente não seja nada parecida com um homem, consegue entregar uma atuação muito diferente de quando não está como mulher. O astro K-pop Rowoon, que faz seu par romântico destaca-se por trazer alívio cômico para diversas cenas.

O rei de porcelana irá agradar diversos públicos e não só quem se interessa por histórias românticas, mas um aviso: cada capítulo tem aproximadamente uma hora e são vinte capítulos. Ou seja, é  necessário um grande comprometimento de tempo para assistir.

X-men – O caso Doomsmith

 


Chris Claremont seria um escritor tão importante para o grupo de mutantes que seu nome estaria para sempre ligado a eles, mas quando escreveu a primeira história dos personagens era só um ex-estagiário substituindo o já veterano Len Wein, tanto que ele escreveu em cima de um plot criado por Wein.

A história, publicada em X-men 94 e 95 chamava-se O caso Doomsmith e já começava com os X-men originais avisando o professor Xavier que estavam fora do grupo. Dos antigos, apenas Banshee  e Cíclope ficam, de modo que a equipe é quase toda renovada.

O próprio Claremont viria a declarar depois que a o grupo tinha três personagens muito parecidos: Solaris, Pássaro Trovejante e Wolverine, o que era um problema para o roteirista. Como criar situações e diálogos sem que um parecesse cópia do outro? Claremont já se livra de Solaris logo na segunda página: o japonês invocado simplesmente diz que seu único compromisso é com seu país e seu imperador e dá no pé.

A destruição do jato dos X-men é uma desculpa para Cockrum fazer uma das suas famosas cenas de impacto. 


 A trama gira em torno do Conde Nefária, que usa seus homens-animais para invadir a montanha de Valhalla, o centro nervoso do sistema de defesa dos EUA. Ocorre que ele inadvertidamente liga o sistema Doomsmith, que faz com que os misseis nucleares sejam lançados automaticamente – um sistema que a partir de certo ponto não pode ser desativado.

Assim que chegam ao local, o avião dos X-men é atingido, uma desculpa para que Dave Cockrum fizesse uma de suas cenas de impacto, com os heróis caindo. Essa sequência, inclusive, já revela um problema de Claremont: o excesso de diálogos. Durante a queda os personagens conversam tanto que dava tempo deles caírem, subirem e caírem de novo.

Ainda assim, a trama é divertida, envolvente e repleta de ação e boa caracterização de personagens.

Pássaro Trovejante morre fazendo algo idiota. 


Até o final da história, claremont dá um jeito de se livrar de mais um herói, dessa vez o Pássaro Trovejante. Ele simplesmente pula no jato do Conde Nefária e bate no veículo até que ele fique desgovernado e simplesmente exploda. Era claremont usando e abusando do roteirismo: como não gostava do personagem, obriga o personagem a fazer algo idiota, que culmina na sua morte.

Embora a morte de um X-man tenha sido anunciada na capa, no miolo o professor Xavier passa exatamente uma página lamentando a morte, o que mostra o quanto o episódio teve pouca importâcia. Perto da morte da Fênix, que mobilizou edições inteiras, é como se a morte de Pássaro Trovejante passasse batido. O lado bom é que isso liberou Wolverine para se tornar um personagem de destaque no grupo.

Campo do medo

 


 

Campo do medo é uma produção da Netflix lançada em 2019 para aproveitar o dia das bruxas. Dirigido por Vincenzo Natali, é baseado em uma história de Stephen King e seu filho, Joe Hill.

Na história, dois irmãos estão na estrada rumo a San Diego. Becky está grávida e pretende doar o filho para um casal nessa cidade e é acompanhada por seu irmão, Cal.

 No meio do caminho ela necessita parar para vomitar e ouve uma criança implorando por socorro num matagal. Quando entram, descobrem que é impossível sair dali. O matagal é uma espécie de labirinto em que as distâncias mudam de uma hora para outra. Numa das melhores sequências, os irmãos, que se perderam um do outro, resolvem pular para se encontrarem. No primeiro pulo, estão a poucos metros um do outro. No segundo pulo, estão a dezenas de metros. Para piorar, algo parece estar seguindo os dois.

É um plot interessante, que permitiria o desenvolvimento de situações de horror e suspense. A partir de certo ponto, no entanto, há loopings temporais que, embora criem situações interessantes, deixam a história confusa. Além disso, o filme explica demais algumas coisas e deixa de explicar outras. 

Eu não li a obra original de King e Hill, mas conhecendo-os, imagino que deveria haver um profundo desenvolvimento de personagens (King tem uma história maravilhosa sobre uma garotinha perdida numa floresta que segue moldes semelhantes). Aqui, a ênfase na ação deixou essa caracterização para um o outro diálogo.

Ainda assim, O campo do medo é um filme divertido, que vale a pena principalmente por conta da sua primeira parte.

Atlan – no berço da humanidade

 


Atlan é um dos personagens mais carismáticos da série Perry rhodan, chegando a rivalizar com o próprio protagonista em termos de popularidade.

Assim, não e de espantar que ele ganhasse a própria série, que está sendo publicada como ebook pela editora SSPG.

O primeiro livro, intitulado No berço da humanidade, mostra o herói arconida na Idade da Pedra. Após ver os contemporâneos mortos em Atlândida, Atlan se recolhe a um cúpula no fundo do oceano, mas é acordado quando uma nave se aproxima da Terra. Seu plano é tomar o veículo e usá-lo para voltar para Arcon. Para isso ele conta com a ajuda de caçadores da Idade da Pedra.

A estrutura narrativa criada por Hans Kneif, o autor do volume é inovadora: Atlan está lutando contra a morte no leito de um hospital e rememora fatos do passado. Dessa forma temos um narrador protagonista, algo incomum na série Perry rhodan, caracterizada pelo narrador em terceira pessoa.

O autor também é ótimo em descrições de paisagens, de modo que a Terra da Idade da Pedra se descortina para o leitor, a exemplo do trecho: “Uma manada de cavalos selvagens, atarracados, pardos e castanhos, com longas crinas, movia-se abaixo de mim, do sul para o norte. Muito à frente, algo estava queimando; a fumaça subia diagonalmente. Fiz uma ampla curva larga, desci e uivei trinta metros acima das fogueiras de um bando de caçadores da Idade da Pedra. Por um momento, eu hesitei. O cheiro de carne frita me cativou mais do que eu queria admitir”.

Outro destaque é a boa caracterização dos personagens secundários. À certa altura o robô Rico, que chama Atlan de amo, revela ser capaz até mesmo de sentir saudades, para espanto do arcônida.

Kneif inventa até mesmo uma lenda, narrada pelos caçadores: “Há muito tempo — disse Gard, com os olhos profundos e sérios —, houve uma luta. Uma cobra e um grande pássaro lutaram entre si. Era para decidir se nós, seres humanos, seríamos imortais como a cobra, que muda de pele e vive. Ou como o pássaro, que voa e tem de morrer quando chega seu tempo. — Nós ouvimos calados. — A luta durou muito e foi terrível, do amanhecer ao anoitecer Quando escureceu, o pássaro ganhou e voou para um galho. Desde essa luta, nós, humanos, temos que morrer, caçar e lutar. Nós não somos como a serpente, nós vivemos para a luta e a caça”.

Atlan chega até mesmo a se apaixonar por uma garota da idade das pedras, o que provavelmente desperta sua afeição pela humanidade.

Bem escrito e empolgante, esse primeiro livro abre com mérito a série.

O livro pode ser adquirido na loja da editora SSPG: https://www.perry-rhodan.net.br/loja.

Escreva um roteiro agradável de se ler

 


A maioria dos roteiristas se esquece completamente que o roteiro, antes de se tornar uma história em quadrinhos, será lido por alguém. E esse alguém geralmente é um desenhista. E, posso garantir: a maioria dos desenhistas não são leitores vorazes.
Assim, se o desenhista não ler, ou ler com pouca atenção, não irá desenhar, ou irá cometer erros, e alguns podem tornar sua história quase incompreensível.
Uma boa tática é “conversar” com o desenhista no roteiro, se você já souber quem é ele. Em uma das histórias que escreveu para Supreme, Alan Moore escreveu para o desenhista paraense Joe Bennett: “Joe, sei que você gosta de prédios expressionistas. Você vai adorar essa história!”.
Eu gosto de fazer pequenas piadinhas em meus roteiros. Pequenas anedotas que prendem a atenção do desenhista e ajudam a explicar o que quero (não sei você consegue entender exatamente, mas infelizmente não posso desenhar isso para você. Afinal, você é o desenhista! rs).
Outra coisa que aprendi é que nem sempre termos técnicos são uma boa solução, especialmente se forem termos técnicos do cinema. Logo que comecei a escrever, usei uma vez a expressão “câmera subjetiva”. Eu queria que a sequência de imagens daquela página fosse vista sob o ponto de vista de determinado personagem e é isso o que significa câmera subjetiva. Mas o desenhista não entendeu e desenhou como quis. Mas para me satisfazer, desenhou uma câmera de vídeo no fundo do quadro. Detalhe: uma câmera que não tinha a menor razão para estar ali!
Ler roteiros de outros escritores pode ser uma boa solução para tornar os seus agradáveis. Você verá que o que se o roteiro é gostoso de ler, provavelmente o resultado final também será. Uma vez tive acesso a um roteiro de um capítulo de novela O cravo e a rosa, de Walcyr Carrasco. Esse é um noveleiro conhecido por novelas divertidas, leves, com um toque de humor sutil e saudosista. O roteiro era exatamente assim. Até mesmo as partes técnicas tinham essas características. 

sábado, novembro 29, 2025

A origem da cibernética

 

 

No final da década de 30, um grupo de cientistas se reunia na cidade de Boston para discutir assuntos científicos.

              Eles se sentavam ao redor de uma mesa redonda, jantavam e um deles propunha um assunto para discussão.
              Embora a maioria fosse procedente da Universidade de Havard, eram pesquisadores dos mais variados campos do conhecimento. Havia psicólogos, biólogos, matemáticos, físicos, filósofos, neurologista, engenheiros...
              As reuniões haviam surgido a partir de uma percepção compartilhada por todos os integrantes do grupo: a especialização cada vez maior dos cientistas estava se tornando um problema. Psicólogos desconheciam completamente o trabalho de biólogos. Físicos não se interessavam minimamente pelas pesquisas dos matemáticos...
              Em outras palavras, os cientistas de diferentes áreas se especializavam em campos cada vez menores e desconsideravam inteiramente o trabalho de outros pesquisadores que não faziam parte desses campos.
              Esse estado de coisas poderia ser exemplificado pela anedota de Bernard Shaw: “O especialista é um homem que sabe cada vez mais num terreno cada vez menor, o que o fará chegar a saber tudo... sobre nada”.
              Em pouco tempo agregou-se ao grupo um professor do Massachusetts Institute of Technology chamado Nobert Weiner.
              Weiner era uma dessas inteligências enciclopédicas, que dominam vários campos de conhecimento. Aos 18 meses ele já aprendera a ler. Aos sete anos já estava familiarizado com a teoria da evolução, de Charles Darwin, que iria influenciar toda a sua obra. Aos 14 anos se licenciou em ciência. Aos 18 já havia terminado o doutorado.
              Weiner estava plenamente de acordo com o promotor dos encontros, o Dr. Arturo Roseblueth, da Havard Medical School, em deplorar a especialização excessiva para a qual a ciência estava se direcionando.
              “Cada um tem grande tendência a considerar o tema vizinho como pertencente, com exclusividade, ao seu colega da terceira porta à direita do corredor”, escreveu Weiner.
              A maioria dos participantes da mesa redonda compreendia que estava se criando ali um novo paradigma, uma nova forma de ver o mundo e a natureza. A idéia era não separar para conhecer melhor,  como previa o pensamento de Descartes, mas analisar as partes em suas relações entre si e com o todo.
              Mas era necessário dar um nome a esse novo paradigma.
              Embora boa parte das discussões envolvessem máquinas e mecanismos de calcular, Weiner não queria um nome que lembrasse muito a máquina, afinal  a idéia era justamente criar um campo de estudo que pudesse explicar tanto fenômenos mecânicos quanto humanos, tanto computadores quanto homens. Por essa mesma razão, não era aconselhável usar um nome que fosse muito humano.
              O objetivo era encontrar uma nomeclatura que representasse uma ciência que estudasse homens, animais e máquinas como um todo; uma ciência que estivesse mais interessada nas semelhanças que nas diferenças entre esses três reinos.
              Um dos problemas básicos da cibernética era o do controle e foi dessa característica que surgiu o nome da nova ciência: cibernética.
              A palavra cibernética havia sido utilizada antes pelo fisico inglês James Maxwell num artigo de 1886 sobre controle de máquinas.
              Muito antes disso, Platão havia usado a palavra com o sentido de “a arte de governar os homens”.
              Os gregos usavam o termo para se referir à arte de governar navios. Em outras palavras, era o ofício do piloto. Necessariamente não é o piloto que traça o percurso do navio, mas ele é o responsável por fazê-lo chegar ao seu destino. Para isso, o piloto corrige continuamente o navio, que é afetado por uma série de ruídos: ventos, correntes maríticas...
              O melhor piloto é aquele capaz de perceber rapidamente as alterações na rota e de responder a elas, corrigindo o curso.
               É, portanto, um problema de comunicação. A cibernética irá se interessar muito por problemas de comunicação, especialmente a comunicação entre máquina-máquina e máquina-homem.
              Isaac Epstein lembra que o conceito de cibernética não é necessariamente positivo: “As sociedades não têm alvos claros e aceitos por consenso. O equilíbrio e a homeostase podem estar a serviço de sistemas autoritários e iníquos. Às vezes até do genocídio”. (Epstein, 1986, p. 9)
              Muitas vezes, o objetivo traçado pode não estar a serviço da humanidade. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a IBM, que utilizou seus sofisticados equipamentos para identificar judeus que seriam exterminados pelos nazistas.
              Epstein propõe que, em situações como essa, em que os objetivos não são aceitáveis, seja utilizada a cibernética como anti-cibernética. É o que fazem, por exemplo, os ciberpunks.
              A primeira oportunidade de colocar a cibernética em prática surgiu com a II Guerra Mundial.
              Havia uma preocupação generalizada por parte dos aliados de evitar que a Inglaterra fosse derrotada por um ataque aéreo fulminante. Para isso seria necessário desenvolver máquinas de ataque anti-aéreo.
              O problema não era apenas de física ou de matemática. Se fosse, bastava calcular o local em que estaria o avião após efetuar o bombardeio.
              Acontece que o piloto, sabendo que seria alvejado, desviava.
              A questão, portanto, envolvia física, psicologia e biologia (a curvatura seria limitada pela resistência fisiológica do piloto). Era um problema cibernético em sua essência. E só um grupo de pesquisadores de várias áreas trabalhando em conjunto poderia solucioná-lo.
              A resposta foi encontrada no feedback, ou retroalimentação.
              A idéia de feedback é antiguíssima. A própria vida tem uma série de processos auto-reguladores. Hipócrates já havia formulado a hipótese de que existem mecanismos no corpo humano que tendem a ser opor às patologias.
              O que a cibernética fez de diferente foi estudar a fundo a retroação e compreender seu funcionamento.
              No campo da comunicação, o conceito de feedback como elemento essencial do processo de comunicação influenciou a maior parte dos autores posteriores à cibernética, entre eles o educador Paulo Freire.
              O feedback torna menos unilateral o processo de comunicação, pois só podemos dizer que houve, de fato, comunicação, quando há uma resposta ao estímulo inicial.
              Se chamo um cachorro e ele se aproxima, estabeleceu-se uma comunicação. Embora o feedeback não tenha ocorrido no mesmo canal e mesmo código, é inegável que o receptor respondeu à mensagem.
              Se, por outro lado, o animal não se mexe, o processo de comunicação não se estabeleceu, talvez em decorrência de um ruído (o cachorro pode, por exemplo, ser surdo).

              Essa nova maneira de ver os fenômenos encarando-os como problemas de comunicação e de controle (que deveriam ser estudados por várias disciplinas em conjunto) forneceu uma poderosa percepção que influenciaria muitos pensadores e voltaria com grande força com a teoria do caos e o pensamento complexo de Edgar Morin.

Homem-Animal – O demônio e o mar profundo

 

 

Uma das histórias mais interessantes da fase de Grant Morrison à frente do Homem-Animal é um conto singelo sobre como o personagem tenta impedir a caça a golfinhos nas ilha Faroe.

Chamada de  'grindgráp', essa caçada é feita há séculos. Barcos formam um semi-círculo em volta de golfinhos em migração, forçando-os na direção da praia. Lá eles ficam encalhados na areia e se tornam presas fáceis. Centenas às vezes milhares de golfinhos são mortos, fazendo com que a água fique tingida de sangue. Embora essa atividade antigamente fosse uma forma de conseguir comida, hoje em dia é apenas uma diversão sangrenta.

Algumas páginas trazem a narrativa de um golfinho. 


Na história, o Homem-Animal se une a um grupo de ecologistas que pretende sabotar a caçada daquele ano. Uma segunda heroína, chamada Delfim, se une ao grupo.

Morrison traz algumas sequências com a narrativa de um golfinho e simula seu pensamento em um texto sem pontuação: “Harmonias de dor uma tempestade de ruídos confusão sofrimento frenesi agonia”.

A história é sobre o massacre de golfinhos na ilha Faroe. 


Esse golfinho, aliás, tem a companheira e o filho mortos por um dos pescadores, justamente aquele que o Homem-Animal, enfurecido, leva pelos ares e joga no meio do oceano. E o golfinho, que tinha todos os motivos para se vingar, acaba salvando o pescador. A narrativa do golfinho diz que o modo de ser dos tristes homens é a matança, o demarramento de sangue de inocentes: “O nosso modo é diferente”.

O roteiro surpreende o leitor ao mesmo tempo em que constrói uma fabula moral e deixa em aberta uma pergunta: somos de fato os seres mais inteligentes do planeta?

Os heróis tentam impedir a caçada afastando os golfinhos da costa.


Tudo isso é feito sem as tramas complicadas que caracterizariam Morrison no futuro. A história é comovente em sua simplicidade. Embora seja pouco lembrado, vale destacar o papel dos desenhistas Chas Troug e Doug Hazlewood nesse resultado. O traço aqui não tem nada de revolucionário ou chamativo. É um traço unicamente a serviço da história que está sendo contada.

Essa história foi publicada no número 15 da edição americana e, no Brasil, no número 26 da DC 2000.

A criada

 


A criada é o novo filme do cineasta sul-coreano ParkChan-Wook, conhecido no Brasil por Oldboy. A trama se passa durante a II Guerra Mundial, quando a Coréia foi invadida pelo Japão e trata de um golpe: um falso conde pretende conquistar uma rica moça japonesa, casar com ela e interná-la em hospício, apropriando-se de sua fortuna. Para isso, ele introduz na casa uma criada de confiança, que o ajudará em seus planos. A moça vive em uma mansão construída por seu tio, um pervertido, que treinou a sobrinha para ler contos eróticos para uma plateia seleta e pretende se casar com ela para ficar com sua herança. O golpe, entretanto, se complica quando a criada se apaixona pela patroa.
O filme é construído em três atos, cada um mostrando o ponto de vista de um personagem – e aí está a grande sacada do roteiro: uma mesma cena adquire outros significados de acordo com o olhar de cada personagem. Isso permite ao diretor introduzir viradas na trama, surpreendendo o expectador quando ele parece ter certeza do que está acontecendo.
A única certeza desse filme é: nada é o que aparenta ser.  
Soma-se a isso a ambientação estranha, uma mistura de roupas e arquitetura inglesas, coreanas e japonesas, os personagens bizarros, a sensualidade única, o cuidado apurado com o cenário e suas simbologias e a violência, que finalmente explode no final – tudo é desconcertante nesse filme.
A criada é um daqueles tesouros escondidos da Netflix.

A arte espetacular de Gary Frank

 


Gary Frank é um desenhista britânico de histórias em quadrinhos. Ele começou sua carreira na Marvel UK, o que fez com que ele fosse convidado para desenhar o Hulk com roteiros de Peter David. Em 1996 ele continuou a parceria com David, agora na Supermoça, na DC.

Seu trabalho seguinte foi Midnight Nation, uma minissérie em doze edições escrita por J. Michael Straczynski. Também com Straczynski ele produziria Poder Supremo, uma versão adulta e realista dos super-heróis, publicada pelo selo Marvel Max.

Em 2007 ele já era um astro da indústria, o que o levou a ser contratado para desenhar Action Comics, com textos de Geoff Johns.