A Ditadura Militara, que começou envergonhada, tornou-se escancarada com a assinatura do Ato Institucional n. 5. O A1 5 instalou a censura na imprensa e tornou oficial a tortura dos porões. Intelectuais e artista passaram a ser perseguidos. Em 1968, durante uma apresentação da peça Roda Viva, de Chico Buarque e dirigida por José Celso Martinez Corrêa, o espetáculo foi atacado pelo Comando de Caça aos Comunistas que ameaçou de morte os atores.
Com a decretação do A15, Geraldo Vandré, compositor dos versos "Há soldados armados, amados ou não/quase todos perdidos de arma na mão" teve que se esconder na fazenda do escritor Guimarães Rosa antes de sair para o auto-exílio.
Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil foram presos, interrogados pelos militares e gentilmente "convidados" a deixar o país.
Raul Seixas e Paulo Coelho foram presos, torturados e extraditados.
Em 1973 a censura vetou a música "Uma vida só (pare de tomar a pílula)" porque o governo militar patrocinava uma campanha nacional de controle de natalidade e o sucesso da música incomodava. No ano seguinte, a censura vetaria a canção "Tortura de amor", de Waldick Soriano, por entender que era uma alusão à repressão. Até os filmes de Kung fu eram proibidos por supostamente conterem conteúdo maoísta.
Todas as classes artísticas, das mais intelectualizadas às populares foram vítimas da censura, mas a primeira forma de expressão a ser perseguida pelos militares foram os quadrinhos.
No início dos anos 1960, os desenhistas e roteiristas tinham apostado todas as suas fichas na dupla Jânio/Jango e haviam perdido.
O contato com o presidente Jânio Quadros começara meio que sem querer. O presidente eleito visitava a redação do jornal O Cruzeiro, pouco antes de sua posse, quando Ziraldo o viu passar perto de sua prancheta e o parou. O desenhista falou da dificuldade que os quadrinistas brasileiros tinham para publicar seus trabalhos e sugeriu que a única maneira de resolver a situação era garantir uma reserva de mercado para artistas brasileiros.
Jânio ouviu atentamente e fez uma anotação numa mesa próxima. Dias depois da posse, o desenhista Oku, funcionário do Ministério da Educação, telefonou para Ziraldo informando que o presidente o encarregara de discutir com os artista a lei de nacionalização das histórias em quadrinhos.
Com a renúncia de Jânio Quadros, os artistas voltaram suas atenções para João Goulart. Leonel Brizola, cunhado de Jango e na época governador do Rio Grande do Sul, incentivou a criação de uma cooperativa de quadrinhos no seu estado.
Em 23 de setembro de 1963, o presidente assinou o decreto-lei 52497, que nacionalizava as histórias em quadrinhos, reservando uma cota de 60% das publicações para material produzido no Brasil.
O decreto-lei, no entanto, dependia de regulamentação e, antes que isso fosse feito, os editores impetraram um mandado de segurança. Em 10 de outubro daquele ano, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Cândido de Mota filho, manifestou-se pela anulação do decreto-lei, alegando que o mesmo visava impedir que as editoras continuassem publicando quadrinhos. O STF só se pronunciou sobre o assunto, favoravelmente aos artistas, dois anos depois, mas aí já era tarde demais.
Em 31 de março de 1964, Jango foi deposto por um levante militar e os desenhistas e roteiristas passaram a ser perseguidos. "Não só Ziraldo como todos os artistas que lutaram pela lei de cotas passaram a ser vistos como suspeitos de comunismo e subversão. Muitos ficaram afastados dos quadrinhos por longos anos e até mudaram de profissão por absoluta falta de trabalho. Outros sobreviveram com dificuldade como colaboradores de pequenas editoras de São Paulo e com colaborações avulsas em livros didáticos e agências de publicidade. Júlio Shimamoto e Flávio Colin, por exemplo, só voltariam a fazer quadrinhos doze anos depois. Nesse meio tempo, sobreviveram na publicidade", conta Gonçalo Júnior no livro A Guerra dos Gibis.
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