- Ah aquele carnaval de 1930, em Petrópolis... Se não fosse a artrite, eu saía de madrinha da bateria este ano...
- Aí teve aquela loira que... não, a loira foi depois da morena... ou será que era ruiva? Nunca bebi tanto em minha vida...
É, carnaval sempre traz boas lembranças para todos e eu não seria exceção. Foi durante um carnaval que fui assaltado pela primeira vez...
Era Quarta-feira de cinzas e eu, por alguma razão desconhecida, resolvi devolver um livro na biblioteca.
Eu sei, eu sei. Bibliotecas não funcionam na Quarta-feira de cinzas, mas como eu poderia saber?
Diante da porta fechada, só me restou voltar para a parada e esperar o ônibus. Foi quando aconteceu o assalto.
Se eu tivesse sido avisado, teria me vestido adequadamente para a situação, mas os dois ladrões não tiveram essa preocupação. Acho que não eram pessoas muito educadas.Um deles segurava uma faca e tinha olhos tão vermelhos que eu poderia jurar ter ele mais sangue na cabeça que no corpo todo. Isso, em tese, o faria mais inteligente, mas estou cada vez mais convencido que as teorias não funcionam na prática. Tanto que ele só conseguia dizer:
- Passa, passa logo!
- Passa o quê? A carteira?
- Não, o negócio...Ele decididamente não sabia o que queria. Depois de um longo diálogo surrealista, consegui advinhar que ele cobiçava meu relógio.
Fiquei indignado! Logo no meu primeiro assalto e o ladrão se interessava apenas por um relógio mixuruca? Resolvi não colaborar.
Enquanto isso, o outro cavalheiro, armado com um revólver, rendia um taxista.
- Me dá o relógio!
- Não dou!
- Vai dar sim!
- Não mesmo!
- Vocês podem apressar isso aí? – gritou o outro, já dentro do taxi.
O assaltante resolveu apelar. Apontou a faca para o meu pescoço e perguntou:
- Você quer morrer?
Enquanto eu pensava no assunto, ele pegou o relógio e saiu correndo.
Essa foi a primeira vez que fui assaltado. A segunda foi na véspera de natal. A terceira no ano novo...Tudo isso me levou a desenvolver um gosto especial por ficar em casa nos dias festivos...
Sem comentários:
Enviar um comentário