Responda rápido: Qual é a maior saga de ficção-científica de todos os tempos? Jornadas nas Estrelas? Guerra nas Estrelas? Flash Gordon? Se você respondeu qualquer um dos itens anteriores, errou. A resposta correta é Perry Rhodan, um personagem de livros alemães publicados ininterruptamente desde 1961.
No dia 21 de dezembro de 1999, a editora alemã VPM comemorou a marca de 2000 volumes publicados, apenas da série principal. Hoje, a série já conta com mais de 2500 livros publicados. Para se ter uma idéia do que isso representa, se uma pessoa lesse um livro por dia, todos os dias, levaria mais de cinco anos para ler a série toda. Os números são espantosos: já foram publicados mais de um bilhão de livros da série, nas mais diversas línguas e há fã-clubes do personagem espalhados por todo o mundo.
A história de Perry Rhodan começa no final dos anos cinqüenta. Na época a ficção científica na Alemanha era totalmente dominada pelo material inglês e norte-americano. Os alemães só conseguiam publicar sob pseudônimo inglês. Foi quando um grupo de autores se reuniu para publicar uma série utópica futurista sobre um herói sem medo que ajuda a humanidade a entrar na era espacial.
O conceito foi criado no final da década de 1950 por Karl-Herbert Scheer e Walter Ernsting (também conhecido pelo pseudônimo de Clark Darlton). Os dois apresentaram o projeto à editora alemã Moewig, que topou publicar depois de algumas alterações. Para fazer a capa foi chamado Johnny Bruck, um dos mais famosos ilustradores alemães de ficção-científica. À equipe criativa juntaram-se mais dois escritores, Klaus Mahn (Kurt Mahr) e Winfried Scholz (que assinava W.W. Shols). Scher escreveu o roteiro dos 10 primeiros volumes e começaram a produzir.
Assim nascia Perry Rhodan, um astronauta americano que, em viagem à Lua, encontra uma nave de uma civilização super-desenvolvida, mas decadente, os arcônidas, e seus dois ocupantes. Voltando à Terra, ele usa a tecnologia alienígena para impedir uma guerra nuclear e funda a Terceira Potência, unindo a humanidade em torno de um ideal: a conquista do espaço.
Nem mesmo os autores achavam que a série fosse durar mais que trinta números. Durou. O sucesso foi tão estrondoso que os primeiros livros foram rapidamente reeditados e Perry Rhodan passou a ser publicado em diversos países, inclusive no Brasil.
Planejamento
Além da série principal, foram criadas outras, como a que eram focada em Atlan, um dos personagens mais populares. Com edições de Perry Rhodan saindo semanalmente sem interrupção, logo ficou claro que os leitores não conseguiriam acompanhar todos esses livros e acabou sobrando apenas a série principal.
Na década de 1990 aconteceram vários eventos tristes. K. H. Scher morreu, assim como o editor original da série, Günter M. Schelwokat e o desenhista Johnny Bruck. Os autores da primeira geração foram sendo substituídos, aos poucos por novos escritores, muitos surgidos dos fanzines, publicações de fãs da série. Entre eles destacam-se Rainer Castor (considerado o sucessor do estilo técnico e descritivo de Scheer e Mahr) e Uwe Anton, em cujas histórias poéticas podem ser identificados traços do humanismo exacerbado de Voltz.
Para conseguir contar uma trama tão complexa e cheia de detalhes e personagens secundários, que abarca centenas de anos na história da humanidade, os autores fazem um planejamento detalhado. Um dos autores é nomeado líder e escreve um resumo detalhado de cada volume semanal por todo um ciclo (que pode durar 50 ou 100 livros). Esse resumo deverá ser seguido à risca pelo autor do volume, sob o risco de se perder a continuidade. Assim, se uma nave parte com uma determinada tripulação em um volume, ela deverá ter a mesma tripulação no volume seguinte. Também há revisores, que lêem cada livro tentando achar incoerências.
No Brasil a série foi publicada pela editora Tecnoprint S.A. a partir de 1975 e durou até o número 536. No início as histórias eram publicadas em formato livro de bolso pequeno, com borda branca. Posteriormente, o formato aumentou e a borda ficou preta. No início da década de oitenta o sucesso de Perry Rhodan chegou ao auge, as edições passaram a ser semanais e os primeiros números foram republicados em formato mais alongado e bonito. Esse sucesso foi amparado por propagandas de TV.
No início da década de 1990, a crise econômica da era Collor abalou até mesmo o personagem espacial. No número 533, os leitores foram surpreendidos por uma nota que anunciava que os livros passariam a sair mensalmente. A editora ainda tentou recuperar a franquia, lançando uma campanha publicitária, mas o número de leitores continuou caindo. No número 536, a editora publicou uma pequena nota dizendo que deixava de publicar Perry Rhodan porque se tornara impossível continuar oferecendo uma publicação de qualidade a preços acessíveis aos leitores.
Os fãs passaram a se organizar para promover a volta do personagem, inicialmente se contatando por carta e, posteriormente, via internet. Surgiu o Perry Rhodan Fã Clube do Brasil (PRFCB), capitaneado por Alexandre Pereira dos Santos, que publicava fanzines e mantinha os fãs informados a respeito das novidades da série.
O fã-clube começou a negociar com grande editoras, ao mesmo tempo que organizava uma lista de possíveis assinantes. Embora essa lista aumentasse cada vez mais, nenhuma editora parecia se interessar.
Foi quando um fã, Rodrigo de Lelis, dono de uma pequena empresa de informática, a SSPG, voltada para a documentação eletrônica e editoração de publicações, percebeu que poderia publicar a série, voltando-a apenas para assinaturas. A editora alemã VPM deu o sinal verde e a equipe, formada por fãs da série, começou a cuidar da nova série.
Imortalidade
A nova edição começou com o episódio 650 , “A Liga dos Sete”, que dá início a um dos ciclos de histórias mais interessantes e apreciados pelos leitores. Cada volume, publicado mensalmente, trazia dois livros da edição alemã. A SSPG publicou Perry Rhodan interruptamente por cinco anos, num total de 99 volumes duplos, e parou. Atualmente, a editora mantém o site do personagem (http://www.perry-rhodan.com.br/) e promete a volta da série para 2009.
Quando os livros começaram a ser publicados, Perry Rhodan tinha aproximadamente 35 anos. Com o tempo ficou óbvio que uma só vida não seria o suficiente para tanta aventura. Os autores então inventaram várias artimanhas para fazer com que o personagem pudesse viver mais. O primeiro deles foi a ducha celular, que rejuvenescia quem passava por tratamento. Depois Rhodan ganhou um ativador celular que o tornou praticamente imortal. Atualmente o astronauta tem apenas três mil anos e ainda pretende assoprar muitas velinhas de aniversário.
A série Perry Rhodan antecipou vários dos principais ícones da ficção-científica da segunda metade do século. O conceito de exército de mutantes, por exemplo, apareceu na série dois anos antes do surgimento dos X-Men. Quem acha que os Borgs do Jornada nas Estrelas - Nova Geração são originais, nunca leu Perry Rhodan. Os pós-bis, uma raça de robôs cujo objetivo é destruir toda forma de vida orgânica, surgiu na série alemã no início dos anos sessenta.
Diálogo com a literatura
O grande segredo da série é que os autores nunca deixaram cair a qualidade literária. Além disso, Perry Rhodan nunca resvalou no lugar comum. Seus episódios eram muito criativos e bem escritos e os escritores não se furtavam a fazer críticas sociais ou experimentações estéticas. Muitos livros da série eram releituras de grandes obras da literatura.
Exemplo disso é o número 52, O Pseudo, escrito por Clark Darlton. O livro é uma adaptação da peça O Inspetor Geral, do dramaturgo russo Nicolai Gógol. Gógol escreveu sua peça como uma crítica ao autoritarismo e à corrupção do Estado Czarista. Darlton atualizou a discussão, transpondo-a para um cenário futurista.
Um dos personagens mais queridos (e controversos) da série é um rato-castor chamado Gucky. Apesar da aparência ridícula - uma mistura de rato e castor, ele se tornou uma lenda por seus poderes (telecinésia, telepatia e teleportação) e sua impulsividade. Evite qualquer comentário à sua aparência, ou poderá voar pelos ares. Gucky divide opiniões. Em fóruns na internet alguns leitores querem sua cabeça, enquanto outros compram até o bicho de pelúcia do rato-castor.
Duas visões de mundo
Dois autores, com visões muito diferentes da ficção-científica, definiram os rumos da série Perry Rhodan: K. H. Scher e Willian Voltz.
Scher foi o primeiro líder dos autores. Acusado de ter uma visão militarista influenciada pelo nazismo (de fato, ele chegou a lutar na II Guerra ao lado do Eixo), ele era um especialista em batalhas espaciais e descrições de armamentos. Na fase em que ele traçou os destinos da série, Perry Rhodan era caracterizado pelo maniqueísmo: de um lado os humanos, mocinhos, e do outro um inimigo poderoso no campo militar, com sede de conquistas e nenhuma ética. Também havia uma ênfase muito grande nas tramas de espionagem. A agência de espionagem USO tinha papel fundamental nessa fase.
Scheer gostava de detalhar a evolução tecnológica da humanidade. Sua visão positivista do futuro da humanidade mostrava uma civilização que tendia à evolução contínua no plano material e técnico.
Ao assumir os rumos da série, Willian Voltz mudou o foco. Humanista e filosófico, Voltz se interessava mais pelos grandes enigmas que pelas batalhas espaciais. Assim, a humanidade passou a encontrar inteligências superiores e estruturas cósmicas fundamentais, além de fenômenos fantásticos.
Na era Voltz, a humanidade passou a questionar seu papel no universo, percebendo que a evolução espiritual era tão importante quanto a material. As histórias passaram a ser mais filosóficas e contemplativas, fugindo do militarismo da fase anterior.
Os personagens, mesmo os vilões, começaram a questionar sua própria existência, fugindo do maniqueísmo. Nessa nova fase, mesmo os mais ferozes inimigos tinham motivos que justificavam sua suposta maldade.
O estilo Voltz ficou muito bem claro desde os primeiros livros desse autor na série. No volume 99, a sinopse contava uma história pueril: um dos arcônidas encontrados por Perry Rhodan na lua, Crest, vai para um planeta longínquo para passar os seus últimos dias, mas recebe a visita inconveniente de seres extraterrestres que querem se apoderar de sua nave, o ápice da tecnologia terrestre até então. O que poderia ser um livro maniqueísta sobre um velho tentando manter a tecnologia criada pelos humanos longe de mãos alienígenas acaba se tornando uma parábola sobre a amizade e a lealdade recheada de poesia.
Como bem sabem os leitores de Perry Rhodan, ficção-científica popular e boa literatura podem andar de mãos dadas.
No dia 21 de dezembro de 1999, a editora alemã VPM comemorou a marca de 2000 volumes publicados, apenas da série principal. Hoje, a série já conta com mais de 2500 livros publicados. Para se ter uma idéia do que isso representa, se uma pessoa lesse um livro por dia, todos os dias, levaria mais de cinco anos para ler a série toda. Os números são espantosos: já foram publicados mais de um bilhão de livros da série, nas mais diversas línguas e há fã-clubes do personagem espalhados por todo o mundo.
A história de Perry Rhodan começa no final dos anos cinqüenta. Na época a ficção científica na Alemanha era totalmente dominada pelo material inglês e norte-americano. Os alemães só conseguiam publicar sob pseudônimo inglês. Foi quando um grupo de autores se reuniu para publicar uma série utópica futurista sobre um herói sem medo que ajuda a humanidade a entrar na era espacial.
O conceito foi criado no final da década de 1950 por Karl-Herbert Scheer e Walter Ernsting (também conhecido pelo pseudônimo de Clark Darlton). Os dois apresentaram o projeto à editora alemã Moewig, que topou publicar depois de algumas alterações. Para fazer a capa foi chamado Johnny Bruck, um dos mais famosos ilustradores alemães de ficção-científica. À equipe criativa juntaram-se mais dois escritores, Klaus Mahn (Kurt Mahr) e Winfried Scholz (que assinava W.W. Shols). Scher escreveu o roteiro dos 10 primeiros volumes e começaram a produzir.
Assim nascia Perry Rhodan, um astronauta americano que, em viagem à Lua, encontra uma nave de uma civilização super-desenvolvida, mas decadente, os arcônidas, e seus dois ocupantes. Voltando à Terra, ele usa a tecnologia alienígena para impedir uma guerra nuclear e funda a Terceira Potência, unindo a humanidade em torno de um ideal: a conquista do espaço.
Nem mesmo os autores achavam que a série fosse durar mais que trinta números. Durou. O sucesso foi tão estrondoso que os primeiros livros foram rapidamente reeditados e Perry Rhodan passou a ser publicado em diversos países, inclusive no Brasil.
Planejamento
Além da série principal, foram criadas outras, como a que eram focada em Atlan, um dos personagens mais populares. Com edições de Perry Rhodan saindo semanalmente sem interrupção, logo ficou claro que os leitores não conseguiriam acompanhar todos esses livros e acabou sobrando apenas a série principal.
Na década de 1990 aconteceram vários eventos tristes. K. H. Scher morreu, assim como o editor original da série, Günter M. Schelwokat e o desenhista Johnny Bruck. Os autores da primeira geração foram sendo substituídos, aos poucos por novos escritores, muitos surgidos dos fanzines, publicações de fãs da série. Entre eles destacam-se Rainer Castor (considerado o sucessor do estilo técnico e descritivo de Scheer e Mahr) e Uwe Anton, em cujas histórias poéticas podem ser identificados traços do humanismo exacerbado de Voltz.
Para conseguir contar uma trama tão complexa e cheia de detalhes e personagens secundários, que abarca centenas de anos na história da humanidade, os autores fazem um planejamento detalhado. Um dos autores é nomeado líder e escreve um resumo detalhado de cada volume semanal por todo um ciclo (que pode durar 50 ou 100 livros). Esse resumo deverá ser seguido à risca pelo autor do volume, sob o risco de se perder a continuidade. Assim, se uma nave parte com uma determinada tripulação em um volume, ela deverá ter a mesma tripulação no volume seguinte. Também há revisores, que lêem cada livro tentando achar incoerências.
No Brasil a série foi publicada pela editora Tecnoprint S.A. a partir de 1975 e durou até o número 536. No início as histórias eram publicadas em formato livro de bolso pequeno, com borda branca. Posteriormente, o formato aumentou e a borda ficou preta. No início da década de oitenta o sucesso de Perry Rhodan chegou ao auge, as edições passaram a ser semanais e os primeiros números foram republicados em formato mais alongado e bonito. Esse sucesso foi amparado por propagandas de TV.
No início da década de 1990, a crise econômica da era Collor abalou até mesmo o personagem espacial. No número 533, os leitores foram surpreendidos por uma nota que anunciava que os livros passariam a sair mensalmente. A editora ainda tentou recuperar a franquia, lançando uma campanha publicitária, mas o número de leitores continuou caindo. No número 536, a editora publicou uma pequena nota dizendo que deixava de publicar Perry Rhodan porque se tornara impossível continuar oferecendo uma publicação de qualidade a preços acessíveis aos leitores.
Os fãs passaram a se organizar para promover a volta do personagem, inicialmente se contatando por carta e, posteriormente, via internet. Surgiu o Perry Rhodan Fã Clube do Brasil (PRFCB), capitaneado por Alexandre Pereira dos Santos, que publicava fanzines e mantinha os fãs informados a respeito das novidades da série.
O fã-clube começou a negociar com grande editoras, ao mesmo tempo que organizava uma lista de possíveis assinantes. Embora essa lista aumentasse cada vez mais, nenhuma editora parecia se interessar.
Foi quando um fã, Rodrigo de Lelis, dono de uma pequena empresa de informática, a SSPG, voltada para a documentação eletrônica e editoração de publicações, percebeu que poderia publicar a série, voltando-a apenas para assinaturas. A editora alemã VPM deu o sinal verde e a equipe, formada por fãs da série, começou a cuidar da nova série.
Imortalidade
A nova edição começou com o episódio 650 , “A Liga dos Sete”, que dá início a um dos ciclos de histórias mais interessantes e apreciados pelos leitores. Cada volume, publicado mensalmente, trazia dois livros da edição alemã. A SSPG publicou Perry Rhodan interruptamente por cinco anos, num total de 99 volumes duplos, e parou. Atualmente, a editora mantém o site do personagem (http://www.perry-rhodan.com.br/) e promete a volta da série para 2009.
Quando os livros começaram a ser publicados, Perry Rhodan tinha aproximadamente 35 anos. Com o tempo ficou óbvio que uma só vida não seria o suficiente para tanta aventura. Os autores então inventaram várias artimanhas para fazer com que o personagem pudesse viver mais. O primeiro deles foi a ducha celular, que rejuvenescia quem passava por tratamento. Depois Rhodan ganhou um ativador celular que o tornou praticamente imortal. Atualmente o astronauta tem apenas três mil anos e ainda pretende assoprar muitas velinhas de aniversário.
A série Perry Rhodan antecipou vários dos principais ícones da ficção-científica da segunda metade do século. O conceito de exército de mutantes, por exemplo, apareceu na série dois anos antes do surgimento dos X-Men. Quem acha que os Borgs do Jornada nas Estrelas - Nova Geração são originais, nunca leu Perry Rhodan. Os pós-bis, uma raça de robôs cujo objetivo é destruir toda forma de vida orgânica, surgiu na série alemã no início dos anos sessenta.
Diálogo com a literatura
O grande segredo da série é que os autores nunca deixaram cair a qualidade literária. Além disso, Perry Rhodan nunca resvalou no lugar comum. Seus episódios eram muito criativos e bem escritos e os escritores não se furtavam a fazer críticas sociais ou experimentações estéticas. Muitos livros da série eram releituras de grandes obras da literatura.
Exemplo disso é o número 52, O Pseudo, escrito por Clark Darlton. O livro é uma adaptação da peça O Inspetor Geral, do dramaturgo russo Nicolai Gógol. Gógol escreveu sua peça como uma crítica ao autoritarismo e à corrupção do Estado Czarista. Darlton atualizou a discussão, transpondo-a para um cenário futurista.
Um dos personagens mais queridos (e controversos) da série é um rato-castor chamado Gucky. Apesar da aparência ridícula - uma mistura de rato e castor, ele se tornou uma lenda por seus poderes (telecinésia, telepatia e teleportação) e sua impulsividade. Evite qualquer comentário à sua aparência, ou poderá voar pelos ares. Gucky divide opiniões. Em fóruns na internet alguns leitores querem sua cabeça, enquanto outros compram até o bicho de pelúcia do rato-castor.
Duas visões de mundo
Dois autores, com visões muito diferentes da ficção-científica, definiram os rumos da série Perry Rhodan: K. H. Scher e Willian Voltz.
Scher foi o primeiro líder dos autores. Acusado de ter uma visão militarista influenciada pelo nazismo (de fato, ele chegou a lutar na II Guerra ao lado do Eixo), ele era um especialista em batalhas espaciais e descrições de armamentos. Na fase em que ele traçou os destinos da série, Perry Rhodan era caracterizado pelo maniqueísmo: de um lado os humanos, mocinhos, e do outro um inimigo poderoso no campo militar, com sede de conquistas e nenhuma ética. Também havia uma ênfase muito grande nas tramas de espionagem. A agência de espionagem USO tinha papel fundamental nessa fase.
Scheer gostava de detalhar a evolução tecnológica da humanidade. Sua visão positivista do futuro da humanidade mostrava uma civilização que tendia à evolução contínua no plano material e técnico.
Ao assumir os rumos da série, Willian Voltz mudou o foco. Humanista e filosófico, Voltz se interessava mais pelos grandes enigmas que pelas batalhas espaciais. Assim, a humanidade passou a encontrar inteligências superiores e estruturas cósmicas fundamentais, além de fenômenos fantásticos.
Na era Voltz, a humanidade passou a questionar seu papel no universo, percebendo que a evolução espiritual era tão importante quanto a material. As histórias passaram a ser mais filosóficas e contemplativas, fugindo do militarismo da fase anterior.
Os personagens, mesmo os vilões, começaram a questionar sua própria existência, fugindo do maniqueísmo. Nessa nova fase, mesmo os mais ferozes inimigos tinham motivos que justificavam sua suposta maldade.
O estilo Voltz ficou muito bem claro desde os primeiros livros desse autor na série. No volume 99, a sinopse contava uma história pueril: um dos arcônidas encontrados por Perry Rhodan na lua, Crest, vai para um planeta longínquo para passar os seus últimos dias, mas recebe a visita inconveniente de seres extraterrestres que querem se apoderar de sua nave, o ápice da tecnologia terrestre até então. O que poderia ser um livro maniqueísta sobre um velho tentando manter a tecnologia criada pelos humanos longe de mãos alienígenas acaba se tornando uma parábola sobre a amizade e a lealdade recheada de poesia.
Como bem sabem os leitores de Perry Rhodan, ficção-científica popular e boa literatura podem andar de mãos dadas.
6 comentários:
Mais uma vez, parabéns pelo excelente post! Gostei tanto que o coloquei como referência para quem quiser saber um pouco mais sobre Perry Rhodan num tutorial que fiz sobre como converter ebooks para audiobooks (txt2mp3)
Também é interessante informar que no Brasil, o maior núcleo de leitores, se encontra na comunidade do Orkut; PERRY RHODAN BRASIL
http://www.orkut.com.br/Main#Community.aspx?cmm=66731
E também há muitas novidades no blog do César Maciel, grande fã e editor assistente na SSPG
http://cesarmaciel.wordpress.com/
A série formou uma legião de leitores que teve seu ápice na década de 1980. Depois do cancelamento muitos perderam contato com ela e alguns nem sabem que a SSPG voltou a publicá-la por um certo período.
Informações sobre a série e histórias inéditas em português na comunidade no orkut e no blog: http://delgado-projeto.blogspot.com
Caramba! Excelente descritivo da série. Até algumas informações que eu não sabia, apesar de ler a série a mais de 15 anos. Valeu pelo link dos e-books!
Grande Mestre!
Adorei o post! À época de 7a série (1981 ou 82) eu cheguei a ler 3 livros do Perry Rhodan por dia, até acabar com a série que tinha na biblioteca da escola! Cheguei quase ao número 400, mas depois a biblioteca não tinha mais, e eu não tinha como comprar... Tenho certa saudade, algumas histórias eram fracas mas outras muito boas; e no geral tenho certeza que muito do que li contribuiu para o que sou como escritor hoje!
Forte Abraço!
Cheguei aqui pelo MRG e já estou enviando este link para minha lista de e-mails! MARAVILHA DE TEXTO!
[]`s
Enviar um comentário