O homem moderno está rodeado de gente, mas é solitário. Essa nova realidade tornou patente um novo tipo de comportamento, que não era individual, mas coletivo. Para explicá-los surgiu a psicologia das massas.
Para essa área do conhecimento, existem três tipos de comportamento coletivo: o público, a massa a e multidão.

A criação de uma multidão passa por quatro estágios, que podemos exemplificar no caso Uniban. No primeiro deles, há um acontecimento emocionante (um rapaz viu a garota com o vestido vermelho e a achou provocante. Uma aluna viu o mesmo vestido e se mordeu de inveja).
No segundo, há uma "moedura": os indivíduos se encontram, se chocam, começam a trocar ferormônios. Foi o que aconteceu enquanto a moça de vermelho assistia aula: do lado de fora, as pessoas trocavam ferormônios: raiva mistura-se com tesão e com desejos reprimidos e inconfessáveis (vestir-se como ela, violentar a moça, ser homossexual).
No terceiro momento surge uma imagem, uma idéia de ação, a exaltação coletiva é direcionada para um objetivo (lichar a moça).
Finalmente, no quarto estágio, a multidão, já totalmente dominada pelos ferormônios, age como se não tivesse cérebro. É apenas instintos, ID. Toda a repressão da sociedade (Superego), que nos permite viver em grupo, é desligada dando origem a pessoas que agem como animais anti-sociais. Os rapazes sobem nos ombros um do outro para ver pela janela alta do banheiro feminino, mulheres gritam pedindo a morte da moça e chamando-a de nomes inconfessáveis.
Não fosse a intervenção do professor (única figura representativa do Superego naquele momento), a moça teria sido violentada e morta naquele mesmo momento.
Uma multidão é como um estouro de boiada: é impossível pará-la com a força ou com a razão. Atirar adianta muito pouco, pois os que estão atrás empurram os que estão na frente, até chegar aos seus atacantes.
Só há duas maneiras de deter uma multidão: ou dando um segundo objetivo a ela, ou jogando gás lacrimogêneo.
Os gás impede que as pessoas continuem recebendo os ferormônios umas das outras. Por outro lado, a irritação nos olhos e a fumaça dão aos integrantes da multidão a impressão de que estão sozinhos. Um indivíduo só age como multidão se tiver certeza de que está incógnito. É a certeza de que seus atos individuais não serão percebidos que dá à multidão a liberdade de agir. É por isso que são comuns as desordem em períodos de blecaute. No caso, a polícia usou spray de pimenta nos mais exaltados, que tem efeito semelhante, pois faz a pessoa fechar os olhos e a impede de cheirar os ferormônios dos colegas. Sem o apoio dos ferormônios e sem enxergar os outros, a pessoa já não se sente mais parte de uma multidão e tende a se reprimir.
Dar um segundo objetivo também é eficiente, pois uma segunda proposta de ação leva a multidão a pensar, e uma multidão que pensa deixa de ser multidão.
Em uma perspectiva fisiológica, a multidão seria um comportamento coletivo governado pelo complexo R. Essa primeira e mais antiga camada de nosso cérebro é responsável pela auto-preservação. É aí que nascem nossos mecanismos de agressão e ações instintivas, como o sexo.
Se usássemos apenas o complexo R, a sociedade seria impossível, pois ninguém respeitaria regras sociais. Roubos e estupros seriam comuns. Os estupradores, por exemplo, costuma ter aquilo que é chamado de sequestro de amídala (outro nome do complexo R), significando que seu cérebro foi sequestrado por essa área mais instintiva.
São as outras camadas do cérebro, o complexo límbico e o neocórtex que reprimem o complexo R. No caso de multidões, como da Uniban, as pessoas simplesmente deixam de pensar racionalmente ou mesmo emocionalmente. Tornam-se monstros, governados por seus instintos numa atitude resumida por uma frase da estudante hostilizada: "Eles (os alunos) estavam descontrolados. Eu olhava os semblantes deles e achava que estavam possuídos. Chegaram a chutar a porta da sala onde eu estava".
1 comentário:
É interessante saber o quanto ainda somos refens de nossas proprias mentes.
Apesar de toda a revolução tecnológica e da medicina as nossas posições coletiva sociais e morais parecem estar dando os primeiros passos.
Abçs!!
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