sábado, outubro 31, 2009

Uma explicação da psicologia das massas para o caso Uniban

O século XIX viu aparecer um novo tipo de agrupamento humano. Antes a regra eram pequenas vilas, nas quais todo mundo se conhecia e se relacionava. O processo de industrialização forçou uma grande quantidade de pessoas a se deslocarem para grandes centros nos quais as pessoas não se conheciam e não tinham qualquer relacionamento mais íntimo. A aglomeração maciça de seres humanos forçou o contato pessoal com pessoas desconhecidas, muitas das quais permanecerão sempre desconhecidas. Não conhecemos o homem que nos vende alimentos e a moça do correio é apenas mais uma funcionária postal.
O homem moderno está rodeado de gente, mas é solitário. Essa nova realidade tornou patente um novo tipo de comportamento, que não era individual, mas coletivo. Para explicá-los surgiu a psicologia das massas.
Para essa área do conhecimento, existem três tipos de comportamento coletivo: o público, a massa a e multidão.
O que ocorreu na Uniban foi um exemplo de multidão, o mais primário tipo de comprotamento coletivo. Sua origem é biológica e remonta aos tempos em que o homem passou a viver em sociedade. Na multidão, os integrantes são comandados pela ação de ferormônios, hormônios expelidos pelo corpo, que fazem efeito ao serem percebidos olfativamente. Todos que estiverem no campo de ação dos ferormônios são contagiados e passam a agir como uma só pessoa, de forma irracional. É o caso de linchamentos, revoltas e tumultos em locais repletos de gente. É comum, por exemplo, que em casos de incêndio em casas de shows morram mais pessoas pisoteadas do que em decorrência do fogo.
A criação de uma multidão passa por quatro estágios, que podemos exemplificar no caso Uniban. No primeiro deles, há um acontecimento emocionante (um rapaz viu a garota com o vestido vermelho e a achou provocante. Uma aluna viu o mesmo vestido e se mordeu de inveja).
No segundo, há uma "moedura": os indivíduos se encontram, se chocam, começam a trocar ferormônios. Foi o que aconteceu enquanto a moça de vermelho assistia aula: do lado de fora, as pessoas trocavam ferormônios: raiva mistura-se com tesão e com desejos reprimidos e inconfessáveis (vestir-se como ela, violentar a moça, ser homossexual).
No terceiro momento surge uma imagem, uma idéia de ação, a exaltação coletiva é direcionada para um objetivo (lichar a moça).
Finalmente, no quarto estágio, a multidão, já totalmente dominada pelos ferormônios, age como se não tivesse cérebro. É apenas instintos, ID. Toda a repressão da sociedade (Superego), que nos permite viver em grupo, é desligada dando origem a pessoas que agem como animais anti-sociais. Os rapazes sobem nos ombros um do outro para ver pela janela alta do banheiro feminino, mulheres gritam pedindo a morte da moça e chamando-a de nomes inconfessáveis.
Não fosse a intervenção do professor (única figura representativa do Superego naquele momento), a moça teria sido violentada e morta naquele mesmo momento.
Uma multidão é como um estouro de boiada: é impossível pará-la com a força ou com a razão. Atirar adianta muito pouco, pois os que estão atrás empurram os que estão na frente, até chegar aos seus atacantes.
Só há duas maneiras de deter uma multidão: ou dando um segundo objetivo a ela, ou jogando gás lacrimogêneo.
Os gás impede que as pessoas continuem recebendo os ferormônios umas das outras. Por outro lado, a irritação nos olhos e a fumaça dão aos integrantes da multidão a impressão de que estão sozinhos. Um indivíduo só age como multidão se tiver certeza de que está incógnito. É a certeza de que seus atos individuais não serão percebidos que dá à multidão a liberdade de agir. É por isso que são comuns as desordem em períodos de blecaute. No caso, a polícia usou spray de pimenta nos mais exaltados, que tem efeito semelhante, pois faz a pessoa fechar os olhos e a impede de cheirar os ferormônios dos colegas. Sem o apoio dos ferormônios e sem enxergar os outros, a pessoa já não se sente mais parte de uma multidão e tende a se reprimir.
Dar um segundo objetivo também é eficiente, pois uma segunda proposta de ação leva a multidão a pensar, e uma multidão que pensa deixa de ser multidão.
Em uma perspectiva fisiológica, a multidão seria um comportamento coletivo governado pelo complexo R. Essa primeira e mais antiga camada de nosso cérebro é responsável pela auto-preservação. É aí que nascem nossos mecanismos de agressão e ações instintivas, como o sexo.
Se usássemos apenas o complexo R, a sociedade seria impossível, pois ninguém respeitaria regras sociais. Roubos e estupros seriam comuns. Os estupradores, por exemplo, costuma ter aquilo que é chamado de sequestro de amídala (outro nome do complexo R), significando que seu cérebro foi sequestrado por essa área mais instintiva.
São as outras camadas do cérebro, o complexo límbico e o neocórtex que reprimem o complexo R. No caso de multidões, como da Uniban, as pessoas simplesmente deixam de pensar racionalmente ou mesmo emocionalmente. Tornam-se monstros, governados por seus instintos numa atitude resumida por uma frase da estudante hostilizada: "Eles (os alunos) estavam descontrolados. Eu olhava os semblantes deles e achava que estavam possuídos. Chegaram a chutar a porta da sala onde eu estava".

1 comentário:

Deivs Mello disse...

É interessante saber o quanto ainda somos refens de nossas proprias mentes.
Apesar de toda a revolução tecnológica e da medicina as nossas posições coletiva sociais e morais parecem estar dando os primeiros passos.

Abçs!!