Em 2004, o roteirista de quadrinhos André Diniz resolveu tirar suas dúvidas sobre a terapia de vidas passadas submetendo-se, ele mesmo ao tratamento. 7 vida (ed. Conrad) é o relato quase literal das sessões que o levaram a descobrir detalhes sobre suas encarnações passadas e como elas influenciam no momento atual. É também um relato sobre a vida do escritor, num momento decisivo, de mudança física e psicológica (com a ida para Petrópolis e a perda de uma gravidez por parte da esposa).
Para desenhar a história, André chamou Antonio Eder, um companheiro das antigas, com os quais fez várias histórias curtas e o álbum Chalaça, lançado também pela Conrad.
André Diniz é um dos mais importantes roteiristas de quadrinhos surgidos no século XXI. Seu álbum de estréia, Fawcett, sobre o explorador americano que se perdeu nas selvas do Mato Grosso e influenciou a criação do Indiana Jones, com desenhos de Flávio Colin, rendeu-lhe o prêmio Ângelo Agostini. Antonio Eder é um desenhista já veterano, com um currículo invejável, incluindo a premiada graphic novel Manticore.
A dupla mostra uma interação poucas vezes vista em uma história em quadrinhos. O desenhista Antonio Eder tem um desenho simples, mas extremamente expressivo. É dos poucos que conseguem, com poucos traços, passar uma idéia, uma expressão. Esse traço enxuto casa perfeitamente com o roteiro realista e espontâneo de Diniz, que chega ao ponto de contar até mesmo detalhes irrelevantes das sessões como que para dizer: “isto é um relato, não uma ficção”.
Aliás, a espontaneidade e realismo do roteiro é a maior qualidade e o maior defeito da história. Exemplo disso é a questão da perna. André Diniz conta que a perna direita ficava tensa durante as sessões de terapia. Mais tarde, sabemos que essa perna é o ponto fraco do escritor em várias vidas. Há sempre algum tipo de incidente envolvendo-a. Num roteiro fictício, o mistério da perna seria solucionado lá na frente, talvez na última página, pois serve como elemento de suspense. André Diniz soluciona o mistério da perna muito antes do final, seguindo a ordem cronológica das sessões e dos acontecimentos de sua vida.
Com isso, se a história perde em estrutura narrativa, ganha em honestidade. 7 vidas é um relato sem artifícios narrativos, mas totalmente honesto. E não resvala em nenhum dos dois procedimentos comuns quando se fala do assunto: no terror ou na literatura de auto-ajuda ou espiritualista. Na verdade, não é necessário nem mesmo acreditar em reencarnação para ler e gostar de 7 vidas.
O tema reencarnação é pouco explorado nos quadrinhos, apesar de suas incríveis possibilidades narrativas. No Brasil, o próprio André Diniz havia feito uma HQ chama A curva, com desenho próprio, que ficou incompleta. Nela, uma mulher morre e, influenciada por um espírito vingativo, passa a perseguir o esposo.
A história em quadrinhos parecia uma versão romanceada de livros espíritas, como Nosso lar, mostrando detalhes da vida após a morte, inclusive com incursões ao umbral. Mas, competente, Diniz, teve o cuidado de não se deixar levar pelo discurso doutrinário. As ideias básicas do espiritismo kardecistas estavam ali apenas como elementos narrativos ou ambientação, sem o objetivo de convencer o leitor a acreditar nisto ou naquilo.
7 vidas tem essa mesma qualidade. Os autores são honestos e evitam a todo custo um discurso de auto-ajuda ou de misticismo de botique.
Curiosamente, a difusão do kardecismo no Brasil parece ter tornado a relação com o tema mais simples e menos traumática. É curioso comparar, por exemplo, 7 vidas com “A experiência religiosa de Philip K. Dick”, HQ curta de Robert Crumb, o mais aclamado nome do quadrinho underground norte-americano.
Em 1974, o escritor de ficção-científica Philip K. Dick passou por uma experiência que marcou sua vida profundamente. Ele sofria com dor após uma extração dentária e, quando abriu a porta para pegar o remédio, deparou-se com uma mulher com um pingente na forma de peixe dourado. Isso desencadeou a lembrança de uma vida anterior, em que ele morava em Roma e era cristão num período em que os praticantes dessa religião eram perseguidos. Era como se outra personalidade tivesse entrado em sua mente. Ele não conseguia, por exemplo, dirigir, pois o cristão da época romana que se introduzira em sua mente não tinha essa habilidade.
Crumb transformou a experiência do escritor em uma inspirada história em quadrinhos, mas com um foco totalmente diferente de 7 vidas.
O racionalismo cartesiano norte-americano mesmo expresso por um quadrinista underground, como Crumb, fez com que a história fosse densa e angustiante.
Enquanto André Diniz parece lidar com naturalidade com os fatos que lhe são apresentados sobre suas vidas passadas, Dick, mostrado por Crumb, espanta-se com eles e se angustia na tentativa de racionalizá-los.
André Diniz faz um relato quase poético pela simplicidade e sinceridade e isso parece dizer muito sobre a forma como os brasileiros lidam com fenômenos como a mediunidade e a reencarnação.
Curiosamente, essa versão simples e sincera de 7 vidas passadas parece estar agradando. O álbum já está na segunda edição.
Para desenhar a história, André chamou Antonio Eder, um companheiro das antigas, com os quais fez várias histórias curtas e o álbum Chalaça, lançado também pela Conrad.
André Diniz é um dos mais importantes roteiristas de quadrinhos surgidos no século XXI. Seu álbum de estréia, Fawcett, sobre o explorador americano que se perdeu nas selvas do Mato Grosso e influenciou a criação do Indiana Jones, com desenhos de Flávio Colin, rendeu-lhe o prêmio Ângelo Agostini. Antonio Eder é um desenhista já veterano, com um currículo invejável, incluindo a premiada graphic novel Manticore.
A dupla mostra uma interação poucas vezes vista em uma história em quadrinhos. O desenhista Antonio Eder tem um desenho simples, mas extremamente expressivo. É dos poucos que conseguem, com poucos traços, passar uma idéia, uma expressão. Esse traço enxuto casa perfeitamente com o roteiro realista e espontâneo de Diniz, que chega ao ponto de contar até mesmo detalhes irrelevantes das sessões como que para dizer: “isto é um relato, não uma ficção”.
Aliás, a espontaneidade e realismo do roteiro é a maior qualidade e o maior defeito da história. Exemplo disso é a questão da perna. André Diniz conta que a perna direita ficava tensa durante as sessões de terapia. Mais tarde, sabemos que essa perna é o ponto fraco do escritor em várias vidas. Há sempre algum tipo de incidente envolvendo-a. Num roteiro fictício, o mistério da perna seria solucionado lá na frente, talvez na última página, pois serve como elemento de suspense. André Diniz soluciona o mistério da perna muito antes do final, seguindo a ordem cronológica das sessões e dos acontecimentos de sua vida.
Com isso, se a história perde em estrutura narrativa, ganha em honestidade. 7 vidas é um relato sem artifícios narrativos, mas totalmente honesto. E não resvala em nenhum dos dois procedimentos comuns quando se fala do assunto: no terror ou na literatura de auto-ajuda ou espiritualista. Na verdade, não é necessário nem mesmo acreditar em reencarnação para ler e gostar de 7 vidas.
O tema reencarnação é pouco explorado nos quadrinhos, apesar de suas incríveis possibilidades narrativas. No Brasil, o próprio André Diniz havia feito uma HQ chama A curva, com desenho próprio, que ficou incompleta. Nela, uma mulher morre e, influenciada por um espírito vingativo, passa a perseguir o esposo.
A história em quadrinhos parecia uma versão romanceada de livros espíritas, como Nosso lar, mostrando detalhes da vida após a morte, inclusive com incursões ao umbral. Mas, competente, Diniz, teve o cuidado de não se deixar levar pelo discurso doutrinário. As ideias básicas do espiritismo kardecistas estavam ali apenas como elementos narrativos ou ambientação, sem o objetivo de convencer o leitor a acreditar nisto ou naquilo.
7 vidas tem essa mesma qualidade. Os autores são honestos e evitam a todo custo um discurso de auto-ajuda ou de misticismo de botique.
Curiosamente, a difusão do kardecismo no Brasil parece ter tornado a relação com o tema mais simples e menos traumática. É curioso comparar, por exemplo, 7 vidas com “A experiência religiosa de Philip K. Dick”, HQ curta de Robert Crumb, o mais aclamado nome do quadrinho underground norte-americano.
Em 1974, o escritor de ficção-científica Philip K. Dick passou por uma experiência que marcou sua vida profundamente. Ele sofria com dor após uma extração dentária e, quando abriu a porta para pegar o remédio, deparou-se com uma mulher com um pingente na forma de peixe dourado. Isso desencadeou a lembrança de uma vida anterior, em que ele morava em Roma e era cristão num período em que os praticantes dessa religião eram perseguidos. Era como se outra personalidade tivesse entrado em sua mente. Ele não conseguia, por exemplo, dirigir, pois o cristão da época romana que se introduzira em sua mente não tinha essa habilidade.
Crumb transformou a experiência do escritor em uma inspirada história em quadrinhos, mas com um foco totalmente diferente de 7 vidas.
O racionalismo cartesiano norte-americano mesmo expresso por um quadrinista underground, como Crumb, fez com que a história fosse densa e angustiante.
Enquanto André Diniz parece lidar com naturalidade com os fatos que lhe são apresentados sobre suas vidas passadas, Dick, mostrado por Crumb, espanta-se com eles e se angustia na tentativa de racionalizá-los.
André Diniz faz um relato quase poético pela simplicidade e sinceridade e isso parece dizer muito sobre a forma como os brasileiros lidam com fenômenos como a mediunidade e a reencarnação.
Curiosamente, essa versão simples e sincera de 7 vidas passadas parece estar agradando. O álbum já está na segunda edição.
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